há inúmeros textos que transformam os enunciados em verdadeiros campos de batalha pelos domínios de seus quantificadores (muitas vezes, ainda por cima, implícitos). existenciais ou universais, o que parece desejável é a inclusão no mais alto grau de exagero; instanciar-se puro designador, mas sob a alcunha do todo, do tudo, ou de uma existência improvável ou só falsamente impossível, mas no fundo única.
postado em 15 de julho de 2018, categoria comentários : generalizações, jornalismo, lógica, meia-crença, quantificadores
para aqueles que tem uma queda por lógica, como eu, é estranho que as discussões sobre aborto e suas posições omitam as opções em favor e contra o não-aborto. em termos de posicionamentos duros, descontextualizados (el contexto soy yo), teríamos 4 opções:
- multiculturalista (a favor do aborto e a favor do não-aborto);
- misantropo (a favor do aborto e contra o não-aborto);
- cristão (contra o aborto e a favor do não-aborto);
- nihilista (contra o aborto e contra o não-aborto).
na última opção, incluiria a ética negativa (e assim o cristianismo pró-suicídio) do julio cabrera. a fórmula do nascimento de erewhon (samuel butler), também se encaixa nessa última categoria, mas com um viés completamente outro – pois para um ser não nascido, a viver com todas as regalias no reino fantasmático, nada mais estúpido que a decisão de se desfazer e nascer a um mundo cheio de infortúnios (para não falar da etapa em que este molesta um casal até que eles sejam obrigados a aceitar a função de meios de transmutação).
postado em 6 de dezembro de 2016, categoria comentários : aborto, birth formulae, erewhon, ética negativa, julio cabrera, lógica, nascimento, samuel butler
um dos grandes prazeres imaginados quando da execução dos feitiches da viagem do tempo é da ordem do paradoxo lógico. espera-se que o sentimento de estar acomentendo algo paradoxal, acoplado ao fato de estar-se autoinflingindo esse paroxismo, potencialize tanto o coito com a (não-mais)-progenitora (ou o equivalente masculino, se você for mulher), quanto as bocanhadas de carne assada, bife etc, de (não-mais)-você-quando-bebê. no caso do sexo, não apenas o pensamento “estou causando um puta paradoxo lógico”, mas o esperado sentimento de se perceber justamente como o ponto focal daquele paradoxo (o que supostamente aumentaria em muito a virilidade).
contra essas especulações, no que concerne o primeiro feitiche, douglas adams escreve, em o restaurante no fim do universo (sextante, 2004, cap. 15):
“não há nenhum problema em tornar-se seu próprio pai ou mãe com que uma família de mente aberta e bem ajustada não possa lidar.também não há nenhum problema em relação a mudar o curso da história – o curso da história não muda porque todas as peças se juntam como num quebra-cabeças. todas as mudanças importantes já ocorreram antes das coisas que deveriam mudar e tudo se resolve no final.
o problema maior é simplesmente gramatical, e a principal obra a ser consultada sobre esta questão é o tratado do dr. dan streetmentioner, o manual das 1001 formações de tempos gramaticais para viajantes espaço-temporais. nesse livro você aprente, por exemplo, como descrever algo que estava prestes a acontecer com você no passado antes que o acontecimento fosse evitado quando você pulou para a frente dois dias. (…)
a maioria dos leitores chega até o futuro semicondicionalmente modificado subinvertido plagal do pretérito subjuntivo intencional antes de desistir. (…)
o guia dos mochileiros das galáxias passa levemente por cima dessas complexidades acadêmicas, parando apenas para notar que o termo ‘pretério perfeito’ foi abandonado depois que se descobriu que não era assim”.
uma teoria alternativa versa que toda vez que voltamos ao passado, criamos um universo paralelo, de tal modo que a comermo-nos-enquanto-bebês situamo-nos imediatamente em um universo em que não-nos-somos-enquanto-bebês, de tal modo que também não sentimos o paradoxo do tempo senão como a mera expectativa de senti-lo (o que, no entanto, parece ser suficiente para o feitiche).
ilya prigogine, em as leis do caos (editora unesp, 2000) defende que o tempo possui uma seta sempre para frente, ou seja, que é irreversível.
postado em 8 de novembro de 2012, categoria Uncategorized : as leis do caos, douglas adams, feitiches, ilya prigogine, lógica, o restaurante no fim do universo, paradoxos, seta do tempo, tempo, viagem no tempo