a vitória do produtivismo sobre a depressão de superfície

sobreviver : talvez de fora não se veja
a opacidade da presença é também
a opacidade da ausência
cada pequena ação, como uma marionete
uma vitória sem sentido

entretanto
a barriga conduz o homem
e o tempo dissolve o drama
que mesmo com seu desejo de queda
e sonhos de lama e escuridão no abismo
a vontade soberana empurra
e seduz da pior forma possível

monotonia:
insista só mais um pouco
a melancolia de uma vida medíocre
o sorriso de uma nova chance
e de novo


postado em 9 de agosto de 2017, categoria prosa / poesia : , , , , , , , ,

depressão endêmica

mark fisher faleceu ontem. tinha um famoso blog, o k-punk. escreveu o livro capitalist realism – is there no alternative?, pela zero books, 2009, do qual traduzi esses parágrafos abaixo.

Um tipo de impotência reflexiva surge como visão de mundo não declarada entre os jovens britânicos, e tem seus correlatos em patologias amplamente difundidas. Muitos dos adolescentes com os quais trabalhei tinham problemas de saúde mental ou dificuldades de aprendizado. Depressão é endêmica. É a condição que é mais tratada pelo Serviço de Saúde Nacional, e está afligindo pessoas cada vez mais novas. O número de estudantes que tem alguma variante de dislexia é espantoso. Não é um exagero dizer que ser um adolescente no capitalismo tardio da Grã-Bretanha está próximo de ser reclassificado como uma doença. Essa patologização já impede qualquer possibilidade de politização. Ao privatizar esses problemas – trata-los como se fossem causados apenas por desequilíbrios químicos na neurologia individual e/ou pelo histórico familiar dos atingidos – qualquer questão relativa a causação social e sistêmica é descartada. Muitos dos estudantes adolescentes que eu encontrei pareciam estar em um estado que eu chamaria de hedonia depressiva. Depressão é normalmente caracterizada como um estado de anedonia, mas a condição a qual eu me refiro não é constituída tanto por uma inabilidade de ter prazer mas sim por uma inabilidade de fazer qualquer coisa exceto procurar por prazer. Há uma sensação de que ‘algo está faltando’ – mas não que essa satisfação misteriosa e ausente possa ser acessada além do princípio de prazer. Em muito isso é uma consequência da posição estrutural ambígua dos estudantes, encalhados entre seu antigo papel de sujeitos de instituições disciplinares e os seus novos status como consumidores de serviços. [p. 21-2]

A atual ontologia dominante nega qualquer possibilidade de uma causação social para as doenças mentais. A biologização-química das doenças mentais é obviamente estritamente comensurável com sua despolitização. Considerar as doenças mentais como problemas químico-biológicos individuais tem benefícios enormes para o capitalismo. Primeiro, reforça o movimento do Capital rumo a uma individualização atomística (você está doente devido a sua química cerebral). Segundo, provê um mercado enormemente lucrativo no qual multinacionais farmacêuticas podem empurrar seus produtos farmacêuticos (nós podemos curá-lo com nossos inibidores seletivos de recaptação de seratonina). Não é necessário dizer que todas as doenças mentais são neurologicamente instanciadas, mas isso não diz nada sobre sua causação. Se é verdade, por exemplo, que a depressão é constituída de níveis baixos de seratonina, o que ainda precisa ser explicado é porque indivíduos particulares têm níveis baixos de seratonina. Isso requer uma explicação social e política; e a tarefa de repolitizar as doenças mentais é urgente se a esquerda deseja desafiar o realismo capitalista. [p. 37-8]


postado em 14 de janeiro de 2017, categoria citações, tradução : , ,

resquiat

existem dois músicos prematuramente falecidos, ao meu ver: franz schubert (1797-1828) e kurt cobain (1967-1994).

suas mortes foram típicas, em suas épocas: sífiles e febre tifóide contra depressão, drogas, e suicídio.


postado em 18 de maio de 2012, categoria Uncategorized : , , , , , , ,