prefiro ficar em casa

minha tia, de passagem na casa de meus pais, contou que lembrava de uma redação minha, de férias escolar infantil, não se sabe de que ano. algo como:

a floresta tem muitas árvores e é verde, mas tem formigas. prefiro ficar em casa. o lago é fresco e dá pra nadar. mas os mosquitos picam. prefiro ficar em casa. no deserto lagartos tomam sol. é muito quente. prefiro ficar em casa. na cidade dá pra comprar presentes. as pessoas esbarram. prefiro ficar em casa. no campo praticam esportes. todos suados. prefiro ficar em casa. na rua tem rolimã. mas também tem carros. prefiro ficar em casa. no churrasco tem carne. mas tem de comer em pequenos pedaços. prefiro ficar em casa. com adultos posso passear. mas uns fumam. prefiro ficar em casa.

o gabriel tupinambá, aparentemente consolando a solidão do seu amigo žižek, comentou que agora é o momento no qual quem gosta de ficar em casa preferiria sair. ao mesmo tempo, sinto que ao sair para fazer um pequeno estoque de mantimentos, preferiria não encontrar ninguém.


postado em 8 de abril de 2020, categoria prosa / poesia : , , , , ,

24, 25 ou 26

eu aprendi que o dia 24 é diferente do 25 e que natal é no 25. quando criança, a principal caracterização disso era: você tinha de ficar passando fome até as 0h, caso fosse comemorar a data. caso você perdesse essa virada (alguém te alimentasse e você distraidamente dormisse antes, sem perceber nada de estranho), era possível saber ser natal se o almoço fosse ainda farto, mas composto de sobras. se alguém te oferecesse um presente logo de manhã, a confirmação seria plena. você jantaria normalmente pelas 20h, e o dia seguinte amanheceria com a confiança vitoriosa de tratar-se do 26.


postado em 24 de dezembro de 2016, categoria crônicas : , , ,