eu e a linguagem

muitas pessoas não percebem isso de imediato, mas a grande questão com a linguagem – arrisco, a grande contribuição da linguagem, é permitir com que digamos, pensemos e escrevamos coisa que discordamos veementemente, sempre usando o pronome eu.

[dos rascunhos, provavelmente 2015; discordo veementemente.]


postado em 21 de maio de 2024, categoria comentários : , , ,

poemas bobos

1.

a: “eu vou dormer”
b: “e eu, comir”

2.

a: fan-filo-fiction
b: fan-fiction filô

3.

não tem ego, só tem eu
não tem id, só tem isso


postado em 31 de maio de 2019, categoria prosa / poesia : , , , ,

alma

ter uma alma significa primeiro que não somos essencialmente nosso corpo, mas logo depois, que tampouco somos nossa mente e consequentemente, que não somos essencialmente nosso ego. ter uma alma, portanto, implica eu ≠ eu. o profundo e o superficial. como essência, quer indicar um descentramento constitutivo, ou seja, uma estabilidade puramente formal, e a nossa liberdade não é, em verdade, nossa. uma determinação que não nos diz nada é uma ótima oportunidade de forjar deveres. mas os deveres só valem pra outrem.


postado em 27 de novembro de 2017, categoria aforismos : , , , , , , , ,

existencialismo #1

há um celebrado aforismo de nietzsche contra a ideia de eu penso. dever-se-ia dizer isso pensa (além do bem e do mal, §17). mas não seria mais adequado dizer eu penso, e duvidar da gramática de eu quero, eu gosto, eu desejo? isso gosta, isso quer, isso deseja. o pensamento me pertence. de modo que escolher ocorreria justamente nesse embate entre o eu e o isso.


postado em 7 de janeiro de 2016, categoria aforismos : , , , , ,

frases do mês, outubro-novembro-dezembro

1. café sem açucar porque a vida já é doce demais.

2. ansioso de não estar mais ansioso.

3. cartões são para encontrar, após perder.

4. é doloroso ter de ser um só.


postado em 4 de dezembro de 2014, categoria aforismos : , , , , , , ,

§6.4311 (2014-10)

uma proposição de guilherme darisbo (para uma coletânea dada da plataforma recs) me fez fazer uma música conceitual e pouco experiênciável. afinal, segundo Ray Brassier, a experiência é um mito (ler artigo genre is obsolete). a peça é uma proposição envolvendo um texto, incluso abaixo, um arquivo .pd (um gerador da própria peça, que precisa do software pure data para funcionar) e um arquivo .wav de curtíssima duração. pode ser baixada aqui.

Henrique Iwao – §6.4311 (Outubro de 2014)

Um arquivo wav de áudio com uma duração quase nula ou nula para produzir silêncio. Uma imagem png transparente muito pequena.

No Tractatus Logico-Philosophicus, Ludwig Wittgenstein escreve: “A morte não é um evento da vida. A morte não se vive. Se por eternidade não se entende a duração temporal infinita, mas a atemporalidade, então vive eternamente quem vive no presente. Nossa vida é sem fim, como nosso campo visual é sem limite.” (Edusp, 2001, Trad. Luiz Henrique Lopes dos Santos, p.277)

1. Seria esse parágrafo uma confrontação com a doutrina do eterno retorno, exposta no Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche?

2. Em um sentido, o instante não pode ser parte desse presente, porque é justamente o que, apesar de infinitesimal, já passou. (contra Wittgenstein).

3. Eu poderia dar a entender que tender a zero não ajuda em nada. Mas tender a zero nesse caso é tentar eliminar a possibilidade da experiência (fenômeno), para dar lugar ao conceito.

4. A experiência do conceito pode ser então vivida, assim como a de morte (do conceito de morte).

5. Isso de modo algum resolve a crítica esboçada por Brassier (ou melhor – chutada em “Genre is obsolete”) (a alma/o eu não é uma mônada, mas também um composto, ou então, um resíduo).

6. A peça, entretanto, existe. Se há uma tentativa de autoanulação enquanto fenômeno é porque a peça é também essa tentativa (ela nem exemplifica bem o aforismo nem o comenta bem, mas caminha junto a ele).

 


postado em 9 de outubro de 2014, categoria excertos, obras : , , , , , , , , , , , ,

eu

1. “não sou um objeto mas um projecto; não sou apenas o que sou, mas o que vou ser e o que quero ter sido e vir a ser.” (lyotard, a fenomenologia, edições 70, p.117)

2. “(…) o fato de que um pensamento ocorre apenas quando quer e não quando ‘eu’ quero, de modo que é falsear os fatos dizer que o sujeito ‘eu’ é determinante na conjugação do verbo ‘pensar’. ‘algo’ pensa, porém não é o mesmo que o antigo e ilustre “eu”, para dizê-lo em termos suaves, não é mais que uma hipótese, porém não, com certeza, uma certeza imediata. já é demasiado dizer que algo pensa, pois esse algo contém uma interpretação do próprio processo. raciocina-se segundo a rotina gramatical: ‘pensar é uma ação, toda ação pressupõe a existência de um sujeito e portanto…’ (nietzsche, além do bel e do mal, hemus livraria, aforismo 17)

3. fragmentos reunidos pelo uso.


postado em 14 de julho de 2013, categoria aforismos : , ,