poemas bobos
1.
a: “eu vou dormer”
b: “e eu, comir”
2.
a: fan-filo-fiction
b: fan-fiction filô
3.
não tem ego, só tem eu
não tem id, só tem isso
postado em 31 de maio de 2019, categoria prosa / poesia : amálgama, ego, eu, fan-fiction, poesia
1.
a: “eu vou dormer”
b: “e eu, comir”
2.
a: fan-filo-fiction
b: fan-fiction filô
3.
não tem ego, só tem eu
não tem id, só tem isso
ter uma alma significa primeiro que não somos essencialmente nosso corpo, mas logo depois, que tampouco somos nossa mente e consequentemente, que não somos essencialmente nosso ego. ter uma alma, portanto, implica eu ≠ eu. o profundo e o superficial. como essência, quer indicar um descentramento constitutivo, ou seja, uma estabilidade puramente formal, e a nossa liberdade não é, em verdade, nossa. uma determinação que não nos diz nada é uma ótima oportunidade de forjar deveres. mas os deveres só valem pra outrem.
há um celebrado aforismo de nietzsche contra a ideia de eu penso. dever-se-ia dizer isso pensa (além do bem e do mal, §17). mas não seria mais adequado dizer eu penso, e duvidar da gramática de eu quero, eu gosto, eu desejo? isso gosta, isso quer, isso deseja. o pensamento me pertence. de modo que escolher ocorreria justamente nesse embate entre o eu e o isso.
1. café sem açucar porque a vida já é doce demais.
2. ansioso de não estar mais ansioso.
3. cartões são para encontrar, após perder.
4. é doloroso ter de ser um só.
uma proposição de guilherme darisbo (para uma coletânea dada da plataforma recs) me fez fazer uma música conceitual e pouco experiênciável. afinal, segundo Ray Brassier, a experiência é um mito (ler artigo genre is obsolete). a peça é uma proposição envolvendo um texto, incluso abaixo, um arquivo .pd (um gerador da própria peça, que precisa do software pure data para funcionar) e um arquivo .wav de curtíssima duração. pode ser baixada aqui.
Henrique Iwao – §6.4311 (Outubro de 2014)
Um arquivo wav de áudio com uma duração quase nula ou nula para produzir silêncio. Uma imagem png transparente muito pequena.
No Tractatus Logico-Philosophicus, Ludwig Wittgenstein escreve: “A morte não é um evento da vida. A morte não se vive. Se por eternidade não se entende a duração temporal infinita, mas a atemporalidade, então vive eternamente quem vive no presente. Nossa vida é sem fim, como nosso campo visual é sem limite.” (Edusp, 2001, Trad. Luiz Henrique Lopes dos Santos, p.277)
1. Seria esse parágrafo uma confrontação com a doutrina do eterno retorno, exposta no Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche?
2. Em um sentido, o instante não pode ser parte desse presente, porque é justamente o que, apesar de infinitesimal, já passou. (contra Wittgenstein).
3. Eu poderia dar a entender que tender a zero não ajuda em nada. Mas tender a zero nesse caso é tentar eliminar a possibilidade da experiência (fenômeno), para dar lugar ao conceito.
4. A experiência do conceito pode ser então vivida, assim como a de morte (do conceito de morte).
5. Isso de modo algum resolve a crítica esboçada por Brassier (ou melhor – chutada em “Genre is obsolete”) (a alma/o eu não é uma mônada, mas também um composto, ou então, um resíduo).
6. A peça, entretanto, existe. Se há uma tentativa de autoanulação enquanto fenômeno é porque a peça é também essa tentativa (ela nem exemplifica bem o aforismo nem o comenta bem, mas caminha junto a ele).
1. “não sou um objeto mas um projecto; não sou apenas o que sou, mas o que vou ser e o que quero ter sido e vir a ser.” (lyotard, a fenomenologia, edições 70, p.117)
2. “(…) o fato de que um pensamento ocorre apenas quando quer e não quando ‘eu’ quero, de modo que é falsear os fatos dizer que o sujeito ‘eu’ é determinante na conjugação do verbo ‘pensar’. ‘algo’ pensa, porém não é o mesmo que o antigo e ilustre “eu”, para dizê-lo em termos suaves, não é mais que uma hipótese, porém não, com certeza, uma certeza imediata. já é demasiado dizer que algo pensa, pois esse algo contém uma interpretação do próprio processo. raciocina-se segundo a rotina gramatical: ‘pensar é uma ação, toda ação pressupõe a existência de um sujeito e portanto…’ (nietzsche, além do bel e do mal, hemus livraria, aforismo 17)
3. fragmentos reunidos pelo uso.