1. cissi se escondeu. meu pai verificou e tinha dado a luz. uma única vez, um único filho. pela aparência, o pai era um rottweiler.
2. pequenino, dormindo em cima da minha barriga, começa a fazer xixi.
3. seu nome, em homenagem ao personagem das bandas desenhadas, o lucas sortudo, o homem que atira mais rápido que sua própria sombra.
4. como um pastor alemão, a correr em volta da casa, voltas e voltas, mas com orelhas caídas.
5. passeando por barão geraldo, a tensão de ter de correr ao encontrar cachorros soltos e briguentos.
6. e aquela vez no terreno baldio ainda sem muro em volta (a alguns anos é um terreno baldio com muro em volta): ataque de uma mãe quero quero, razante eu e lucky. pra ele, apenas uma ocasião para correr. eu, imaginando bicadas no coro cabeludo.
7. quando cissi sumiu (não voltou após passeio noturno sem acompanhamento), já bem velha, talvez espreitasse a morte. eizaburo, meu vô japonês, também nos últimos meses de vida, saindo pra procurar gritando seu nome e nada – já depois da diabetes e dificuldade de locomoção. quando não há esperança mas tampouco para-se de procurar.
8. recebemos em casa café para fazer dupla com lucky. café era um boxer pequenino e novo, e como tal, um pouco desorientado. apesar do aumento de vitalidade, desconfiamos que lucky tenha aberto o portão e dito vá lá, o mundo é grande, depois você volta, eu também vou. mas só lucky retornou. deixou café perdido? deixou ele deslumbrar-se rua afora e não saber retornar? foi capturado? nunca mais o vimos.
9. kiko veio (ou quico), vira lata nomeado em homenagem ao novo papa (numa família inteiramente atéia!). lucky cada vez mais velho, animou-se de novo. mas era velho, cada vez mais.
10. 16 e 17 anos. ficou um pouco cego. ficou mais teimoso. ficou cego e surdo. latia pouco. sua perna tremia.
11. um belo dia, como diria guimarães rosa, se encantou (se vale para pessoas, deve valer para cachorros também). lucky teve um ataque cardíaco, vomitou e morreu. foi enterrado dignamente no buracão, debaixo de uma arvorinha.
postado em 20 de agosto de 2014, categoria crônicas : cachorro, café, cissi, fotos, guimarães rosa, kiko, lucky luke, memorial, morte, naoko yanagizawa
ainda no referido site (nine million ways to die) encontro a seguinte descrição:
((•••)••)
homem assassinado por mulher. relação heterossexual.
queria “afogar-se até morrer naquela peitaria pesada”. posicionou a cabeça e ela o prendeu com seus braços fortes. efeito similar ao de asfixia com um travesseiro. homem relutando mas sem forças. pouco antes de morrer, desesperado, morde o seio esquerdo. sangue, morte, dor. o filho da puta.
postado em 23 de junho de 2014, categoria prosa / poesia : asfixia, jean-pierre c, morte, nine million ways to die, peitaria pesada, tic xenotation
imaginando cenários de morte, encontro em um site intitulado nine million ways to die algo que me interessa:
(((•)•)((•)))
homem assassinado por mulher. relação heterossexual.
seu grande amor, ao fazer sexo, enforca-o até o quase-sufocamento. as mãos largam no momento imediatamente ante-gozo. assim que ele (gozo) vem, então, sincronicamente, ela profere o golpe fatal, impacto de punho cerrado no pomo de adão.
postado em 19 de junho de 2014, categoria prosa / poesia : a história do olho, assassinato, georges bataille, morte, nine million ways to die, occultures, tic xenotation
ultramorte, megamorte, multimorte, nanomorte, nove mihões de maneiras de morrer (nine million ways to die); qual a morte mais mortal? mas não seria essa pergunta justamente descabida? pois não era a morte que estava do lado da diferença e se bifurcou, dando origem à vida, esta sim, com suas inúmeras variações de grau?
lendo land (the thirst for anihilation: georges bataille and virulent nihilism, routledge, 1992), capítulo 9, “abortando a raça humana”, são figurados outros tantos bergsonismos: matéria e espírito, natureza e cultura, caos e ordem, zero e plenitude, forças ativas e reativas, inorgânico e orgânico, guerra e indústria.
To set up the question of difference as a conflict between the one and the many is a massive strategic blunder – the Occident lost its way at this point – the real issue is not one or many, but many and zero. [147]
se esses dualismos remetem a monismos, esses monismos devem remeter ao grande e imenso zero (o próprio zero também), à diferença diferenciante.
{de um modo bastante ingênuo eu esperava que land fosse um deleuzeano que descontaminasse o deleuzianismo de seu bergsonismo}
postado em 16 de junho de 2014, categoria excertos, livros : aborto, bergsonismo, diferença, gilles deleuze, henri bergson, morte, nick land, the thirst for anihilation, zero
1.
caô-caos.
2.
assintoticamente a morte.
postado em 21 de outubro de 2013, categoria prosa / poesia : caos, jean-pierre caron, morte, poema-plágio
stalin disse uma vez: “a solução final é o extermínio da raça humana”. morte, onde justamente não estou. se alguém pensasse que talvez só o extermínio da humanidade fosse necessário, logo se lembraria que essa solução seria apenas parcial. a destruição total: a manutenção de tudo tal qual; a admissão que as coisas são. vida, a cada instante, pedindo o redescobrimento do entusiasmo. o céu infinitesimal, o inferno infinito. mas tanto num como noutro, também não estou, tampouco estarei.
[comunicado no.6 do undo]
postado em 14 de junho de 2013, categoria aforismos : destruição total, josef vissaniorovitch stalin, morte, solução final, soluções, undo, vida
há dias em que só a morte aparece como solução. nesses dias, é preciso parar de pensar em termos de soluções. pensar em vivências, por exemplo.
postado em 12 de junho de 2013, categoria aforismos : morte, soluções, vida
alguns devem ter-se perguntado seriamente sobre porque não há grandes feitiches da viagem no tempo quando se vai ao futuro. para todos os que não pararam para pensar sobre isso aqui vão três exemplos. espero que a leitura destes possa tornar clara a inutilidade do tipo de empreendimento que descrevem.
1. um sujeito vai ao futuro para assistir à sua propria morte. quando morre, pensa: “a morte é justamente onde eu não estou, mas cá estou”. alternativamente: “há vida após a morte, só que não após a segunda morte”, ou “o gato morre sete vezes, e eu duas”.
corolário: se é concedida a possibilidade disso, então fica indicado o fato dos gatos viajarem para o futuro.
2. um sujeito vai ao futuro assistir a sua morte. quando se empolga e comete a atrocidade, diz não poder ser preso por assassinato. na verdade se trata de suicídio doloso.
3. imagine-se viajando no tempo para o futuro com uma máquina portátil, com o objetivo de pentelhar-se por todos os dias de sua própria vida. convence-se, após pentelhar-se por um dia inteiro, a viajar para o dia seguinte e pentalhar-se por um dia inteiro, convencendo-se a pentalhar-se no dia seguinte por um dia inteiro etc.
***
explicações: se ainda não entendeu onde deve-se chegar, leia abaixo.
1a. o sujeito chega no horário e local previsto pela cartomante para sua morte, afim de presencia-la em vida. só que daí morre.
1b. o sujeito chega no horário e local previsto pela cartomante para sua morte, só que não há ninguém lá. a cartomante sabia disso e enganou-o por um bom bocado. isso porque, justamente, ao viajar no tempo para o futuro, ele viajou no tempo para o futuro (e não envelheceu).
2. mesmas ressalvas a 1, com a adicional de que se suicidar é crime grave e inafiançável na maioria dos países do mundo.
3. pense sobre o propósito disso. faça um diagrama. não é muita estupidez?
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corolário ortografia: eu escrevo feitiche com esse “i” antes do “t” mesmo. algumas pessoas tem me indicado que isso é errado, mas eu falo com o “i”.
corolário futuro encontro: enquanto é fácil se encontrar no passado, no futuro isso não é tão simples. o modo mais garantido é voltar ao passado e se convencer a não voltar para o passado. aí sim, viajar ao futuro, e se encontrar mais velho. isso pode ser paradoxal, mas não chega a ser um feitiche.
corolário assassinato: voltar ao passado afim de se convencer a não voltar ao passado para ver sua própria morte no futuro pode ser problemático, especialmente se o caso for o do ponto 2. afinal, você não quererá ser morto, a menos que já seja suicida. se assassinar (ou suicidar-se-a-si-outro) no futuro não chegará nunca a ser tão emocionante quanto comer-se-enquanto-bebê no passado.
postado em 12 de novembro de 2012, categoria Uncategorized : feitiches, futuro, morte, suicídio, tempo, viagem no tempo
existem dois músicos prematuramente falecidos, ao meu ver: franz schubert (1797-1828) e kurt cobain (1967-1994).
suas mortes foram típicas, em suas épocas: sífiles e febre tifóide contra depressão, drogas, e suicídio.
postado em 18 de maio de 2012, categoria Uncategorized : depressão, drogas, febre tifóide, franz schubert, kurt cobain, morte, sífiles, suicídio