o pôr do sol, granadas explodindo, homens que correm e caem
no célebre artigo de 1939, vanguarda e kitsch, clement greenberg cita um quadro de repin que, para sua consternação, anos depois, soube nunca haver pintado sequer uma cena de batalha. provincianismo em relação à rússia a parte, é mais o poder da retórica e do argumento que estão em questão na coleção particular, de georges perec, do que o falseamento ou não da autoria.
Mas, sendo as coisas como são na Rússia – e em todos os outros lugares -, o camponês logo descobre que, precisando trabalhar duramente o dia inteiro para sua sobrevivência e vivendo nas circunstâncias rudes e desconfortáveis em que vive, não dispõe de tempo livre, energia e conforto suficientes para preparar-se para a apreciação de um Picasso. Isso exige, afinal, uma considerável quantidade de “condicionamento”. A alta cultura é uma das criações humanas mais artificiais, e o camponês não encontra dentro de si nenhuma urgência “natural” que o conduza na direção de Picasso apesar das dificuldades. No fim, quando sentir vontade de olhar pinturas o camponês voltará ao kitsch, pois pode apreciá-lo sem fazer esforço.
{trad. otacílio nunes; em: arte e cultra – ensaios críticos, clement greenberg, cosac naify 2013}
postado em 1 de setembro de 2016, categoria comentários, excertos : a coleção particular, clement greenberg, georges perec, ilya repin, kitsch, pablo picaso