abrir um campo de possibilidades não garante acontecimento. mas há acontecimentos não-garantidos por vir. e houve.
(são ponderações feitas após organizar alguns eventos em que ninguém compareceu. bem, eu compareci. mas então deveria dançar sozinho? dançar sozinho é manter a possibilidade aberta?)
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ps: é difícil defender o acontecimento contra o evento de sucesso, mesmo porque nada impede que no evento de sucesso existam acontecimentos. uma das maneiras de não desanimar é pensar na ideia de resistência. mas o quanto resistir não é ouro de tolo? o quanto não faria parte das estratégias de auto-engano, como aquelas que envolvem considerar-mo-nos moralmente superiores?
(não tenho grandes convicções sobre nada, aqui, exceto que é preciso pensar sobre essas coisas)
[dos rascunhos, novembro de 2014; organizava jams de contato improvisação na georgette zona muda]
postado em 17 de março de 2025, categoria aforismos, comentários : acontecimento, contato improvisação, georgette zona muda, jams, possibilidade, resistência
sarah gottlieb escreveu um belo e pequeno texto sobre tabus que atrapalham uma ética quanto à contenção do sexual indevido dentro da prática do contato improvisação. um deles envolve a dificuldade de dizer não, ou seja: o mito de que dizer não é fácil. ao ler, além de concordar, não pude deixar de comparar com a minha vivência diária, como sofredor de misofonia (irritação crônica com certos pequenos barulhos de proveniência humana). pois, em âmbito diferente e com as devidas modificações, ainda assim reconheço o banho de emoções que tomo ao reclamar com as pessoas sobre os seus comportamentos sonoros (a principal ocorrência é o pedido para que usuários de telefone celular utilizem o aparelho com fones de ouvido ou então desliguem o som deste). com isso quero dizer apenas: o mito é aplicável a outros âmbitos, e a descrição abaixo pode servir de guia para a construção de outros relatos. de toda forma, segue minha tradução das etapas envolvidas, de parar de dançar até dizer não e depois.
Primeiro, tenho que reconhecer que estou me sentindo desconfortável. Como fui criada como mulher, nutrindo a expectativa de que devesse me adaptar emocionalmente com facilidade e priorizar os outros, eu normalmente ignoro esse sentimento algumas vezes antes de aceitar que ele é forte o suficiente para merecer atenção.
Então, para ter certeza, tenho de checar se a fonte do meu desconforto é outra pessoa, e não coisa da minha cabeça ou disposição.
Então, preencho-me de uma sensação mista de decepção, medo e ansiedade (assim como medo, raiva ou qualquer outro coquetel de emoções intensas que possam estar relacionadas aos detalhes específicos da experiência atual, traumas passados, alguma resposta a outros fatores ambientais etc.).
Em seguida, tenho que me acalmar usando estratégias desenvolvidas ao longo de uma vida a defender-se de avanços sexuais indesejados. Eu me encarrego de avaliar a situação com cuidado, identificando a natureza da pressão que estou enfrentando. Relembro que não preciso entender completamente minha experiência ou justifica-la, e que o mero fato de estar a sentir uma transgressão a torna válida. Relembro que mereço detê-la imediatamente.
Nesta fase, eu também realizo muitos cuidados, subconscientemente. Fico preocupado com a outra pessoa, sinto-me culpada pela possibilidade de que elas se sintam desconfortáveis, atacadas ou ofendidas. Experiencio também medo de uma reação, raiva ou violência. Em uma fração de segundo, estou analisando o quão segura me sinto, considerando minhas opções para escapar e / ou mudar a situação, e tomando uma decisão sobre como e o que dizer para que eu possa restabelecer meu próprio conforto e bem-estar com o resultado menos violento.
Então eu preciso encontrar minha voz. Eu preciso respirar fundo. Eu preciso realmente falar. Eu sempre digo menos do que sinto. Eu sempre minimizo meu desconforto, peço desculpas ou comunico que não é culpa da outra pessoa, mesmo que absolutamente seja.
E mesmo que tudo corra bem e minha mensagem seja imediatamente ouvida, preciso proteger meu coração, muito rústico, e procurar uma maneira segura de sair dessa experiência. Preciso encontrar uma pessoa de segurança para sentar ao lado, pessoa que, dado o contexto, pode ou não estar presente. Eu preciso acalmar meu sistema nervoso e me recuperar de um estado muito agitado. Ter que definir limites verbais contra transgressões sexuais é muito perturbador, e a adrenalina pode me derrubar por dias.
Esse processo inteiro pode levar 10 segundos.
em um dos encontros de estudos sobre contato improvisação que a renata campos está conduzindo, discutimos a partir desse texto. lá surgiu a questão sobre a existência de alguma de melhorar a lida com o desconforto de dizer não, de reclamar, de trazer à tona. alguma forma de diminuir a dor de fazê-lo, de quebrar a resistência que temos a fazê-lo, em diferentes níveis e diferentes situações. no sentido de: existem exercícios possíveis para tal? a conversa sobre o assunto é certamente um deles. mas há outros? (por exemplo, alguma técnica de psicologia prática).
postado em 23 de maio de 2020, categoria comentários, dança : abuso sexual, contato improvisação, dizer não, misofonia, sarah gottlieb
depois que obtivermos o comunismo luxuriante totalmente automatizado, poderemos então ir ao que interessa. por isso entendo algo como erigir, no ramo da construção:
1. o ovo do smetak.
2. um lago para mergulho e explorações em profundidade aquática.
3. uma sala de contato improvisação sem atração gravitacional.
4. o castelo de ponta cabeça de garota revolucionária utena.
5. uma discoteca com túnel de vento na pista de dança.
postado em 19 de maio de 2019, categoria comentários : comunismo, contato improvisação, edificações, futuro, ovo, shouju kakumei utena, walter smetak
1. #pokemonparanoia
2. “o que é o alfabeto para você?”
3. #365diasdesexo
4. “tudo dá pra definir. mas definir nunca é fixar, porque a mente não é um papel.”
5. “contata improvisa vai descendo até o chão”
6. “primeiro, lavar a louça. depois comer. aí então cozinhar.”
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* a epilepsia foto sensível é extremamente rara, mas há um prazer de colocar avisos – é como se você tivesse poder, como se pudesse realmente causar algo violento; * com matheus preto albatroz dutra e/ou – chegamos à conclusão que não concordamos; * não lembro o conteúdo real da frase da maria caram, mas me pareceu um bom projeto para um quarentão desocupado; * imagino a renata campos pensando com essa cara :s, o seguinte: “obrigado iwao, que explicação linda”; * lembrei dessa canção de 2003 esses dias – juliana frança, que talvez a tenha inventado, curtiu no face, mas duvido que pratique; * paródia de um suposto provérbio japonês contado por eizaburo, meu vô: “de manhã planeja, de tarde trabalha, de noite descansa”.
postado em 10 de setembro de 2017, categoria crônicas : alfabeto, contato improvisação, definição, epilepsia, louça, pokemon, provérbios, sexo
numa jam de contato improvisação com crianças, todos podem ceder à tentação de carregar e girar o parceiro no ar, como encarnações do vento e da direção; o par homem carregador mulher carregada, com suas tensões de gênero, dá lugar a uma neutralidade que diz: “afinal, um é maior e o outro menor”.
postado em 4 de setembro de 2017, categoria comentários : contato improvisação, crianças, gênero, núcleo de improvisação em contato, pequena-dança, vento