reduplicado

1.
escreveu você é parte da história então venha participar dessa história
disse que a palavra história repetia
mas a história de da história não era a mesma
que a história de dessa história
a diferença era sutil
não estava reduplicado
e nem era tautologia
e além disso lembrem whitehead não há tautologia
e deleuze escreveu um livro
chamado diferença e repetição

2.
de tanto dizerem não reduplique
varie ao invés de repetir
a reduplicação e a repetição repetida
(além da reduplicação reduplicada a repetição
reduplicada e a reduplicação repetida)
viraram recurso poético
os portugueses são uns tautológicos dizem
os brasileiro uns desleixados
e na polêmica lopes x helder é claro que eu voto lopes
(eu gosto muito
não dela
de adília lopes mas dos poemas
dela adília lopes é um pseudônimo
eu nem conheço maria josé da silva vianna fidalgo de oliveira)
mas insisto que
uma tia fuxiqueira mais vale
que um homem de ideias perigosas

(agosto de 2014)


postado em 17 de junho de 2020, categoria prosa / poesia

poemas bobos #2

1.
você só bombas
eu vida pacata

2.
deus me livre ai quem me dera
é tão ruim vou ver de novo

3.
todo mundo tem uma pedra
no caminho

no meu caso um cisto
e meu caminho é o pulso
esquerdo, ele dói
e toco piano mal

nessa vida de mãos cansadas

4.
sua mulher está bem?
depende, comparado com quem?

5.
3,1415etc
queria picolé
recebeu colé


postado em 30 de maio de 2020, categoria prosa / poesia : , ,

prefiro ficar em casa

minha tia, de passagem na casa de meus pais, contou que lembrava de uma redação minha, de férias escolar infantil, não se sabe de que ano. algo como:

a floresta tem muitas árvores e é verde, mas tem formigas. prefiro ficar em casa. o lago é fresco e dá pra nadar. mas os mosquitos picam. prefiro ficar em casa. no deserto lagartos tomam sol. é muito quente. prefiro ficar em casa. na cidade dá pra comprar presentes. as pessoas esbarram. prefiro ficar em casa. no campo praticam esportes. todos suados. prefiro ficar em casa. na rua tem rolimã. mas também tem carros. prefiro ficar em casa. no churrasco tem carne. mas tem de comer em pequenos pedaços. prefiro ficar em casa. com adultos posso passear. mas uns fumam. prefiro ficar em casa.

o gabriel tupinambá, aparentemente consolando a solidão do seu amigo žižek, comentou que agora é o momento no qual quem gosta de ficar em casa preferiria sair. ao mesmo tempo, sinto que ao sair para fazer um pequeno estoque de mantimentos, preferiria não encontrar ninguém.


postado em 8 de abril de 2020, categoria prosa / poesia : , , , , ,

aqui vai ser maior

enquanto você fica em casa
em quarentena
um político da comitiva passeia
um político da comitiva presidencial viaja
e encontra um outro político
(ou um militar)
que passeia e viaja
e passa no mercado
vai à academia vai à padaria vai ao culto
onde jesus do apocalipse agradece
brasil
#AquiVaiSerMaior


postado em 19 de março de 2020, categoria prosa / poesia : , , , , , ,

uma preleção sobre legumes

existe uma maneira de olhar para as coisas como nós de relações. mas não de relações em que a coisa se define como objeto independente de relações. porque daí, já estamos no fim. e o que queremos é resgatar o começo. como se ainda não soubéssemos. e seguir as situações. verificar como nelas aparecem certas funções. a situação em que alguém come um alface. o alface é um hortaliça, e como legume tem como propriedade servir para consumo humano. só que isso é de novo, o final. um palhaço, ricardo puccetti, em la scarpetta, come alface do mesmo modo que alguém comeria pipoca, e do maço oferece folhas ao público. somos levados a crer que são vendidos em balcões de guloseimas em cinemas comerciais? infelizmente não. mas ao começarmos a andar com coreanos, facilmente aceitamos que a função da folha é embalar a carne, quando do churrasco, e facilitar seu consumo. então aí está. o hábito. pois há quem veja nos pepinos oportunidades sexuais, avaliando-os pelo tamanho, textura, grossura e densidade, como brinquedos da vida adulta. dessa tendência vêm a designação de legumes de duplo sentido. mas o fato é, o duplo existe mais na imaginação, como situação imaginada da intersecção de dois mundos, do que na prática, onde ou um objeto é legume, então comestível, ou dildo, então não. de modo que não seria errado dizer que o pepino, no segundo sentido, não é um legume, mas apenas um dildo, embora também um fruto. dificilmente em um estúdio de música, para dar outro exemplo, um alho poró será cortado em rodelas e refogado no azeite. pois todos sabemos que, em uma batalha fictícia são precisos ossos quebrados, e que o som de ossos quebrados vem do porro-bravo. sob esse ponto de escuta, então, trata-se de uma fonte sonora da mesma categoria da acelga e dos fios de espaguete cru. voltando aos frutos, temos o tomate. na tomatina, dificilmente veremos alguém o mastigar. o valor balístico do tomate não é tão apreciado no brasil, ao contrário da mamona. a mamona, mero vegetal não leguminoso não balístico não sonoplástico não erótico é tal que, entretanto, nenhum químico em sã consciência diria inútil. pois o óleo é seu fruto.


postado em 31 de janeiro de 2020, categoria prosa / poesia : , , , , , , , , , ,

contra

1. estou cansada do pouco que fiz e do muito que sei

2. você pede um caminho eu coloco uma pedra


postado em 9 de novembro de 2019, categoria prosa / poesia : , ,

três poemas curtos

1.
###
##hashtag
#hashtaghashtag

2.
odeia a burocracia?
seja a burocracia

3.
dramático mas não traumático
arte


postado em 10 de setembro de 2019, categoria prosa / poesia : ,

poemas bobos

1.

a: “eu vou dormer”
b: “e eu, comir”

2.

a: fan-filo-fiction
b: fan-fiction filô

3.

não tem ego, só tem eu
não tem id, só tem isso


postado em 31 de maio de 2019, categoria prosa / poesia : , , , ,

histórias do undo

era um bebe que nasceu falando. os cérebros das pessoas acharam aquilo tão absurdo que imediatamente converteram aquela fala bem articulada (significados) em ruídos e balbúcios sem sentido.

o dia ia começando cada vez mais tarde. um pouquinho aqui, um segundinho ali. o objetivo do dia era virar noite sem que ninguém percebesse, invertendo. a noite o acompanhava, indulgente. para ela não importava. continuaria tudo o mais 12 por 12.

em um determinado dia, finalmente O EVENTO: tudo o que era azul passara a ser verde e tudo o que era verde passara a ser azul. então, nada de verdul ou azerde. as pessoas, entretanto, agora chamavam as cores por nomes trocados.

como a mente e o corpo são distinta e claramente separadas, então essencialmente díspares, um corpo de homem em uma cena, sua dome a torturá-lo, SSC etc, sofria, enquanto sua união com a mente jubilava, e sua mente pensava na falta de necessidade ontológica para a existência da palavra de segurança.

era uma estrela negra, a black star, non shining, sem brilhar, não brilhando naquela noite noturna, em toda a sua ominosa sombrietude. no céu, pontos luminosos. mas não ela.

kim jong-un estava primeiro a olhar coisas. depois passou a não-olhá-las. passou a se chamar kim jong, mas apenas secretamente.

ao se tornar imperador supremo, seria lhe outorgado finalmente o selo mental que dizia: agora, desde agora, a partir e então, todos os seus pensamentos são e serão seus, de você.

antes do undo as vores eram vores e depois do undo.

***

(essa série, apesar das datas das postagens, é de dez 2012, jan 2013. vide)

 


postado em 5 de fevereiro de 2019, categoria prosa / poesia : , , , , , , , , , , , ,

negociação, uma piada infame

A: não vou te pagar nada pelo seu trabalho.
B: mas eu trabalhei bem. pague ao menos oitocentos.
A: é muito. pago metade disso.
B: como está pão duro. pague seiscentos.
A: quinhentos.
B: e cinquenta.
A: quinhentos e vinte e cinco é pegar ou largar.
B: pois e trinta e sete e cinquenta centavos.
A: fechemos em trinta e um e vinte e cinco centavos.
B: e três e cinquenta e nove.
A: quinhentos e trinta e dois e oitenta e um centavos.
B: olha, quinhentos e trinta e três reais, trinta e nove centavos e não se fala mais nisso.
A: pago 20 centavos.
B: pague 30 vá lá.
A: vinte e cinco centavos e negócio feito.
B: vinte e sete. seja razoável.
A: vinte e seis minha última oferta.
B: quinhentos e trinta e três reais, vinte e sete centavos!
A: quinhentos e trinta e três reais, vinte e seis centavos, isso sim!
B: vinte e seis então.
A: vinte e seis mesmo.
B: vinte e seis centavos.
A: com vinte e seis acabou a negociação.
B: trinta e três e vinte e seis.
A: trinta e três reais e vinte e seis centavos.
B: quinhentos e trinta e três reais e vinte e seis centavos.
A: quinhentos e trinta e três e vinte e seis logo pago lhe.
B: é. quinhentos e trinta e três e vinte e seis centavos pague me logo.

e assim por diante etc.


postado em 4 de agosto de 2018, categoria prosa / poesia : , , ,