a regra de não ter regras

quando digo que a improvisação livre não tem regras, alguns acham que estou dizendo que a regra da improvisação livre é a de que não tem regras. o problema de pensar assim, entretanto, é o seguinte. temos primeiro uma frase imprecisa mas bem definida no que precisa, isto é, no fato de que no gênero em questão há uma negação do aspecto regrado de outras práticas. já na segunda temos um problema. porque ter regra nenhuma passa a ter uma regra, a regra do regra nenhuma. pra complicar, isso também deveria implicar que algo com uma regra, na verdade, teria duas regras: a regra mais a regra de ter uma regra. e então temos essa situação em que começamos a pensar: talvez a palavra regra esteja sendo utilizada em mais de um sentido. e então somos mergulhados na perplexidade; encontramos um problema do uso da palavra? acho que quando fazemos isso queremos forçar no uso da palavra uma consistência que ela não possui. isto é, que queremos alterar o significado da palavra pra dar lugar àquela transparência “lógica” que gera obscuridade e mistificação. o budista não deseja ter nenhum desejo, ele busca não desejar nada. ele deseja buscar não desejar nada? é uma pergunta estranha e não é absolutamente a mesma coisa que antes. imaginem, por exemplo, se eu resolver a questão e disser: na improvisação livre só há esta regra. (qual? esta.)


postado em 9 de julho de 2019, categoria aforismos : , ,