1. filosofia da queima de livros (book burning philosophy / bücherverbrennung philosophie)
livros são bons itens para queima. é que, do ponto de vista do fogo, cada página é um objeto. um livro é formados por inúmeros objetos-páginas, leves e combustíveis. diferentemente de um toco de madeira, ou um tijolo, uma página resiste pouco, permitindo um passeio flamejante em que extinção e transmissão se confundem.
2. museu das traças
cultivam-se traças. quando há um número suficiente destas, digamos, 100 mil, elas são espalhadas em uma biblioteca, que logo se transforma em um museu das traças. livros viram traçados – relíquias do império lepisma.
colocar fogo nas coisas é sempre algo decepcionante. as pessoas esperam pirotecnia e outros delírios circences e/ou hollywoodianos, mas o fogo é difícil e custoso. isso porque a essência do fogo é a extinção. o fogo quer extinguir-se.
a esperar o vôo para santarém, das 0h30 às 4h30 no aeroporto de manaus, depois de um vôo de 9h (de são paulo a manaus, com escalas em fortaleza e belém). uma das piores logísticas de todos os tempos: de belém a manaus justamente não se passa por cima de santarém?! de qualquer forma, para contornar o sono, cansaço e calor (o ar condicionado estava “em conserto”), resolvi conferir se minha mala não seria colocada por engano na esteira errada.
na casa de kandyê medina. ela me hospedou numa casa confortável, com alguns probleminhas, mas ainda assim, confortável. no vídeo, participação involuntária e especial de julia salaroli, que aliás, fez questão de não desmentir o fato de que eu teria de dormir em uma rede (havia uma cama para mim, na realidade).
fomos à parte religiosa e tradicional do sairé, que se deu de manhã. mais interessados nos detalhes, filmei esse fogo, com o qual esquentavam o tarubá, bebida fermentada de mandioca.
após um ensaio aberto com julia e kandyê, no espaço alter do chão, morcegos e mosquitos beira rio. lembrei de conversa com marcelo muniz, na praia de ipanema, da quinzena anterior. meu projeto de igualar o estatuto da visão (que vê luzes e fixa imagens visuais) e o da audição (que ouve sons e fixa imagens sonoras) passaria supostamente por entender como o morcego fixa o mundo através das reflexões sonoras.
tão cansado do fogo tão casando da fumaça tão cansado do fogo tão casando da fumaça me envie um anjo me salve [me liberte] me envie um anjo me salve eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje bom dia hoje cansado afogado indo tão mal cansado afogado indo tão mal me envie um anjo me salve me envie um anjo me salve
tão casado de : : tão cansado de …. ;; tão casado de : : tão cansado de …. ;; me envie um anjo me salve me envie um anjo me salve eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje bom dia hoje tão cansado de ter medo tão cansado da escuridão tão cansado de ter medo tão cansado da escuridão me envie um anjo me salve me envie um anjo me salve eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje bom dia hoje
[david lynch, gooday today, com dean hurley, álbum: crazy clown time, 2011. director do vídeo: arnold de parscau, cinematografia: jonathan bertin, antoine bon]