os não-melhores álbuns de 2015

listas de fim de ano tem a vantagem de tornar estrategicamente ruim lançar álbuns em dezembro, deixando o mês inteiro como “momento de ouvir muitas músicas e gostar de poucas”; em algum momento, inclusive, a questão, com a internet, é ir baixando deletando, ir ouvindo pulando. nesse esquema ouvi trêz álbuns até o final, por enquanto: sexwitch; music in exile; garden of delete. a outra vantagem é de mostrar como nosso hábitos de linguagem e de construção de sentido estão cheio de generalizações mal definidas, picuínhas transformadas em condições existenciais, percepções complexas feitas arrotos verbais etc. enfim, é o momento de transpor a forma funil à toda e qualquer incomensurabilidade e se regozijar na linguagem publicitária, esse bem universal.

em uma relação ambígua quanto a isso ofereço uma pequenina lista de não-melhores de 2015. com isso quero dizer: álbuns que eu considero valerem muito a pena ouvir; álbuns que me fizeram pensar, que me fizeram reavaliar o que para mim é escutar; álbuns que me mostraram saídas e caminhos diversos e interessantes, habilidades e construções que eu mesmo não iria atrás mas admiro muito. por fim, são álbuns todos eles de colegas, o que quer dizer: pessoas que trombo por aí. não necessariamente o que valorizamos mais está longe; pode estar bem próximo. ademais, a lista é propositadamente curta: há muita coisa boa sendo feita, mas com todas essas listas, ficarei feliz se o leitor dessa postagem ouvir um álbum destes até o final.

£ stefan prins, peter jacquemyn, matthias koole – mármore e murta: como disse marco scarassatti, “música improvisada a valer”. energia, equilíbrio, consistência, mas sem perder a dose de risco que é o melhor complemento que se pode ter ao domínio.

≠ flores feias – f .˙. f .˙.: canções levemente desafinadas e riffs de rock que se atêm ao simples; cortes abruptos e caseiros; som sombrio.

¢ macos campello – bamsa: improvisos de guitarra solo; um fundo de samba (de standards a lá bailey); sequências extravagantes e macromontagens como num filme de goddard.

∞ god pussy – animal: ruidera visceral, recortada em faixas/sessões, com a diferença importante de que elas seguem por 3 horas a fio.

¶ bella – cantar sobre os ossos: no lado b, a relação sobreposta entre as diversas camadas aí distorcidas da colagem de obras de mulheres e a voz e seu canto tanto ritualístico quanto desconcertante. a construção no não encaixe, na retomada soterrada.

§ j.-p. caron – breviário: álbum de tom lírico e confessional: aproximações entre música e sentimentos cotidianos. acompanha ou é acompanhada por belos poemas-partitura (baixe o álbum). entrelaçamentos de uma vida.


postado em 21 de dezembro de 2015, categoria resenhas : , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

frases do mês, agosto-setembro

1. o homem é o único animal que não tem deus próprio. todos os outros animais têm seus deuses próprios. o guaxinim, por exemplo.

2. se eu não comesse queijo não teria problemas na próstata (não que eu tenha).

3. antes ser um desconhecido que um herói. um desconhecido de espírito heróico, decerto. (antes deixar o mundo como ele está do que mudar o mundo pra melhor. melhor deixar ele como está da melhor maneira possível)


postado em 25 de setembro de 2014, categoria aforismos : , , , , , , , , , ,