herói

é só muito ocasionalmente as figuras do herói e do vencedor coincidem. pois são ideais que muitas vezes se opõem, como quando se diz que um tem as potências do inédito e outro as possibilidades do efetivo. quer dizer, nada decepciona tanto o adolescente em nós quanto quando um herói finalmente vence. sua batalha deveria ser eterna ou condicionada pelo desaparecimento de ambos o sujeito e a ocasião, ou ao menos por uma derrota do sujeito. o mundo é dos vencedores, mas é preciso destruir o mundo. nada pior do que alguém que deseja vencer na vida para alguém cuja frase “seja herói” já ressoou fundo no coração. derrotando o vencedor, seja ele outro ou uma tendência em si mesmo, o herói não vence mas sim exclui a possibilidade da vitória. no plano da arte contra a cultura, certamente o herói está no lado da arte.

 


postado em 4 de junho de 2017, categoria aforismos : , , , , ,

meio de junho de 2016

1. faz uns 20 anos que torço contra a seleção brasileira. faz parte do que considero “patriotismo”. mas já desde 2006 não vejo futebol, o que é como não gostar de chocolate, não ter celular, evitar dirigir e nunca ter fumado maconha: “um outro mundo é possível”.

2. a vantagem da literatura é poder transformar desentendimentos em textos, ficar pensando se publica ou não, por não querer ampliar a possibilidade de piorar a situação, decidir publicar e dependendo do resultado, responder: mas é tão bom como crônica! e se isso causar irritação, repetir um mantra do tipo “eu não sou cordial, eu não sou cordial”, na esperança de que exista um espaço racional de expressão da irritação no mundo.

3. na internet, falam de catedral. como vivo esbarrando em mundos pequenos, pequeninos, vou mencionar aqui a possibilidade de uma cena virar uma panelinha; já de um lado mais institucional, paróquias.

4. mais um mantra: “o homem que está tranquilo com sua solidão é rei do mundo.”

5. alguém perguntou: “o que é melhor que sexo?” ora, quando estou com fome, comer; quando estou com sono, dormir; quando estou concentrado, trabalhar; quando estou artístico, fazer música; quando estou sóbrio, ler.

6. num cartão não muito grande, há a instrução: “escreva aqui todas as palavras que você sabe.”

7. na verdade, anos e anos reclamando de concertos de peças de 8 minutos, percebo que as mostras coletivas de artes plásticas são exatamente o mesmo. como é bom ver uma galeria reservada a apenas uma pessoa/grupo artístico – como a coisa ganha sentido! é como ouvir um álbum inteiro.

8. esses dias lembrei, sem motivo, da frase do silverchair, música slave: “the only book i wrote is how to loose”. e comparei com a do bonde da stronda: “manual da stronda é meu livro de berço, única coisa que eu leio e nunca me esqueço”. na adolescência, marginais vs playboys. gostaria de pensar que o “e” do “e nunca me esqueço” não atrapalha a exclusividade do “único livro que eles lêem”.

9. em 1983, ano em que eu nascia, cronenberg lançava videodrome. outros filmes que eu gosto muito em que a tv figura de modo bizarro são funky forest, do ishii, e ringu, de nakata. nunca li simulacros e simulação de jean baudrillard. uma vez eu e mário tivemos de carregar algumas tvs de tubo para uma performance de azul no centro cultural da juventude, em são paulo. uma delas pesava quase 60 kilos.


postado em 19 de junho de 2016, categoria aforismos, comentários : , , , , , , , , , , , ,

no melhor dos mundos

seguindo leibniz, cuja visão de mundo comentei nessa postagem, bruno latour, em irreduções, escreve:

3.6.3 Somente na política as pessoas estão dispostas a falar sobre “testes de força”. Os políticos são os bodes expiatórios, os cordeiros sacrificiais. Nós os ridicularizamos, desprezamos e odiamos. Nós competimos denunciando sua venalidade e incompetência, sua visão míope, seus esquemas e concessões, os seus fracassos, o seu pragmatismo ou falta de realismo, sua demagogia. Apenas em política os testes de forças são pensados como definidores da forma das coisas (1.1.4). Apenas os políticos são pensados como sendo desonestos, são tomados como a tatear no escuro.

  • É preciso ter coragem para admitir que nunca vamos fazer melhor do que um político (1.2.1). Nós contrastamos sua incompetência com a perícia dos especialistas, o rigor do erudito, a clarividência do vidente, a visão do gênio, o desinteresse do profissional, a habilidade do artesão, o bom gosto do artista, o evidente senso comum do homem comum nas ruas, o faro do índio, a destreza do vaqueiro que dispara mais rapidamente do que sua sombra, a perspectiva e o equilíbrio superior do intelectual. No entanto, ninguém faz melhor do que o político. Esses outros simplesmente têm um lugar para se esconder quando cometem seus erros. Eles podem voltar e tentar novamente. Somente o político é limitado a um único tiro, e deve atira-lo em público. Eu desafio qualquer um a fazer melhor do que isso, a pensar com mais precisão ou ver mais longe do que o congressista mais míope (2.1.0, 4.2.0).

3.6.3.1 O que nós desprezamos como “mediocridade” política é simplesmente a coleção de concessões que nós forçamos os políticos a fazerem em nosso nome.

  • Se nós desprezamos a política devemos desprezar a nós mesmos. Peguy estava errado. Ele deveria ter dito: “Tudo começa com política e, infelizmente, degenera em misticismo.

{o original francês é de 1984, e intitulado Les Microbes: guerre et paix, suivi de Irréductions. como não leio francês, traduzi do inglês, the pasteurization of france, de 1988, por sheridan e law}


postado em 11 de julho de 2015, categoria citações : , , , , , ,

quatro mantras

eu sou (apenas) um fragmento do todo
tenho toda a tranquilidade que preciso
eu mergulho no vazio, não no caos
a energia do mundo passa por mim


postado em 20 de abril de 2015, categoria prosa / poesia : , , , , ,

frases do mês, agosto-setembro

1. o homem é o único animal que não tem deus próprio. todos os outros animais têm seus deuses próprios. o guaxinim, por exemplo.

2. se eu não comesse queijo não teria problemas na próstata (não que eu tenha).

3. antes ser um desconhecido que um herói. um desconhecido de espírito heróico, decerto. (antes deixar o mundo como ele está do que mudar o mundo pra melhor. melhor deixar ele como está da melhor maneira possível)


postado em 25 de setembro de 2014, categoria aforismos : , , , , , , , , , ,

manchete

mais um assunto ao qual sou inteiramente indiferente.

(não há tragédia no mundo. há um amontoado de fatos e forças.)


postado em 14 de agosto de 2014, categoria aforismos, comentários : , , , ,

sublime

às vezes bate aquela angústia mortífera de ter tanta coisa boa no mundo, mas já passa. é o tal do moderno sentimento do sublime.

às vezes dá aquela angústia mortal de ter tanta coisa ruim, tosca, torta no mundo. logo passa.

ossos do ofício.


postado em 8 de agosto de 2013, categoria aforismos : , , ,

leibniz

1. vivemos de fato no melhor de todos os mundos. os outros seriam ainda piores.

2. james franklin: leibiniz’s solution to the problem of evil (pdf)

3. trecho do filme “the matrix” em que a personagem “arquiteto” usa um argumento similar.


postado em 20 de julho de 2013, categoria aforismos : , , , , , ,

feliz mundo novo

1. ontem o mundo velho acabou. hoje um novo começou. feliz mundo novo.

2. a transição drástica, embora possivelmente imperceptivelmente drástica, se deu num átimo, num instante.

3. sugiro um novo nome para o mundo, qual seja: “undo”.

4. dado que o undo passado findou, sendo este agora o verdadeiro undo, e sendo o primeiro dia do undo, hoje é o primeiro de janeiro do novo janeiro do novo ano primeiro do undo (aqui chamado de “um do um de zero zero zero zero”).

5. consequentemente, não haverá natal, nem ano novo, a não ser que, por hábito, sejam mantidos; de qualquer forma, ocuparão a posição habitual no calendário, que de todo, permanece estruturalmente o mesmo, ou seja – só haverá natal e ano novo em dezembro do ano 0000, daqui a pelo menos onze meses.

(fica assim cancelado o natal e ano novo, como consequência do fim do antigo undo; dada a inexorável imperceptibilidade do evento, ainda assim, por descuido, são previstas ocorrências de atais e anos ovos nos próximos dias)

6. parece mais adequado, ademais, que os dias tenham 22 horas de duração, denominadas “oras” dado o estado do undo, de modo que um dia tenha 22 oras.

7. a desaceleração mental procedente envolve a rede de unidades do mundo: 1 egundo será, aproximandamente e de modo correspondente, 91.67 por cento mais lento que o segundo.

8. 60 b.p.i. é, portanto, equivalente ao antigo 55 b.p.m.; os metrônomos todos e relógios deverão ser refabricados.

***

legenda: [mito do recomeço] / [teoria da transição como uma mônada nua] / [valoração nominalista] / [proposição de translação dos dias em 11 unidades] / [consequente] / [proposição de uma estrutura equiparada redutiva] / [consequente] / [consequente]

 


postado em 22 de dezembro de 2012, categoria Uncategorized : , , ,

fim do mundo (de novo), a piada

não se preocupem, antes que ele acabe, eu me mato.


postado em 21 de dezembro de 2012, categoria Uncategorized : , , ,