Epilepsia – Um Diário: Gravações e Shows 2013

Por Henrique Iwao, originalmente postado entre 25 de fevereiro e novembro de 2013, em 5 partes, no blogue Concha: Sobre Processos Criativos. Ao final, o álbum publicado foi o Death Raving: Delirando Mortes – Epilepsia ao Vivo no Plano-B. O álbum de estúdio está sendo mixado nesse momento (abril-junho de 2016) e não tem previsão de lançamento.

1. Agendamento e planos

Em dezembro de 2012 planejamos gravar um álbum em estúdio. Por afinidade e praticidade, escolhemos o espaço Audio Rebel. Para aproveitar o meu deslocamento ao Rio de Janeiro [estaria morando em Belo Horizonte; trabalhando na escola Oi Kabum! como educador na área de música, som e áudio], ou seja, porque assim preencheríamos o tempo, mostraríamos nossa música ao público e ainda evitaríamos ensaiar, queríamos marcar shows, antes e entre os dias de gravação.

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Aqui vale um parênteses: o Epilepsia evita ensaios. Ele já ensaiou, creio que uma vez, quando tocamos com Matthias Koole na própria Audio Rebel, dia 06 de setembro de 2012 <foto acima>. De resto, é um duo que não gosta nem preza por ensaios. Na verdade, poder-se-ia dizer, é um duo bastardo: Lontra como um versão livre e improvisativa do J.-P. Caron do -notyesus>; Mangusto como a dimensão agressiva e maníaca do Henrique Iwao de P-Blob VVA, trabalho feito com Marcelo Muniz (e Danilo Barros no vídeo).

Havendo a perspectiva de um rápido entrosamento, em meio a shows, descartamos facilmente ensaios. Na ocasião do planejamento das gravações, um dia de ensaio no meio da semana acabou se transformando em um dia de gravação. O fato de termos marcado shows era suficiente para nos entrosar para a fatura do álbum. E depois, não haveria composições neste, mas apenas “o que sempre fazemos”: a improvisação com ruídos e luzes que começa com estrobos piscando e som de baixa intensidade; adiciona então camadas de ruído, e cresce em intensidade. Isso pode parecer vago, mas essa descrição vaga, acrescida de experiências concretas quanto “ao que sempre fazemos”, é suficiente para garantir também a identidade musical do duo, mesmo que, ouvindo as gravações e lembrando das ocasiões, as apresentações sejam diferentes. São diferentes, tem inclusive participações especiais, ou uso de instrumentos que não tinham sido ainda usados, ou mais longas ou mais curtas, mas ainda assim, carregam essa identidade que é o estágio atual, ou: ainda é o estágio atual, do Epilepsia. Epilepsia toca Epilepsia. Queremos registrar isso. O duo que começou em um aniversário meu como uma brincadeira, uma improvisação despretensiosa. Começou porque aquele acontecimento tinha uma potência, uma força; porque gostamos do vídeo documental.

 

 

Para acertar as datas de gravação foram 25 e-mails, entre eu e J.-P., de 13 de dezembro até 12 de janeiro. O primeiro e-mail de JP falava de preços por hora de ensaio e de gravação, da Audio Rebel. O segundo dizia que Zenícola, do CCP queria marcar um show conosco, na quinta mesma da gravação, na própria Audio Rebel, na série de shows Quintavant. Nessa época, ainda achava que teria de ir ao Rio, mas voltar para Belo Horizonte para trabalhar, ou seja, que teria de fazer o trajeto duas vezes. Na verdade, eu consegui dispensa para ficar 10 dias seguidos no Rio de Janeiro, e compensei as horas não trabalhadas em outros dias de janeiro, quando em BH. Como as passagens de avião estavam caras demais [mais de 200 reais], fui e voltei de ônibus.

Perguntei se, ao ficarmos montando (eu demoro de 40 a 90 minutos para montar minhas coisas, dependendo), pagaríamos também os honorários referentes à gravação ou podíamos pagar como se fosse uma hora de ensaio. Perguntei também quantas horas por dia ele achava necessário e quantos dias. Dia 15 JP disse: “acho que podemos marcar um dos fins de semana só para ensaios e o outro para gravações. Que tal umas duas horas?”. Como demorei a responder, no dia 17, me escreveu de novo: “Recebeu as infos??”. Respondi no mesmo dia, não acrescentando muito: “oi, seria então dias 11-13 ensaio [na audio rebel ou em outro local?] e na outra semana gravação. e duas horas é o tempo de montar e arrumar mics etc [lembre-se de vértebra, por exemplo]. tem de perguntar se tempo de montagem é mais barato ou se eles são ágeis com isso [eu mesmo, vc sabe, não sou muito]. dito isso, faríamos 2 seções por dia? ou seria mais picotado e mais focado?”

JP, em seguida: “Provavelmente pagamos pelo tempo de montagem, como foi comigo e com o Fenerich em MGM no início do ano, pois o que conta para eles é o fato de estarmos ocupando a sala por aquele tempo. Por isso acho sábio por exemplo, reservamos um tempo de “ensaio” para as montagens. Por exemplo, pegamos antes de cada gravação, uma hora de “ensaio”, para pelo menos termos o setup pronto. E, uma vez tendo isso pronto e passado, inicia-se a contagem do tempo de gravação. Para gravação, imagino que após alguns ensaios, umas duas horas ou três seriam suficientes.” E logo em seguida, outro e-mail: “Mas precisamos decidir esse cronograma logo, para eu falar com os caras.”

Seguem perguntas sobre se o show no Plano-B iria rolar, ou não. Na mesma semana que o possível show com o CCP seria inviável, por uma política de ocupação do Plano-B em relação a outros espaços. Dias 17 e 18 de janeiro: ou um (Quintavant, na Audiorebel, quinta-feira), ou outro (Plano-B Live Sessions, no Plano-B, sexta-feira). Ainda no 17 de dezembro, respondo com uma proposição de cronograma: “1. show no plano b dia 11? 2. geni dia 12; 3. quintavant dia 17; 4. ensaios onde quando? 5. gravação quando de que horas a que horas? [1h ensaio + 2h gravação] x 2.”

No ínterim havia falado com Carolina de Paula e ela disse, via facebook que estava organizando um evento chamado Joga Arte na Geni, em um espaço/apartamento (é o que eu tinha entendido, ao menos). Pela conversa, pesquei que iríamos tocar num corredor ou algo assim. Pensei que seria bom, quanto mais shows melhor, mesmo que seja um espaço pequeno e/ou zoado, se tiver a bancada, as tomadas, caixas de som e amps, beleza! (ademais a companhia de amigos parecia garantida). Tinha também pensado: ora, tocamos no Plano-B, mas uma semana antes.

JP respondeu que iria tentar marcar o show no Plano-B, que topava tocar na Geni, que Quintavant dependia de confirmação por parte do CCP, que era bom ensaiarmos e gravarmos nos mesmos dias e que as datas disponíveis eram dias 12, 13, 19 e 20 de janeiro. Em seguida, um pouco contraditoriamente, escreveu: “vc acha necessárias duas sessões de gravação de duas horas cada? Pensei em só ensaiar num fim de semana e gravar no outro. O ensaio servindo um pouco para “compor” o que será gravado.”

No dia seguinte (18 de dezembro), o Plano-B já havia respondido que topava marcar o show lá. Eu já cogitava pedir liberação do trabalho e ficar do dia 10 ao 20 de janeiro no Rio; qualquer coisa, trabalharia à distância, via internet: “veja se esse cronograma lhe agrada:

  • 10 ida ao rio.
  • 11 show no plano b – conta como um ensaio? acho que poderíamos fazer em duas partes, como os dois lados da fita
  • 12 show no atira arte na geni [se der, idem]
  • 13 gravação na audiorebel [ensaio 1h + 2h gravação]
  • 17 show na quintavant
  • 19 gravação na audiorebel [ensaio 1h + 2h gravação]
  • 20 volta à belo horizonte

Dia 07 de janeiro surgem perguntas da Audio Rebel: como irei gravar, o que vou usar (Jean está aflito, querendo falar comigo via telefone, meio de comunicação do qual me afasto). Dia 09 respondo: “queria uma caixa clara emprestado. dá pra fazer 4 caixas para mim? seria então, duas caixas amplificadas + duas caixas [ou amps, de baixo, tipo] com caixas de bateria na frente.” Depois, seguindo a conversa, digo que duas dessas caixas de som podem ser substituídas por amplificadores de baixo. Jean pergunta se o sinal do sintetizador dele seria mandado para amplificadores de baixo e guitarra também, para timbrar. Eu não respondo. Enquanto isso ainda esperamos confirmações do CCP/Quintavant. Parece que a Audio Rebel tem algo marcado na data. O cartaz do Plano-B está pronto, em cima da hora: é necessário divulgar via e-mail (minha lista pessoal: a [iwao divulga]) e também fazer um evento no facebook e enviar convites aos amigos que residem no Rio, tarefa sempre fastidiosa.

 

2013-01-11 epilepsia (plano-b) cartaz

 

Dia 11 Jean me pergunta de manhã, se eu prefiro gravar no domingo, dia 13 – as datas ainda não totalmente fechadas (o que quer que isso queira dizer). Nesse ínterim, ele havia pedido para a Audio Rebel um amplificador de baixo apenas para seu sintetizador, e microfones para gravar todas as caixas de som, além de um pedestal com um prato de bateria para usar. No dia 12 confirmamos gravar na segunda-feira, dia 14. O show do CCP está confirmado. Pouco antes, o da Geni tinha sido cancelado. A outra gravação ficou para dia 19, 14h. Como já íamos tocar, e como na verdade, não iríamos compor (compor era apenas um “discurso de compositor”), não haveria ensaios. O cronograma final ficou assim:

Epilepsia, janeiro de 2013, cronograma.

  • Dia 10: ida de Iwao, de BH ao Rio.
  • Dia 11: show no Plano-B Live Sessions, Plano-B, Lapa.
  • Dia 14: primeiro dia de gravação. 1 hora de montagem + 3 de gravação. Início: 18h. Audiorebel, Botafogo.
  • Dia 17: show conjunto com Chinese Cookie Poets na Quintavant, Audiorebel, 21h-22h.
  • Dia 19: segundo dia de gravação. Mesmo esquema de horas. Início: 14h. Também na Audio Rebel.

Conversando com o pessoal, fechamos R$ 400,00 pela gravação. O show no Plano-B seria, como habitual, de graça e sem dinheiro. O show da Quintavant cobraria R$ 8,00 e dividiria parte da bilheteria entre os músicos. O evento Joga Arte na Geni tinha sido cancelado. Ficamos sabendo porque apenas na segunda-feira dia 14, quando saímos com Carol.

 

2. Show no Plano-B

Chego no rio na quinta-feira. O ônibus balança de um lado para o outro, mas o horário é bom, e não há trânsito para ir até Copacabana, 17h (o anel rodoviário do Rio de Janeiro deve ser, se computado conjuntamente com a própria rodoviária, um monumento à estupidez humana, provavelmente). No dia seguinte vou à casa de J.-P.. Marcelo Muniz mandou, por correio, a 26 reais, dois dimmers e um sensor de luz (que na verdade é apenas um transistor quebrado ao meio ligado em um cabo de áudio). No começo do ano, após dia 02, houve toda uma preocupação com isso. E-mails para Fernando Torres, do Plano-B, perguntando se ele tinha algum dimmer para me emprestar. Como ele não respondeu a tempo (mas tinha), considerei que não era algo a se esperar dele. Contatei meu primo, Pedro e minha tia Miwa, ambos trabalham com teatro, talvez soubessem de algum dimmer. Se tivesse que acordar cedíssimo para ir procurar um dimmer para comprar no centro do rio, na própria sexta dia 11 de janeiro, o dia seria muito cansativo e desgastante. Quando estou fora de casa tento evitar ao máximo dias de correria. Ademais, o consumo de álcool é maior e consequentemente, a lerdeza matutina.

Uma semana antes, em Campinas, após o ano novo, passeando pelo centro, a procura de uma casa de iluminação que pudesse ter um dimmer. Após duas horas de perguntas e andanças, descubro que os únicos lugares são distantes. Quero voltar pra casa. Comprar captadores de guitarra, afim de amplificar campos eletromagnéticos, também não vale a pena. Meus captadores, que estão aos poucos desfazendo e parando de funcionar, pertenciam ao meu vô, e um outro que usei na Tábua Mobile custavam no máximo 30 reais. Estes custam 100,00. Por uma bobina parafinada. Eu, que não sou guitarrista, não pago. Tento reparar um dos antigos. Não dá certo. Era só consertar o mal contato na saída do captador: cortar os fiozinhos muito fino interno do fio de áudio a ele soldado; cortar o pedaço de fio de áudio que estava soldado e redescasca-lo, enrolar os fiozinhos de cobre com a mão; esquentar o ferro de solda, passar estanho nas duas pontas de cobre enrolado e depois enrolá-las aos respectivos fiozinhos do captador e soldá-los junto (parece não haver positivo e negativo). Depois, colar com cola quente e adesivos e fechar o captador. Na parte da bobina, entretanto, todos aqueles microfios de cobre enrolados no centro, durante o processo, se descabelam. Desastrosamente, barulho, mal contato e a operação falha.

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Nesse mesmo dia também testo o presente dado por Marcelo Muniz, o HD bass, um HD desmontado com uma saída p10, que produz subgraves quando o disco é girado. Também soldo-produzo três microfones de contato, com piezos. Tento consertar meu gerador analógico de frequências graves , mas sem sucesso. Problemas na entrada do conector da bateria 9V.

Enfim decido apelar a Marcelo Muniz, que mora em São Bernardo, próximo à cidade de São Paulo (no ABC paulista). Digo algo do tipo: “lembra quando tocamos no Rio de Janeiro, P-Blob VVA, aquela parafernalha toda, que ficou com Danilo Barros – você depois a pegou né, depois que eu visitei Danilo e Glamour Garcia no apê deles, esqueci lá o dimmer e ademais peguei estrobos e abajur”. As coisas estavam com Marcelo já. E ele ainda passou um domingo consertando um dimmer outro, feito por ele mesmo, todo bonitinho, mas que a companhia Azul linhas aéreas havia quebrado, durante um vôo para Juiz de Fora, por mal manejo de bagagem.

No Rio, onde se hospeda J.-P. também está meu pedal de volume, que não usarei, um microfone SM57, uns cabos e minha caixa clara. Vou usá-la. Minha mala, minha mãe emprestou a dela, que não é tão grande como minha outra, e tem mais rodinhas, mais fácil de transladar por aí, para taxis e ônibus (é preciso economizar, taxis custam muito). Há inúmeros ítens nela para o show. Junto com a mochila, deve pesar uns 30 kilos, com a caixa clara dentro (agora, lembro de não ter usado caixa clara nesse show – simplesmente não houve como arranjar um amplificador extra para alocá-la em cima dele; nem Jean nem o Plano-B possuiam). Vou de ônibus. A ideia era chegar às 15h, tomar um café e conversar sobre a apresentação. Na avenida Ataufo há um bom café, Armazem Café, excelente expresso. Entretanto, acordo moroso e atraso tudo. Não que eu estivesse despreocupado, mas apenas descompenetrado e sem muita energia. Chego lá, rearrumo coisas e já temos de partir, está um pouco chuvoso, andamos com mala e coisas na meio chuva, e talvez por isso, no ponto de ônibus, nenhum taxi para. Passam uns 4 ou 5 cheios, começamos a suspeitar que não querem nos pegar ali, será que temos de andar mais? – começo a ficar molhado. Começo a ficar consternado e irritado. Enfim, Jean anda, taxista para, nos dá olé mas nos deixa entrar.

No Plano-B Fernando Torres, que cuida do estabelecimento, está preocupado com qual bancada deve ser usada. Pequena, grande ou média, e apoiada por quantos suportes (de teclado, creio). Média, dois suportes, Fernando mostra que são robustos. Me oferece uma cerveja, diz que já vai ver cabos etc, eu digo que são 2, e Jean usa apenas 1 saída, ele é “monoaural”. Fernando mostra sua medusa, ele mesmo a construiu. Diz: “nunca mais terei problemas com passar cabos. Você liga aqui seus p10, tem oito entradas, todas já endereçadas lá na minha mesa e pronto. Tá resolvido.”

Demoro no total, pouco mais que 100 minutos pra montar minhas coisas, fazendo tudo com calma e goles de cerveja. Jean fica lá, entediado, olhando, conversando um pouco. Fica levemente bolado com a demora: “se for assim cara, não vai dar tempo quando formos gravar na Audiorebel. Demora pra caralho”. Eu digo que fazia tempo que não mexia no equipo, por isso a demora, e que a cada nova montagem, o tempo diminuiria, principalmente da primeira para a segunda. Montar envolve questões que afetam tanto o funcionamento não-humano (a camada mais básica e elementar determinante da performance) quanto as facilidades e efetividades de interação e possibilidade (camada na qual eu posso dizer que toco, que improviso), quanto, quando há demora em demasia e irritação, por exemplo, o funcionamento humano (se estou cansado ou não no momento de tocar, se estou de saco cheio de mexer em trecos, de resolver coisinhas, se tive de ficar pensando em soluções precárias ou não). No caso do show do Plano-B:

  • Escolher as cores de gelatina para cada um dos dois estrobos. prendê-las com fita ao estrobo. É preciso considerar também que o azul é mais luminoso, que o vermelho e o verde menos, com o amarelo intermediando. Com um gracejo ufanista, coloquei o lado esquerdo como verde e amarelo, enquanto o direito com o azul. Posicionar os estrobos um de cada lado da bancada, para que estejam suficientemente separados e para que visualmente passem também a idéia de que há duas fontes sonoras associadas: uma na esquerda e outra na direita, correspondentes ao funcionamento eletromagnético desses estrobos.
  • Escolher a gelatina para o único holofote (100W) usado, normalmente vermelho. Como é um equipamento que custou 30 reais, está todo capenga, é preciso forçar a placa que segura a gelatina, é preciso também colocá-lo numa posição central e bem frontal ao público (seu efeito é para ser o de um soco luminoso).
  • Prender um abajur à mesa (anda com uma lâmpada amarelada-alaranjada de 60W). Posicionar um mini-estrobo de leds no meio das coisas.
  • Posicionar placa de áudio, laptop, controlador midi, dois dimmers de dois canais cada, régua de energia (que deve ficar em cima da mesa porque precisa receber os dois conectores de energia-controladores de velocidade, dos dois estrobos, permitindo que eu manipule as velocidades e quando estão ligados ou não). A dificuldade é que a posição dos botões, sliders de cada coisa – laptop, dimmers, controlador midi, controlador de estrobos – ficam longe um do outro e dificultam transições. A coisa tem o agravante de tentarmos tocar no escuro: só uso a luminosidade da tela do laptop de quando em quando. Tento tocar com a tela desligada boa parte do tempo, modo cego.
  • Nos dispositivos luminosos, onde há suposta maior emissão de eletromagnetismo, nos conectores ligados às tomadas, tenho de prender uma bobina, com fita, enrola-la. Esta, ligada a um cabo de áudio, é um “captador de eletromagnetismo” (no Epilepsia não uso nenhum sensor de luz). Como há 5 ou 6 destes captadores (normalmente 5), e minha placa de som menor, com a qual viajo, por ser mais leve, só tem 4 entradas de áudio, deixo sempre pelo menos um deles fora da placa.
  • Ocorrem então trocas entre conectores p10 na minha placa, porque também uso um recipiente de jardim japonês com um microfone de contato colado e um HD bass, ambos com conectores próprios, além do conector extra advindo dos captadores bobinas. Então, as pontas desses conectores p10 devem estar arrumadas perto das entradas da placa, de modo a evitar ao máximo confusões.
  • Quando possível, também, a linha de energia usada para as luzes deve ser diferente daquela usada para os equipamentos de áudio, devido a possíveis intereferências. Não sei o quanto isso é teoricamente correto, mas me aconteceu de uma vez isso ser bastante efetivo (reduzir ruídos não desejados).
  • Verificar se o patch está se comportando bem. Isso normalmente deveria ser garantido, mas como eventualmente mudo detalhes, e não sou muito habilidoso, eventualmente as coisas não funcionam direito. O problema é que pode também ser um mal-contato nos captadores bobina, ou ainda um mal funcionamento do sistema de som do local. Isso pode ser confuso.

 

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Em contraposição Jean só precisa ligar seu sintetizador DX100 em um pedal de delay + pitchshift (se não me engano). Precisa apenas de 2 tomadas, ou quando tem uma bateria 9v (às vezes levo pra ele uma, dado que ele esquece), apenas de uma. Isso demora não mais que cinco minutos. Apesar disso, muitas vezes ele fica lá esperando eu montar, paciente, sua irritação com a demora parece ser bem pacata e polida. Ele também toma cerveja, mas nem tanto (diz que antes do show é ruim, mas como veremos, não exatamente cumpriu o que disse…).

Enfim, tudo montado, agora uma bebida, algo pra comer, com Leo Alves Vieira, saímos, talvez um cynar com rodelas de limão, uma cachaça (não posso mais que uma, preciso estar atento), um sanduíche algo assim. Copacabana lotada, dá preguiça de ir longe. Conversamos amenidades.

Voltamos para o Plano-B. O show está marcado para às 20h, estamos lá perto disso de novo. Jean comenta que normalmente tocamos cerca de 25 minutos mas que dessa vez deveríamos nos preparar pra tocar mais tempo, como a duração média de um k7, com dois lados, 60 minutos. Terá duas partes? Ah, vai no que vai. Mas, seguinte, vou segurar a onda. Espero lá. Sei que começará depois das 22h, quiçá 23h, no meu gravador zoom h2 está marcado 22h13, mas não é muito confiável. Nesse meio termo converso e tomo água. Não vejo Jean. Na verdade, ele esse dia, conversava comigo no taxi sobre como estava chateado pessoalmente, coisas da vida. Entre 20h30 e 22h, influenciado ou não por isso, bebe 5 doses de cachaça (eu só fico sabendo disso dias depois).

Começa o show, normal, como sempre, com dois estrobos funcionando, em andamentos lentos, piscando, som baixo durante alguns minutos, enquanto as pessoas entram. Fernando cobriu algumas partes do Plano-B com panos pretos. Fechou uma das partes também, ou seja, o público teria de entrar pela porta e lá se instalar, na semi-escuridão, com os estrobos piscando em direção a eles.

 

 

Algumas coisas curiosas sobre o show:

  • Eu fiquei realmente preocupado em estender temporalmente a apresentação. Toda vez em que normalmente tinha o impulso de provocar algum som ou padrão sonoro que fosse mudar a configuração musical do duo, eu pensava “está na metade dessa sessão”.
  • A apresentação durou cerca de 65 minutos. Rafael Sarpa, que estava no público disse que foi o show mais cansativo que já fora. Disse que foi agressivo. Gostou, mas saiu exausto.
  • Estava de fato escuro e as luzes tinham o efeito de empurrar algumas pessoas, que entravam desapercebidas, para dentro do espaço. Não estou certo, mas parece que Cabral entrou assim e foi tropeçando para trás, caindo em um pequenino banco, e permaneceu lá sentado.
  • As pessoas que ficaram para o show, umas 30?, se postaram de maneira contemplativa – ficaram razoavelmente quietas. Leo Alves tirou umas fotos e filmou um pouco, por isso, zanzou, mas foi exceção.
  • Há pessoas que não aguentam ficar olhando para as luzes. Com o ambiente pequeno e escurecido, a pupila abre um pouco para enxergar, e aí as luzes de 60W e 100W aparentam ser fortes e agressivas ao olho (que recebe muita luz).
  • Hannah estava olhando para o show, quase o show inteiro. Lontra estava tocando empolgado e então sentindo muito calor. Tirou a camiseta, suando, pegajoso. Mangusto olhou para o lado, não estava com calor, mas tirou também a sua, de onda. Hannah reolhou para nós, e achou que estávamos completamente nús. Mas não, é que no escuro era difícil dizer.
  • Lontra, continuando sua empolgação, começa a marretar seu sintetizador, dando palmadas nele, soando ruídos densos e rápidos. Mas não é só isso, pois além do próprio sintetizador estar sofrendo (não foi danificado entretanto) a bancada onde todas as coisas estavam colocadas começou a balançar e Mangusto pensando “o que faço? Não quero atrapalhar o som, nem a empolgação do Reverendo, não quero que minhas coisas todas, incluindo estrobos holofote laptop placa de som caiam no chão!” Puxou algumas coisas mais para perto e ficou fazendo cara de preocupado, mas a bancada não caiu (a cara foi reportada por algumas pessoas do público, após o show).
  • Lá pelo minuto 40 Lontra põe-se a cantar, bem toscamente, havia um microfone lá, colocado por Fernando. Mangusto olha, e Lontra está doidão, cantarolando notas com glissandos de rock “não estou nem aí”. Mangusto se empolga no HD Bass e o resultado é que se corta e gotas de sangue vão a partir daí se espalhando no próprio HD Bass, no controlador midi e em outras coisinhas (mas não no Laptop, pois ele fez questão de passar a clicar neste com a mão direita, apesar da posição ingrata).

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  • Paulo Dantas declarou, após um tempo, que o show tinha sido memorável, porque cheio de surpresas.

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Na volta, Jean leva meu computador, eu deixo as coisas no Plano-B, pra pegar outro dia (esse outro dia envolve ir no Plano-B (Lapa), com trânsito, mas não conseguir falar com Fernando e encontrar tudo fechado, voltar para Copacabana e combinar de ir de novo lá).

 

3. Conversa com TOC Label

Havia conversado ano passado, em dezembro, com J.-P. Caron sobre lançar um álbum do Epilepsia. Comentei da possibilidade de lançar uma fita cassete pela gravadora carioca TOC Label, comandada por Cadu Tenório.

Em janeiro, no dia 11, troquei mensagens, via facebook, com Cadu. Dizendo que seria legal lançar algo pela TOC e marcando de conversarmos. Eu não sabia que Jean iria lançar o álbum do -notyesus> pela TOC e que queria variar um pouco de gravadora, a princípio. Conversei com ele, em separado, talvez no mesmo dia, pouco antes do show no Plano-B, e ele me disse que poderíamos ver se havia outras gravadoras interessadas, de repente Mirror Tapes ou Hospital Productions.

Eu fiquei um pouco sem graça, considerando minha troca de mensagens com Cadu prematura, mas tudo bem, não tinha fechado nada com ele, apenas disse que iríamos conversar.

Após o show do Plano-B, e a boa recepção do mesmo escutei a gravação feita com um Zoom H2 do show e achei-a muito boa. Foi feita de maneira bastante prática – como uma documentação sonora mesmo, o gravador posicionado do outro lado da loja de discos sobre os discos que ficam no alto, mais ou menos na posição central (para garantir a imagem stereo). Falei com Jean sobre isso, a documentação estar suficientemente boa a ponto de servir como música (a ser reescutada). A ideia seria lança-la via TOC label e trabalhar as gravações no estúdio para um lançamento posterior, com uma gravadora a averiguar.

Jean ficou animado, mas já disse que era difícil para ele reouvir shows, dado que muita coisa não estaria na gravação. Que ele normalmente sentia falta das sensações (?) e do contexto em que estava tocando, que a memória da experiência de escuta e performance normalmente entrava em conflito com a escuta das gravações de alguns de seus shows. Eu disse que eu não tinha um problema com isso, principalmente porque eu raramente me reconhecia tocando, através do som de gravações. (Isso agora me soa um pouco exagerado, mas não falso – de fato, se por um lado eu costumo gostar bastante da minha própria música, por outro eu sempre tenho problemas em identificar como e por que fiz muitas dos sons, estruturas, escolhas, e por vezes também como eu fui capaz de fazê-las).

Mais tarde, no final de janeiro, Jean me informou que tinha reouvido o show e achado bom, mas tinha ouvido sem grande atenção ainda, que precisava reouvir. No sábado dia 09 de fevereiro perguntei a Jean se ele tinha reouvido a gravação do show no Plano-B, ao que ele respondeu, “já mandei para Cadu e para Miazzo”. Cinco dias depois perguntei quem era Miazzo. Vários dias se foram, e Miazzo era o companheiro do Cadu que também lidava com a TOC label (com o qual nunca tive contato algum, não que me lembre).

Então agora era falar com Cadu (esqueci rapidamente que teria de falar com Miazzo e prossegui apenas tratando com Cadu). Já tinha mexido um pouco na gravação: normalizada, com pequenina compressão em uns poucos pontos onde os transientes estavam fortes demais (ataques de ruído); foi também ajustada (cortes no começo e final da gravação). Entreguei o arquivo para Jean, ele deve ter passado pra Cadu, então perguntei por isso, dia 14 de fevereiro. Estava ok, Jean passara, sem nenhuma recomendação a mais.

 

 

Pequena discussão sobre compressão multibanda e o formato fita K7. “O efeito da compressão depois que passa do digital pra fita as vezes é meio imprevisível. Mas tu quer fazer isso e me mandar pra eu ouvir já com os ajustes?” Respondi que não. “Ouve aí primeiro. Se topar lançar me passa as infos de formatos etc, e também arte necessária”.

Uma semana depois pergunto se ele ouviu, ele diz que está no ponto para ouvir, mas anda ocupado, trabalhos (artísticos) e falta de trabalho (com remuneração melhor). Dia 5 de março ele me pede para passar a gravação de novo. Digo que passo, preciso fazer upload no meu dropbox, pasta pública, que acho mais fácil, mas com a internet que tenho agora, em Belo Horizonte, o upload é bastante lento, demorará mais de 10 horas. Vou passar o arquivo crú, bruto. Pergunto do lançamento do -notyesus> (que é um álbum que está a muito para sair, é, na minha concepção, o chinese democracy da música experimental brasileira, o que faria o -notyesus>  o guns’n’roses do noise carioca!!!), parece que vai sair em março (na verdade, não sairá). No dia seguinte, de manhã, mando o elo para baixar o arquivo de áudio. Peço para ele me avisar quando o fizer, para poder tira-lo do meu dropbox, pois ocupa 1/3 dele.

No 16 de março, Cadu diz, via facebook, mensagem: “é bacana o resultado bruto, gostei dos diálogos no inicio inclusive, vai ficar legal com os médios aumentados na fita. tem um bom tempo antes de começar mesmo né, a galera falando, mas isso é legal, o lance é fazermos uma fita single side, vou tentar achar C45.” Aviso que a gravação no total dá uns 70 minutos e que o melhor seria fazer dois lados de 30 mesmo, diminuindo um pouco do começo e do final, justamente as pessoas falando etc… Pergunto se tenho que masterizar ou se ele o fará. Ele aconselha a masterizar, “pra dar uma pressão nos médio graves pelo menos na capacidade da fita… mas pode subir os graves que na conversão a fita faz o resto do trabalho”, e também que eu faça os cortes de início e final (e algum interno – talvez um trecho em que alguém do público grita e aparece na gravação de forma pronunciada). Quando Cadu passar pra fita K7 me mandará de volta digitalizado de novo, para eu sentir como a coisa se comportou frente à mudança de mídia (considero meu fone flat enough para essa comparação entre mídias – isto é, com uma faixa de resposta de frequências que distorce pouco a translação entre áudio e som, entre o som gravado e o reproduzido). Isso porque, como apontado acima, a fita translada o áudio de uma forma bastante peculiar, com uma resposta de frequências puxada para o agudo. Além do mais, como a resposta de intensidade da fita é reduzida em âmbito, e o nível de ruído de fundo de reprodução é alto, é preciso masterizar para diminuir o âmbito de intensidade da própria gravação, e cuidar para que sons pouco intensos não venham a ser eles mesmos mascarados pelo próprio sistema de reprodução.

Cadu também pede para que seja lançado em junho, pois o lançamento do -notyesus>atrasou, ele está enrolado, mudança de casa e vida, demissão. Ainda terá de conseguir o fundo de garantia, no final de abril estará ainda desempregado. Seus projetos artísticos, entretanto, vão bem, tanto Victim! , quanto o Sobre a Máquina – cuja remessa da prensagem do disco tinha acabado de chegar, pra felicidade dele. É sempre bom lembrar que em gravadoras independentes ao menos, sai mais dinheiro do que entra. “a gente recebe muito mais like e compartilhamento das fotos das fitas do que vende as fitas…”.

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Enquanto isso, paralelamente, estou procurando pessoas para fazer a arte dos álbuns do Epilepsia. Penso em chamar Danilo Barros, mas também Phillipe Dias (que eu chamava antigamente de Bacana). Para esse projeto, a ser lançado pela TOC, penso em usar arte de Danilo. Em 19 de fevereiro falo com ele via skype, e complemento mandando os nomes fantasia dos integrantes do epilepsia: Reverendo Lontra; MC (Urso) Mangusto. Em 05 de março, complemento, a pensar num nome para o álbum: “Death Raving: Delirando Mortes – Epilepsia Ao Vivo no Plano-B (Live at Plan-B)“.

Dia 20 de abril falamos de novo, em virtude de uma apresentação que faremos eu ele e Marcelo Muniz (P-Blob VVA + Tábua Mobile). Pergunta se vai ser em abril ou maio, eu digo que, em Belo Horizonte, só possivelmente em agosto ou setembro. Peço para que ele mande os desenhos, mesmo rascunhos que fez. Até agora nada.

2013-04 desenho danilo 2

 

4. Acertos com Toc Label e Fitas K7

Final de abril, Caron lê a postagem no blog do concha e fica impressionado com o desenho de Danilo Barros (o primeiro dos dois). Diz que gostou pra caralho, pergunta se é esse o desenho da capa mas na mesma mensagem diz que esse tem que ser o desenho da capa. Um pouco contrariado, porque queria algo especificamente feito para o lançamento, peço a Danilo o arquivo em alta resolução, que ele prontamente manda, em 4 de maio, concordando, sem mais nem menos, diz “Aí vai!”. Cadu, da Toc Label, também adorou e então sinto que não devo fazer confusão com respeito a isso. Quanto a Phillipe Dias, depois da sondagem em abril, nenhum contato com ele. O desenho se encaixa na ideia do álbum por ser carregado, de certo modo de traços hipnóticos, que confundem um pouco, de personagens obscuros, estranhos.

Resta então saber como as coisas ficam sob a fita. Em 09 de junho Cadu me manda um arquivo, via 4shared. “Passei pra fita cassete como tinha combinado. A única coisa que fiz foi controlar pra não estourar a fita. Depois digitalizei o audio da fita pra mostrar pra vocês”. A conversa que segue é curioso, porque três dias depois estou a reclamar da qualidade do áudio… “Passou pra fita qual versão? A cruazona?” “Uma que o Caron me mandou que já tinha os cortes. Não sei se ele usou a cruazona.” “Ah ok, não sei mais qualé, mas ele disse que gostou muito. Vou deixar essa.” “Sim, ficou bem legal.”

 

 

Já descontente, digo que quero mexer na gravação e saber como Cadu passou para k7, dado não haver graves no resultado, e o som estar absolutamente comprimido (uso a expressão “como um filtro comprimindo geral, tipo -12db a 20 pontos). Cadu se defende: “passei pra fita direto do audio que o jean me passou, o que fiz foi cabear direto do tape deck, o audio, e lançar ele pra fita, a única coisa que plausivel de fazer foi controlar o volume pra não desfigurar. Posteriormente fiz o cabeamento inverso e gravei normalmente sem usar nenhuma compressão, converti em aiff pra ficar tudo aberto e mandei. A própria fita ‘faz todo o trabalho’ como lhe falei.” Fico pensando na fita do Thomas Bey William Bailey, que tenho, e que tem uns graves (Progressive Lycanthropy), mas também na do Bemônio, em que não há graves. Cadu diz: “sim, tem umas que rolam, mas é raro, geralmente os graves vão todos saturar os médios. Devem haver meios mais complexos pra sair já da mixagem final contando com o efeito que vai causar na fita. Tenta tirar bastante médio e agudo pra vermos como vai sair.” Digo que vou fazer duas versões diferentes e mandar no final de semana (acabarei mandando muito mais versões).

“Tudo que eu tenho em fita, as coisas que ocasionalmente rolam em formato de CD também que pude ouvir, sinto que os graves ficam saturando o médio. Acredito que deva dar pra tirar algum grave fazendo uma equalização esquisita, sei lá aumentando mais do que o comum o grave e diminuindo bem agudos e médios, mas nunca precisei testar isso. Eu comprei umas fitas diferentes aqui que ainda não testei. umas que tem ferro extra. Elas prometem ‘gravação de maior fidelidade’. Vu testar elas com o que você vai me mandar.” [Cadu Tenorio]

A ideia seria lançar em k7, mas também pela internet, em wav 16 bits (formato padrão qualidade de CD). Na conversa com Jean, tento convencê-lo de que seria bom lançar duas masterizações diferentes, isto é, uma para internet, com qualidade de CD, e uma para k7, com qualidade de fita. Jean diz que a anterior tinha ficado foda, muito agressiva, distorcida, um esporro total. Diz que seria melhor dizer ‘o lançamento é o k7, é o produto, a da internet é apenas a digitalização deste produto. Eu não poderia discordar mais e apelo para argumentos materiais: ‘Jean, você ouviu essas gravações em quais fones de ouvido e em quais caixas de som? Porque se é verdade que está verdadeiramente agressiva, também é verdade que está difícil de reconhecer o que estamos tocando, de tão distorcida a sonoridade.”

Enquanto isso faço algumas versões para mandar pra Cadu. Chego a conclusão que preciso pegar 4 trechos bem diferentes do show, curtos, totalizando 90 segundos, e fazer várias versões destes, mudando equalização e compressão do áudio. Dia 16 de junho mando para Cadu e Caron um link no dropbox, para baixar diferentes mixagens do nosso show. São elas:

  • 00 – arquivo bruto
  • 00comp – bruto com compressão braba a -5db
  • 01 – com equalizador com bastante pressão no grave (em 60 hz tem tipo +13db)
  • 02 – isso mais a compressão
  • 03 – equalização pra fita sem médio
  • 03comp – com a tal da compressão tb a -5db
  • 04 – equalização pra fita sem médio e sem agudo
  • 04comp – idem

Peço a Cadu para gravar em fita, digitalizar de volta e mandar pra mim, para eu sacar como o som se comporta, ao passar pra fita. Jean ainda está com a mesma ideia anterior, de que o lance seria lançar essa digitalização do som, após passar pelo processo de gravação e reprodução em fita (“Isso [lançar dois tipos diferentes de sonoridade do mesmo show] cria problemas na ontologia da obra pra mim. O Cadu tb acha que tem que uploadear a tape…. Sei lá vou ouvir os arquivos aqui.”) [grifo meu]. Tento apelar para o seguinte argumento, que eu não defendia em absoluto, mas apenas como expediente retórico: “Bom, se for assim, eu acho que tem de uplodear uma gravação do tape e não o tape em linha, pra pegar os ruídos do mecanismo (as roldaninhas).”

Mais de duas semanas depois, a 3 julho, recebo por e-mail observações de Caron. “1- Eu evitaria a compressão. Acho que vai chapar os detalhes e a tape que o Cadu enviou antes já está bem alta. 2- Gostei da eq radical em 60hz (sem a compressão)- Tocteste1. 3- Eu descartaria as mixagens para fita. Come uma porrada de detalhes. Se a fita for comer detalhes deixemos que ela o faça.?. Resultado: voto na eq com enfase no grave, sem compressão. (tocteste01)“

Mais de dois meses depois, e após muito cobrar Cadu, inclusive tendo encontrado-o em seu show em São Paulo (lançamento do álbum do -notyesus>, cuja resenha inspiradora de João Paulo Nascimento pode ser lida aqui, e conhecido Thiago Miazzo nesse show (ibw03, Ibrasotope no Centro Cultural Walden, 01 de agosto), recebo uma mensagem via facebook. Aliás, um parentese sobre o álbum do notyesus>, para quem lembra de minha postagem anterior, eu tinha comparado, de troça, o -notyesus> com o guns’n’roses. O usuário Floga-se, do facebook, cujo blog pode-se acessar aqui, passou a adotar a expressão: “Ouça Preto Sobre Preto, do -notyesus>, o Chinese Democracy do noise brasileiro. Belo exemplar daMTB.” Me lembro também de aparecer em algum outro lugar… Bom, voltando a mensagem, eu a recebi em 13 de agosto de 2013, 23h37.

Ei Cadú, cade o meu k7?

“Fala Iwao! Desculpe a demora cara, esses tempos tem sido cheios, mas gravei aqui: [endereço no deposit files]. Gravei elas todas na sequência, como um playlist, a ordem exata é essa: 1 – epilepsia – toctest00 2 – epilepsia – toctest00comp 3 – epilepsia – toctest01 4 – epilepsia – toctest02 5 – epilepsia – tocteste03fita 6 – epilepsia – tocteste03fitacomp 7 – epilepsia – tocteste04fita 8 – epilepsia – tocteste04fitacomp. Qualquer problema me avisa que gravo elas separadamente.”

Separa apenas um trecho de poucos segundos de cada, e comparo com o mesmo trecho de pouco segundos dos arquivos que mandei. Acabo ficando um pouco em dúvida, mas optando pela opção prévia que Caron havia feito. Abaixo, as comparações.

 

 

A escolhida tinha a seguinte equalização, somando decibéis em um equalizador de 31ª bandas: 2db em 25Hz, 6db em 31.5Hz, 9db em 40 e 50 Hz, quase 14db em 63Hz, 3db em 80 e 100 Hz, 5db em 125, 2db em 2500Hz, 4db em 3100, 4000, 5000, 6300, 8000 Hz, 2db em 10000Hz. Além disso não tinha nenhuma compressão. Em compensação, para poder colocar o volume no máximo possível sem usar um limiter, tive de fazer mais de 30 correções manuais de volume em picos (geralmente gerados pela equalização exagerada nos graves). Encontra-los poderia ter sido mais fácil, mas meu método, inteiramente manual, me exigiu um tempo consideravel (uma tarde, mas estava fazendo outras coisas também, ao mesmo tempo).

blog 4 - masterização

Separei o arquivo em dois lados de quase 30 minutos e mandei-os, wav. 24 bits para Cadu (passar pra fita). Fiz também um do show inteiro, a 16 bits e também mandei a Cadu (para o lançamento na internet). Como ainda não manejo FTP direito e estou com preguiça de aprender, mando os dois primeiros via dropbox, e o outro via google drive. A masterização pré-fita estava feita. Aproveito para comentar com Cadu que a gravação que ele me mandou, advinda da fita, estava 16% mais rápida e aguda que a que mandei pra ele. Ele diz que vai ver as pilhas direitinho e que isso não acontecerá com a gravação oficial.

Agora é pensar que o lançamento será na primeira semana de setembro, pensar datas para um show de lançamento. No final de três dias de informações trocadas e datas que não batiam, talvez o melhor seja 25 de setembro, Cadu tentará marcar na Audio Rebel (RJ), com abertura do Dedo, grupo do Lucas Pires. Digo que pro lançamento farei um teaser de 1 minuto, vamos ver, estou pensando em pegar imagens da filmagem do epilepsia abaixo, combinar com sonrisal, estrobos. Tenho esse final de semana que vem pra isso (25 de setembro).

 

5. Teasers ETC Lançamento
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epilepsia 5-1 altar

Para uma pequena vídeo-propaganda do álbum imprimi a imagem de Danilo Barros em um A3. Na minha casa há um pequeno altar em meio ao jardim, com um sutiã vermelho pendurado (de uma ex-moradora, está lá para proteger/dar sorte). Colei o A3 com fita crepe na parte de vidro, na portinha do altar. Deixei o sutiã no mesmo lugar. Montei os dois estrobos e o holofote, tal como em um show do epilepsia em volta do altar. Peguei minha câmera fotográfica (uma não-profissional da sony, faz zoom de 20x) e o tripé da Dorothé (eu tinha emprestado o meu, na Georgette Zona Muda para o coletivo Maria Objetiva, e tinha ficado bravo com eles por não terem devolvido – o que era falso, eu é que não tinha achado o mesmo, em meio a uma pequena bagunça e cansaço no minúsculo depósito da GZM).

Posicionei e liguei coisas, comecei a brincar; usando zoom e movimentos de câmera filmei uns 4 minutos, numa sexta-feira 23h (estava morrendo de sono, mas com a excitação de montar e filmar e desmontar não consegui dormir direito depois).

Perguntei a Jean sobre a montagem do vídeo e ele disse que dava para colocar alguma cena de nós ao vivo. Lembrei da filmagem da Tay Nascimento, do show com Matthias, do dia 05 de setembro de 2012. Aliás, desde lá temos eu e Jean falado de recuperar essa filmagem e fazer algo com ela, mas sem sucesso. Minha última troca de mensagens com Zenícola a respeito foi no dia 16 de outubro em que ele dizia que devia estar num HD dele que estava fodido. Semana passada cobrei ele de novo (por volta de 13 de novembro). Selecionei umas 4 imagens, usei duas – o bate cabeça de Jean e eu ligando luzes. Seriam enxertadas na outra edição, como delírios, por isso rápidos e passageiros (como os delírios que espero quando toco como urso mangusto).

Na edição quis colocar um trecho de áudio do álbum mesmo. Então não há sincronia entre imagem e som, exceto no início de cada uma das duas partes dos excertos sonoros (mas as imagens não correspondem ao som tocado). O começo é em silêncio, um início em mistério. Dia 24 de agosto mando para Cadu. Um mês depois, após termos de remanejar a data do show, dia 24 de setembro, o vídeo está no ar.

 

 

Temos o show então marcado para o dia 04 de outubro de 2013 (aproveito para marcar também o lançamento carioca do meu dvd Vídeos 2003-2013 no dia seguinte, 05 de outubro, também no Plano-B, tocando com Cadu Tenório e com Marcos Campello). A fita cassete terá de ser preta, o azul escuro ficou bem estranho segundo Cadu. O lançamento do álbum virtual seria dia 26, não fosse um imprevisto (agora me foge à memória).

cartaz epilepsia (plano-b)

Dia 24 começa uma troca de mensagens extensa entre J.-P. e Cadu, o qual eu entraria no dia 25 e duraria até o 27, com mais de 50 delas. Cadu manda a prova do álbum para Jean.

“Recebi aqui o arquivo que será upado no site da Toc e é um arquivo só. Eu concordei com Iwao de separarmos as mixs e não upar o som da fita mas eu acho que deveríamos upar COM AS DIVISÕES de lado aquelas que eu fiz quando mandei antes. Acho que fica estranho subir um arquivo continuo e na tape a coisa não é continua. prefiro integrar a interrupçõa na obra.”

Cadu acha que eu queria fazer a coisa na internet como um arquivo só, sem “lado A, e lado B”. E de fato, tinha enviado a ele arquivos tanto com divisão de lados como um inteirão wav 16 bits. Jean estava bravo ao que parece, “porque se for assim, não lança em cassette, lança em CD e pronto. Aí não tem esses problemas ontológicos todos.” Pega o inteiro que Cadu lhe mandou, separa em dois com mini fades e remanda para Cadu.

No dia 25 eu entro na conversa, sem entender bem o que está acontecendo e sem paciência (não reproduzo aqui mas a conversa chega a ter imprompérios meus seguidos de “ah tá”). Jean mandou novos lados mas eu havia já mandado. Havia um problema de comunicação, mas também um técnico, que só fui entender depois. Os dois arquivos que mandei, parte a e parte b, eram .wav 24 bits (formato sem compressão com resolução melhor do que o padrão); eles eram grandes demais e o site bandcamp não os aguentava; há um limite por arquivo: 291 megas. Eu não queria converter porque é muito chato ficar upando arquivos e porque eu já estava de saco cheio. Mesmo Jean convertendo para 16 bits, o arquivo ficava com 301 mb. Sugericonverter para flac, um formato tipo “zip” para áudio, sem compressão. Que Cadu o fizesse, passei o endereço e fiquei desentendendo como Cadu não conseguia, mas há versões-interface que realmente não interfaceiam conversão! MacFlac, exato.

“Acho um pouco surrealista demais eu upar 400 megas por causa de uma conversão de codec livre”, escrevi. Às 15h Caron converteu para flac e às 18h os arquivos estavam subidos. Dia 28 Cadu já estava a divulgar e a coisa estava resolvida. Até duas semanas atrás, 56 donwloads, o que está ok, não somos muito populares nem tão ativos, e ninguém escreveu nenhuma resenha sobre o álbum (teríamos de correr atrás disso, sugeri pedir a Michael Goddard, mas Jean disse que ele não toparia; João Paulo Nascimento já havia resenhado sobre o álbum do -notyesus>, o outro projeto de Jean; Thiago Miazzo e Cadu são da própria gravadora, outros parecem que não se interessaram).

http://www.toclabel.com/2013/09/toc011-epilepsia-death-raving-delirando.html

Agora o show, dia 04 de outubro, vou de manhã de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, ônibus, mais barato e minha mala não é jogada e destruída, mas está muito pesada pois carrega dois instrumentários inteiramente diferentes (Epilepsia são dois estrobos, abajur, holofote, laptop, placa de som, controlador midi e cabos; Dvd Vídeos 2003 são outros cabos, mesa de som, brinquedos, objetos e mini-tábua amplificada). O resultado é que descendo na Cinelândia, do Frescão, um dos pés da mala quebra (uma semana depois conserto com epoxi). Fernando está meio mal e demora a abrir a loja, eu já no bar e cervejando.

2013-01-11 epilepsia (plano-b, por alves vieira) 05

[foto de Leo Alves Vieira]

Cadu vende duas fitas, para Zenícola e mais alguém. O show foi bom, não tanto quanto o lançado em fita. É isso aí, cansado vou para o apartamento da minha tia em Copacabana, descansar. Deixo a mala no Plano-B pois tocaria lá no dia seguinte.

epilepsia 5-4 k7

Para adquirir a fita contatar contact@toclabel.com. [2016: atualmente as fitas encontram-se esgotadas]