quando éramos estudantes, mário del nunzio compôs uma música para 4 caixas claras denominada “40 minutos de nada sobre nada”. lembro do título ser derivado sobre uma observação do então professor de composição da unicamp sílvio ferraz, que achamos absurda, mas deixamos passar (era algo como “tal coisa é no fundo 40 minutos de nada”, dito pejorativamente – ele tinha o hábito de palestrar continuamente nas aulas de modo a ser muito difícil de interromper e acabava faltando espaço para expressarmos discórdia). a peça tinha 8 minutos apenas e tentava ser um amontoado razoavelmente nonsense de gestos descordenados. lembro do medo de denise garcia de que a peça realmente tivesse 40 minutos (hoje em dia, após “10 anos de cena de música experimental no brasil”, essa preocupação me soa bastante despropositada).
[dos rascunhos, agosto de 2016]
postado em 28 de fevereiro de 2025, categoria crônicas : durações, música experimental, nonsense
1. ultimamente tem estado muito em voga dizer que música experimental é um termo guarda-chuva, mas que não é um gênero, e que na verdade, por suas origens (schaeffer na frança, experimentalistas nos eua), é algo que se tornou incômodo como denominação.
2. aí há pressupostos. creio poder organiza-los em dois blocos. (i) que é ruim fazer coisas que caem num gênero. que cair num gênero é ser encaixado, tornar-se produto reificado. que o que não se encaixa, é aberto e livre, é emancipado. (ii) que usar um termo com uma origem implica uma filiação. que essa filiação é mais negativa que positiva. que filiar-se é algo que subalternos fazem.
3. gostaria de apontar como é ruim pressupor que a ideia de gênero é negativa, mas vou começar criticando a ideia que pertencer a um gênero é algo negativo. como se então a absoluta maioria das músicas do mundo fossem de um escalão inferior e que só uma posição vanguardista de risco e abertura do anti-genérico pudesse erguer-se acima da indústria cultural.
4. ser enquadrado parece ser uma operação que encaixota e assim restringe e diminui. mas ser enquadrado é uma operação de categorização, a categorização identificada como ideologicamente negativa. categorizar algo em um gênero é localizar aquela prática dentro de um contexto estético-social e guiar as pessoas a ambientes específicos, no qual elas possam efetivamente navegar – encontrar cenas, traçar discursos.
5. zappa ser rock, marley ser reggae etc, ajudam a reconhecer tensões dentro desses gêneros e como eles acolhem a produção ao mesmo tempo em que se deixam moldar por ela; e mantém espaço para o não-convencional.
6. não é verdade que, por ser algo de vanguarda, não há quem imitar, não há condições de gêneros que guiam a produção dentro de música experimental. talvez apenas não haja um contingente suficiente para fazer com que noise, improvisação livre, gravação de campo etc tenham vidas autônomas. a música eletroacústica, fortemente institucionalizada nas universidades, tem.
7. em teoria o experimental é meta-gênero que organiza parcamente sobre os princípios da radicalidade, do inusitado e do incomum, gêneros diversos. é difícil realmente relacionar isso a (i) e (ii). do ponto de vista social, entretanto, recusar o nome que direciona pessoas a uma cena talvez seja não se identificar com a cena. querer fazer parte de outras cenas, querer circular mais, querer surpreender as pessoas tocando em outros palcos, para um público desavisado, por exemplo.
8. por outro lado, se é que experimental tem conotações normalmente negativas, “não me chame de experimental, venha ver meu show você também” soa como uma frase razoável de auto-promoção. por outro lado, imagine alguém do sertanejo recusar em geral seu gênero (ele recusa um subgênero quanto é vantajoso afunilar seu público alvo).
[dos rascunhos, maio de 2021; 3 anos depois parece que, em vez de um termo negativo, experimental passou a ser a nova palavra que traz ares de novidade aos produtos culturais – de modo que a batalha se tornaria outra – valeria a pena defender a circunscrição que orienta ouvintes a músicas menos convencionais, ou não – deixar as forças mercantis aplicarem a etiqueta como expediente de marketing (e há pessoas que confundem isso com algum problema mal formulado sobre democracia e elitismo etc – é preciso olhar a diferença entre festivais x cenas)]
postado em 11 de dezembro de 2024, categoria música : experimental, gênero, música experimental, público
agora sinto me finalmente incluído no universo da música experimental muderna brazuca; eu queria ser underground mas como diz o poeta “o underground será o novo upground”. então hype brazil vol. 5 vamos lá. (fora que eu acho difícil imaginar algo mais proto-hype que meu álbum-por-vir que pré-estreiou no ibrasotope dia 11 de julho)
((j-p caron mandou uma faixa do -notyesus> em que eu toco junto, sampler e sons fantasmagóricos e parados em um sintetizador, gravada de um show de 18 de junho de 2007))
para baixar seguir este elo e clicar em buy now – colocar zero ($0) no campo name yout price, preencher com seu e-mail e receber atalho de download. abaixo, minha faixa, para escuta aqui mesmo.
postado em 24 de julho de 2014, categoria música : -notyesus>, álbuns, coletâneas, dub le des atrits, henrique iwao, hy brazil, hype, música experimental
minha dissertação de mestrado, pelo programa de pós-graduação em música da universidade de são paulo, orientada por fernando iazzetta, pode ser baixada em: colagem musical na música eletrônica experimental (salvar como). o suplemento, referente ao dvd anexo à cópia física, depositada na biblioteca da escola de comunicação e artes, é este: suplemento.
a maioria dos exemplos são encontráveis. caso alguém tenha dificuldade e não possa (ou não queira) ir até a supracitada biblioteca, entre em contato comigo.
comentários são muito bem vindos.
postado em 12 de dezembro de 2012, categoria Uncategorized : colagem musical, dissertação, fernando iazzetta, henrique iwao, mestrado, música experimental, textos