céu
enquanto há certa facilidade quanto à descrição do purgatório e do inferno, o mesmo não se dá com o céu. pois, justamente, o céu não é, em um sentido preciso: não há descrição possível. dos anjos caídos, obtém-se a informação de que o céu é um instante e não um lugar. a vaga luz da perfeição a se extinguir antes de um piscar de olhos. era tão bom e entretanto, nem ser era. havia todo um toque do divino, mas como não houvesse permanência sentida sem seu apagamento em sentimento, tudo o que dizem é que lá estiveram, mas não. justamente, não havia lá, nem estar.
o céu como o não-lugar. se isso concorda com a intuição de que o céu seja vazio, não é pelo fato de não haver nada nele, ou de nele haver o nada, mas porque, por constituição, o céu não pode nem ao menos reter seu próprio desaparecimento. e então, se o céu perdura numa série de instantes que se apagam, e então imagina-se o céu como o lugar da desmemória, esquece-se que nem a desmemoriação é retida. se de fora diz-se: “há lâmpadas, congestionamentos, abajures, pessoas e bonés coloridos, há puros elementos, há a grande verticalidade, há cachorros e cavalos”, diz-se isso imerso em leviandade. muitos preferem a negativa: “não há formulários, e nem reuniões”.
diz-se também do céu também que ele é o em-si da destruição total, embora eu não possa nem ao menos entender o que isso sifnifica.
postado em 14 de março de 2013, categoria Uncategorized