excerto de áudio e uma foto do ensaio. realizado com apoio de rafael sarpa. da esquerda para a direita, henrique iwao, matthias koole, jean-pierre caron.
após um longo período desencontrado com marcelo muniz, consiguimos nos reunir para ensaiar no dia 26 de agosto de 2012 – eu, ele e danilo barros. o grupo de pesquisa mobile e o deptartamento de música da eca/usp gentilmente nos cederam o espaço (fernando iazzetta e pedro paulo kohler, agradecemos o apoio e ajuda!).
fotos por henrique iwao. (1) quando terminamos de ensaiar. (2) detalhe dos pequeno artefatos utilizados na mesa. (3) notas / esboço de um esquema estrutural para a performance.
gravei um trecho não especialmente concentrado nem eficiente de nosso ensaio. infelizmente, as mudanças devido a participação de danilo barros não ficam aparentes. vamos ver como ficará na mostra live cinema.
1. ouvi inteiro a peça de magno caliman (veja a descrição aqui). 1.1 isso diz bastante sobre a esperança como característica do homem. 1.2 esperança de mudança. 1.3 como um pensamento antecipando a escuta: “daqui a um tempo, o inesperado”. 1.4 esperando o inesperado.
2. ao mesmo tempo, familiarização. 2.1 os sons recedem para um fundo, chegam a passar desapercebidos enquanto faço outras coisas. 2.2 de quando em quando, reaparecem, o timbre um pouco diferente. 2.3 acabo acostumando com eles. 2.4 acostumo com a ideia de que sempre será assim, aquele padrão, 3 horas e meia, ouvindo aquilo. 2.5 já se passaram mais de uma hora, porque não continuar? 2.6 quem sabe mude.
3. a vontade de mudança recede para um “seria bom se mudasse”. 3.1 esperando o inesperado que não virá. 3.2 é como a expressão “à espera de um milagre”, mas sem nenhuma pressa. 3.3 tranquilo, sei que as 3 horas e meia assim permanecerão. 3.4 depois disso, aí sim, virá a mudança. 3.5 como depois da vida, a morte.
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há toda uma “cena” na internet de músicas e vídeos criados convertendo dados diversos em dados de áudio e/ou vídeo. duas outras peças foram-me indicadas por johannes kreidler:
em 2004 eu gravei minha placa de som “onboard” [interna] de meu computador pentium 3, funcionando enquanto eu fazia outras operações no computador. amplifiquei as gravações muitas vezes (mil vezes?) e ordenei as partes, em 2008, creio. o resultado pode ser baixado aqui: cpu 100%.
“i have complete confidence that this is music. yet, i hear no sound in my head while composing it” [eu tenho completa confiança de que isso é música. e no entanto, eu não ouço som algum na minha cabeça quando a estou compondo].
nos meus 28 ou 29 anos de vida, sempre achei os diálogos de platão uma grande perda de tempo (diferentemente de wittgenstein, que parece dizer que eles são uma “grandiosa perda de tempo”). jean-pierre caron comentou minha postagem (facebook #1), dizendo:
“as coisas começam a ficar boas quando não são mais opiniões, mas uma atividade. quando começa a se sentir o atrito das inferências. ;)”
fiquei pensando sobre isso. é uma espécie de sócrates dos tempos modernos.
[acima um excerto da obra, sua seção 4. a obra completa estará disponível se o projeto nmeaniversário conseguir financiamento]
3.1 coisas como “que, na, o, e” viram facilmente ruídos. o erre é por vezes não-pronunciado e difícil de pegar fora do contexto. “seu” soa como “só”, muitas vezes.
3.2 uma vez, “dentro”, sem consultar a letra, soava pra mim como “ser”. “demora” aparece sem o “d”. “que” soa “pss” quando seguido de “segredo”.
3.3 suspeito que “pro” em algumas vezes nem seja pronunciado, e os ouvintes que preenchem com a mente.
3.4 “cristo” facilmente soa como “iszo”. “chegando em casa” soa perfeito, separando as palavras, o “em” simplesmente some.
3.5 “costas” lembra “cobra”. “trazia” soa “brazil”. SEMPRE -> se. sua -> sa. rico -> hiq.
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essa obra fará parte do cd + dvd nmeaniversário se o projeto conseguir o financiamento necessário para seu lançamento. para contribuir acesse: http://catarse.me/pt/projects/838-nmeaniversario. os bônus são justamente os produtos. peço que ajudem a divulgar.
lemos de tudo mas não hegel. aliás: how to fake your way through hegel [acho bem difícil de traduzir: “como falsear seu caminho através de hegel” seria literal demais; “como fingir ser um conhecedor de hegel”].
ps: devo essa postagem a j.-p. caron, que me indicou os conteúdos.
Realizada por e-mail, nos dias 25 e 26 de junho de 2012. Entrevista por Henrique Iwao. Tradução do inglês para o português e revisão por Sofia Betancor e Henrique Iwao.
Oi Erik. Em primeiro lugar, você poderia me contar um pouco sobre quem é você, onde você mora e qual o seu envolvimento com pesquisa e o fazer musical?
Sou violinista e moro em Nova Iorque. Tocar com o Ensemble Contemporâneo Internacional é meu trabalho principal. Também componho um pouco à parte, como você pôde ver no meu sítio de internet.
Qual é o contexto exato em que você fez o vídeo? Foi parte de uma pesquisa? Pode ser considerado um videoclipe? Ou música per se?
O vídeo surgiu de partes iguais de curiosidade e amor. Eu amo a sinfonia [Eroica], e gosto de quase todos os diversos estilos de tocá-la. A ideia para o vídeo teve várias fontes – venho escrevendo uma peça orquestral usando sons de abertura de outras obras para orquestra, arranjadas cronologicamente. Havia também uma peça de dança, de Ohad Naharin, que vi recentemente, em que repetidamente começava a mesma frase muitas vezes. E também, claro, uma de minhas peças favoritas de música, z24 de John Oswald +.
O início da Terceira sinfonia de Beethoven pareceu perfeito por ser muito curto e bem reconhecível, é uma entidade independente (facilmente removível de seu contexto), e também foi extensivamente gravado. Quando tive a ideia fiquei extremamente curioso em como soaria e se desenvolveria.
Não sei ao certo como categorizar o vídeo. Fi-lo com o Youtube em mente, como um bom hospedeiro para ele. O vídeo é o que é.
O que você acha que esse tipo de abordagem tem a oferecer, em perspectivas tanto musicológicas quanto de experiência estética?
Eu gosto da pouca quantidade de informação concentrada no vídeo. Você pode ouvir as diferenças de tecnologia de gravação, de tempos, altura, duração, balanço, articulação, espaço de gravação, intenção expressiva, e até mesmo masterização. E acho que leva a questões interessantes, como: quais características foram de propósito? E o que vem a seguir?
Mais do que isso eu espero que seja um pouco esdrúxulo. Além de alimentar uma curiosidade, espero ser um deleite, e por vezes humorado.
Você tem alguma conclusão sobre as diferenças obtidas entre aberturas?
Acho que a informação mais interessante, nessas gravações, de estilo e escolhas expressivas, desafiam minhas habilidades de explanação escrita, e são melhor compiladas com apenas a escuta cuidadosa às gravações. O que me sinto apto a colocar em palavras são somente as conclusões mais básicas, como a de que a tecnologia de microfones melhorou consideravelmente desde a década de 1920.
Você tem algum comentário sobre a disposição cronológica? Você acha que se mostra nos sons dispostos?
Certamente, em aspectos técnicos como a qualidade de som. É difícil dizer sobre interpretação. Obviamente a maioria das performances não são gravadas, então enquanto é possível perceber tendências gerais, cronologicamente, no vídeo, eu sinto que são amostras tão pequenas de performances que seria complicado fazer generalizações sem mais informação.
+ Nessa obra, Oswald sobrepõe 24 versões diferentes da abertura de Also Sprach Zaratustra, de Richard Strauss. As sobreposições são organizadas mantendo o primeiro ataque do acorde de dó-maior sincronizado entre todas elas. A Seeland lançou uma colet nea contendo essa obra. Ela pode ser comprada aqui.
agora que entreguei a dissertação de mestrado, dois dias antes da minha linha da morte, posso postar esse texto, escrito provavelmente em dezembro de 2011. não postei antes por superstição. por achar que poderia ter efeitos psicológicos malignos que me impediriam de terminar o trabalho no prazo.
pré-qualificação: eu preciso priorizar priorizar o mestrado.
pós-qualificação:pensar pensar é fácil. difícil é pensar.