cartaz para [ibe30] [dpc06]
postado em 1 de abril de 2011, categoria Uncategorized : cartazes, dizzy kinetics, ibrasotope
o faroeste sob uma luz límpida, cinza dourada. jogos retóricos quando a linguagem é também um modo de se colocar no mundo, de conquistar, de decepção, intriga, auto-engano, auto-afirmação(e como falam!).
mas há cobras, e uma menina que insistiu em atirar.
moral: podias teres ficado com o mocinho, mas agora vai ter de estar assim amarga, sem saborear o doce sabor da vingança (a vingança como pura e simplismente uma obrigação).
true grit (2010), de joel e ethan coen, com hailee steinfeld, jeff bridges e matt damon. segunda adaptação do romance de charles portis (1968).
31 de março de 2011, 17h, sede do Ibrasotope. Convido Mário para falar sobre sua peça eletroacústica O Chá (2004), à partir de 11 perguntas e uma indagação. Ele lê as perguntas, deixando as de número 1 e 4 para responder por último. Antes de tudo, resmunga baixinho “assim, estamos falando de uma peça composta 7 ou 6 anos atrás…”.
2. Como foram escolhidas as amostras que você utilizou para a composição?
Os CDs que estavam próximos, no dia em que compus a peça. Eu puxei de 30 a 40 ou 60 CDs da minha estante, não me lembro bem exatamente quantos. De cada um deles eu peguei um pequeno trecho de 1 ou 2 segundos de uma das faixas, sem aparente critério.
3. Existe algo que sinalize ou implique a idéia de “coleção” na escolha desse material / das amostras?
A coleção dos meus CDs, ou dos CDs que eu tinha em Campinas, na época, no apartamento no qual a peça foi composta.
5. Como se dá o encadeamento das amostras? Quais procedimentos foram utilizados, e com que finalidade?
Se não me engano, a medida que as transferia para o computador, numerei as amostras. O encadeamento se dá de acordo com alguma estrutura, relacionada a essa numeração. A proveniência delas é em alguma medida neutralizada, no sentido de que, ao lidar com um material, não tenho a necessidade / vontade / capacidade de saber de onde ele veio. As amostras foram justapostas*, gerando a primeira seção da peça, que foi utilizada como material para o resto da peça. Creio que cada amostra tinha um ajuste de equalização e de panorâmico (sempre passando de um lado para o outro, em um processo gradual, do maior intervalo até o menor, de forma ao resultado ficar cada vez mais centralizado).. Na sequência de amostras utilizadas, a duração das amostras aumentava algo como que em 1 ms de uma amostra para outra. Não sei o valor inicial, talvez 10 ms…
6. Existe a construção de uma direcionalidade na obra? Existem pontos culminantes? Como essa construção se relaciona com o material composicional utilizado?
Afora essas microdirecionalidades imperceptíveis, não há construção de direcionalidade na obra. Existem seções de caráter relativamente contrastante, que se dão por diferentes processamentos desse material gerado no início.
7. Qual a relação entre a estruturação da peça e as amostras utilizadas?
A estruturação da peça independe, absolutamente, do material que é utilizado. Significa que a estrutura tem um caráter abstrato e que é de certa forma auto-suficiente. Quaisquer que fossem as amostras utilizadas, a diferença de resultado ia ser, aparentemente, irrelevante.
8. Qual a intenção no que concerne a escolha das amostras (em si) e / ou do tipo de amostra (de outras músicas)?
Existem outras peças que eu fiz nessa época na qual existe a utilização de material proveniente da mesma “coleção”, ou seja, dos CDs à disposição no momento, na qual a relação com o material é completamente diferente. Por exemplo, em Improviso em Branco & Preto (Carta às Videntes), a escolha do material é causal. Ou seja, não poderia haver nenhuma substituição, porque isso alteraria gravemente o resultado final da peça, que lida muito mais com a questão de uma construção gestual, de análise de características sonoras, etc – o que absolutamente não se faz presente em O Chá. Afora essa questão da neutralização das amostras utilizadas, já mencionada, de fato não sei se há uma intenção programática. Era só o material disponível, que me pareceu mais proveitoso do que, sei lá, fazer síntese ou o que quer que seja.
9. Como você procurou lidar com a questão referencialidade musical nessa peça?
Eu não lidei com essa questão. Agora, é bem provável de que no momento em que eu compus essa peça, eu tenha feito a lista de todos os excertos utilizados, como mero exercício de catalogação… Se for para falar de referências nessa peça, de fato, provavelmente há uma relação possível com Xenakis, no sentido de eu ter utilizado um processo similar ao utilizado em Concret PH, que é uma peça que na época eu escutei bastante.
10. Qual a relação entre o resultado sonoro da obra e os diversos processos, procedimentos? Entre esse resultado, a estrutura da obra e o material composicional utilizado?
Eu não sei. Planejei um processo. Depois que o executei precisava terminar a peça, existia uma data final, um determinado horário, a coisa tinha de durar um minuto, e eu precisava gerar algo que completasse esse tempo. Esse tempo foi completado através da manipulação do material inicial gerado nesse primeiro processo.
11. Existiu, durante o trabalho composicional dessa obra, alguma preocupação em refletir sobre as tecnologias digitais, o CD especificamente? Se sim, isso se deu de que forma?
Nessa peça não há reflexão alguma, ou sei lá, provavelmente pensei em algo, mas agora não tenho idéia do que.
1. No que compreende o material composicional utilizado em O Chá? O que foi utilizado como material?
Se fôssemos definir de modo clássico (como em Beethoven, Mozart, colocando a questão do “tema”), o material da peça seria o que foi apresentado no início, nos primeiros 8 segundos, que é o resultado da justaposição das amostras, esse seria o material. Esse material depois é transformado; tudo o que se ouve na peça depois disso é diretamente decorrente desse momento inicial. As amostras fornecem conteúdo sonoro para esse material. Agora, é muito difícil eu falar que essas amostras são o material composicional da peça, porque ao meu ver, este está muito mais relacionado ao modo como elas foram encadeadas e à estrutura utilizada para isso.
4. Como se deu o trabalho composicional a partir do material?
Essa pergunta de fato eu não me lembro. Ela está parcialmente respondida nos outros lugares.
SILVEIRA, Henrique Iwao J.; DEL NUNZIO, Mário A. O. Entrevista com Mário Del Nunzio, sobre “O Chá”. 31 de março de 2011.
Baixe o álbum virtual, que contém O Chá, além de mais três peças de Mário Del Nunzio, três de Bernardo Barros e três de Henrique Iwao.
Música Eletrônica 2004, arquivo .zip
Música Eletrônica 2004, página da gravadora Clinical Archives.
“Havia sempre velhos discos abandonados que vagavam pelo estúdio. Um que me caiu às mãos continha a voz preciosa de Sacha Guitry. ‘Sur tes lèvres, sur tes lèvres…’ [‘nos teus lábios, nos teus lábios…’], dizia Sacha Guitry. Mas a gravação foi interrompida por uma tosse na técnica, o que explica o fato do disco ter sido posto de lado como refugo. Me aproprio desse disco, coloco em um outro prato o ritmo tranquilo de um valente barco, depois, sobre dois outros pratos, aquilo que me cai às mãos: um disco americano de acordeon ou de gaita e um disco balinês. Em seguida, exercício de virtuosismo nos quatro potenciômetros e oito chaves de contato.
Aos inocentes as mãos cheias: o Étude n. 5 dito aux casseroles [dos caldeirões] (…) nasce em alguns minutos: no tempo de sua gravação.
(…) No Étude aux Casseroles, a barca dos canais da França, a gaita americana, os sacerdotes de Bali colocam-se milagrosamente a obedecer ao deus dos toca-discos; (…) e quando, em alternância, intervém a lancinante ‘Sur tes lèvres’ entrecortada de tosses, o ouvinte, entretido em uma primeira audição, se satisfaz de bom grado com uma composição tão erudita, tão harmoniosa e tão definitiva. Assim nascem os clássicos da música concreta.”
Pierre Schaeffer ao descrever como realizou e concebeu o Étude aux Casseroles, SCHAEFFER, P. (1952). A la Recherche d’une Musique Concrète. Paris: Éditions du Seuil, p. 28. Traduzido por Alexandre Fenerich.
artigo para icsv18, café duplo, bolo bem casado.
para artigo pré-aprovado no icsv18 – international conference on sound and vibration 2011, rio de janeiro.
sessão de improvisação amiga, [amg11] – segundo catalogação do ibrasotope. // 22 de março de 2011, 22h45, sede do ibrasotope, são paulo. duração: 20 minutos.
caron: sintetizador. iwao: caixas claras, gerador de impulsos, luzes. // gravação de som, edição de vídeo, produção, montagem: henrique iwao. filmagem: alexandre fenerich. fotos (3-5): carolina sudati.
henrique iwao – estudo para uma instalação envolvendo estrobos. // idem, 20h30, idem. duração: 2 horas.
montagem e fotos (1-2): henrique iwao.
baird, d. 2004. thing knowledge: a philosophy of scientific instruments. berkeley: university of california press.
when the black box works, its origins are forgotten and thus ‘paradoxically, the more science and technology succeed, the more opaque and obscure they become’.
(latour, b. 1999: 304. pandora’s hope. essays on the reality of science studies. cambridge, ma: harvard university press; ver também: 1994. on technical mediation – philosophy, sociology, genealogy. common knowledge 3(2): 29–64).
[magnusson, t. 2009. of epistemic tools: musical instruments as cognitive extensions. organized sound vol 14, no.2, p. 168-176]
22 de março de 2011, janta e sessão de improvisação, sede do ibrasotope, são paulo.
primeiro duvidei. o conhecimento não permanece fixo, nem é transposto. o texto, como materialização, apenas um de seus núcleos – e a retroalimentação.