no real gabinete de leitura português
e., sujeito formal, simpático, comedido, habitante de são paulo, considera o prédio do real gabinete português de leitura, no rio de janeiro, o mais bonito do brasil. chegando lá, e com sua tese sobre o tempo na obra de a. em mãos, ou seja, na mochila, com ítens que a possibilitam, e. resolve trabalhar ali mesmo, nesse ambiente magnífico. pergunta ao guarda sobre essa possibilidade. este, responde, em bom carioquês, sei lá. vou chamar a gerente. e quando a moça chega e olha um e aí?, e. se explica todo: eu gostaria de utilizar o espaço, trouxe meu laptop, uns livros, escrevo uma tese sobre a., a concepção do tempo, como é que faço, ao que a gerente interrompe-responde, senta aí porra.
desconcertado, mas entendendo a diferença das culturas, e. ainda olha mais uma vez para a gerente, uma moça magra, algo atlética, deve correr na praia, pensa. ela já com desdém, indo embora, então e. se dirige a uma mesa, vou poder trabalhar, que bom. é aí que intervêm o pequeno poder, e a gerente, de costas, continuando sua saída, retoma, como que a partir de porra e como não quer nada, mas com o gostinho da sacanagem no canto do lábio: mas assina lá no guichê os documentos. e então quase pedem para e. o comprovante de residência que ele obviamente não trouxe. e e. não pode deixar de pensar o óbvio, podia ter simplesmente sentado ali como quem não quer nada, retirado o laptop, não tem quase ninguém aqui, estaria já trabalhando.
“malandro é malandro.”
postado em 2 de novembro de 2015, categoria crônicas : burocracia, malandro, pequeno poder, real gabinete português de leitura, rio de janeiro