algumas leituras recentes #1

1. francis bacon, new atlantis (a public domain book, 1627): em sobre jardins bacon descreve o que ele considera ser um jardim não apenas adequado, mas apropriado e bom. a aparente arbitrariedade é equilibrada com pitadas de justificativas de época. em nova atlântida, a preocupação é a descrição de uma sociedade utópica, propondo um ideal de universidade (solomon’s house), introduzindo uma forma (científico-empírica) de conhecer o mundo como um ideal a ser buscado. em muitos casos, a casa de salomão é colocada acima do próprio estado, ao mesmo tempo que o serve com o que ela considera justo, apropriado e benéfico (escondendo descobertas que poderiam danificar uma ordem social bem estabelecida, por exemplo).

we have also sound-houses, where we practise and demonstrate all sounds, and their generation. we have harmonies which you have not, of quarter-sounds, and lesser slides of sounds

há um trecho inteiro de viagens de gulliver de jonathan swift a tirar sarro da nova atlântida, quando da visita à laputa.

2. alfred north whitehead, modes of thought (the free press, 1968/2013): série de palestras que no conjunto estabelecem uma introdução às preocupações e temas do autor. pelo que entendi: importância (e sua ênfase na construção do universal e no dispensar detalhes) e interesse (e sua ênfase na construção do individual, na seleção dos objetos), expressão (e a afirmação do individual), corpo (como campo primário da expressão dos seres e área de sensações vagas, como área não negligenciável filosoficamente), o homem (e sua ênfase na novidade), o entendimento (a partir da conexividade da existência), filosofia (como a crítica das abstrações que dominam certos modos de pensamento), perspectiva (articulada pelas noções de interesse e importância), interdependência entre atualidade e potencialidade, história (como construtora da essência do universo), o combate à noção de tautologia (6=6, sendo uma combinação especial de 6 resultando em 6 como dado para processamento futuro), existência como fundada na noção de processo, natureza (o mundo interpretado com base em experiências sensoriais), ciência (e a consequente necessidade de afunilamento do entendimento, de redução do campo dos possíveis), racionalização (criação e reconhecimento de conexões entre detalhes), verdade (e sua existência em relação ao mundo e aos modos de pensamento), objetivo (como a exclusão da profusão de campos de possíveis), vida, processo, data, assunto/questão.

The nature of any type of existence can only be explained by reference to its implication in creative activity, essentially involving three factors: namely, data, process with its form relevant to these data, and issue into datum for further process – data, process, issue. (93)

o estilo usa muito palavras com uma entonação que eu chamaria de vovô (talvez lembre-me meu avô?), com uso extensivo de “enjoynment”. o texto pode ser lido aqui. um trecho misterioso, que não compreendo:

Another consequence is that actuality is in its essence composition. Power is the compulsion of composition. Every other type of composition is a halfway stage in the attainment of actuality. The final actuality has the unity of power. The essence of power is the drive towards aesthetic worth for its own sake. All power is a derivative from this fact of composition attaining worht for itself. There is no other fact. Power and importance are aspects of this fact. It constitutues the drive of the universe. It is efficient cause. maintaining its power of survival. It is final cause, maintaining in the creature its appetition for creation. (119)

3. alvin lucier & douglas simon, chambers (wesleyan press, 1980): comprei o livro em capa dura pela amazon, a pouco, e por um preço normal. diziam que estava esgotado, mas não. uma grande aquisição, contém partituras de diversas obras, seguidas de pequenas entrevistas sobre elas. em geral, alvin lucier começa explorando alguma ideia, provavelmente advinda da acústica, e experimentando modos de torná-la poética, acessível, simples, enxuta. depois, escreve um texto descritivo, a partitura em prosódia da obra, de modo a torná-la mais aberta, de generalizar a ideia e torná-la mais vaga. é muito interessante ler sobre esse processo, de um início mais vago, à definição de um núcleo, a execuções específicas, à escrita de um texto mais genérico. aberto-fechado-aberto. que a reinterpretação das suas obras feche de novo o leque de possibilidades, pela necessidade de escolhas que se harmonizem com a simplicidade da poética buscada.

4. rusty barnes, redneck poems: um presente que me foi dado por lucas araújo, um livrinho impresso em folha sulfite, provavelmente baixado a partir daqui. bons poemas, crueza e melancolia de cidades do interior; vida sem grandes perspectivas; lirismo retorcido por sangue, provincianismo e selvageria.

(…) as i noticed by the reek / of perfume these were girls. i admit / to yelling CHICKFIGHT! and settling back / against the concrete wall to watch. / i am not proud; these are just details, / like how the younger smaller girl / sunfished her way out from under / the big girl and came up with a knife, / one wild slash on a roll of fat (…) / (…) / i fell in love with her soon after. after we necked / in my father’s fairlane, i went too far of course. / her cool fingers marked the side of my neck. / i released from her crotch and panicked, began / to watch for it; the sharp right hand, the blade, (…) (high school chick fight)


postado em 29 de junho de 2013, categoria resenhas : , , , , , , , , , , , , , , ,
  1. henrique iwao » Blog Archive » política disse às 18:48 em 7 de junho de 2016:

    […] sobre françois laruelle), então a política é a arte conceitual cujo material é o poder. nisso, a essência do poder continua sendo a estética, de toda forma (o que não tem, ao que parece, relação direta nenhuma […]