3 considerações sobre a escrita chinesa

a partir de escrita chinesa, de viviane alleton (lpm pocket, 2012). seleções do livro podem ser vistas aqui.

§1 o caractere chinês não é propriamente um ideograma – nem todos os desenhos ou combinações de desenhos correspondem a ideias e existe uma ligação entre caracter e som, mais complexa, mas fixa. o caracter é uma espécie de sílaba mas mais que isso – um signo mínimo, porque uma unidade semântica mínima (no estilo wenyan se usam apenas “palavras” monofônicas). ele pode ser composto de elementos diversos, mas forma uma unidade dentro do espaço do caractere – a língua é morfosilábica.

a arbitrariedade dos signos é aparente no fato de que é preciso primeiro saber o significado para depois relacionar este com o desenho e com considerações etimológicas; não existe uma lógica que permitiria deduzir essas etapas.

§2 o chinês não é universal – há combinações lógicas, porém outras que são convenções arbitrárias, e utilizações de caracteres focadas em características fonéticas com avaliação parcial ou ausente dos significados ideogramáticos destes (quando existem). por outro lado o chinês é uma escrita – existe, para uma pronúncia e significado, uma maneira única de escrever (“uma relação termo a termo com a expressão oral” p.18). essa maneira pode variar, mas a língua depende de um aprendizado de vocabulário junto ào sinograma. há a conexão combinatória e de montagem entre som e imagem, que é complexa, mas existe. não se trata de uma língua em que há um paralelismo som/imagem (como há no japonês, quando se usam kanjis escritas fora dos contextos de pronúncia sino-japonesa).

§3 existem sempre muitas formas de escrever um som. mas é porque a escrita é a escrita de um som mais um significado, que é inferido pelo sentido do que é dito (a frase). assim, numa frase, sabemos os significados e ouvimos o som. daí pode-se escrever, isto é, traçar a ligação entre som, significado e imagem.


postado em 3 de agosto de 2017, categoria comentários, livros : , , , , , , ,

多芸は無芸

há um provérbio japonês que diz 多芸は無芸, literalmente “versatilidade: falta de talento/falta de realizações”. no livro a vida obscena de anton blau, maria cecília gomes dos reis exemplifica esse pensamento, escrevendo (editora 34, 2011, pag. 49-50):

Contudo, num processo discreto e nada incomum, Anton sem perceber passa do ponto em que ainda é muito cedo para se empenhar ao momento em que já não há mais o que fazer. É um mau passo muito frequente, no qual muitas vidas empacam para sempre, e vai do instante em que ainda se tem todo o tempo imediatamente ao minuto em que já estamos irremediavelmente atrasados. O garoto, além da boa compleição física e de extraordinária beleza, tem amplos recursos – curiosidade, memória, esperteza, inteligência e muita imaginação -, mas pouca precisão, escasso senso de urgência e diminuto avanço sobre as oportunidades – nunca vê na conjuntura real a ocasião ideal para lançar-se nela com tudo. Em suma, tem talento para ser o que quiser, mas em nada se empenha o suficiente. Aquilo que sobra na piscina – ímpeto e vontade de vencer – é justamente o que lhe falta no mar da vida, e, como aquelas pessoas prestes a mergulhar – “ainda não desta vez: virá uma onda melhor” -, nunca chega o momento de abraçar a circunstância que se lhe apresenta. O garoto pula então de galho em galho querendo colher apenas as flores da vida. Pratica natação até perceber que, para seguir adiante, deve redobrar o esforço e firmar a mira. E brotam nele então as novas aspirações da juventude – Anton vê longe e pensa grande.

 


postado em 30 de junho de 2017, categoria excertos : , , , , ,

minicrônicas japonesas

すき焼き todo dia. o caso dos estagiários 澄夫 e 藤雄 (“cadê o sumiu? está com o fugiu”). うどんと鳥の唐揚げ (frango a passarinho e sopa de macarrão). a mãe que indicava aqui no ônibus falando ここ (cocô). a outra mãe que pedia pro seu filho por uma cesta (かご – cagô). 6 kilos de robalo para sashimi. o pai que gritava o nome do filho, seguido de 筆! (fudê), para que ele trouxesse um pincel. a cantora 加賀まりこ(mariko caga). o café que era ou ホト (“hoto”) ou アイス (“aissu”). o caso da velha no elevador dizendo コールド (cold) e só depois 寒い.


postado em 8 de janeiro de 2017, categoria crônicas : , , ,

dois provérbios de nisei

1. não há nada que tenha sido feito que um japonês não tenha copiado (bem) errado.

2. não há nada que tenha sido dito que um japonês não tenha entendido (bem) errado.

***

bônus: “a criatividade é um mito. torne-se um mestre da imitação.”


postado em 14 de novembro de 2016, categoria aforismos : , , , ,

existencialismo japonês #1

1. 幻想
profundidade é o nome da ilusão originada no apego

2. 漆黒の闇
o cósmico é grande indiferença e escuridão
[アザトース]

3. 有意義
a noite animal que ronda o dia não deve tapar o sol
(importância da explicitação)

4. 幸せと興奮
a felicidade se compra com uma garrafa de vinho, já a tristeza não
[の反対は退屈なのです]


postado em 22 de setembro de 2016, categoria aforismos : , , , , , , ,

para verdadeiramente entender hegel

deve-se aprender a ler em alemão, mas de modo algum, a falar ou ouvir.

A palavra, enquanto sonora, desaparece no tempo; este assim se mostra na palavra como negatividade abstrata, isto é, apenas aniquilante. Mas a negatividade verdadeiraconcreta do signo linguístico é a inteligência, porque, por ela, o signo linguístico é mudado de algo exterior em algo interior, e conservado nessa forma modificada.  

{não ouso citar de fonte primária, então, vem de lebrun, g. a paciência do conceito, unesp, 2000, p. 64}

melhor seria, mas há controvérsias (o próprio hegel, em sua enciclopédia, reclama da multiplicidade de significados dos ideogramas), adquirir a versão das obras completas em chinês, e em seguida aprender japonês para a leitura.


postado em 23 de dezembro de 2015, categoria comentários : , , , , , ,