adeus 2024

esse ano começou muito bem, em dezembro de 2023, com uma viagem incrível com família e esposa para ubatuba (praia brava de fortaleza), com direito a quase bater a cara em uma raia no parque estadual da ilha de anchieta. logo que voltei à campinas, entretanto, derrubei água quente em minha mão, ao fazer café. mesmo assim, fui à botucatu, joguei futebol com os primos e entrei em regime de engorda. quando voltamos para belo horizonte, nossos novos vizinhos do andar de baixo resolveram impedir-nos de usar o quintal e aplicar em nós doses cavalares de individualismo antipático.

sofremos, mas aos poucos fomos acostumando. em algum momento eu e carol começamos a jogar tênis de mesa, entendendo como é melindroso, o que talvez aumente a necessidade de dominar o básico. continuei com a peladinha de domingo e a secretariar o grupo de estudos de filosofia da música. lemos adorno sobre beethoven e discutimos um pouco sobre isso com daniel arelli; conversamos sobre dissonância e iniciamos a leitura de the time of music, do kramer.

retomei meu blogue e minha veia blogueira, mesmo que 35% das minhas 31 postagens tenham vindo de rascunhos antigos. explico: eu tinha cerca de 250 postagens não publicadas; vasculhei todas em busca de material relevante. fui selecionando e re-escrevendo, chegando a 75 textos. publiquei sobre a movimentação de extrema direita por mais impostos e menos pão, sobre quantos sucos diferentes tomaríamos na cantina da física, na época da faculdade, sobre artistas doidinhos e unidades monetárias; disponibilizei uma coletânea de vinhetas e minha teoria do pão de queijo; também, uma defesa incompleta do uso do termo música experimental, mais gravações que fiz de moscas na casa antiga no esplanada. por algum motivo estranho, não tinha publicado o necrológio para o músico zbigniew karkowski, influente na nossa cena, anos atrás. também havia um poema perdido, sobre repetições exatas.

quanto a conteúdo novo, escrevi umas crônicas. vivenciei uma morte no uai e a galera da copiadora evitando pensar. não lembro exatamente porque, mas consolidei minha crítica à arte da performance (que na verdade é uma crítica contra a maneira como fazemos registros de performances). não foi muito, mas também, estudar para concursos é desgastante (mais sobre isso adiante).

melhor anime que vi foi provavelmente arcane 2, apesar do esquema narrativo convoluto utilizado para fechar a bagunceira da história; destaque também para dandadan e seu ritmo adolesc frenético. não lembro de tantos filmes, exceto o interessante retrato de toritama, a capital brasileira do jeans, em estou me guardando para quando o carnaval chegar; como sempre, adorei o que trond reinholdtsen lançou em seu canal – to arms! to arms! é uma ópera incrível. na bienal itinerante (re)vi o samba do criolo doido, do luiz de abreu. continua impactante. vimos um monte de séries, destaque pra xogum e sua trama de intriga política samurai.

fiquei fascinado com os covers rock indie de the shaggs, que soam tanto como shaggs desentortados, como indie entortados, o que me inspirou a fazer um vídeo simplório, ao piano. também tive paixonite pelo the grid, do tigran e tirei 85% da peça (enrolo no solo, erro na baladinha). tivemos bons álbuns lançados no ano, mas vou me contentar em apenas recomendar meus destaques feitos a partir de listas de final de ano de outrem: o superlesbianismo de colinho, da maria beraldo, o entrosamento artrópode de KN​Æ​KKET SMIL, de maria bertel & nina garcia, o lirismo no-wave de if i don’t make it, i love u, de still house plants e pop chique da mabe fratti em sentir que no sabes. via andreyev, fiquei sabendo da versão do sheeran dos estudos microtonais do blackwood, e recomendo, mesmo não sendo dessa categoria (destaques de 2024).

eu mesmo lancei dois bons álbuns, pela seminal records: without the beatles, com mário del nunzio, resgatando um projeto de 2007! por lá, criamos músicas para piano, livremente inspiradas em canções dos beatles. contei um pouco sobre e dei uma entrevista no supertônica, para o arrigo barnabé. senti toda a nostalgia enquanto fazia um vídeo-clipe. já em dezembro, também com del nunzio, mas contando adicionalmente com= matthias koole, finalmente soltamos um álbum de nosso trio, infinito menos – três-tríade-triângulo-trio, que acabou com uma capa bem mineira, apesar de eu ser o único integrante a viver no estado.

li vários livros, como sempre, e muitos deles no áudio-livro, todos com sua devida resenha publicada. como isso se consolidou, a gramática de ler foi atualizada (incluindo algo que antes eu chamava de ouvir). consumi inúmeros volumes, em japonês, do homem do soco único (onepunch-man) e destaco os volumes 26, 21 e 10; terminei a incompleta guerra dos tronos (tudo é excelente, incluindo livros 3 e 5, mas excluindo o livro 4, que ficou como um entremeio sem grandes acontecimentos). finalmente ataquei o cem anos de solidão, que encanta pela prosa atropelada das confusões terceiro-mundistas. walter me emprestou o uzumaki, do junji ito e vale a pena, pela bizarrice geômetra onirodínica, embora com soluções simples, episódicas. na poesia, finalmente consegui comprar um teste de resistores, da marília garcia. não decepcionou, apesar de ser muitíssimo ‘elite cultural carioca’. sound within sound, da kate molleson, foi o melhor livro pra descobrir música interessante que li em muito tempo. na filosofia, theory of the gimmick, da sianne ngai, foi o achado, renovação da filosofia crítica e um mix de marxismo antenado ao atual, na estética.

finalmente publiquei um livro. eu já estava para fazê-lo, desde a pandemia, mas o conteúdo foi inesperado. é que yuri bruscky argumentou contra a coletânea de textos curtos (por motivos orçamentários, principalmente) e sugeriu algo menor. fuçando nas minhas coisas, tive a feliz surpresa de entender que minhas partituras texto e jogos musicais de juventude eram legais. publiquei prosódia musical, jogos, etc pelo estranhas ocupações. imprimi umas cartinhas de improvisação, fiz uns lançamentos, e dei uma entrevista no tropofonia, do cesco napoli. foi bom também que revisitei minhas cartas de improvisação, fazendo um show memorável (para mim, ao menos) com inés terra e mário del nunzio. para os lançamentos, toquei com pessoal de belo horizonte (pretti-aiseó, no faísca), juiz de fora (com o difluência) e finalmente rio de janeiro (nesta ocasião, um revival, com alves-campello-sarpa). usei com orgulho o nome antigo de henrique iwao e a incrível máquina de ei você não pode fazer isso. em 2025 quero continuar vendendo e divulgando o livro – que talvez possa ser usado também em contexto de pedagogia musical.

falando em shows, fizemos uma temporada das quartas de improviso (às quintas?) na impressões de minas, descobrindo mais uma parceria instigante. mantivemos o praça 6, desta vez conseguindo, com um gerador à gasolina, filmar dois bliztkrieg noise, com a flávia goa no bar do orlando e marcus neves na lagoa da pampulha. procurei tocar mais vezes com mário e quando possível, com o infinito menos. em uma dessas, esbarrei na teta e no mesmo dia, invoquei o princípio da amizade. em um boteco ruído, fui além, invocando a máxima do reino do caos.

toquei também em curitiba, em um desconcerto organizado pelo branda. é que, desempregado (situação que infelizmente, ainda perdura), comecei a fazer uns concursos e o da unespar, por lá, parecia excelente. infelizmente não fui esperto o suficiente para não ser sacaneado. as profecias sempre estarão certas – e quem é otário o será. de todo modo tentei também um substituto na unicamp, desisti de um em brasília, zerei um na ufmg e tive dois pós-docs recusados (o do cnpq com um parecer equivocado e uma resposta negligente). de resto, fui bem recebido quanto à minha produção acadêmica: dei uma entrevista sobre meu doutorado para o caio souto e tive a tese indicada para os prêmios da anpof e cnpq. apresentei algo sobre ordens alfabéticas e algo sobre públicos revoltados; publiquei sobre o mundo da arte e micropausas, participei de uma banca, fiz uns pareceres para artigos e mandei faixa para um dossiê de poéticas sonoras, que incluiu uma homenagem para a cássia siqueira, falecida em meados de agosto. mandei também outro texto em inglês, sem antes resmungar do prazo anunciado – 31 de dezembro. nesse finalzinho, miguel javaral escreveu sobre minhas colagens em o som como parasita da palavra. disse ele que nas colagens musicais, muitas vezes estou a explorar a fenda entre som e linguagem. achei bacana (e pertinente).

ao escrever esse remendo-caos aqui, fiquei pensando o que estaria a explorar. claro, repassar o ano é importante – saber o que fiz, que há produtividade na existência e que isso pode ser bom. mas pensei o seguinte – uma internet sem hiperlinks é um lugar banal e chato.


postado em 21 de janeiro de 2025, categoria reblog : , ,