1. desde julho uns livros sobre bataille não me chegam. há uma mensagem específica no bookdepository: “if you are ordering from brazil…“. ah, curitiba, curitiba, lar da receita federal.
2. finalmente o brasil mostrou que não é necessário monarcas. cervejeiros e banqueiros bastam. o 1% é nosso. depois da pesquisa que dizia que trabalhadores de fábrica chinesas ganhavam em média melhor que aqui, era essa a próxima mesmo. orgulho nacional.
3. no final era hitler. sempre ele. mas ele se travestia de pura energia, aparecendo como um samurai mágico. suas estátuas canhão indianas, na forma de mulheres buda de ouro, acordaram para a individualidade. bastou um “cogito ergo sum” para que elas começassem a destruir uma às outras, pois compartilhavam o mesmo programa e assim queriam ser cada uma, individualmente, única. descartes e a destruição que resulta na manutenção da paz no universo. (ep 39 de “space adventure cobra“).
4. o fim da neutralidade da internet é um daqueles assuntos em que eu sinto que devo comentar sobre. mas comentar o que? nunca vi um único usuário ser a favor de ser sacaneado e ter menos acesso, além de sentir se na mão de uns imbecis cheios da grana.
5, assim é. um bar fecha a rua com ajuda da polícia militar vira e mexe. os motoristas nunca sabem e de qualquer forma tem de pegar os passageiros e depois dar ré. a rota é tortuosa, e às vezes erra-se a curva. há sempre resmungos. no ponto, a 3 anos o teto rachou e desde então vai se deteriorando. as pessoas olham pra cima preocupadas, se e se escondem do sol do outro lado da rua. e resmungam. quando o ônibus para fora do ponto, em uma chuva do tipo “inunda rua”, a mulher grita ao motorista pra aproximar da calçada. ele finge que não ouviu. espera ela descer, só que ela não desce, então ele vai pro próximo ponto e para igualmente na rua. ela vai ficar imensamente encharcada. é uma senhora já idosa. a opinião se divide. mas ela quer o quê também, isso não é um taxi. às vezes eu acho tudo isso ofensivo. às vezes eu intervenho, vou até o motorista, argumento com os passageiros, ligo pra bhtrans pelo ponto. felizmente, há ainda antropologia. mas é cansativo.
6. domingo em belo horizonte e eu, por indocrinação paulista, procuro em vão uma cafeteria aberta. não há. não porque eu esteja em bairros afastados. não estou. a realidade vence a vontade. não deixo de ecoar um desprezo pelo suposto nível civilizatório inferior que isso indica a alguém cujo convite “vamos nos encontrar lá no café” é um exemplo de “pura ideologia”.
1. Não é que devamos erigir um conjunto de princípios morais para evitar que Hitler legitime seus homicídios idiotas, pois não haveria nenhum princípio desse tipo que o próprio Hitler não pudesse usar em seu benefício. A resistência contra alguém como Hitler ou Stalin não pode significar, em absoluto, uma luta ‘pelos valores autênticos’, ‘pela civilização’, ‘contra a barbárie’ e justificativas semelhantes. Para defender-me, não preciso de uma moral. [69]
2. Os discursos acerca de desastres sociais (guerra nuclear, extermínio judeu, terrorismo etc.) transformam-se, quase insensivelmente, em discursos apologéticos do ser, como quando se fala que uma guerra nuclear seria ‘o fim da nossa civilização’, como se a civilização sem a guerra nuclear existisse, ou como quando se fala do nazismo como da ‘barbárie’, como se alguma vez estivéssemos totalmente fora dela. Utilizam-se retoricamente esses fenômenos sociais, nos quais a condição humana é aumentada a tamanhos imensos, para mostrar que a vida sem esses fenômenos seria ‘civilizada’, livre, não bárbara e ‘verdadeiramente humana’. (Nada como a presença de um monstro para vender a bom preço a ideia de ‘humano’.) [85-6]
3. Hitler continua sendo o grande impulsor da reflexão ética contemporânea: a astúcia da indeterminação se manifesta clara e ironicamente nas condenações éticas das ações de Hitler baseadas em posições filosóficas contrárias umas das outras: para Adorno, Hitler foi possível devido à aplicação irrestrita da racionalidade burocrático-formal, cujo paradigma é a lógica analítica; para Popper, ele foi possível devido à introdução da irracionalidade dialética e do assalto ao princípio da não contradição. Cômico, extremamente cômico! Dada uma filosofia qualquer, é só questão de habilidade e tempo livre fazer com que as ações de Hitler se deduzam dela. O caminho da argumentação é infinito, e da Bíblia a Mein Kampf há apenas o fio de um silogismo.” [103-4]
4. Enquanto os filósofos morais proclamam ser apenas ‘cientistas’, e não pregadores morais, Hitler aproveita para matar alguns milhões. (Hitler conseguiu fazer alguma coisa no terreno da moralidade, assumindo fortemente uma improvisação moral baseada na criação de valores. Não foi publicada uma única obra filosófica de moral que realimentasse tanto a reflexão moral quanto a ‘Solução final’.) [107]
{cabrera, julio. a ética e suas negações. rocco, 2011}
já foi dito pelo meu colega j.-p. caron algumas vezes que hitler é o medidor universal. falta a algum artista compilar tudo isso, à lá christian marclay, numa grande exposição cujo título bem poderia ser “hitler el jugo de naranja”.