dois tipos de eugenia

imagino que para os humanos, exista sempre um passado de pureza originária, que é preciso de alguma forma resgatar, isolando o que ainda resta de herança na forma de uma decadência orgulhosa, filtrando aqui e ali erros no código e elencando traços que possam tornar a ilusão da descendência visível.

enquanto que nos cachorros, a partir de uma origem selvagem, seria preciso ir selecionando os parceiros de modo a categorizar as proles e distilar os potenciais cada vez mais, separando o que, depois de domado, ainda era confuso e oferecendo através dos resultados uma destinação de pureza futura.


postado em 19 de junho de 2018, categoria comentários : , , , , ,

começos

1. uma coisa seja dita. os gregos não são o começo. há tantos começos quanto posições nas quais um começo pode começar. como o grande zero do lyotard. há toda a banda libidinal, mas para começar a medir e canalizar pulsões precisa-se estabelecer uma matriz, os eixos dela, o ponto em que se encontram os eixos.

2. lembro também de uma fala do laymert garcia, que os estudiosos reclamavam da perda do pensamento mítico, que outros falavam na recuperação do ser, mas poucos deles iam até os indíos ou certas etnias em que o pensamento mítico está vivo.


postado em 19 de abril de 2013, categoria aforismos : , , , ,

duas ilhas

1. maya deren, at land (1944).

2. excerto de “causas e razões das ilhas desertas”, de gilles deleuze, trad. de luiz b. l. orlandi. em: a ilha deserta e outros textos: textos e entrevistas (1953-1974). são paulo, iluminuras, 2010.

sonhar ilhas, com angústia ou alegria, pouco importa, é sonhar que se está separando, ou que já se está separado, longe dos continentes, que se está só ou perdido; ou então, é sonhar que se parte de zero, que se recria, que se recomeça. havia ilhas derivadas, mas a ilha é também aquilo em direção ao que se deriva; e havia ilhas originárias, mas a ilha é também a origem, a origem radical e absoluta.

(…) já não é a ilha que se separou do continente, é o homem que, estando sobre a ilha, encontra-se separado do mundo. Já não é a ilha que se cria do fundo da terra através das águas, é o homem que recria o mundo a partir da ilha e sobre as águas. então, por sua conta, o homem retoma um e outro dos movimentos da ilha e o assume sobre uma ilha que, justamente, não tem esse movimento: pode-se derivar em direção a uma ilha original, e criar numa ilha tão-somente derivada.

ela é origem, mas origem segunda. a partir dela tudo recomeça. a ilha é o mínimo necessário para esse recomeço, o material sobrevivente da primeira origem, o núcleo (…) que deve bastar para re-produzir tudo.

 


postado em 23 de setembro de 2012, categoria Uncategorized : , , , , , , ,