ética: uma resenha

espinafre (eu chamo o spinoza assim, perdão aos fãs) tem uma definição curiosa de alegria (o que engorda) e tristeza (o que mata), isto é, o que aumenta a potência de agir e o que diminui. com isso e com seu malabarismo pós-descartes, temos um livro que radicaliza a ideia de método geométrico até que algo que preze pela clareza e distinção se transforme em um labirinto o qual perdemos a chave. LOGO, é algo para lermos perdidos, imersos em ideias confusas, como alguém que padece de uma paixão para, com a ajuda das mentes que eternizaram seu deciframento etc CQD.


postado em 1 de setembro de 2021, categoria resenhas :

leituras recentes #2

valerie solanas: up your ass (1965). a peça de teatro que talvez possa ter deflagrado a raiva contra andy warhol [*]. junto a s.c.u.m., da própria autora, e the female man, da joanna russ, um retrato hiberbólico, exagerado, mas nem por isso falso, do machismo da época. “no seu rabo” foi aparentemente construído a partir da tipificação de todas atitudes escrotas de homens naquele momento, as quais as cenas preparam e atualizam, sempre com um rebate sarcástico de bongi, a personagem principal. diversão acompanhada de constrangimento.

matthew watkins: secrets of creation volume three: prime numbers, quantum physics and a journey to the centre of your mind (2013-5). livro de divulgação científica, explorando a relação entre números primos, física quântica e o caos determinista, a partir da função zeta de riemann (explicada no volume anterior). é o mais fraco dos 3 volumes ao meu ver, por ser menos matemático e gastar muito tempo considerando a admiração e perplexidade de cientistas e matemáticos acerca do tema. o interessante tema dos números como “arquétipo da ordem” é finalmente abordado, mas eu gostaria de algo mais ousado e menos sugestivo. continua a explicar coisas complexas sem usar matemática, de um modo maravilhosamente simples. uma coisa que aprendi, interessante: existe o campo da física denominada semi-clássica, que trabalha com a ideia de usar constantes discretas “quânticas” com o tamanho tendendo a zero, aproximando assim o sistema de um contínuo “clássico”.

fábio fernandes: os dias da peste (2009). livro bacana de ficção científica brasileira onde computadores vão aos poucos se transformando em inteligências construídas e tornando-se autônomos. o expediente literário usado, a história através de entradas em blog e podcasts, é tanto um ponto forte (consistente e curioso), quanto fraco. explico: embora blogueiro tardio e sobrevivente, lembro bem de como eu gostaria de evoluir para longe do clima de diário falastrão que frequentemente rolava. essa fidelidade a um retrato blogueiro tem, portanto, essa desvantagem que é usar um estilo cheio de vícios e sujeira, mundano, demasiado mundano. por outro lado, é interessante ver o típico desleixo e procrastinação de uma vida verossímil se sobrepondo e por vezes sobrepujando os acontecimentos extraordinários da realidade ficcional. ou seja, é ao mesmo tempo legal que o protagonista esqueça de coisas inusitadas e novidades para enrolar, escrever bobagens, se apaixonar e deixar de lado problemas que pareceriam prementes (como bem fazemos na nossa vida, mas talvez frente a situações bem menos supostamente empolgantes). adendo: feliz que o autor usou o argumento do trialismo cartesiano, ao invés do monótono dualismo simplista.

frank herbert: dune + dune messiah (1965-8 / 2007). enfrentei as 30 horas do audiobook dramatizado da mcmillan audio. valeu a pena? bem, duna é um clássico, muita gente leu, há muitos fãs e é uma das séries de fantasia mais conhecidas. a linguagem é bem límpida e tende ao infanto juvenil, o que eu não gosto muito. pra mim o problema principal é a falta de carisma dos personagens (muadib e alia); e a intriga shakespereana que pareceu-me ser sobrepujada rápido demais pela força fremen. em que pese o argumento da paixão de alia em messiah, que considerei sem graça, o final do livro me surpreendeu positivamente. agora, estando no terço da saga, continuo? não foi ruim mas é longo e fora dos meus interesses. entretanto é uma história muito bem contada, daquela que dá vontade de saber o final. e dá uma certa coceira de chegar ao deus minhoca petrolífera do lsd clarividente (no quarto livro – perdoem a linguagem, o estilo é bem sóbrio, mas olhem desenhos de capa, “deus imperador”).

fritz leiber: the black gondolier and other stories (2000). coletânea de contos de ficção esquisita, incluindo algumas pérolas que merecem ser lidas, em meio a coisas que são divertidas mas não me prendem. não encontrei traduções pro português, mas eu diria que deveriam existir. de:

  • the black gondolier (1964): e se o petróleo fosse senciente e maligno, a nos manipular civilizatoriamente?
  • the dreams of albert moreland (1945): nos sonhos o protagonista joga uma espécie de xadrez aterrorizando contra uma entidade monstruosa, a (talvez) influenciar o destino da segunda guerra mundial.
  • schizo jimmie (1960): jimmie contaminaria as pessoas com a loucura, para a qual ele mesmo seria imune. mas será mesmo? os perigos e tensões do artista na sociedade conservadora.
  • the lone wolf (tbc the creature from cleveland depths) (1962): quando proto-celulares (cutucadores) tornam-se conscientes e tomam conta da humanidade.

rodrigo nunes: organization of the organisationless: collective action after networks (2014). daqueles que você mesmo acha que leu, como não teria lido? mas não. e é preciso, pois se trata de um livrinho de 50 páginas que desfaz a ideia de que entre centralização e horizontalidade não tem nada no meio. por mais que isso pareça óbvio alguém tem de escrever algo bom sobre isso, e informado, e com lampejos valiosos. e então não há porque cegamente ou de má fé defender uma fluidez irreal para assim combater a rigidez, a hierarquia. há mais nos movimentos, ativismos e na prática de liderança do que isso. há todo o entremeio das redes. há estratégia e tática e convergência e fluidez. (e ao invés do ou que exclui o outro).


postado em 12 de agosto de 2019, categoria resenhas : , , , , , , , , , ,

leituras recentes, 2019-07

1. fábio fernandes: de a a z: coisas que você deveria saber antes de escrever seu livro (2017). um punhado de verbetes curtos com dicas de escrita (a principal – não jogue informação na cara do leitor. muito menos tudo de uma vez). rápido e divertido.

2. fausto fawcett: santa clara poltergeist (1991). tudo o que queríamos de copacabana, fusão cyberpunkpornô, enredo estapafúrdio em linguagem delirante, velocidade e imersão sensual, violência e saúde… um enclave do amor, improviso e caos. obra prima (sério). leiam o excerto abaixo ouvindo isso.

Essas manifestações poltergeistianas em massa começaram a fazer parte do cotidiano do bairro, e aumentavam a capacidade de vários doadores de orgasmo. Todo mundo tinha um ou dois minutos de suprassensorialidade todos os dias. Copa virou uma Cubatão psíquica, poluída por espectros, fantasmas de radiação, reverberações cerebrais e sensoriais, magnetismos e mentalizações repentinas. Ambiente de plena obscenidade metafísica e promiscuidade quântica. Uma espécie de Disneylândia Geiger, que acabou sendo invadida por hordas de cientistas…

3. h. p. lovecraft: the complete chtulhu mythos, narrated by ian gordon (1921-1935 / 2018). certo, eu sei que é duvidoso incluir audio-livro num post de leituras. mas e se eu disser que sou uma pessoa de concentração bastante baixa para ouvir pessoas falando, e tenho de ficar consultando o livrinho eletrônico no kindle? de qualquer forma, tinha um objetivo em mente: ter certeza de não ter escrito besteira num artigo, no prelo, comparando o hiper-caos do meillassoux, o deus de descartes e o demônio sultão azathoth, o deus idiota cego no centro do caos pulsante. o artigo mesmo comenta sobre a entidade (?) a partir da novela “the quest for unknown kadath”, de 1927.

4. rené descartes: princípios da filosofia (1644). um manual de conhecimentos gerais, e por isso numa linguagem “do conhecimento”, em formas de tópicos e parágrafos explicativos. a primeira parte é basicamente uma versão chata das meditações metafísicas (que é um livro divertido). as partes 3 e 4, em que pese a teoria dos turbilhões, realmente interessante e inovadora para a época, está entre as coisas mais insuportavelmente monótonas que já li na minha vida. de qualquer forma: os planetas são como navios e o espaço sideral é líquido, pois não existe vácuo. eles geram turbilhões, que geram movimentos de partículas e tendências de movimento. esses turbilhões se estabilizam e geram o movimento dos planetas. mas como o movimento é sempre relativo, a terra não se move (por si). sei. (descartes tenta jogar um caô para a igreja mas é bastante descarado). de qualquer forma, impressionante o quão anti-escolástico tudo isso é.

5. jaime azevedo: tudo que ama e rasteja (2017). um bom livro de terror bizarro, com uma amarração final e desfecho que decepciona por, ao meu ver, evocar a eterna repetição de arquétipos, o ciclo imemorial das histórias e essas coisas que eu geralmente acho que deveriam ser evitadas (e que me parece fazer alguns personagens, um em especial, se comportarem de modo não muito convincente). mas vale bastante pelos episódios vívidos: a tarântula que emerge do saco escrotal do sujeito quando este se excita; a mulher do coveiro, infestada de cupins na vagina; o magnetismo sedutor do lupanar da cidade etc.


postado em 25 de julho de 2019, categoria resenhas : , , , ,

a iconoclastia / lei de fomento

entre março de 2009 e março de 2010 participei de um grupo em são paulo, que procurava articular a criação de uma lei de fomento à música, naquela mesma cidade, moldada na lei de fomento à dança, da mesma. eu e vanderlei lucentini alimentamos um blogue na época.

existe um maravilhoso conto de karel čapek, chamado a iconoclastia, em que o amante da arte procópio pede ao pintor e padre influente nicéforo que intervenha ao grande sínodo e assim ao imperador para que a arte seja salva dos iconoclastas, que gritam “morte aos idólatras” e pedem a retirada da arte dos espaços públicos. nicéforo, entretanto, parece mais interessado em que mosaicos de uma infame escola de creta, essa arte moderna e deturpada, sejam por fim destruídos.


postado em 19 de setembro de 2017, categoria comentários, resenhas : , , , , ,

sr. ninguém

o que o filme mostra mas não assume é: uma vida projetada com base em relacionamentos se desdobra como uma infantilização da imaginação, em realizações insatisfatórias: mortes de todo o tipo, uma deprimida que ama um fantasma, um homem bem sucedido que vai do blasé ao ausente e finalmente ao suicida, um reencontro em que o apego ao porvir é mais forte que o encontro presente.

nesse sentido, ao contrário da ambiguidade com a qual o filme trata da aparição final de ana como o mundo mais perfeito (na figura do círculo contra a série de fibonacci), tal como sextus, nos parágrafos finais da teodiceia de leibniz, o caminho do meio, ou da recusa das decisões, possivelmente lhe trará uma existência medíocre, mas humana, de alguém.

{mr. nobody, 2009. dir. jacob van dormael, com jared leto}


postado em 9 de fevereiro de 2017, categoria resenhas : , , , , , ,

6 livros não muito bem avaliados, 2 a 2

1. os dois piores livros que li em 2016 foram metafísicas canibais, de eduardo viveiros de castro, e synthethic philosophy of contemporary mathematics, de fernando zalamea. ambos falam, de um ponto de vista filosófico, sobre recentes avanços em certa área: antropologia e matemática. mas exigem do leitor um conhecimento vasto nessas especificidades, bastante acadêmico (de tipos de correntes e operações), ainda mais por justamente não se aterem a explorar de fato nenhum exemplo específico destas (do qual o leitor poderia obter informações e fazer inferências). enquanto metafísicas leva ao pé da letra seu prefácio, que diz tratar-se de um livro vago e excessivamente geral, como um rascunho de um livro não-escrito, synthetic parece um enorme resumo criptografado do trabalho do próprio autor, usando uma quantidade enorme de conceitos que aparecem como um encantamente mágico para aí existe novidade. de modo que, adicionalmente, mesmo tendo interesse pelos assuntos tratados, devo dizer que o de zalamea é incompreensível, com quase 400 páginas que soam exotéricas nível “hegel para desavisados”, e que levam o leitor a deslizar de palavra a outra, sem com isso obter quase nenhum sentido das frases. de castro, por outro lado, soa por vezes como um sermão professoral, em que nomes de correntes, operações e metodologias passam rapidamente, dando a impressão de que o leitor deveria estar inteirado inclusive das picuinhas universitárias entre profissionais de inclinações diversas. se são livros para leigos, o são no pior sentido: como alguém diz de um quadro a um não conhecedor de arte: não se preocupe, é muito bonito. se são livros para entendidos, então sofrem de problemas parecidos com os apresentados em abaixo, em (2).

2. não sei qual o problema das pessoas em fazerem listas de recomendações e apresentá-las com pequenos textos introdutórios e indicativos. existem inclusive alternativas, como postagens enredadas em hyperlinks (os tais dos caospatches, remendoscaos). pois livros inteiros que se dispõem a apresentar um cenário panorâmico de algo são em geral enfadonhos, ao mesmo tempo em que indicam uma quantidade desmesurada de leituras possivelmente interessantes (muitas vezes, com títulos do próprio autor). minha questão: dado que a principal tática é mostrar que há muito o que ser explorado, porque não tentar ser maximamente efetivo em relação a isso, montando o livro de modo mais conciso e técnico, ou então, realmente articulando exemplos curiosos e pedagógicos, falando a partir deles. the post-human, de rosi braidotti, e superintelligence: paths, dangers, strategies, de nick bostrom, sofrem por ficarem no meio termo: são panoramas genéricos, ao mesmo tempo que querem ser contribuições para os assuntos. dessa forma, os problemas que aparecem são vagos, esfumaçados – e gerais demais para serem úteis. é isso que é mapear? minha preocupação aqui é que parecem mapear o mapa (e no caso de bostrom, obviamente, nem é possível saber como é a cidade; o exemplo que menos gosto – quando ele fala da dificuldade de programar o que é o conceito de bom para uma inteligência artificial – ou seja, falar da dificuldade de programar algo que nem sabemos como seria possível pensar a programação).

3. existe um estilo de prosa que parece indicar que a sociologia nada mais é que uma filosofia em alta velocidade, acelerada afim de dar conta do que ocorre na sociedade. mas o escaneamento que é assim obtido traça conexões a partir de ideias e não de dados – é uma profundidade para cima, adquirida por ascensão; não são informações cavadas a partir da superfície, mas conceitos desvelados sob uma visão do geral. e por mais que ambos os livros sejam interessantes e tenham ideias (han mais que crary), não deixo de ficar desapontado com 24/7, de jonathan crary, e a sociedade do cansaço, de byung-chul han; por parecerem sabichões, às vezes penso que escreveram meras opiniões. e então, como tudo passa rápido, boa parte é absorvido como puro achismo.


postado em 6 de janeiro de 2017, categoria resenhas : , , , , , , , , , , , ,

a chegada

a escrita universal de a chegada é universal no sentido oriental – as ideias estão lá (a pronúncia cabe a cada cultura). mas daí tem-se um problema: ou são necessárias pronúncias, ligadas para nós a palavras, ou silêncio – em todo o caso, o nível de imersão é menor – talvez seja de fato necessário um mar de névoa branca para apreender os poderes do tempo na circularidade da escrita.

há uma ambiguidade do filme em relação a ideia de “pressa” – os militares são ignorantes porque não entendem a necessidade de lentidão, mas o filme mesmo resolve a situação rapidamente. em todo caso, a diplomacia alienígena é exemplar – métodos de garantia de uso e disponibilidade a todos.

***

ponto positivo: alienígenas que combinam pele de elefante (memória) e constituição de polvo (inteligência mas hábitos bastante distantes dos nossos).

ponto positivo: nave que a princípio lembra um grande ovo do smetak, mas de pedra escura, mas revela-se metade, quando de perfil.

nem cheira nem fede: trilha sonora de sons bonitos; sons clichês (vide guerra dos mundos recente) de buzina de navio pra tudo quanto é pod.

intromissões: eu gostaria que o foco seletivo exagerado fosse consistente para todas as cenas sem exceção. a primeira coisa que eu pensaria seria acelerar os sons produzidos pelos heptapods (como na fábula da baleia, do homem e do passarinho). falta de exploração sobre polvos não faz falta ao filme mas é estranha do ponto de vista do óbvio.

ponto negativo: familismo. há de existir uma campanha contra roteiristas entuxarem a família como solvente universal ou suco de laranja de qualquer elaboração narrativa.

{the arrival, dir: denis villeneuve, com amy adams e jeremy renner, 2016}


postado em 3 de dezembro de 2016, categoria resenhas : , , , , , , , , , , ,

anime #1

elfen lied (2004): não é preciso ver a série, boba e arrastada, para saborear as estranhas mortes. o contraste entre bobageira pré-adolescente, de diálogos simples e roteiro  de novelinha, e assassinatos violentos, é o que há de interessante. mas as mortes se concentram em poucos momentos, e há um momento na série em que as pessoas param de morrer (um dos erros clássicos). de modo que o importante é “nunca deixar a bandeja com o café cair”(*).

deadman wonderland (2011): dadas as premissas (sangue como arma, experimentos com assassinos descontrolados, prisão jogos mortais, situações cômicas, ingenuidade excessiva dos personagens), é possível que o mangá seja divertido. mas a série, que começa bem, tem cenas de luta absolutamente decepcionantes e a partir de certo ponto, simplesmente enrola até o final (uma estratégia comum – dilatar o tempo em volta de um momento decisivo). mas o final, em si, não é decisivo, é como um terminar pela metade. a única vantagem disso é a cena de fechamento, a canção do picapau: afirmação da idiotia do herói idiota e da ingenuidade do monstro ingênuo. isso tudo envolto a um dos grandes clichês: a persistência do amor de juventude (o qual nem gits escapa, na série do “indivíduo 11”). tal como elfen lied, o primeiro episódio é de longe o melhor.

full metal alchemist brotherhood (2010): a série é cativante, na mobilização de diversos personagens interessantes, e história bem contada e lutas equilibradas (entre agilidade e peso emocional). como é um clássico amado por tantos, exponho aqui apenas minhas reclamações, para contrariar:

1) há um momento na série em que as pessoas param de morrer. para quem lembra do peso do episódio 10, é de se perguntar porque de repente você tem a sensação de que está “seguro”, que nenhum personagem importante vai morrer, depois de certo ponto. ademais, a tristeza corporificada por nina a quimera (episódio 4) não é nem de perto alcançada, e nem almejada, durante a série inteira, como se um episódio fosse suficiente, em uma série de 64.

2) os últimos episódios dilatam a última sequência de eventos de modo inteiramente desproporcional com o resto da série, além de que, como efeito colateral, geram momentos de enrolação (geram a suspeita de que “já que vimos até aqui, necessariamente veremos até o final”, tão comum hoje em dia em filmes “final parte 2” de hollywood, todos ruins e arrastados).

3) os combates não são tão consistentes quanto poderiam em termos de resultados e eficiência dos combatentes. existem reviravoltas improváveis e desnecessárias, resoluções de lutas “porque a roteirista quis”.

4) a cena família feliz ao final. sempre detestável, vide harry potter etc etc.


postado em 11 de novembro de 2016, categoria resenhas : , , ,

sistemas sibila / watchme

recentemente, tanto psycho pass, de gen urobochi (2012), quanto o novo longa de michael arias (baseado em project itoh), harmony (2015), mostram cidades que funcionariam como o céu na terra, utopias do bem estar social.

agora, imagine uma situação em que o sistema sabe o que é melhor para seu bem estar mental, fazendo escolhas por você, de forma a otimizar seu desempenho e felicidade (sibila), ou então em que o sistema te informe o tempo todo quais as opções mais saudáveis, gerando um clima de cuidado mútuo inescapável (watchme). a consciência humana, supostamente tão pródiga em lidar de modo complexo com opções, considerações e reações, vê-se declarada como ineficiente a todo momento.

mas o custo seria alto, afinal? é claro, há vilões / problemas. e por serem sistemas ajustados demais, também facilmente se desajustam em surtos psicóticos (sibila) e suicídios (watchme). mas e a felicidade total gerada, não é muita? (sim, mas tal como em “admirável mundo novo”, existe a opressão da felicidade média – a dificuldade de, nesse cenário, produzir encontros, forçar pensamentos, o medo de não atender mesmo nessas condições facilitadas, de não ser normal, a depressão).

enquanto uma perfeita moralidade exige a atenuação controlada das emoções, uma perfeita harmonia implica uma supressão da consciência.

***

é verdade que harmony está longe de ser inteiramente consistente, mas há algo que falta a psycho pass, mesmo com todo seu charme: mostrar ao espectador as vantagens do “japão fechado” não apenas como informações de prosperidade (que julgamos poderem ser falsas), mas como exemplos da real vantagem do sistema, exemplos que possam gerar ambiguidade/empatia. (o sistema aparece muito mais como um acontecimento infeliz do que como algo realmente desejado)


postado em 15 de setembro de 2016, categoria resenhas : , , , , , , , , ,

dois destinos

1. há um teremoto e falhas em formas de seres humanos aparecem ao norte da montanha amigara. curiosos se aglomeram no local. aos poucos, para o terror de todos, os presentes descobrem-se na procura de seu próprio buraco. achado o encaixe perfeito, veem-se adentrar pela fenda, rumo ao coração da montanha. sem conseguir voltar, contorcem de dor, pois o buraco gradualmente afunila. transformam-se, metros a frente, em um amontoado de fios retorcidos, a emitir lamentos que se confundem com o vento. [o enigma das falhas de amigara, junji ito, 2002]

2. extraterrestres gigantescos consomem a matéria orgânica da terra, transformando-a em um gigante pântano cinza. para sobreviverem, os seres humanos se reinventam como uma raça de parasitas conhecedores de matemática. a vida no interior dos hospedeiros não é, entretanto, fácil. é preciso se reproduzir rápido e na hora correta, recolher-se em um invólucro oval, liberando-se no espaço, na esperança de que alguma hora a vida continue.  [phylogenesis, paul de filippo, 1988; há um belo comentário sobre o mesmo por steven shaviro, aqui]


postado em 24 de julho de 2016, categoria resenhas : , , , , , , ,