nihil obstat, para aquiles guimarães

1. só o cavalo. seu som. sua presença. [inicializar o sistema]

2a. jorge entra e faz poses. alguns sons entram e saem, com parcimônia e cuidado [ambientes1, depois talvez conjuntamente e/ou alternadamente com ambiente2]. são como madeiras estalando, pequenos animais andando pelo telhado, eventualmente arrastando algo consigo.

2b. pode ser que o cavalo tropece e caia. seu som caído é diferente. seu som, ao ser levantado fora do chão (por jorge), é ainda outro. não há implicação direta, mas é necessária uma sensibilidade para esse acontecimento.

3a. primeiro balançar das caixinhas. quando jorge solta a primeira entra um som de gaitas [caixinhas1]. o som entra intenso e vai enfraquecendo conforme o movimento das caixinhas vai perdendo vigor. o balançar torna-se menor e o som de certa forma acompanha isso. jorge observa, mas também escuta.

3b. quando já está bastante baixo, há o cavalo e seu barulho. jorge dança. há então um resquício de gaita, para aqueles que quiserem voluntariamente ainda focar nele. estalidos ocasionais, possíveis [também ambiente3, mais leve, talvez possa ser usado].

4. leve balançar das caixinhas, mas sem som, cavalos e estalidos. ou então, apenas o som do cavalo, entra um som com delay e retroalimentação, de estalidos, algum filtro, deixa-o mais agudo – espécie de contraste em que há o estritamente periódico ocorrendo em meio à dança. isso não dura muito, é preciso novo silêncio-cavalo, antes do segundo balançar.

5. segundo balançar das caixinhas. quando jorge solta a primeira caixinha entra um som de trombones [caixinhas2], intenso. jorge desvia delas. os desvios de movimento ajudam também a evidenciar, possivelmente novamente, mas ainda mais acentuadamente, o movimento pendular das fontes sonoras, seu vai e vem, o vai e vem do som emitido por elas. a intensidade do som das caixinhas não diminui. o seu balançar não diminui (jorge se encarrega de reinserir energia nas caixinhas, arremessando-as, soltando-as novamente).

6a. primeira ação no pedal. som muito intenso de aspirador [aspirador]. mascaramento. o foco auditivo deve mudar para a caixa em cima do palco, fonte desse som perturbador. enquanto isso, oportunidade para diminuir a intensidade do som de trombones, de modo que quando jorge desliga o som de aspirador, há ainda som de trombones, mas: a. por um lado eles estão menos intensos do que antes; b. por outro, essa diferença não deve ser mostrada/indicada para a platéia.

6b. jorge aperta de novo o pedal. som muito intenso de aspirador, de novo. mascaramento. o foco auditivo deve mudar para a caixa em cima do palco, fonte desse som perturbador. enquanto isso, oportunidade para diminuir até zerar a intensidade do som de trombones, de modo que quando jorge desliga o som de aspirador, não há mais som de trambones, mas apenas do cavalinho.

ou seja: movimentação das caixinhas [5] para a caixa amplificada em cima do palco [6a], de volta para as caixinhas, com um fundo de cavalo, para a caixa amplificada de volta [6b], e por fim para a ausência do som das caixinhas, seguida do reconhecimento do som do cavalo, parando no cavalo.

7. silêncio-cavalo. jorge vai pegar uma lâmpada e balançá-la. pêndulo, como nas caixas, mas o ir e vir agora é um ir e vir de delays, de repetições e retroalimentações – sons de microfone de contato; sutis, leve balançar. movimento-som [período do delay imita o período do balanço, usando para tal cálculo a função tap]. quando jorge começa a girar no alto a lâmpada, há uma filtragem do som-delay, rumo ao agudo [cortar de pouco em pouco os graves], ao mesmo tempo que uma diminuição da intensidade do som. a intenção é a seguinte: fazer uma transição suave do som-delay para o som que a lâmpada produz ao ser girada rapidamente.

8a. segunda ação no pedal. a cada pisada que jorge dá, um som novo, de intensidade média: mágica – focos de percepção: o pé de jorge e a caixa em cima do palco. primeiro cordas e romantismo, volta do tema dos trombones [pedal1], depois: brinquedo e acorde de dó maior [pedal2], brinquedo louco [pedal3], quak (piada com o espetáculo anterior) [pedal4], pulso [pedal5], campainha de teatro [pedal6], sons de cavalos relinchando (volta do cômico, para do som quak de pato) [pedal7], novamente o primeiro som (relações de dois a dois reforçada) [pedal1].

8b. novo apertar do pedal e surge um trecho de canção tradicional japonesa: teru-teru bozo. a letra completa, implícita, é a seguinte:

teru-teru-bozu, teru bozu / faça amanhã um dia ensolarado / como o céu de um sonho que tive / se estiver sol eu te darei um sino dourado // teru-teru-bozu, teru bozu / faça amanhã um dia ensolarado / se meu sonho se tornar realidade / nos beberemos muito sakê // teru-teru-bozu, teru bozu / faça amanhã um dia ensolarado / mas se chover você estará chorando / então eu cortarei a sua cabeça com a tesoura

(por isso o som de tesouras. e a eminência de jorge, em [9], de pisar no cavalo). durante essa mini-canção, deve-se tocar ruídos, ao vivo, com delay e retroalimentação (efeitos que devem evocar um pouco [7]).

9a. jorge desaperta o pedal de volume. no ambiente, sobram alguns sons de delay da improvisação de ruídos. jorge aperta-o de novo, começa tocar a peça fafa#sol [final1] na caixa em cima do palco. gradativamente o som sai dessa caixa e vai para o pa [crossfade entre caixa em cima do palco e pa. o lado direito do pa deve estar tocando o material base, mais similar à caixa em cima do palco, também do lado direito]. esse processo é lento o suficiente para que se perceba uma mudança de espaço sonoro gradual, mas não lenta o suficiente para que não se perceba os dois pólos como separados – caixa em cima do palco e depois apenas p.a.

9b. o som está razoavelmente intenso – é como um rock, energias de repetição, de explosão, criação de um ambiente com algo de catártico. não se ouve bem o cavalo. o cavalo não está mais tão presente. depois de dançar, jorge chama a atenção para a menor presença do cavalo – se irrita com ele, provavelmente o despedaça: “aí está o cavalo, afinal”. jorge para em frente as caixinhas. agora jorge puxa as caixinhas para trás – movimento contrário, cujo resultado deve ser contrário. quando jorge solta as caixinhas, silêncio. sobram as caixinhas balançando sem som (talvez um resquício do que seria o cavalo, nada mais, fim).


postado em 13 de fevereiro de 2013, categoria Uncategorized : , , , , , ,

com jorge garcia, nihil obstat*

1. quem poderia imaginar que, na turnê do interior do estado de são paulo, a melhor acústica de sala seria a do teatro de caraguatatuba (o mário covas)? e como eu poderia prever que, depois de muito animado com o som da sala, metade do espetáculo seria feito em silêncio, dado conectores ruins fornecidos pelos técnicos desse mesmo teatro? (jorge garcia atira a caixa de som pendurada <e> silêncio.)

2. sesc ribeirão preto: a pior acústica desta turnê proac, da j. gar.cia, com interlúdio e nihil obstat (passamos pelo teatro do depto. de artes da unicamp, sescs em campinas, piracicaba, baurú, são josé dos campos, são carlos, santos, teatro mário covas). e ainda: sesc ribeirão preto – sistema elétrico instável, sala úmida e quente: tocar na placa de som e levar um pequeno choque, humm gigantesco nas caixas, nível de ruído alto. final da história: minha placa de som queimou. consegui fazer o espetáculo, mas usando canais 5 a 8 ao invés de 1 a 4, só percebi o estrago depois: gastei 400 reais, o sesc ribeirão preto se recusou a pagar, e até mesmo admitir instabilidade elétrica. contratualmente, inclusive, diziam que o problema era da produtora e não deles. ou seja, no computo total: paguei para apresentar.

3. sesc bauru, o cavalinho estava roubando o show: jorge o matou. “a estrela sou eu, eu sou o protagonista”. cavalinho? cavalinhos: outras vezes, saem andando por aí, tentam subir no pedal de volume, se debatem contra as irregularidades nas junções do linóleo.

4. cavalinho, de novo: se caem

5. em caraguá: jorge se move, rapidamente, após várias poses estáticas. o cavalinho girando e sons de madeira estalando. de repente, ele está na frente do cavalinho e o para com a mão: ele para de andar, seu som cessa, e imediatamente desligo os estalidos: as pessoas seguram a respiração, e é como se o tempo parasse por dois ou três segundos: silêncio.

6. som mais alto.

 

* nada impede.


postado em 30 de abril de 2012, categoria Uncategorized : , , ,

o som mais alto

jorge garcia apertou o pedal e o som de aspirador se fez um estrondo: o público inteiro pulou de susto, jorge também; ele e tiago, que estava a filmar, olharam para mim. eu estava sentado na lateral esquerda, controlando o som da platéia, e estremeci. como poderia estar tão alto? e era preciso fazer algo. vacilei por um instante, mas baixei em seguida o volume. jorge olhou receioso pro pedal e apertou de novo: novamente um barulho dos infernos. eu olhei para

 

volume 8 de 1.8


postado em 13 de abril de 2012, categoria Uncategorized : , , , , ,