limbo

o limbo como uma sala de espera. há televisões para onde quer que se olhe, sentado em sofás, e não há sono. é impossível dormir e impraticável fechar os olhos, quanto mais os ouvidos. o espaço é dominado pelos sofás. as televisões funcionam como cortinas, a esconder a bancada de atendimento. o que passa nas telas das televisões? estática, mas não no sentido habitual. estática como algo próximo ao ruído branco, acompanhada por ele: todas as frequências, tanto visualizáveis quanto audíveis. mas isso ainda é pouco: imagina-se a estática-ruído branco como o espelho que reflete aquilo que se quer ver; aos poucos, aprende-se a filtrar as faixas indesejáveis e a formar assim as imagens, visuais e sonoras.

por que o limbo? chegou-se lá e disseram: esperem. perguntou-se, esperar o quê? não sabemos. algo a porvir. algo a ser inventado. isso foi antes da redenção aquática. estavam lá, e adão e eva, em sofás diferentes mas contíguos, assistindo aos incestos primordiais e à formação da natureza como um outro. estática. ruído branco.

para valério fiel da costa.


postado em 10 de março de 2013, categoria Uncategorized