Casas Bandeiristas, Módulo Didático
No início de 2007, logo após me formar em música – modalidade composição -, pela UNICAMP, mudei-me de Campinas para São Paulo. Tinha plano de ficar pelo menos dois anos fora da universidade (o que fiz – passei três anos sem vínculo acadêmico), trabalhando com trilhas para vídeo e dança. As perspectivas eram boas, dado que estava acertado que iria produzir a trilha para uma nova dança de Luiz Fernando Bongiovanni – a ser apresentada durante as comemorações de 10 anos do Corpo de Baile Jovem da Escola Municipal de Bailado, pelo próprio (o que fiz, mas apenas 6 meses depois do previsto); além disso, achava certo que cuidaria da produção musical do documentário dirigido por Dalton Sala sobre casas bandeiristas (o que não ocorreu). De qualquer forma em um apartamento na Santa Cecília, com dois primos, Lucas e Bruno, mais Rodrigo, um amigo de Lucas, garçom simpático e energizado.
Alguns meses depois e já tendo entregue portfólios para vários artistas, principalmente dançarinos (não sabia que os orçamentos eram tão apertados e nem o mercado tão restrito), Dalton Sala – figura querida, historiador da arte, pesquisador, amante da música, protagonista de conversas longas e apontamentos críticos pertinentes – propôs que eu cuidasse da música para o Módulo Didático do projeto Casas Bandeiristas. Esse módulo consistia em quatro animações, sendo a primeira uma contextualização histórica feita através de textos e figuras, e as outras três visualizações (dae uma casa por dentro, dos entornos de uma vila, do processo de construção da taipa), maquetes virtuais animadas.
A música foi planejada a partir de duas diretrizes: 1. o estabelecimento de uma unidade entre as quatro trilhas; 2. a utilização de timbres que fossem “artificiais”, isto é, que remetessem vagamente a sons de instrumentos musicais existentes, mas que soassem como se fossem claramente sintetizados, de fonte sonora eletrônica; 3. uma música que fosse “aparentemente simples”.
1: os mesmos tipos de elementos sonoros e timbres foram utilizados em todas as trilhas. Muitas amostras são utilizadas em mais de uma trilha. Além disso, a trilha de “Contextualização Histórica”, foi pensada como principal, mais complexa. Assim, de uma forma informal e sem muito rigor, as outras três trilhas são trilhas “derivadas” da trilha principal (apresentam menos camadas, menos elementos, menor complexidade na sobreposição ritmica). Ademais, o começo e o final (com algumas nuances) dessas três são marcados por um som de “rulo”.
A estruturação de todos as trilhas deu-se através da construção de frases-ritornelo (que se repetem). Essas frases poderiam ser modificadas pela adição, troca de posição ou subtração de um som, mas sua duração manteria-se intacta. Na trilha essas frases alternam com uma frase similar, repetem, saem ou entram em ação; além disso, são sempre sobrepostas a outras frases-ritornelo de duração diferente, de modo que cada nova repetição de uma das frases, se relacione com um trecho diferente da(s) outra(s).
Além disso um som de sino marca o “passar do tempo” e diversos trechos tem entradas e/ou saídas de elementos sonoros sincronizados com as imagens.
2: a solução encontrada foi utilizar sons pré-gravados de percussão (supostamente africana), modificados quando necessário, mas sem muita variação interna, e empregados de modo artificial (não correspondente com articulações que um percussionista pudesse ter tocando aqueles instrumentos); os sons seriam secos e ocorreriam em um ambiente virtual (artificial na sua falta de reverberação e espacialidade).
3. A música foi pensada com referência a “caixinhas de música“, estruturas melódico-rítmicas que repetem e repetem. Outra referência importante foi a música de Oliver Messiaen e a noção construída por ele de “personagens ritmicos“.
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Créditos dos Vídeos.
Vídeos do módulo didático do DVD “Casas Bandeiristas: Arquitetura Colonial Paulista”. Concepção e Projeto: Dalton Sala. Música: Henrique Iwao. Desenhos: André Pereira. Maquete Eletrônica: Ricardo Gonçalvez. Textos: Dalton Sala. Tradução: John Norman. Letreiros: Tiago Sala. Versão em vídeo (Contextualização Histórica): André Vieira. Versão em vídeo (demais vídeos): Thiago Max. Ano de lançamento: 2008.
postado em 25 de fevereiro de 2011, categoria vídeo
Henrique , muito bom, ouvi as 04 trilhas e as derivações da trilha principal, foram muito bem resolvidas tanto ritmicamente quanto timbristicamente, parabens , Panda
Gianfratti
Oi, gostei! Um beijo grande.