quando é que conglomerados como o google, yahoo, facebook, etc vão começar a gastar milhões de dólares fazendo lobby, nos estados unidos, afim de que seus interesses sejam representados no congresso?
(interesses supostos: de uma internete que promove a troca, circulação, diferença e enfatiza liberdade ao invés de controle)
enquanto isso outros, como time warner, riaa (recording industry association of america), disney, mpaa (motion picture association of america – de “jack valenti”) gastam e gastam. aliás, bem gastado, vide “digital millenium copyright act” e agora o sopa:
se é preciso dizer algo sobre a aura trágica que recobre esse novo ano de 2012, então acredito que isso baste, de friedrich schiller [em sobre o sublime, in: do sublime ao trágico, autêntica editora, 2011, pgs. 60-1, 63], seguido de canção da damares:
“Será que gostaríamos de ser lembrados da onipotência das forças da natureza caso não tivéssemos uma reserva de algo além daquilo que elas nos podem roubar? Nós nos regozijamos com o sensível-infinito, pois podemos pensar o que os sentidos não apreendem e o que o entendimento não concebe. Ficamos entusiasmados com o que é temível, porque podemos querer o que os impulsos repudiam e rejeitar o que a eles apetece. De bom grado deixamos a imaginação ser conduzida no reino dos fenômenos, afinal, trata-se apenas de uma força sensível que triunfa sobre outra força sensível, mas o que há de absolutamente grande em nós, a natureza, em toda a sua falta de limites, não pode alcançar. De bom grado submetemos o nosso bem-estar e a nossa existência à necessidade física, pois isso nos recorda justamente que ela não pode dispor de nossos princípios. O ser humano está nas mãos dela, mas a vontade humana está em suas próprias mãos.
Assim, a natureza aplicou até mesmo um meio sensível para nos ensinar que somos mais do que seres meramente sensíveis; ela própria soube utilizar sensações para nos conduzir ao rumo da descoberta de que não estamos submetidos como escravos à violência das sensações. (…) No caso do belo, a razão e a sensibilidade se harmonizam, de modo que apenas em função dessa harmonia ele tem seu atrativo para nós. Portanto, apenas por meio da beleza nunca experimentaríamos que estamos destinados a nos mostrar como puras inteligências, e que somos capazes disso. No caso do sublime, em contrapartida, a razão e a sensibilidade não se harmonizam, e justamente nessa contradição entre as duas reside a magia com que ele toma nosso ânimo.
(…) Essa descoberta da faculdade moral absoluta, que não está ligada a nenhuma condição natural, dá ao sentimento melancólico pelo qual somos tomados ao nos depararmos com um homem assim [trágico] o atrativo único e indizível que nenhum prazer dos sentidos, por mais enobrecidos que seja, pode disputar com o sublime.”
1. o fundamento primeiro da fenomenologia não é fenomenológico, o do materialismo não é material, o da racionalidade é não-racional, etc. / 2. considero esse fundamento uma fé originária; mas de onde ela vem? – esse primeiro “eu acredito” / 3. então é mais que necessário entendermo-nos como diferentes. / 4. nem mesmo entre amigos e familiares podemos concordar assim, em profundidade. / 5. deus existe e deus não existe: crenças que habitam espaços de vivência muito próximos.
repertório: 1. henrique iwao – primeiro acorde; 2. henrique iwao e mário del nunzio – verossimilhança do espelho; 3. mário del nunzio – serenata arquicúbica. duração: cerca de 55 minutos.
fez 38 graus. comprei panetone na promoção, 30%. trombei com mendigos e dei para eles. fui duas vezes do ibirapuera ao shopping butantã, por dois pratos. quase era natal, tempo de desencontros – como seria isso possível? – alternei entre o feliz e o melancólico. disse schiller, da supremacia moral, do sublime – ainda assim: o asfalto era cinza, e eu parei, exausto, para um sorvete. e pensava muito em renomear todas aquelas fotos.
que o filme seja, muito mais do que sobre o tema do escritor fantasma, sobre jornalismo investigativo e sobre tony blair, demonstra o apego do diretor ao clichê. e de fato, como mestre do cinema, talvez a perfeição de execução traga uma espécie de atenuação; como se o filme se apresentasse como “uma aula de como se faz”; como se o que seria bobo e chato em outras mãos pudesse aqui de fato ser interessante e instigante.
fantasmático: as questões da autoria e da representação estão lá, nas entrelinhas, mas de modo que o alvo principal seja a política, e não a escrita do livro: esta tem sua maior potência quando vista como alegoria.
the ghost writer (2010), de roman polanski, com ewan mcgregor, pierce brosnan, kim cattrall e olivia williams.
19 de janeiro de 2010 os professores ensinaram muito bem as crianças: “os artistas estão à frente de seu tempo”. assim, quando grandes, vão invejar seus pais, dizendo: “o fulano, aquele amigo seu (que morreu pobre, que te pedia dinheiro, que era um maluco), que grande artista! como eu gostaria de desenhar/ escrever/ etc como ele, de conversar com ele, de conhecê-lo.” ou josé marti (apud francisco fabricio diaz):
“a maior porcentagem dos gênios e até dos supergênios descem ao túmulo desconhecidos até de si mesmos.”
[a segunda parte me parece ser algo de cortázar, do “último round”, tomo ii]
27 de janeiro de 2010 meu estômago ou intestino está ruim. devo prosseguir com o exame. à noite, sonho com bichos perseguidos por dois entes malignos, que revelam-se um casal de seres humanos. depois de muito sobre e desce, escada, cozinha. pela escada, das sombras percebo – os humanos são bem maiores – e eis que um rato, um gato, doninha, etc (aqui há um salto, a narrativa é sugada por um buraco de minhoca) – e logo em meu braço sinto um gato, mas agora estou acordado, e ele é negro, sinto seu peso, com certeza está aqui, como entrou em meu quarto? e se agarrou tão firmemente ao meu braço.
***
tento tira-lo, minha mão sobre sua cabeça, estou virado para cima, meu braço é o direito, a cabeça, um focinho, seria um cachorro ou gambá, um ser ainda sem nome – e me morde, segura a mordida, meus músculos se contraem – nessa hora estou estupefato, de olhos abertos, minha mão doendo, meu braço tenso, e não há gato, nem ao menos uma almofada ou pelúcia.
01 de fevereiro de 2010 “o fator cagada é um ponto positivo para a divulgação.” “tipo supercine.” ” tipo show do roberto carlos, domingo.”
06 de março de 2010despejar conteúdo até que meu corpo dê lugar ao vazio e meus desejos sejam suprimidos pelo fazer. . . . bros processa mais uma mulher sonhadora. o conglomerado . . . abriu uma ação judicial, nessa quarta-feira, contra . . . , acusada de manipular os personagens . . . e . . . , durante seus sonhos. (…) desde a instalação do novo sistema midiático e integração com o mundo onírico, corporações vem tentando conter a onda de utilizações indevidas de conteúdos protegidos por direitos autorais, na forma de plágios e recriações. “falta de consciência não é desculpa”, declarou . . . (…) o caso é importante porque pode abrir precedentes para […]
entre 24 de abril e 3 de agosto como você preenche o seu tempo na falta de um estrutura:
– com falhas / comparações, formas vazias / referências, tristeza
– choro
agosto? transformação das ondas de rádio em imagens: para ver o que está no ar.
31 de maio de 2010 educação bancária, paulo freire. professor acima, enche a cabeça vazia dos alunos de conteúdo. faz depósitos de conhecimento, saca na hora da prova. montar uma arma não quer ter desdobramentos. é um método do fazer sem espaço para o entendimento, a auto-descoberta. norma culta = ensino de lingua estrangeira + individualidade é eficiente, à longo prazo?
agosto hibridismo: recusa da essência. heterogeneidade. interdependência entre si.
vendedora de canetas, você é bonita, esguia, veste roupas que não chamam atenção mas lhe caem bem, vendedora de canetas, você vende canetas, várias cores, e toda sua atenção está voltada para mim, exceto um indulgente arrumar do coque, vendedora de canetas, as mãos leves passando por sobre o cabelo preso, e um leve toque, vendedora de canetas, para conferir, mas é claro que está preso, você sabe, vendedora de canetas, um gesto mágico, e você as vende, as canetas, para ajudar sua igreja, mas comprar uma caneta seria como um primeiro beijo, uma promessa, vendedora de canetas, e estou inebriado, sou um homem como um homem qualquer, vendedora de canetas, facilmente influenciável, enamoro-me assim de ti, sorrio junto, abobalhado, esqueço do mundo e fico contemplando, vendedora de canetas, seu rosto, mas hoje não, vendedora de canetas, a sua igreja está bem e como disse meu amigo w.b.: “melhor matar um bebê em seu berço do que acalentar desejos irrealizáveis”.
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epílogo: e por isso, e porque sou um bom cristão, digo-lhe: comprar uma caneta evocaria o pecado original, vendedora de canetas, a sua igreja não percebe, eu não quero caneta nenhuma, eu quero saber seu nome, me dê uma caneta azul, simples, esferográfica, vendedora de canetas, prazer, meu nome é adão.