2a. tinha de ser um brasileiro com um notebook pequeno e surrado. slackware instalado.
2b. ou agora tem de ter brasileiros, copa olimpíadas e polarização do mundo.
3. a câmera tremer muito durante as cenas de ação, rápidas: ninguém quando a câmera fica parada, enxerga os detalhes das cenas, de qualquer forma. tratava-se de ajustar a fotografia, seu movimento, seu modo, ao modo correto de ver à ação: tensões, deslocamentos, linhas de força, impactos, desequilíbrios.
elysium (2013), direção e roteiro de neill blomkamp, com matt damon, alice braga, wagner moura e jodie foster.
(a mera lembrança desse pedido provoca calafrios: é um símbolo do pertencimento a um estado nação; do aprisionamento do indivíduo, entre a corrupção e a violência)
((a autoridade, visando a prática da maldade, brinca de “seguir regras”))
schastye moyo (ucrânia, 2010), de sergei loznitsa, com viktor nemec.
faz tempo que não via um filme de ação que contivesse elementos familiares, ruas, personagens, situações: daí derivam as boas tiradas, principalmente das preocupações dos bandidos secundários.
o díficil é que o filme abusa de efeitos publicitários; de tentativas de conduzir e impressionar.
(não posso também deixar de observar as camisetas “I (chuva) SP” na cena final)
2 coelhos (2012), de afonso poyart, com alessandra negrini, fernando alves pinto, caco ciocler, marat descartes e thaíde.
o documentário se passa no alto xingu e mostra a dificuldade da manutenção do repertório de canções pela tribo. é preciso cantar, aprender a cantar, ensinar a cantar, mas poucas mulheres sabem (só uma e outra) e muitas fazem troça ou corpo molhe.
as repetições das canções envolvem brincadeiras métricas, alterações de quando em quando, quebrando a regularidade exata dos ciclos; as mulheres atacam os homens, que curiosamente fogem ou demonstram cautela. o hábito de substituir uma letra séria (ritualística) por uma sacana (vulgar) existe, e é assim que elas cantam para um senhor índio que passa, dizendo que o sol murchou seu pênis.
na festa, há duas meninas, de pele mais branca que escondem o rosto com o cabelo: vou chamá-las de “filhas do antropólogo”. muitas outras não cantam, por não saber o canto; todas dançam, devidamente arrumadas.
as hiper mulheres (2011), direção e roteiro de carlos fausto, leonardo sette, takumã kuikuro.
auto-pastiche de guy ritchie, já capturado por hollywood. divertido e com esplêndida fotografia noturna, mas que levanta uma dúvida incômoda: seria possível que as narrativas do lendário detevive, nos livros originais, fossem assim tão bobas, previsíveis, insossas?
(acredito que não, mas a pulga atrás da orelha já diz ao que veio)
em outra ocasião, sobre o primeiro filme da série (cujo roteiro é mais interessante, pero no mucho), já aconselhei o exercício: substituir o senhor downey jr. pelo também ilustre connery, quando jovem (penso no “dedo dourado”):
“qual o seu nome? / holmes, / sherlock holmes.”
sherlock holmes : a game of shadows (2011), de guy ritchie, escrito por michele e kieran mulroney, com personagens retirados da obra de conan doyle; com robert downey jr., jude law e jade harris.
que o filme seja, muito mais do que sobre o tema do escritor fantasma, sobre jornalismo investigativo e sobre tony blair, demonstra o apego do diretor ao clichê. e de fato, como mestre do cinema, talvez a perfeição de execução traga uma espécie de atenuação; como se o filme se apresentasse como “uma aula de como se faz”; como se o que seria bobo e chato em outras mãos pudesse aqui de fato ser interessante e instigante.
fantasmático: as questões da autoria e da representação estão lá, nas entrelinhas, mas de modo que o alvo principal seja a política, e não a escrita do livro: esta tem sua maior potência quando vista como alegoria.
the ghost writer (2010), de roman polanski, com ewan mcgregor, pierce brosnan, kim cattrall e olivia williams.
debitário de: les yeux sans visage (1960) [os olhos sem rosto], de georges franju, baseado numa novela de jean redoun, com pierre brasseur, alida valli e juliette manyel.
com detalhes adoráveis: os bonecos de palha, a menina lésbica, o tigre. (e será que as novelas de jonquet e redoun se parecem?)
la piel que habito (2011), de pedro almodóvar, baseado em uma novela de thierry jonquet, com antonio banderas, elena anaya e jan cornet.
não que ingrid jonker fosse uma poeta eminentemente política; especialmente sensível, fez de sua fragilidade força, enquanto pôde.
black butterflies. holanda, alemanha, áfrica do sul, 2011. dirigido por paula van der oest, roteiro de greg latter, com rutger hauer, carice van Houten e liam cunningham.
Um filme leve, quase despretensioso: o homem de ciência se dá mal, o mundo acaba (grande coisa, não chega a ser uma perda dramática), tristão e isolda se encontram na morte, harmonias, melodias – pastiches de si mesmo, os rituais são todos esvaziamentos; mais eis que surge uma dúvida, eles serão de fato renovados? penso que a criança da caverna mágica (demasiado humana) invoca Nietzsche:
“Alguns degraus para trás – Um dos degraus, certamente muito alto, da cultura, é alcançado quando o homem ultrapassa conceitos e medos supersticiosos e religiosos e, por exemplo, não acredita mais nos caros anjinhos ou no pecado hereditário, e até mesmo da salvação das almas desaprendeu de falar: nesse grau de libertação, ele ainda precisa, com suprema tensão de sua lucidez, superar a metafísica. Mas em seguida é necessário um movimento de retrocesso: ele tem de compreender a legitimação histórica, assim como a psicológica, de tais representações, tem de reconhecer como a máxima promoção da humanidade veio de lá e como, sem esse movimento de retrocesso, nos privaríamos dos melhores resultados conseguidos pela humanidade até agora. – No tocante à metafísica filosófica, vejo agora um número cada vez maior daqueles que chegaram ao alvo negativo (que toda metafísica positiva é erro), mas ainda são poucos os que descem alguns degraus para trás; ou seja, devemos, decerto, olhar para além dos últimos degraus da escada, mas não querer ficar sobre eles. Os mais ilustrados só vão até o ponto de libertar-se da metafísica e lançar-lhe, para trás, um olhar de superioridade: e no entanto, também aqui, como no hipódromo, é preciso dobrar o final da pista.”
Melancholia. Dinamarca, Suécia, França, Alemanha, 2011. Escrito e dirigido por Lars von Trier. Com Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg e Kiefer Sutherland. Production House.
“Sempre uma pequena renúncia como dizia Louis Garrel (Simon)”, e esses franceses continuam cheios de problemas de relacionamento, todos racionalistas e complexados, coitados.
Non, Ma Fille, Tu n’ Irais pas Danser. França, 2009. Direção de Christophe Honoré. Com Chiara Mastroianni, Marie Christine Barrault, Jean Marc Barr, Marina Fois, Louis Garrel, Fred Ulysse. Imovision.