o produtivo bartleby
uma coisa entretanto, me fez pensar: o exemplo enxertado do bartleby. bom, o que representa o bartlebly, aquela personagem que diz i rather not (eu prefiro não), do melville?
o bartebly que não faz nada gera artigos e livros inteiros: deleuze e agamben, mais todos artigos de comentadores (no congresso que fui tinha pelo menos um, e muitos artistas que eu conheço se inspiram nele para produzir obras). pra mim ele representa o mundo encantado do outro, daquele que contrariamente ao escritor, ao pensador, ao artista, não está produzindo. ele é para mim a representação da idealização da não-produção. e é uma maneira de assim expurgar a não-produção e usá-la para combater a má consciência por produzir tanto.
quando lyotard, no inumano, fala de melancolia, ele está já falando também, na década de 80, de uma resignação, de viver no grande hotel abismo [como adorno, um workaholic], e articula esse problema: escrevo isso como poesia-filosofia, mas ao escrever, não posso estar melancólico, posso apenas assumir essa posição de aceitar mal a boa maneira de se expressar, aceitar melancolicamente – isto é, sem me engajar contra minha própria produtividade.
[dos rascunhos, julho de 2020]
postado em 6 de janeiro de 2025, categoria comentários : bartleby, herman melville, jean-françois lyotard, melancolia, produtividade