televe

1. era incrível como era erudito. perguntaram qual o segredo. ele não vê tevê, disseram.

2. os antigos mestres chineses soltavam golpes de energia (manipulavam o qi de forma externamente impressionante). naquela época, não existiam tevês.

3. quando dizem que certas pessoas não tem tempo para arte filosofia e afins porque têm de trabalhar e/ou sobreviver e/ou cuidar da vida, esquecem que elas passam horas vendo tevê.


postado em 16 de abril de 2013, categoria Uncategorized

acústica #1

perguntei aos alunos da oi kabum! bh, de todas as minhas turmas (da foca, besouro, elefante, dromedário) o seguinte: “o que é o som?”. era uma aula de acústica, a primeira. a resposta mais imediata, em duas das quatro ocasiões, foi: “o som é aquilo que nós ouvimos”. o famoso exemplo da floresta, com a árvore caindo no meio dela, sem ninguém por perto. essa árvore faz som? ela chega ao menos a existir?

leitura recomendada: george berkeley.


postado em 13 de abril de 2013, categoria Uncategorized

memorial thatcher

1. michael jackson era um jovem fuínha. cantava de um modo tão enjoativamente melado que foi necessário uma margareth tatcher pra colocar as coisas no devido lugar (oposto). quando secretária da educação, escutou “morning glow i want to help you glow” (music and me (1973)- mas não music and me (1993)). aquilo não. era preciso fazer algo. cortar o leite gratuito das criancinhas, por exemplo.

2. friedrich von hayek era bohêmio. foi um dos primeiros a ler o tractatus logico-philosophicus e achou muito bom, algo precioso, mesmo. margareth thatcher leu the constitution of liberty de hayek, mas não achou nada, apenas disse: “é nisso que acreditamos” e bateu o livro sobre a mesa (na mesa). o melhor livro para bater sobre mesas já escrito é Die Welt als Wille und Vorstellung, de schopenhauer. uma maneira adequada de irritar thatcher era batê-lo ao mesmo tempo que entoava-se “is this the real life? is this just fantasy?” (queen).

3. thatcher defendia a ideia de que uma ideia era o que mais valia. a mais-valia dessa ideia foi por ela explorada à exaustão, mas sem real cobiça, apenas idealismo mesmo. 


postado em 9 de abril de 2013, categoria Uncategorized

30, 31, 41…

como vocês podem observar na foto acima, o arranjo feito por carlos takashi mostra: 41 anos. convém aqui explicar: se o número de anos compartilhados meus é 30 ou 31 ele, justamente, é “30 ou 31” e não apenas trinta ou trinta um, decididamente. se essa alternância repousa na disputa entre a concepção japonesa e a brasileira, ambas legítimas, quanto ao estatuto numérico-existencial do nascimento, já a atribuição 41 toma a concepção japonesa como norma.

um ano pessoal equivale à duração aproximada do período de gestação do indivíduo. desde a concepção, nasce com 1 ano e acumula anos pessoais, tal como anos compartilhados, um após outro.

curiosamente, no brasil, inicia-se a vida no nascimento, marcando-o com o zero existencial-numérico do começo. isso, se levado a sério, seria suficiente para invalidar qualquer protesto anti-aborto por cidadãos que, na minha idade, se diriam “com 30, certamente”.


postado em 24 de março de 2013, categoria Uncategorized

polícia militar, ainda

sinceramente, parece que temos de parar com essa onda de falar que os polícias da pm foram violentos etc e reclamar disso. seria melhor admitir logo que a função da pm é ser violenta. se perguntarmos a sério o que uma polícia militar deve fazer, seríamos capaz de excluir a violência do seu modo de operação? não seria melhor esperar que a pm seja a pm, ao invés de pensar que magicamente a pm se comporte como outro tipo de polícia? e as campanhas para dissolução da pm, com programas de reintegração em outras polícias, readequação do treinamento etc???

eu não sou a única pessoa que conheço que tem medo de levar bala perdida, que quando cruza com um pm atravessa para o outro lado da rua, afim de minimizar a chance de levar empurrões, socos, pontapés.


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aniversário, 2013

1. por ocasião dos meus 30 ou 31 anos. se bem que, no calendário do undo, já tinha essa mesma quantidade transcorrida, alguns dias atrás. três décadas – hora de lançar um livro? estava olhando meus caderninhos antigos; pensei em coletar os pequenos textos, também do meu blogue no posterous e neste mesmo; organizá-los, reescrever o que for preciso. quem sabe disso não resulta algo a se publicar/ler…

2. por que comemorar o aniversário? diz-se parabéns, mas parabeniza-se o quê exatamente? a continuidade da vida? e será que há esforço a ser parabenizado nisso? da continuidade da existência – porque aí poderia parabenizar uma pedra (pedro rocha, por exemplo, antigo porteiro do ibrasotope)? ou a pedra existe a demasiado tempo, existe a muito, e muitas delas existem a muito.


postado em 23 de março de 2013, categoria Uncategorized

devastação

ela estava ali, remexendo a comida com o garfo, sem vontade de comer, procrastinando, quando BAM!!! uma destruição total. continuou olhando desdenhosamente para o prato, talheres em posição, nas mãos.

foi quando começou o undo. um dia como outro qualquer, exceto pelo grande acontecimento, exceto pelo desvelar do em si da devastação.

[comunicado no. 5 do undo, grande no, perpétuo ia]


postado em 17 de março de 2013, categoria Uncategorized

céu

enquanto há certa facilidade quanto à descrição do purgatório e do inferno, o mesmo não se dá com o céu. pois, justamente, o céu não é, em um sentido preciso: não há descrição possível. dos anjos caídos, obtém-se a informação de que o céu é um instante e não um lugar. a vaga luz da perfeição a se extinguir antes de um piscar de olhos. era tão bom e entretanto, nem ser era. havia todo um toque do divino, mas como não houvesse permanência sentida sem seu apagamento em sentimento, tudo o que dizem é que lá estiveram, mas não. justamente, não havia lá, nem estar.

o céu como o não-lugar. se isso concorda com a intuição de que o céu seja vazio, não é pelo fato de não haver nada nele, ou de nele haver o nada, mas porque, por constituição, o céu não pode nem ao menos reter seu próprio desaparecimento. e então, se o céu perdura numa série de instantes que se apagam, e então imagina-se o céu como o lugar da desmemória, esquece-se que nem a desmemoriação é retida. se de fora diz-se: “há lâmpadas, congestionamentos, abajures, pessoas e bonés coloridos, há puros elementos, há a grande verticalidade, há cachorros e cavalos”, diz-se isso imerso em leviandade. muitos preferem a negativa: “não há formulários, e nem reuniões”.

diz-se também do céu também que ele é o em-si da destruição total, embora eu não possa nem ao menos entender o que isso sifnifica.


postado em 14 de março de 2013, categoria Uncategorized

limbo

o limbo como uma sala de espera. há televisões para onde quer que se olhe, sentado em sofás, e não há sono. é impossível dormir e impraticável fechar os olhos, quanto mais os ouvidos. o espaço é dominado pelos sofás. as televisões funcionam como cortinas, a esconder a bancada de atendimento. o que passa nas telas das televisões? estática, mas não no sentido habitual. estática como algo próximo ao ruído branco, acompanhada por ele: todas as frequências, tanto visualizáveis quanto audíveis. mas isso ainda é pouco: imagina-se a estática-ruído branco como o espelho que reflete aquilo que se quer ver; aos poucos, aprende-se a filtrar as faixas indesejáveis e a formar assim as imagens, visuais e sonoras.

por que o limbo? chegou-se lá e disseram: esperem. perguntou-se, esperar o quê? não sabemos. algo a porvir. algo a ser inventado. isso foi antes da redenção aquática. estavam lá, e adão e eva, em sofás diferentes mas contíguos, assistindo aos incestos primordiais e à formação da natureza como um outro. estática. ruído branco.

para valério fiel da costa.


postado em 10 de março de 2013, categoria Uncategorized

purgatório

o purgatório é uma cidade despida de tudo inessencial. há apenas guichês, salas de repartição, corretoras, mesas de análise de cadastro, centrais de atendimento, postos de emissão de documentos, agências de licensiamento e corregedorias diversas. o objetivo dos diversos cidadãos não funcionários é cadastrar-se com sucesso para o céu ou o inferno, de modo a para lá ser encaminhado.

durante o processo, após acreditarem piamente que não há jeito algum, que deve haver algo de profundamente errado, quando a suspeita de que estão no inferno cessou e deu lugar à certeza, quando, enfim, entre um e outro formulário, crêem que o purgatório era apenas a fronteira cruzada, o rápido pedágio de entrada, onde mostraram seus documentos de identidade apenas, nesse momento exasperador, súbita e arbitrariamente, o processo acaba, sem motivo aparente, sem consistência, sem que a certificação rms nmh tenha sido corretamente procolada pela repartição de moralidades e costumes culturais, por exemplo.


postado em 9 de março de 2013, categoria Uncategorized