a arte sonora e a arte conceitual não precisam ser simples. a simplicidade não é exigência para consistência artística nem para existência conceitual. você pode ter de explicar a ideia de algo conceitual em várias páginas, ao invés de em um breve parágrafo. pode haver uma constelação conceitual, um arquipélago, ao invés de uma unidade isolada. e não é por que há uma relação de elementos intrincados que algo deixa de ser arte sonora e vira música. “a partir daqui, me perco, então só escuto”. talvez por esse efeito, em que o inteligível dá lugar à experiência estética, ao recusar o enigma, tenha-se buscado o pontual, sóbrio, o anedótico, o criptografado, o abstêmio, íntegro, elementar… contra isso, uma arte de detetive, e que usa os sentidos como tema para as elaborações da ideia e vice versa. então, contra meramente fornecer uma chave que bastaria para resolver a interpretação e uma limpidez que resolveria a fruição, movendo do estético e em parte o anulando, em direção ao conceitual.
postado em 17 de junho de 2019, categoria comentários : arte conceitual, arte sonora, música, simplicidade
em 01 de abril de 2017 cássio siqueira figueiredo declarou que todas as músicas existentes haviam sido gravadas em andamentos errados e, portanto, estavam incorretamente soando mais rápidas do que deveriam. de modo que, a partir de então, todos deveriam reproduzi-las apenas a velocidades iguais ou abaixo de 0.75 vezes a taxa normal.
postado em 1 de abril de 2017, categoria proposições : 0.75, arte conceitual, cássio siqueira figueiredo, declaração, gravação, reprodução, vaporwave, youtube
se a filosofia é a arte conceitual cujo material é o pensamento (rosi braidotti falando sobre françois laruelle), então a política é a arte conceitual cujo material é o poder. nisso, a essência do poder continua sendo a estética, de toda forma (o que não tem, ao que parece, relação direta nenhuma nem com o belo nem com o bom).
postado em 7 de junho de 2016, categoria aforismos : alfred north whitehead, arte conceitual, estética, filosofia, françois laruelle, modes of thought, poder, política, rosi braidotti
novo álbum/performance minha, especial para a copa do mundo, pode ser baixado aqui.
postado em 12 de junho de 2014, categoria música, performances : álbum, arte conceitual, brasil, copa do mundo, futebol, noise, obrasilnãochegaàsoitavas, pelego, performance
há um jogo cujo jogar com sucesso consiste em não pensar no jogo. henry flynt, em uma das suas peças conceituais da década de 60, estipula que o intérprete deve agir de modo que ninguém saiba o que está acontecendo. alguns marxistas relacionam ideologia e ignorância.
postado em 17 de março de 2014, categoria comentários : arte conceitual, henry flynt, ideologia, marxismo, the game
o colega j.-p. caron demonstrou esses dias estar preocupado com a questão dos indiscerníveis na arte conceitual e na música experimental/contemporânea. peter ablinger fornece um exemplo bastante interessante, em uma obra criada em 1999 (agradecimentos a paulo dantas que gentilmente me presenteou o portfólio de ablinger da haus um waldsee).
Weiss / Weisslich 36, Kopfhörer
Ear-covering headphones with fixed microphones; microphones are connected to the headphones thrhough which you hear what the microphone picks up as it does.
As the microphone is directly connected to the headphones what you hear with headphones is the same as without. But: the same is not the same. There is a difference.
At least the difference between just being here and: listening. That difference is the piece.
(Peter Ablinger – HÖREN hören / hearing LISTENING, Haus am Waldsee / Kehrer Verlag, Berlin 2008, p.71)
“branco / esbranquiçado 36, fones de ouvido
fones de ouvido que cobrem as orelhas, equipados com microfones; microfones estão conectados aos fones de ouvido; fones de ouvido fazem escutar o que os microfones captam ao funcionarem. como os microfones estão diretamente conectados ao fone de ouvido o que se ouve é o mesmo que se ouviria sem os fones de ouvidos. mas o mesmo não é o mesmo. há uma diferença. ao menos a diferença entre apenas estar lá e de fato escutar. essa diferença é a peça.
postado em 27 de fevereiro de 2014, categoria música : arte conceitual, fones de ouvido, indicscerníveis, peter ablinger, weiss / weisslich