a arte sonora e a arte conceitual não precisam ser simples. a simplicidade não é exigência para consistência artística nem para existência conceitual. você pode ter de explicar a ideia de algo conceitual em várias páginas, ao invés de em um breve parágrafo. pode haver uma constelação conceitual, um arquipélago, ao invés de uma unidade isolada. e não é por que há uma relação de elementos intrincados que algo deixa de ser arte sonora e vira música. “a partir daqui, me perco, então só escuto”. talvez por esse efeito, em que o inteligível dá lugar à experiência estética, ao recusar o enigma, tenha-se buscado o pontual, sóbrio, o anedótico, o criptografado, o abstêmio, íntegro, elementar… contra isso, uma arte de detetive, e que usa os sentidos como tema para as elaborações da ideia e vice versa. então, contra meramente fornecer uma chave que bastaria para resolver a interpretação e uma limpidez que resolveria a fruição, movendo do estético e em parte o anulando, em direção ao conceitual.
entre março de 2009 e março de 2010 participei de um grupo em são paulo, que procurava articular a criação de uma lei de fomento à música, naquela mesma cidade, moldada na lei de fomento à dança, da mesma. eu e vanderlei lucentini alimentamos um blogue na época.
existe um maravilhoso conto de karel čapek, chamado a iconoclastia, em que o amante da arte procópio pede ao pintor e padre influente nicéforo que intervenha ao grande sínodo e assim ao imperador para que a arte seja salva dos iconoclastas, que gritam “morte aos idólatras” e pedem a retirada da arte dos espaços públicos. nicéforo, entretanto, parece mais interessado em que mosaicos de uma infame escola de creta, essa arte moderna e deturpada, sejam por fim destruídos.
é comum que alguém, vira e mexe, pergunte-se porque músicos em geral são tão desengonçados para dançar. afinal, eles não deveriam dançar bem, sabendo o ritmo? mas quem disse que ritmo era um conceito capaz de unificar fora da mente e da abstração duas práticas tão diversas quanto música e dança? (imagine que se diz de um ciclista: mas porque ele corre tão devagar, se pedala tão rápido?).
dizem que essa é a época para recomendar álbuns de música; pois sim, então.
*. thelmo cristovam: agosto. três faixas longas e contínuas; imersão em 3 cenários movimentados.
¶. peter evans: lifeblood. vi dois shows dele de trumpete solo esse ano, com pitadas jazzísticas. o álbum parece fazer jus ao virtuosismo exibido ao vivo.
§. insignificanto: eva mitocondrial. quatro arcos-texturas que se desenvolvem com um tom de mistério e um cuidado com timbres notável. primeiro trabalho lançado da sannanda acácia.
ø. 夢遊病者: 5772. o disco de rock que ouvi que me chamou a atenção: o jeito com que diferentes camadas se encaixam, às vezes em espaços diferentes.
¢. cadu tenório: rimming compilation: liquid sky e phantom pain. um tanto de internet em um álbum musical duplo.
£. agnes obel: citizen of glass. um pouco de pop chique não faz mal.
¡. henrique iwao: bônus álbum vídeos 2003-2013. improvisos com convidados, em shows de lançamentos do meu dvd (esgotado, mas que disponibilizei pra ver aqui). divulgo porque pouca gente acessou / baixou / ouviu, então quem sabe.
reinsurgência telúrica-omega (contra o sol, a lama), xerodrome (singularidade desértica da terra – deserto de lama), petropolítica, mineropolítica, guerra como máquina (e não máquinas-de-guerra), ratos-peixes podres (incursão epidêmica desterritorializante), taquiya (não-ação terrorista, “a coisa” de john carpenter, paranóia do inimigo indiscriminável).
o futuro é hoje (william gibson), ou ‘no futuro, nadaremos em lama tóxica’. vulcões negros e tsunamis marrons.
Petropolítica: a cartografia do óleo como uma entidade onipresente narrando as dinâmicas da Terra. De acordo com Hamid Parsani, o óleo é o fundo de todas as narrações. A petropolítica pode ser estudada para perseguir a emergência da Xerodrome (Terra-Deserto) como um clímax plano para a Odisséia da Tubulação ou um mundo cuja narrativa é primariamente conduzida através e pelo petróleo.
[Reza Negarestani: Cyclonopedia, p. 242]
a faixa do epilepsia com o chinese cookie poets pertence à coletânea oil, blood, hate, lançada pela plataforma records.
dois vídeos de divulgação do espetáculo inscrição-memória-rasura, de dorothé depeauw, maya dalinsky e infinito menos. próximas apresentações no centro cultural do banco do brasil, belo horizonte, durante o vac 2015, de 15 a 17 de janeiro, 19h.
show após a exibição das animações que compõe mar de brita, de ismael vaz de araujo. henrique iwao: brinquedos, mini tábua, objetos cotidianos, mesa de som. marco scarassatti: instrumentos manufaturados. duas sessões de improvisação livre, a primeira com 25 minutos aproximadamente, a segunda com menos de 10. instituto undió, belo horizonte. 08 de agosto de 2014. fotos de beatriz goulart. gravação de som de henrique iwao.
improvisação livre durante uma tarde na ocupação comedoria comum, durante o 46º festival de inverno da ufmg. henrique iwao: brinquedos, mini tábua, objetos cotidianos, mesa de som. blu simon wasem: violão, sintetizador, bateria eletrônica, canto. aproximadamente 100 minutos. estaurante setorial ii da universidade, em belo horizonte, 24 de julho de 2014. foto pseudo-fake e cartaz de blu simon wasem. gravação de som de henrique iwao.
de 04 a 11 de março eu, matthias koole e katelijne lanneau estivemos no de bijloke muziekcentrum, em gent, bélgica, em residência artística, preparando/inventando o espetáculo flauta-ícone-vértebra. partindo da ideia de mexer com luz sincronizada com música, de fazer transcrições sonoras e adaptações visuais do meu duo com j.-p. caron, o epilepsia, de criar uma peça para flautas e luzes, de adaptar luzes à peça vértebra, de caron. trabalhamos todos os dias exceto domingo, das 10h às 20h e sábado das 10h às 17h.