foi provavelmente guattari quem sugeriu que os analisandos que deveriam ser pagos, em uma consulta psicanalítica, dado que seriam eles que fariam o trabalho propriamente dito. giuliano obici, em compro auri, aplicou tal lógica aos ouvintes, pagando lhe pelas suas escutas (mas não em ouro). estes dias, quando liguei para a net, afim de assinar um plano de internet, o mesmo saia por R$140 o mês, exceto se eu também incluísse um serviço de telefone fixo. pois com tal serviço, a assinatura passaria a R$100 por mês, o que nos conduziria fatalmente à explicação: eles nos pagam.
se fizéssemos uma tabela comparativa da quantidade paga, 3 minutos por R$1, e um mês por um desconto de R$40, seriamos levados a acreditar que o marketing lucra mais que a música experimental.
postado em 10 de maio de 2019, categoria comentários : compro auri, escuta, giuliano obici, pagamento, pierre-félix guattari, psicanálise, telefone, telemarketing, trabalho
guia da peça, para servir de guia para o guitarrista estudar a peça, primeiramente ignorando as partes de pedal transpositor. o s-m fornece ritmos e notas iniciais.
nota de programa
[descrevo o começo da obra: o guitarrista toca uma sucessão de notas “sol 3” – é uma obra monofônica, superficialmente monótona; a cada nota, ele procura um modo diferente de produção do mesmo, idealmente sem gerar variações significativas: corda solta; posições alternativas; usando bend; usando a alavanca; usando um pedal transpositor; mudando a afinação da guitarra, seja mexendo na cravelha ou no microafinador; e combinações possíveis destes, incluindo glissandos cruzados. ademais, também o pedal de volume compensa ou é compensado pelas dinâmicas tocadas, produzindo, em tese, a mesma intensidade]
não posso definir “panótico” como “um ouvido que tudo ouve” sem com isso abarcar os aspectos disciplinares dessa noção: o grão do som, por um lado: a marca indelével do erro, da dificuldade, a difícil naturalização do absurdo – o corpo (da guitarra, do intérprete); por outro, a nota, em negativo, como algo que, a partir da idéia de homogeneização, permite a coleção, a combinação e a permutação, que prolifera a diferença quando a ignora (sugerindo abstrações lógicas não efetivas), mas também: o distanciamento da idéia de superação, pelo estabelecimento de um parâmetro sólido de comparação.
peça encomendada pelo ibrasotope, dedicada a mário del nunzio; livremente inspirada em: “condição da escuta: mídias e territórios sonoros”, de giuliano obici; “hamlet” de william shakespeare; “macbett”, de eugene ionesco.
postado em 9 de novembro de 2011, categoria Uncategorized : giuliano obici, metrônomo, notas de programa, obras, panótico dn, simulacro