christian wolff dizia sobre tocar notas que não importava o que você fizesse, acaba soando como uma melodia. nas reviravoltas da história e nas intrigas políticas sempre queremos enxergar um plano, vislumbrar uma estratégia, e as coisas sempre acabam tendo um motivo (pense nas fases do espírito). ademais, dada uma sequência de números qualquer, um padrão é inevitável. isto é, o padrão é a forma da nossa apreensão de uma sequência. da mesma forma, não importa o quão reprodutível, despersonalizada e genérica uma obra artística seja: acaba tendo aura. essa sombra monadológica.
postado em 10 de junho de 2017, categoria aforismos : aura, christian wolff, história, melodia, mônada, motivo, padrão, walter benjamin
postado em 27 de janeiro de 2017, categoria comentários : andrei karlov, assassinato em ancara, cnn, contato de quarto grau, documentário, embaixador russo, ficção, história, mevlut mert altintas, nova york citiada
“Havia sempre velhos discos abandonados que vagavam pelo estúdio. Um que me caiu às mãos continha a voz preciosa de Sacha Guitry. ‘Sur tes lèvres, sur tes lèvres…’ [‘nos teus lábios, nos teus lábios…’], dizia Sacha Guitry. Mas a gravação foi interrompida por uma tosse na técnica, o que explica o fato do disco ter sido posto de lado como refugo. Me aproprio desse disco, coloco em um outro prato o ritmo tranquilo de um valente barco, depois, sobre dois outros pratos, aquilo que me cai às mãos: um disco americano de acordeon ou de gaita e um disco balinês. Em seguida, exercício de virtuosismo nos quatro potenciômetros e oito chaves de contato.
Aos inocentes as mãos cheias: o Étude n. 5 dito aux casseroles [dos caldeirões] (…) nasce em alguns minutos: no tempo de sua gravação.
(…) No Étude aux Casseroles, a barca dos canais da França, a gaita americana, os sacerdotes de Bali colocam-se milagrosamente a obedecer ao deus dos toca-discos; (…) e quando, em alternância, intervém a lancinante ‘Sur tes lèvres’ entrecortada de tosses, o ouvinte, entretido em uma primeira audição, se satisfaz de bom grado com uma composição tão erudita, tão harmoniosa e tão definitiva. Assim nascem os clássicos da música concreta.”
Pierre Schaeffer ao descrever como realizou e concebeu o Étude aux Casseroles, SCHAEFFER, P. (1952). A la Recherche d’une Musique Concrète. Paris: Éditions du Seuil, p. 28. Traduzido por Alexandre Fenerich.
postado em 28 de março de 2011, categoria Uncategorized : colagem musical, étude n. 5, história, música concreta, pierre schaeffer