4 fotos inteiramente pretas que dorothé me enviou
estava muito escuro. equilibrei as cores.
postado em 25 de novembro de 2014, categoria fotografia : cores, dorothé depeauw, equilíbrio, escuro, fotos, texturas
estava muito escuro. equilibrei as cores.
1. cissi se escondeu. meu pai verificou e tinha dado a luz. uma única vez, um único filho. pela aparência, o pai era um rottweiler.
2. pequenino, dormindo em cima da minha barriga, começa a fazer xixi.
3. seu nome, em homenagem ao personagem das bandas desenhadas, o lucas sortudo, o homem que atira mais rápido que sua própria sombra.
4. como um pastor alemão, a correr em volta da casa, voltas e voltas, mas com orelhas caídas.
5. passeando por barão geraldo, a tensão de ter de correr ao encontrar cachorros soltos e briguentos.
6. e aquela vez no terreno baldio ainda sem muro em volta (a alguns anos é um terreno baldio com muro em volta): ataque de uma mãe quero quero, razante eu e lucky. pra ele, apenas uma ocasião para correr. eu, imaginando bicadas no coro cabeludo.
7. quando cissi sumiu (não voltou após passeio noturno sem acompanhamento), já bem velha, talvez espreitasse a morte. eizaburo, meu vô japonês, também nos últimos meses de vida, saindo pra procurar gritando seu nome e nada – já depois da diabetes e dificuldade de locomoção. quando não há esperança mas tampouco para-se de procurar.
8. recebemos em casa café para fazer dupla com lucky. café era um boxer pequenino e novo, e como tal, um pouco desorientado. apesar do aumento de vitalidade, desconfiamos que lucky tenha aberto o portão e dito vá lá, o mundo é grande, depois você volta, eu também vou. mas só lucky retornou. deixou café perdido? deixou ele deslumbrar-se rua afora e não saber retornar? foi capturado? nunca mais o vimos.
9. kiko veio (ou quico), vira lata nomeado em homenagem ao novo papa (numa família inteiramente atéia!). lucky cada vez mais velho, animou-se de novo. mas era velho, cada vez mais.
10. 16 e 17 anos. ficou um pouco cego. ficou mais teimoso. ficou cego e surdo. latia pouco. sua perna tremia.
11. um belo dia, como diria guimarães rosa, se encantou (se vale para pessoas, deve valer para cachorros também). lucky teve um ataque cardíaco, vomitou e morreu. foi enterrado dignamente no buracão, debaixo de uma arvorinha.
lucas araújo perguntou-me: “e agora que a mandinga performática não deu certo?”. o brasil passou às quartas de final da copa do mundo; minha performance-álbum-anti-musical se resumia a um evento de primeira fase. então o quê? bem, resta terminar a outra performance, “não assistir a/à copa do mundo de futebol 2014”, continuando a desviar o olhar de todas as televisões ligadas e evitar locais com imagens de jogos. para quem ainda não arriscou uma escuta do álbum, ele pode ser baixado aqui. abaixo, a resenha (ao meu ver excessivamente dramática) escrita por blu simon wasem, que presenciou #obrasilnãochegaàsoitavas 3:
Fiquei muito comovido quando recebi a mensagem notificando sobre este disco/performance, pois eu também não gostaria de ver nenhum jogo da seleção brasileira. Estava em São Paulo nos dois primeiros jogos, mas não fiz minha própria audição lá, pois estava me ocupado em filmar imagens da avenida Paulista vazia com o exército ao fundo. Mas aí calhou de estar na própria casa do compositor na ocasião do jogo Brasil x Camarões. Então eu pude experienciar a sua peça sob a maior potência. Hoje tenho minhas dúvidas sobre o meu pseudo-radicalismo anti-copa, sobre minha saúde mental após esta escuta da peça, e sobre as intenções pervertidas do artistas. Não pude permanecer no jardim após o intervalo, e mesmo a 2 quarteirões ainda ouvia o ódio, o pânico, o desespero que essa peça emana, que nada mais é do que um reflexo da situação atual do país.
#obrasilnãochegaàsoitavas 1, 2014-06-12, 17h: domicílio de iwao, belo horizonte.
#obrasilnãochegaàsoitavas 2, 2014-06-17, 16h: georgette zona muda, sede antiga, belo horizonte.
#obrasilnãochegaàsoitavas 3, 2014-06-23, 17h: domicílio de iwao, belo horizonte.
não gostava de ir em eventos de performance por causa dos paparazzi. mas hoje em dia não se escapa nem em seminários de arte. democratização facebook style.
de 04 a 11 de março eu, matthias koole e katelijne lanneau estivemos no de bijloke muziekcentrum, em gent, bélgica, em residência artística, preparando/inventando o espetáculo flauta-ícone-vértebra. partindo da ideia de mexer com luz sincronizada com música, de fazer transcrições sonoras e adaptações visuais do meu duo com j.-p. caron, o epilepsia, de criar uma peça para flautas e luzes, de adaptar luzes à peça vértebra, de caron. trabalhamos todos os dias exceto domingo, das 10h às 20h e sábado das 10h às 17h.
1. em dúvida de qual presente dar por ocasião do natal? a genealogia da moral é sempre um grande sucesso!
2. decoração pré-natalina em minha morada.
estou pensando num outro cartão de visita. o meu antigo é composto por fotos que tirei usando uma câmera de fotos alterada e o seu slogan é “henrique iwao, música experimental e afins”. e afins: uma construção especialmente gloriosa, da qual tenho verdadeiro orgulho. há melhor circunscrição de uma atividade do que essa? eu sou porque reúno o que sou em mim. ou isso, ou o que lyotard chamou de tensor, na economia libidinal, ou em outro lugar, mais especificamente (mas que serve aqui de metáfora): “nomes próprios tem aquela propriedade de atrair para si frases pertencentes a diferentes regimes e gêneros heterogêneos do discurso” {citado na introdução de libidinal economy, athlone 1993, p. xxi; de the differend}.
fiz uns 50 versões diferentes do dito cujo, sem telefone (meio que pouco uso) e sem verso (o que facilitava um processo de impressão simples e cuidado por mim mesmo). o endereço do meu blog é o antigo, pois o cartão foi feito em 2010.
creio que na aula 5 ou 6 tirei essas fotos do pessoal trabalhando. essas duas abaixo é que ficaram melhorzinhas, com marquinhos (luigi atrás e andré ao lado), carlos e jéssica.
eu e joão pedro schneider gravamos a metamáquina2 no dia 08 de outubro de 2013, no hacklab. usamos quatro captadores: dois microfones akg condensadores, um shotgun sennheiser e um captador bobina (para pegar eletromagnetismo do processador da máquina – o barulhinho agudo ao fundo).