nas contenções ao populacho, que tal adotarmos uma atitude liberal e armarmos a polícia militar com bombas de dinheiro? uma bomba de R$800 de cédulas de R$2 espalha rapidamente 400 notas em uma área de 100m². uma bomba do tipo disputa pode ser lançada à mão e ao cair abre como um kinder ovo, deixando rolar quatro notas de R$ 100 nos quatro pontos cardeais. um disparo de escopeta tem a vantagem de poder até mesmo cegar um vândalo ou jornalista desprecavido enquanto espalha moedas de R$1 pelo chão das principais avenidas. um morteiro de mil moedas de R$0,5 é sempre bonito de se ver, o metal mal reluzindo enquanto ricocheteia. as minas direcionáveis em notas crescentes, acionadas em retaguarda: por ela, como não peticionar junto a avaaz e pp que a casa da moeda confeccione espécies intermediárias e superiores, com a possibilidade da substituição da sequência 1, 2, 2+1, 2+2, 5, etc, 20, 20+10, …, 100, 100+10, 100+20, 100+100 pela mais pura 1, 2, 3, 4, 5…, 20, 30, …, 100, 110, 120, …, 200. por uma nota de duzentos, que manifestante não caminharia rumo às forças tarefas? e o mito de que o encontro seria coroado com uma surra de verdinhas? na operação beija-flor-de-peito-azul viu-se um grande canhão de vento cuspir inumeráveis cédulas, afastando tanto a aglomeração quanto o mito de que valor real e de face difeririam. pois é preciso colocar ordem na casa e nas coisas.
1. se considerarmos a quantidade de tempo gasta com procedimentos bizantino-burocráticos, faltar uma vez por semana ao trabalho por causa de alguma manifestação não é nada.
2. concordemos com o colega mateus loner: as manifestações não são um sinal de decadência – se as coisas estivessem piorando as pessoas estariam inertes ou preocupadas em garantir o prato diário. pelo contrário: se há manifestações há excesso – energia, disponibilidade, coragem; esboços de soberania.
em 26 de junho de 2013 gravei o início da manifestação que partiu do centro de belo horizonte, pela antônio carlos até a abrahão caram. um pouco como luc ferrari (presque rien), fiz cortes e economizei tempo.
escreve giorgio agamben em um livro interessante, sobre o qualquer (algo entre o particular e o universal, o individual e o genérico), qual seja, a comunidade que vem (autêntica, belo horizonte, 2013, p. 77-79):
Qual pode ser a política da singularidade qualquer, isto é, de um ser cuja comunidade não é mediada por nenhuma condição de pertencimento (o ser vermelho, italiano, comunista) nem pela simples ausência de condições (comunidade negativa, tal como foi recentemente proposta na França por Blanchot), mas pelo próprio pertencimento? Um mensageiro vindo de Pequim traz alguns elementos para uma resposta.
O que mais impressiona nas manifestações do mês de maio na China [1989] é, de fato, a relativa ausência de conteúdos determinados de reivindicação (democracia e liberdade são noções genéricas e difusas demais para constituírem o objeto real de um conflito e a única demanda concreta, a reabilitação de Hu Yao-Bang, foi prontamente [78] concedida). Tanto mais inexplicável parece a violência da reação estatal. É provável, todavia, que a desproporção seja apenas aparente e que os dirigentes chineses tenham agido, do ponto de vista deles, com maior lucidez que os observadores ocidentais, exclusivamente preocupados em trazer argumentos à sempre menos plausível oposição entre democracia e comunismo.
Pois o fato novo da política que vem é que ela não será mais a luta pela conquista ou pelo controle do Estado, mas a luta entre o Estado e o não-Estado (a humanidade), disjunção irremediável entre as singularidades quaisquer e a organização estatal. Isso não tem nada a ver com a simples reivindicação do social contra o Estado, que, nos anos recentes, encontrou muitas vezes expressão nos movimentos de contestação. As singularidades quaisquer não podem formar uma societas porque não dispõem de nenhuma identidade para fazer valer, de nenhum laço de pertencimento para ser reconhecido. Em última instância, de fato, o Estado pode reconhecer qualquer reivindicação de identidade que seja – até mesmo (a história das relações entre Estado e terrorismo, no nosso tempo, é sua eloquente confirmação) a de uma identidade estatal no interior de si mesmo; mas que singularidades façam comunidade sem reivindicar uma identidade, que homens copertençam sem uma condição representável de pertencimento (mesmo que seja na forma de um simples pressuposto) – eis o que o Estado não pode em caso algum tolerar. Pois o Estado, como mostrou Badiou, não se funda no laço social, do qual seria expressão, mas na sua dissolução, que ele interdita. [79] Por isso, relevante não é jamais a singularidade como tal, mas somente a sua inclusão em uma identidade qualquer (mas que o próprio qualquer seja retomado sem uma identidade – essa é uma ameaça com a qual o Estado não está disposto a compactuar).
(…)
A singularidade qualquer, que quer se apropriar do próprio pertencimento, do seu próprio ser-na-linguagem e recusa, por isso, toda identidade e toda condição de pertencimento, é o principal inimigo do Estado. Onde quer que essas singularidades manifestem pacificamente o seu ser comum, haverá um Tienanmen e, cedo ou tarde aparecerão os carros armados.
O mais belo trecho da primeira parte do livro, na página 61: para resolver o problema da comunicação há de se portar de tal forma que o problema da comunicação desapareça…
(…) se os homens, em vez de procurarem ainda uma identidade própria na forma imprópria e insensata da individualidade, conseguissem aderir a essa impropriedade como tal, fazer do próprio ser-assim não uma identidade e uma propriedade individual, mas uma singularidade sem identidade, uma singularidade comum e absolutamente exposta – isto é, se os homens pudessem não ser-assim, nesta ou naquela identidade biográfica particular, mas ser o assim, a sua exterioridade singular e o seu rosto, então a humanidade teria acesso pela primeira vez a uma comunidade sem pressupostos e sem sujeitos, a uma comunicação que não conheceria mais o incomunicável.
estão dizendo que no rio de janeiro a polícia militar está sendo democratizada.
como disse meu colega paulo dantas, depois dessa dá pra ter uma ideia de como foram as pacificações. quando começarem a estuprar manifestantes, eu diria.
{fotos ausentes: policial apontando morteiro pra galera, hospital com bomba de gás, palácio laranjeiras com “casa da corrupção” projetado na sacada, globo sonega, pm a paisana dando tiro de borracha à queima roupa}