nem sempre o que eu chamo de sonho é um fenômeno propriamente ligado ao sono. às vezes, chamo de sonho o que david lynch chama de ideia. mas, se a ideia é mais do que um problema, mas sim um campo problemático específico, onde há a amarração de vários problemas, um fio de ariadne ou uma teia destes, ou combinações possíveis entre esses dois modelos – então para mim o sonho não é nada senão a apresentação sinóptica de uma ideia que, no entanto, se mostra cognitivamente inapreensível em sua totalidade.
nesse sentido, quase a totalidade dos sonhos interessantes que tenho ocorrem enquanto eu estou acordado. parece que quando durmo, minha disponibilidade criativa decai muito, resultando num frustrante mar de clichês.
tem tanta gente desejando ter abortado, sonhando secretamente com a supressão dos filhos, que é como na causa gay: tem de impedir os outros. essa é a grande tentação dos fracos.
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david lynch, eraserhead, de 1977. o excerto não mostrado, e mais sugestivo é o que o corre aos 48 minutos do filme, no mesmo cenário.
tão cansado do fogo tão casando da fumaça tão cansado do fogo tão casando da fumaça me envie um anjo me salve [me liberte] me envie um anjo me salve eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje bom dia hoje cansado afogado indo tão mal cansado afogado indo tão mal me envie um anjo me salve me envie um anjo me salve
tão casado de : : tão cansado de …. ;; tão casado de : : tão cansado de …. ;; me envie um anjo me salve me envie um anjo me salve eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje bom dia hoje tão cansado de ter medo tão cansado da escuridão tão cansado de ter medo tão cansado da escuridão me envie um anjo me salve me envie um anjo me salve eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje eu quero ter um dia bom hoje bom dia hoje
[david lynch, gooday today, com dean hurley, álbum: crazy clown time, 2011. director do vídeo: arnold de parscau, cinematografia: jonathan bertin, antoine bon]