muito antes da instagramização de tudo me afastar da fotografia, artistas que evidenciavam a categoria da presença em suas performances eram, entretanto, rapidamente fragilizados por fotógrafos que, armados como aranhas, esquadrinhavam os movimentos, transfigurando o acontecimento potencial em pura possibilidade imagética. em heidegguês, gestellizavam. e não via artista algum resistir a tal canibalização, frente a um fotógrafo mergulhado em sua ânsia pelo futuro, confirmando clique a clique sua destinação. que a obra, registrada, possa perdurar. que a obra, divulgada, possa se difundir. a experiência, feita subordinar-se ao pretérito e ao porvir, encontra finalmente na presença mais uma maquiagem, um adereço.
postado em 12 de maio de 2024, categoria aforismos : fotografia, gestell, martin heidegger, performance, presença
nunca dei muita bola para os escritos do viveiros de castro. gostei de um ou outro artigo do inconstância, se é que os li direito, mas odiei o tom ácido e publicitário (“farei um livro, o anti-narciso”) do metafísicas. quando li o há mundo por vir?, junto de danowski, tive outra impressão. talvez primeiro porque a parceria tenha atenuado um pouco o tom blasfêmio, “anatemista”. se bem que espantalhos e aquele clima de “erro sobre porque desprezo meu inimigo” continuam. então poderia ser outra coisa. talvez porque há indicações interessantes – um livro do tarde, um filme do ferrara, e ainda a incitação à leitura do livrão do kopenawa. mas isso ainda seria pouco.
acho que a contraposição entre as concepções excepcionalistas do humano e o entendimento perspectivista / panpsiquista fizeram especial sentido aqui. porque se os perspectivistas têm o humano como um tipo de relação, móvel, dependente de perspectiva, com a predação como fator fundante, isso torna-se mais interessante quando lembramos da análise do anti-édipo de deleuze/guattari. pois existem técnicas que as tribos da floresta etc empregam para impedir que sua civilização mude de escala. e isso se contrapõe muito bem, como forma de pensar, a um pensamento ambíguo em relação à técnica, como o de heidegger, em que ou o humano quer manter-se longe das consequências da revolução industrial, mas não possui uma técnica social para tal (o resgate da poiesis sendo claramente insuficiente); ou milagrosamente o perigo abrirá uma outra via (mas começamos a ver que antes disso haverá o apocalipse antropocênico).
e sobre esse apocalipse, eles apresentam um dado que não deixa de ser reconfortante: já houveram inúmeros fins do mundo. este novo fim só o é em maior escala, ou ainda, na escala daqueles que se consideram vencedores, destruidores de todos os outros mundos. pois inúmeras sociedades já enfrentaram seus fins do mundo, ou ainda vivem num fim do mundo que se alastra. muitos humanos vivem jogados na precariedade existencial, arrastados pela decadência de uma terra e cosmologia arrasada.
postado em 9 de dezembro de 2019, categoria livros : antropoceno, apocalipse, déborah danowski, fim do mundo, martin heidegger, tribos da floresta
se a arte é essencialmente inefável, então não importa se falamos muito ou pouco dela, se teorizamos ou não, ela permanece como algo de fugidio, indeterminável.
se não é essencialmente inefável, mas apenas ocasionalmente, então seria bom criticarmos e refletirmos sobre as obras, a ver quais ainda permanecem misteriosas após escrutínio.
se não são nunca inefáveis, seria melhor combater as críticas como redutivas e as teorias como paralisadoras, afim de que, do vácuo das palavras surja um quase-nada, um não dizer contido, que se prolifera em nebulosidade, a ser tomada com alívio.
mas e a experiência, não pode ela, sob grades muito determinantes e referenciadas, acabar com a inefabilidade? (como evitar que esse tipo de argumento não recaia no terceiro caso?).
e vale almejar racionalmente o inefável? no caso heideggeriano, há um circundar, como que preparando as condições necessárias para sua erupção. ele, tão frágil, facilmente esmagado, soterrado, esquecido. (mas estamos então no segundo caso e há arte na qual nada floresce, ou no terceiro, mistificando). em jankélévitch trata-se de jogar a escada fora. (mas daí seria melhor estar no primeiro caso).
postado em 26 de setembro de 2019, categoria aforismos : arte, filosofia, inefável, martin heidegger, vladimir jankélévitch
1. batman baudelaire
2. rambo rambeau (rimbaud)
3. heidegger he-man
4. heinrich justin bieber von biber
postado em 8 de setembro de 2017, categoria slogans : arthur rimbaud, batman, charles baudelaire, he-man, heinrich von biber, justin bieber, martin heidegger, rambo
se existe alguma chance de que a linguagem primitiva / antiga esteve mais próxima do ser, como queria heidegger, ou então, como dizia emerson: “language is fossil poetry“, de que no começo, era a poesia, uma coisa é certa para mim: isso só é concebível pensando os antigos, os originários, como humanos lacônicos, imersos em silêncio, com apenas algumas raras ocasiões de necessidade comunicativa; não o dizer do modo antigo que aproxima, mas o não dizer.
arthur, em sylvie e bruno, de lewis carroll, relaciona esssa distância com a instituição da igreja.
Por que razão não nos deixam gozar as belezas da natureza sem que o tenhamos de o dizer a cada minuto? Por há-de a vida ser um longo catecismo?
postado em 28 de novembro de 2016, categoria comentários : lacônico, lewis carroll, linguagem, martin heidegger, ralph waldo emerson, ser, sylvie e bruno
o pau brocha: argumento heideggeriano contra o dildo.
“o próprio martelar é que descobre o manuseio específico do martelo” (o ser e o tempo, $15) e “a ferramenta está quebrada, o material inadequado. de qualquer forma, um instrumento está aqui, à mão” (idem, $16).
postado em 27 de outubro de 2015, categoria comentários : beatriz preciado, dildo, filosofia, martelo, martin heidegger, o ser e o tempo, pênis
1. comercial de impregnante ipê. sujeito lavando a louça, pega frasco similar ao detergente ypê, a sujeira não sai mas sim gruda. ele exclama, levantando a embalagem (e aqui há um zoom em direção a esta). durante isso, ouve-se a fala: “ó, isso não era detergente”. após segundo fixo em ipê, mudança e apresentação de embalagem frasco, fundo de cores coloridas, artificioso, voz em off: “se você quer limpar, não use um impregnante.” com um final um pouco mais leve, voz menos grave e mais ondulada: “impregnantes ipê“.
2. comercial da cerveja noumena. música que é claramente um plágio de mc hammer, em virtude do possível trocadilho infame. deserto, ninguém, grande travelling rumo à praia, obviamente deserta. fusão e cerveja noumena 600 ml, com cores e luzes que deixam ambíguo o fato de haver ou não um conteúdo líquido. o rótulo mostra o emblema da ousia vazia (ø, como eu quis no vídeoclipe do efeito gruen). fundo artificioso colorido, combinando com as cores do deserto-praia. voz em off: “noumena. tome se puder” (com a primeira palavra falada como se a sede fosse saciada e o último a soando como ahh, de alívio; a segunda frase como algo sóbrio e inteiramente recomposto). logo após há uma fusão de volta para a praia (o trecho da música corresponde à ponte em que se canta breaking down), onde vemos, com um movimento de aproximação um martelo, partido ao meio, ser trazido do mar por uma onda, até a areia.
postado em 23 de maio de 2015, categoria publicitade : cerveja, comerciais, detergente, efeito gruen, falsificados, frases, frases do mês, imannuel kant, impregnante, ipê, martelo, martelo quebrado, martin heidegger, mc hammer, noumena, ousia, ø, propaganda, u can't touch this, ypê
B. nick land me deixa com uma ereção filosófica. agamben é aquele cara que não fode e não sai de cima.
A. credo. não vou imaginar isso.
B. fica lá sanfonando em cima de vc. esse é o agamben.
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A. giorgio engambelamben. acabou de dizer que o crescimento da direita na europa não é um problema. o problema é descobrir uma nova sociabilidade.
B. caô.
A. se bem que ele mesmo vai ficar na casa dele lendo filosofia escolástica medieval.
B. heideggeriano caozeiro.
A. caô = autodesvelamento do desvelar.
B. isso é a definição de caô?
A. ora, sim. não?
B. enrolação da porra.
postado em 5 de agosto de 2014, categoria crônicas : diálogos, ereção, giorgio agambem, martin heidegger, nick land, oswaldo e caronte, sanfona