estávamos discutindo o papel político da arte em virtude de uma banca que participei, ano passado (adorno e música de protesto) – o melhor texto que li sobre (não que tenha lido muitos) é do danto: dangerous art. fazendo um bliztkrieg noise com a flávia goa, um sujeito tentou tacar cerveja no gerador de energia à gasolina. tudo fora de cena, como convém (imaginem a confusão que foi a edição com henrique correia, no bar da rita, que começou com uma briga a socos, separada por felipe lopes, e seguiu com o próprio responsável pelo bar puxando o amplificador do henrique da tomada… – cortei a cena da porradaria, obviamente). de todo modo, no caso do evento da flávia, não sei o que aconteceria se o tal sujeito – um músico bêbado revoltado por ter sua paz perturbada por “barulho” – conseguisse. os perigos da combustão são muito diferentes daqueles da intervenção pública. mas há algo de disturbatório (pra usar uma expressão do danto) na arte que realiza um ativismo do sensível. o problema no entanto, só afeta aqueles que têm a dupla sensibilidade de entender que aquilo é de alguma forma arte e que aquilo não é como a arte deveria ser.
quanto mais peso damos ao dever-ser de uma arte, mais ela se mostra potente para rompê-lo e assim estabelecer seus perigos.
postado em 13 de fevereiro de 2025, categoria aforismos : arte, arte política, arthur danto, blitzkrieg noise, flávia goa, henrique correa
saiu na revista linda impressa número 2, dezembro de 2015, um artigo meu intitulado música-ruído e forma: começo de conversa. ainda não vou vincular o texto aqui, porque espero que alguns comprem a edição física e usufruam de alguns meses de exclusividade. para estes, inicialmente, mas depois para todos, deixo aqui a lista de referências utilizada, conforme me é caro (remendando-caos). (entrando em contato, é possível comprar algumas unidades de mim).
![2016-02-20 linda 2](http://henriqueiwao.seminalrecords.org/wp-content/uploads/2016/02/2016-02-20-linda-2.jpg)
ø: uma fala do merzbow no filme beyond ultra violence: uneasy listening by merzbow. contém a famosa colocação da década de 90 de que, à medida que noise [música de ruído] passou a ser considerado um gênero musical, ficou mais fácil tanto se concentrar no ruído puro (no som), quanto pensar a forma (musical) da música de ruído. extrarreferencialidade, que nada! (chega de shibari). ademais, a sanannda acácia, que fez a arte ao lado do título do texto, tem uma página no cargo collective.
1. paródia de da mihi factum, dabo tibi ius, do vocabulário jurídico.
3. a referência à disturbação, vem do livro o descrendeciamento filosófico da arte, de arthur danto, capítulo arte e disturbação.
4. as performances de kasper toeplitz e hrönir no bhnoise 2013 podem ser ouvidas aqui.
5. yersiniose lançou 1911 pela seminal records. de god pussy, governocídio é atribuído a darker days ahead e terceiro mundo chaos discos, e favela, a debila records. há um ou dois vídeos do duo nunzio-porres no youtube. the joy of noise poderia referir-se ao mashup homônimo do grupo riaa, mas mais provavelmente é um eco mental de informações adquiridas nesse programa idiota.
6. corpo código aberto era um duo, mas a um tempo é um solo. carla boregas não tem seu material lançado ainda. volume 1, de thiago miazzo, pode ser ouvido aqui.
7. uma entrevista com romain perrot no the quietus inspirou esse trecho (detalhe: eu deveria ter pedido para incluir essa imagem nesse ponto). o artigo citado é o capítulo 17 do livro editado por michael goddard et al, resonances: noise and contemporary music, qual seja, into the full: strawson, wychnegradsky and acoustic space in noise musics, de j.-p. caron. o álbum heavy metal maniac, de alfa lima international, pode ser ouvido aqui.
8. um vídeo-resumo do fime 2015 foi postado pelo ibrasotope, com um trechinho da performance de yuri bruscky.
9. um vídeo de uma performance de stones ii (noisecomposition iii), de j.-p. caron, pode ser visto aqui. é uma obra inspirada em stones, de christian wolff, parte da sua coleção de prosa. meu brasil não chega às oitavas vem desse álbum, mas existe também como performance. há uma vídeo de pronunciamento, de Manifestação Pacífica. vitrola e lixa, de gustavo torres, é descrita no seu site. a referência en passant à martin tétreault fica esclarecida ao consultar-se essa pequena entrevista dada para a trienal de quebec. o comentário sobre insignificanto se refere à segunda parte dessa performance (embora, nessa ocasião, o alto falante não tenha se desconectado, o que por vezes acontece, por engano, no meio da ruidera).
10. gx-jupiter larsen tem diversos trabalhos que podem ser situados na junção entre o noise e a arte conceitual. o monolito é uma imagem bonita, do clássico 2001: uma odisséia no espaço, de arthur c. clarke, mas não apenas: 3001 nos espera.
11. victim! tem vários álbuns. os dois lançamentos pela toc label devem exemplificar melhor esse ponto. verjault lançou alguns álbuns pela plataforma records e brainflesh, pela seminal records. bella acabou lançando o álbum dela, cantar sobre os ossos. há uma entrevista bacana com ela, aqui. vejam: não tenho nenhum interesse em não divulgar os trabalhos dos meus colegas e do meu selo virtual – eles me fazem pensar, eles me dão uma boa dose de alegria!
12. argh, gostaria de poder reescrever esse. enfim, acavernus tem um bandcamp. o álbum rainha, do grupo dedo, foi lançado pelo qtv.
postado em 20 de fevereiro de 2016, categoria reblog, textos : acavernus, arthur c. clark, arthur danto, bandcamp, bella, bhnoise, christian wolff, dabo tibi ius, dedo, duo nunzio-porres, fime, god pussy, gx-jupiter larsen, henrique iwao, hrönir, ibrasotope, insignificanto, j.-p. caron, kasper toeplitz, linda, manifestação pacífica, martin tétreault, merzbow, mihi factum, monolito, nme, nobuyoshi araki, plataforma records, qvt, sanannda acácia, seminal records, shibari, toc label, verjault, victim!, yersiniose, yuri bruscky
escreve arthur danto, em andy warhol, cosac naify, 2012, p.44-5:
A nova pergunta não era, “O que é arte?”, mas “Qual a diferença entre duas coisas, exatamente iguais, uma das quais é arte e a outra não?”. Nesses [45] termos, a pergunta se tornou uma questão quase religiosa. Jesus é simultaneamente humano e divino. Nós sabemos o que é ser humano – é sangrar e sofrer, como Jesus, ou os consumidores a que se dirigem os anúncios. Assim, qual a diferença entre um homem que é deus e um homem que não é? Como determinar a diferença entre eles? Que Jesus era humano é a mensagem natural da circuncisão de Cristo. É o primeiro sinal de sangue real escorrendo. Que ele é Deus é a intenção da mensagem que o halo em volta de sua cabeça anuncia – um símbolo que é lido como uma inegável marca da divindade.
com o advento da transmutação do mundo na terra dos homólogos artísticos, se cada coisa confunde-se com o seu equivalente artístico, em cada homem procuramos o jesus da segunda vinda. a trombeta de deus toca música-silêncio.
postado em 21 de novembro de 2015, categoria comentários, livros : andy warhol, arthur danto, deus, homólogos, indiscerníveis, jesus cristo, segunda vinda, silêncio, transmutação