O FEIA continua lindo

henrique iwao & lucas araújo - feia xi, show

Tenho participado de muitos FEIAs – Festival do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Desde 2002, um ano após ingressar no curso de música da universidade em questão (curso o qual frequentei até 2006), sempre que há um FEIA, estou lá (2007 e 2009 são as excessões) – fazendo ou ministrando cursos, tocando, reclamando, ouvindo e vendo coisas; já até mesmo ajudei na organização! (enquanto membro do centro acadêmico).

Não a toa, em postagem recente, Alexandre Porres, ao saber da apresentação que eu e Lucas Araújo iríamos fazer no FEIA XI, nos chamou de “os dinossauros do FEIA”, ao que Araújo respondeu que se auto-proclamara o “Rubinho Barriquelo” do evento (cabendo aos leitores interpretarem o significado disso). Para não frustrar a todos com uma interminável sucessão de nomes de grupos e datas, vou ao assunto do dia (esse tal de décimo primeiro festival), e deixo para o final da postagem a lista de participações minhas.

henrique iwao & lucas araújo - feia xi, público

Pois bem, ir a uma apresentação de dança do festival é saber que vai atrasar, que alguma das atrações vai ser cancelada, e que talvez as condições não sejam as mais amigáveis de todas, mas dessa vez houve um adicional desagradável! Eu pedi a um rapaz para que ele abaixasse a câmera dele – coisa normal, de gente chata como eu, que quer ver a dança; que acha importante ver, presenciar, em contraposição a ver com uma luz chata no canto do olho, pensando que aquela luz virará um vídeo. O rapaz pois-se a contorcer, filmando de um jeito estranho pra não me prejudicar, sem iluminação adequada e com um equipamento barato e de qualidade baixa. Ao final da apresentação fez pose de bandido, virou-se, indagou por mim, rangeu os dentes e me ameaçou de morte, a sério (não vou reproduzir aqui a conversa lamentável: basicamente o argumento era que ele estava documentando uma importante apresentação de dança indiana, enquanto eu estava sendo egoísta, e que por ser egoísta, merecia morrer, ainda mais se tratando dele, que conhecia fulano e que tinha armas).

***

Bicicleta presa no barracão da DACO, não abre a correia, volto a pé para casa, tenho de comer e me preparar para o show com Araújo, meu irmão está com um pouco febril, mas concorda em ir pegar a bicicleta, eu de carro, tenho de levar os equipamentos. Tentamos a chave, forçamos, tentamos de nove e quebramos a chave dentro da correia, a bicicleta ainda presa e agora chuva e mais chuva (e meu irmão meio gripado). Lembro de Juliana França, gritando “(assim que descobrir o nome coloco aqui), você me salvou mais uma vez”, vou até a sala dele, que desparafusa um serrotinho, troca a serra, garante que está bom, com essa vai ser moleza, com o canivete não dá mesmo – então eu e Carlos serramos o aço da correia.

De guarda-chuva em bicicleta, meu irmão Carlos, guarda-chuva grande, verde, vai passear. Na hora do show, quando queria guardar a bicicleta na Casa do Lago, não pôde – o funcionário preguiçoso não permitiu. Eu disse: “mas agora isso então não é uma bicicleta, é um instrumento, parte do meu instrumentário, vou usá-lo na performance”. Assim, com essa operação Duchampiana típica, a bicicleta pôde ficar resguardada da chuva e protegida de roubo, porque se fosse uma mera bicicleta, e não um objeto artístico em potencial, teria de tomar chuva e arriscar ser roubada, pobre bicicleta sem correia.

Como era esperado, não haviam olhado o mapa de palco, nem prestado muita atenção na lista de equipamentos necessários (todo o ano eu pergunto: “então pra quê, gente, se no final ninguém olha e vira aquele clima do faz com o que tiver” (eu tenho outra teoria, eles pedem para que na hora de reclamar, o artista possa se sentir justificado, dizendo “eu mandei todas as informações, o erro é de vocês, da organização”). Mas dessa vez, não havia ninguém da organização do festival, terceirizaram o serviço, estava lá o conhecido Helder Samara e um ajudante, garantindo que o som fosse montado corretamente, com boa qualidade, com justificáveis 15 minutos de atraso para o início da performance.

O que me espantou foi o que aconteceu 10 minutos antes do horário previsto para o show, quando dois rapazotes, de camisetas amarelas FEIA XI, com cara de que haviam acabado de acordar, tendo dormido em rede, apareceram. “Está tudo certo? quer que a gente divulgue o show, cole um cartaz por aí?” – Está. Não, obrigado. (Eu pensara algo assim: “1. Se não estivesse certo, que raios que vocês iam fazer para acertar; 2. Se você não divulgou nada até agora, porque se dá o trabalho de aparecer aqui com essa proposta ridícula, 10 minutos antes do horário previsto pro show! voltem a dormir que ganham mais, ou ao menos assistam ao show!” – Mas não, não ficaram para ver/ouvir, não estavam nem aí, se recusaram a dar camiseta do festival para mim, disseram que era difícil.)

henrique iwao & lucas araújo no feia 11

Em 2006 marcamos uma apresentação, que calhou de ser na Sala Paes Nunes. Houve uma confusão entre quem ocupava o quê, e ninguém apareceu, tocamos 3 minutos só para fazer algo antes de almoçar. Em 2008, o aluno responsável pela apresentação (com Pan&Tone, de Porto Alegre) estava preocupado com o aparelho de som (melhor não tocar do que soltar esses sons perigosos nesse som), e deixou baixo, as pessoas ficavam conversando, a garota da organização viu, mas ao invés de qualquer outra coisa, ficou dizendo: “nós temos certificados, vamos dar para vocês, certo?” (nunca recebi).

***

Por essas e outras experiências, me parece que um fenômeno vem ocorrendo em relação ao FEIA. Nos anos iniciais, o festival era uma conquista estudantil, que procurava mobilizar os alunos de arte para que eles fizessem arte, mostrassem seus trabalhos uns aos outros, fruissem arte; era uma luta difícil, uma busca por criar um ambiente de trocas de conhecimento ao redor do fazer artístico. Por isso os cursos, a preocupação de gerar algum diálogo com locais fora da universidade, e a vontade de abarcar a tudo e a todos (apesar das diversas controvérsias, contradições e mini-sectarismos, essa era a base de pensamento do festival, creio eu).

Assim, o FEIA, nessa clima de busca e embate, sempre acontecia de modo precário, com uma grade de eventos desproporcional ao que os próprios organizadores poderiam organizar. A vontade de fazer gerava vida ao evento. Essa vida transbordava em tensões, discussões, brigas, picuinhas, mas gerava alegrias e conferia sentido ao evento.

Ultimamente, parece que essa vontade se perdeu, deu lugar a um pensamento acomodado do tipo: “o FEIA já é algo instituído, é um festival de artes, tem apresentações, ocorre todo ano”. O clima é blasé, de tantofaz. Mas o FEIA como algo garantido, como mais um festival, é apenas um festival desorganizado e sem público para coisas mais aventurosas! Ou seja, cai em um desânimo pela falta de entusiasmo, pela aceitação acrítica de sua institucionalização.

Ao menos, é o que sou levado a pensar. Como artista que segue carreira, fora da universidade, esperava ao menos uma manifestação de interesse por parte da organização, uma intenção de gerar trocas e sentido nesses shows, nos anos de 2008 e 2010.

henrique iwao & lucas araújo - feia xi, instrumentário

Não obstante, também sei que, dada a minha trajetória – de estudante da Unicamp, ligado e disposto a ajudar o FEIA, para artista de fora de Campinas – toda a visão de que há menos vontade de viver o FEIA como algo importante hoje em dia, – toda essa visão – pode ser saudosismo. Mas esse saudosismo aponta para o fato de que talvez nunca houve uma vontade forte e suficiente da organização do festival, de que os artistas participantes sempre foram tratados de modo desinteressado, e que o festival é realmente relevante apenas para quem participa como artista-estudante-organizador.

Apesar das críticas, continuo a participar, acho importante ter um espaço para mostrar minhas coisas aos meus amigos, poder tocar perto dos locais onde vive grande parte da minha vida. Esse espaço é importante, mas fica aquela pergunta me atasanando: “não podia ser mais do que isso?”

***

Participações como artista nos FEIAs, em ordem cronológica.

i. Minicurso Introdução à Técnica Serial, 16 de outubro de 2002.
ii. Apresentação do grupo Hutxjma (com Bernardo Barros, Dantas Rampin, Gustavo Alfaix & Mário Del Nunzio), 17 de outubro de 2002.
iii. Hipgnik & os Prigoginistas: Vol.1 (com Lucas Araújo, José Luis Bomfim & Mário Del Nunzio), 17 de outubro de 2003.
iv. Concerto de Música Eletrônica no IMECC (diversos compositores), 19 de outubro de 2004.
v. O “Mundo” Entre Aspas: Show na Festa do FEIA (com Lucas Araújo, Mário Del Nunzio, Rodrigo Felício & Alexandre Porres), 21 de outubro de 2004.
vi. Hipgnik & os Prigoginistas: Vol.3, “A Ressurreição”, (com Lucas Araújo, José Luis Bomfim, Mário Del Nunzio, Juliana França & Melina Scialom), 23 de outubro de 2004.
vii. Minicurso Música Eletrônica Atual: Técnica e Estética, ministrado conjuntamente com Mário Del Nunzio, 03 de outubro de 2005.
viii. Concerto de Música Eletrônica (diversos compositores), 04 de outubro de 2005.
ix. Projeto PI: apresentação na Vernissagem da Mostra de Artes Plásticas do FEIA6 (com Alexandre Porres), 04 de outubro de 2005.
x. Hipgnik & os Prigoginistas: Vol.2, “Nosferatu, de Murnau, com a inclusão de: garganta, ladrão, júpiter, koani, videogame, serra, anêmica, entre outros fragmentos, todos eles justapostos, sobrepostos ou ainda aglutinados de maneira evidentemente arbitrária”, (com Lucas Araújo & Mário Del Nunzio), 05 de outubro de 2005.
xi. O “Mundo” Entre Aspas: Show na Festa do FEIA (com Lucas Araújo, Mário Del Nunzio, Rodrigo Felício & Alexandre Porres), 06 de outubro de 2005.
xii. Trio Marco04: concerto de música improvisada (com Lucas Araújo & Mário Del Nunzio), 07 de outubro de 2005.
xiii. Projeto 6/6/6 (com Lucas Araújo, Mário Del Nunzio, Juliana França, Andrea Krohn, Daniela Laetano, Rafael Montorfano, Alexandre Porres, Carla Sandim, Melina Scialom, Paula Siqueira, Gregory Slivar), 20 de setembro de 2006.
xiv. Trio Marco04: concerto de música improvisada (com Lucas Araújo & Mário Del Nunzio), 21 de setembro de 2006.
xv. Daniela Morais + Henrique Iwao & Pan&Tone: Quase Perto, improviso de dança e música (com Daniela Morais & Cristiano Rosa), 15 de setembro de 2008.
xvi. Participação na apresentação de Valério Fiel da Costa: Obras Sacras?, 17 de setembro de 2008.
xvii. Henrique Iwao & Lucas Araújo: Barulho (com Lucas Araújo), 07 de outubro de 2010.


postado em 21 de novembro de 2010, categoria música

Serenata Arquicúbica

Continuando a série de postagens que documentam as peças executadas pelo Duo Henrique Iwao-Mário Del Nunzio, abordo aqui o solo de Mário Del Nunzio, para guitarra e vídeo.

[ibx20] duo henrique iwao-mário del nunzio, 6

Mário descreve a peça Serenata Arquicúbica (2008 – ca. 20 min), para guitarra vídeo e eletrônica ao vivo, assim:

A peça tem como partitura um vídeo, constituído por até quatro camadas filmadas independentemente, cada uma focando uma das mãos e um dos pés de um guitarrista (o próprio compositor da peça) – formando, com isso, um guitarrista virtual, pela soma dessas quatro camadas.

Essas quatro camadas são fragmentadas (com fragmentos cujas durações variam entre pouco menos de um segundo até cerca de um minuto) e submetidas a todas as combinações possíveis de mãos e pés. O instrumentista executante da peça tem a missão de reproduzir tão fielmente quanto possível, o conteúdo gestual do guitarrista virtual, tratando cada um de seus membros como uma entidade distinta – as duas mãos sobre o instrumento, usando tanto técnicas tradicionais (ainda que já infiltradas por uma dissociação paramétrica resultante da independência das mãos), quanto técnicas extendidas; os pés, acionando e controlando pedais de efeito, alterando tanto propriedades timbrísticas quanto melódicas do instrumento (cabe lembrar que aos pés é dado um tratamento com densidade gestual similar ao que é dado às mãos – diferindo radicalmente do uso habitual associado aos pedais de efeito).

[ibx20] duo henrique iwao-mário del nunzio, 7

Com isso, a obra exige uma movimentação frenética do executante, que é contraposta à vídeo-partitura, que é, em uma situação ideal, absolutamente espelhada pelo instrumentista, mas em que há um alto grau de tensão envolvido na performance, dada a necessidade de emular simultaneamente quatro camadas de ação editadas de modo fragmentado, de modo que esse espelhamento idealizado torna-se de fato algo sujeito a um estranhamento e a uma busca incessante pela independência gestual de cada um dos membros, pelo instrumentista.

Fotos e vídeos

1. Fotos, organizadas no meu flickr.
2. Vídeo da turnê de Del Nunzio-Koole-Prins, com um trecho de Serenata, tocada por Matthias Koole.
3. Três fotos, por Milena Nallin, tiradas durante o II Festival Ibrasotope de Música Experimental.

A peça também é interpretada por Matthias Koole, como mostra a foto abaixo, tirada no SESC Santos, 11 de setembro de 2009.

matthias toca serenata arquicúbica, de mário del nunzio 2

Textos sobre a peça

Há um artigo de Mário Del Nunzio, publicado na Revista Ibrasotope no.1 sobre a peça. Ele estará algum dia disponibilizado na Internet.

Apresentações

01. Palavraria, Porto Alegre, julho/2008 (Mário Del Nunzio, sem vídeo) – primeira versão.
02. SESC Ipiranga, São Paulo, outubro/2008 (Del Nunzio, com vídeo) – a partir daqui, sempre com a versão revisada e definitiva.
03. SESC Consolação, São Paulo, janeiro/2009 (Del Nunzio, com vídeo).
04. HOTELbich, Bruxelas, janeiro/2009 (Matthias Koole, com vídeo).
05. UNICAMP, Campinas, 1 de setembro de 2009 (Del Nunzio, sem vídeo).
06. SESC Santos, Santos, 11 de setembro de 2009 (Koole, com vídeo).
07. UFMG – Encun, Belo Horizonte, outubro/2009 (Del Nunzio, com vídeo).
08. Concertgebouw Brugge, Bruges (Bélgica), 18 de novembro/2009 (Koole, com vídeo).
09. Warp, Saint-Niklaas (Bélgica), 29 de novembro/2009 (Del Nunzio, com vídeo).
10. Qo2, Bruxelas (Bélgica), 9 de dezembro/2009 (Del Nunzio, com vídeo).
11. Antuérpia (Bélgica), 16 de dezembro/2009 (Koole, com vídeo).
12. II Festival Ibrasotope de Música Experimental, CCJ, São Paulo, 31 de julho de 2010 (Del Nunzio, com vídeo).
13. Festival de Arte Digital, Oi Futuro, Belo Horizonte, 2 de setembro de 2010 (Del Nunzio, com vídeo).
14. SESC Vila Mariana, São Paulo, 16 de setembro de 2010 (Del Nunzio, com vídeo).


postado em 17 de setembro de 2010, categoria música

Catálogo dos Momentos Preenchidos / Onde Está o Presente Eu Comi

Esta postagem procura organizar as referências e conteúdo postado sobre essa obra, de minha autoria, encomendada pelo núcleo de música experimental Ibrasotope, projeto Conexões Sonoras.

A peça foi estreada na Mostra de Arte Multimídia Conexões Sonoras, dia 05 de maio de 2010. O vídeo acima, documenta a apresentação.

espaço de trabalho [cmp(215)]

Junto com a produção da obra, foi feito um trabalho de documentação, com fotografias do processo, e a construção de uma página, contendo informações. Um vídeo, postado no youtube do ibrasotope, registrou as formulações inicias sobre todas as 6 peças da mostra Conexões Sonoras.

Também foram postadas neste mesmo blog informações sobre o Corpo e sobre o Libreto de Onde Está o Presente Eu Comi.

Fotos e pequenos vídeos

1. Conexões Sonoras, sessão de fotos.
2. Documentação, por Henrique Iwao.
3. Conexões Sonoras, processo e bastidores.
4. Mostra Conexões Sonoras.

[ibx15] mesa verde

henrique iwao e objetos

Apresentações

Todas as apresentações da peça foram interpretadas pelo Duo Henrique Iwao-Mário Del Nunzio, com Iwao e Del Nunzio: voz, objetos e superfícies amplificadas.

Versão 0.1:
1. Dia 05 de maio de 2010, Mostra de Arte Multimídia Conexões Sonoras, Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso (estréia), São Paulo.
2. Dia 02 de setembro de 2010, Festival de Arte Digital, Oi Futuro, Belo Horizonte.
3. Dia 16 de setembro, Série Rupturas, SESC Vila Mariana, São Paulo.


postado em 16 de setembro de 2010, categoria música

Duo Henrique Iwao-Mário Del Nunzio

FML - Del Nunzio & Iwao 2

Já a tempos que formei um duo com Mário Del Nunzio. Essa postagem tenta documentar um pouco dessa jornada.

verossimilhança do espelho: del nunzio-iwao

Duo Henrique Iwao-Mário Del Nunzio

Henrique Iwao (sintetizador, tábua amplificada, objetos e eletrônica ao vivo) e Mário Del Nunzio (guitarra elétrica, objetos e eletrônica ao vivo) tocam juntos desde 2001, e como um duo desde 2003; atuam tanto em situações de improvisação livre, quanto tocando peças compostas (pelos próprios integrantes ou por outros compositores convidados a escreverem especificamente para o duo). Buscam novos modos de se lidar com a eletrônica ao vivo, por meio de configurações pouco habituais, e com a fisicalidade envolvida na atuação musical.

Os dois músicos, juntos ou separados, já se apresentaram em várias cidades do Brasil e do exterior; em 2008 destacam-se apresentações no festival de artes digitais Re:New em Copenhague, Dinamarca, na II Jornada de Cinema Silencioso, na Cinemateca Brasileira, na Mostra SESC de Artes. Em 2009, no Festival de Música Experimental (CCSP, São Paulo).

Lançaram os álbuns: “Dance Music”, com composições dos dois músicos, pelo selo russo Clinical Archives, 2008; e “Música Eletrônica 2004”, conjuntamente com Bernardo Barrtos, mesmo selo, 2009.

Ambos são os fundadores e diretores do Ibrasotope, núcleo de música experimental, sediado em São Paulo.

Repertório Atual

. Henrique Iwao – Catálogo dos Momentos Preenchidos / Onde Está o Presente Eu Comi (2010)
. Henrique Iwao – Primeiro Acorde (2008)
. Henrique Iwao & Mário Del Nunzio – Verossimilhança do Espelho (2008)
. Mário Del Nunzio – Serenata Arquicúbica (2008)
. Valério Fiel da Costa – Música para Terça (versão para eletrônicos, guitarra e sintetizador) (2004/8)

Repertório Futuro

. Henrique Iwao – Alternâncias (2010)***
. Henrique Iwao – Trata-se Claramente de um Caso Típico de Menopausa do Espírito (2003/10)****
. J.-P. Caron – Poema (2007) (2009)**
. Valério Fiel da Costa – Apanhador de Sonhos (2010)*

* a ser estrada dia 27 de julho de 2010, no II Festival Ibrasotope de Música Experimental.
** estréia prevista para final de outubro/começo de novembro de 2010.
*** em processo de composição.
**** em processo de readequação.

Programas

A. Solos e Duos (56 minutos):
1. Henrique Iwao – Primeiro Acorde (2008)
2. Henrique Iwao & Mário Del Nunzio – Verossimilhança do Espelho (2008)
3. Mário Del Nunzio – Serenata Arquicúbica (2008)

B. Vídeo-partituras (38 minutos):
1. Henrique Iwao – Catálogo dos Momentos Preenchidos / Onde Está o Presente Eu Comi (2010)
2. Mário Del Nunzio – Serenata Arquicúbica (2008)


postado em 7 de julho de 2010, categoria música

Relatório de Atividades: Encuentro de Artes Sonoras Tsonami 2007


postado em 3 de setembro de 2009, categoria música

Relatório de Atividades: Sonorities Festival 2007


Em um dos estúdios do SARC.

Olá a todos!

Segue abaixo o relatório de minhas atividades no “Sonorities Festival of Contemporary Music 2007“, ocorrido entre 20 e 25 de abril deste ano. Entre elas estão algumas informações úteis sobre finaciamento para viagens, hospedagem, a cidade de belfast e algumas anedotas que considerei convenientes.

1. O Festival.

O Festival de Música Contemporânea Sonorities é o mais antigo festival de música nova da Irlanda e um dos principais da Europa a apresentar músicas inovadoras. Além de trazer inúmeros concertos com artistas renomados (participaram do festival, entre outros, Anthony Braxton, Luc Ferrari, Natasha Barrett (atualmente na moda), Richard Barrett, Denis Smalley, London Sinfonietta e Johnathan Harvey), o Sonorities tem como meta trazer à Irlanda do norte idéias e sons inovadores do mundo inteiro. Para isso tem convocado, desde 2004, um chamado internacional de obras, das quais um juri especializado seleciona algumas a serem apresentadas no laboratório sônico (Sonic Laboratory) do centro de pesquisa em artes sônicas (Sonic Arts Research Centre – SARC) da Queen’s University. Este chamado atraiu obras, performances e instalações sonoras de mais de 25 países.

Computadores dos doutorandos (aberto 7 dias por semana, 24h por dia).

Um grande número de eventos utiliza as vantagens do singular laboratório sônico. o SARC foi oficialmente inaugurado em 2004 por Karlheinz Stockhausen durante o Sonorities 2004. O laboratório sônico inclui uma orquestra de caixas de som estrategicamente localizadas em cima, em volta e em baixo da área dos espectadores. estes andam em um chão suspenso e transparente e tem a oportunidade de experienciar um mundo sonoro tri-dimensional no centro de um cubo (3D surround-sound).

Desde 2006, paralelamente ao festival, conta com um simpósio internacional focado em performance em ambientes de rede computadorizada (2nd International Symposium Focusing on Networked Performance Environments), denominado Two Thousand + Seven.

Maiores informações: Sonorities & SARC.

2. Financiamento.

Tendo sido aceito na mostra “Open Fader” do festival, com uma música (alguns a conhecem: “Contrabandistas de Jeans Furiosos até as Narinas” – foi tocada no ENCUN II, entre outros eventos), minha presença foi requerida pelo festival. Isto porque, para executar a peça eletroacústica em um ambiente com 48 caixas de som, o sonorities exige a presença do compositor como intérprete.

O e-mail chegou para mim na segunda semana de março. Da segunda semana de março até a segunda semana de abril deveria conseguir um financiamento para viagem e estadia (o e-mail dizia: esperamos que com essa mensagem possa conseguir financiamento junto a instituições brasileiras, de modo a viabilizar sua vinda).

As embaixadas, do Brasil e do Reino Unido (Belfast é na Irlanda do Norte, pertencente ao Reino Unido, e não na República da Irlanda, que é outro país), não deram apoio nenhum. O Rotary Club Campinas Barão Geraldo, após ter prometido se esforçar para conseguir alguma verba e estadia, se omitiu e acabou não ajudando com custeio nenhum nem estadia (na verdade, o sistema de intercâmbio deles funciona para tempos de no mínimo 3 meses e é bom ter algum conhecido da família rotária para ver se consegue alguma verba; eles não tem o costume de investir em apresentações culturais – minha tentativa foi algo não usual, apoiado no fato de ser um evento importante).

Gruas, sinal de expansão financeira.

Uma vez que meu pai insistiu para que eu fosse mesmo assim, fez-se um orçamento de passagens. Para não chatear leitores, aqui vai o valor final:

R$ 4.140,25, pela British Airlines, de Guarulhos (são paulo) até o London Heartrhow e de lá até o Belfast City Airport, e de volta.

Num encontro fortuito na rodoviária de São Paulo, rumo à Campinas, pude conversar com Renato Fabbri, que estava indo para a Alemanha para a conferência internacional de áudio em Linux, financiado em parte pelo Ministério da Cultura, em parte pela Reitoria de Extensão da Universidade Estadual de Campinas. Ele me aconselhou a olhar o seguinte endereço:

MINC, e entrar no “apoio a projetos” > “programa de intercâmbio”.

Não havia nada lá, mas no dia 16 de março, subitamente, aparece um edital (02/2007), com inscrições até 25 de março, para viagens para o exterior no mês de abril, com R$ 100.000,00 disponíveis.

Passei uma boa semana preenchendo formulário e procurando documentos, além de escrevendo o projeto, lendo o edital cuidadosamente e, finalmente, provavelmente no dia 04 de abril, o resultado da seleção saiu no diário oficial de nosso país, sendo o meu nome o primeiro colocado.

Valor concedido: R$ 3.989,44.

O único problema é que, em um prazo de 3 dias deveria enviar uma carta convite do diretor / organizador do evento (não podendo ser obtida nem por e-mail nem por fax), à secretaria de cultura, sob a pena de perder o dinheiro. Apesar da preocupação consegui a carta, por lDH (tipo um SEDEX internacional bem caro); devo previnir futuros candidatos acerca dessa necessidade – da carta convite do país de origem…

Enfim, no dia 22 de abril o dinheiro caiu na minha conta (claro, eu já estava em Belfast); portanto, nessas situações, deve-se individar-se ou receber mecenato familiar como suporte, esperando poder pagá-los de volta após um mês.

Universidade da Rainha.

Outra coisa: pode ser muito difícil contatar por telefone a secretaria do minc, apesar dos 6 a 8 números telefônicos disponíveis, pois nem todo mundo atende todo dia, e existem reuniões que congregam todos os funcionários sem exceção. O resultado da seleção, além do diário oficial, é transmitido via telefone e e-mail, então não é necessário, como eu fiz, olhar todo dia o sítio do ministério para ver se há alguma informação preciosa a respeito do edital.

Maiores informações ler cuidadosamente os editais e olhar os formulários a serem preenchidos, pois contém ao menos duas questões problemáticas, sobre a identidade brasileira e o desenvolvimento
cultural do país.

3. Documentação para Viagem.

Tive o azar de não ter passaporte. Quando fui à polícia federal, esperei 1h30 na fila e o rapaz me disse que demoraria em torno de 40 dias para ficar pronto, dado problema na impressão dos mesmos. Uma alternativa seria pedir em regime de emergência, dois dias antes da viagem, com a passagem na mão (o que foi feito por Renato Fabbri com sucesso…).

Para não ter que enfrentar essa situação tive que contactar um militar e explicar-lhe da situação, que permitiria uma inserção cultural do Brasil em um importante festival internacional. O passaporte saiu em 6 dias. o reino unido não requere visto para estadias com duração menor do que 6 meses.

Céu de Belfast.

4. Aviões e Aeroportos.

Quando viajar para Londres, saber o endereço de onde você vai ficar no Reino Unido, além de ter a carta convite do festival e o passaporte em dia; muito importante o recibo da ou a passagem de volta. O “visa” (visto do depto. de imigração londrino) é feito na hora, mas, já que você vai trabalhar – tocar –, eles podem fazer um pouco de vista grossa, por ser atividade especializada (eu esperei 20 minutos); outra alternativa é simplesmente dizer que você está de férias e vai visitar fulano de tal, opção que, por ser meio mentirosa, foi descartada por mim. Normalmente a permissão para estadia é feita com base na sua passagem de volta ou na quantidade de dinheiro que você tem, caso não tenha a passagem de volta (no caso, é necessário apresentar em notas ou olerite).

De um terminal a outro do gigantesco aeroporto Hearthrow, dá 15 minutos em um microônibus disponibilizado para essa finalidade (só seguir as setas). O aeroporto tem saguões imensos e pode ser assustador. procurar o balcão de informações é sempre a melhor opção. Whiskeys Irlandeses (Bushmills, por exemplo), além de chás ingleses são 30% mais baratos no Dutyfree do que na Irlanda; livros são caros e não há muitas opções.

Caso a passagem tenha um recibo de ticket eletrônico, deve-se prosseguir pela fila padrão no aeroporto, a passagem é retirada na hora. para o aeroporto de guarulhos existem ônibus que saem do terminal Tietê, Barra Funda e na frente do República, custando R$ 27,00. Em Belfast, pega-se um ônibus no Hotel Europa, número 600, ao aeroporto, e de onde você estiver até o hotel um taxi (aqui há um detalhe: apenas taxis pretos param nas ruas, os outros devem ser chamados por telefone).

Alfandega só existe no Brasil pelo jeito, mas o padrão é não acontecer nada se você gastou menos do que 500 dólares (cerca de 230 pounds) em produtos, exceto coisas como livros.

Damian e Brian Cullen no Thompsons.

5. Estadia.

Fui lembrado por minha irmã que uma amiga comum entre nós tinha conhecidos em Belfast (uma tia que lecionava na Queen’s University Belfast), e através de mensagens eletrônicas entrei em contato com um brasileiro, fazendo um ano do seu doutorado lá, e ele disse que poderia me hospedar, ele e sua mulher. Ela me encontrou e deu uma chave; assim, pude conhecer duas pessoas legais, além de não gastar dinheiro com estadia.

Albergues de estudantes costumam custar £16 a £20 por dia, o que, multiplicado por 4 é um tanto caro.

Jean e Amélia: grandes companheiros! Sou muito grato à ajuda valiosa!

6. Roupas e Temperatura.

Belfast é uma cidade fria e úmida, com muito vento. como sou friorento resolvi gastar dinheiro em uma loja de roupas esportivas (para esportes radicais na neve). A vantagem é que a maioria dos itens pode ser usada em invernos paulistanos, como meias de frio, calça esporte de inverno, e botas; a desvantagem é que, não tendo um único ítem sequer para frio acentuado, gastei em torno de R$ 600,00 (espero que sirvam durante pelo menos 10 anos de minha vida). Opções mais econômicas são compras em lojas de roupas usadas, e em Belfast existem algumas em que se pode obter coisas um pouco mais baratas (mas não muito, deve-se gastar provavelmente em torno de R$ 300,00).

Agasalhos de nevasca peguei-os emprestado, mas após março não é tão frio, “warm weather”, com sol de quando em quando, como um inverno em São Paulo, mas com mais vento (cachecol, luvas e gorro são necessários); nem por isso as garotas colegiais deixam de usar as famosas sainhas inglesas. Em Belfast é muito raro nevar, mas chove chuva rala o tempo todo, e guarda chuvas podem, com um pouco de azar, quebrar no vento.

Esse tipo de norma gera feitiches e taras.

7. Financiamentos Internacionais para a Música Eletroacústica.

Exceto na incrível situação em que você é um convidado internacional de grande prestígio como Mark Applebaum, George Lewis & Barry Guy, ou o Ensemble Recherche, um festival não vai pagar-lhe a participação. A isto pode ser adicionada a informação de que, até mesmo na Europa, o circuito da música eletroacústica e tecnologia musical é quase que inteiramente financiado por universidades. Assim, espera-se que sua universidade pague sua participação (ou ao menos seu transporte). O circuito em si é voltado para os compositores, músicos experimentais e universitários, segundo as conversas que tive.

Não obstante, existem muito mais oportunidades nos Estados Unidos, Japão e Europa para a tecnologia musical, desenvolvimento de network art, estéticas “pós-digitais” e a improvisação integrada a computação (improvisação algorítmica, etc) do que aqui no Brasil. Muito dos professores dos quadros atuais de universidades inglesas são jovens de 27 a 30 anos, e o próprio quadro de doutorandos do SARC é composto por pessoas bastante jovens. O ensemble eletroacústico oficial da Universidade de Manchester é inteiramente composto por alunos (Kairos).

Ensemble Recherche.

8. Dinheiro e Conversões.

Um pound (£) = 4.5 reais na compra ou 2.1 dólares, e é por isso que o Reuno Unido não aderiu ao euro. As redes de cartão internacional Sirius e Plus funcionam na cidade, com uma taxa de 1.5 dólar e 15% a cada gasto feito indo para o banco. O pound pode valorizar de uma ora para outra: quando deixei para converter o restante do meu dinheiro em Belfast, perdi 8 pounds porque tinha subido de 4.3 para 4.5 ou algo do gênero (na verdade, converti dólares, o fato é que a sensação de volatilidade monetária nunca antes havia sido experienciada – evaporação).

É bom calcular as conversões e prever gastos, porque, na volta pagam-te 1.9 dólares por pound; a conversão para reais é 1£ = 3.5 R$! Então recomendo estudo dessas questões antes de fazer qualquer coisa e acabar perdendo 100 reais na brincadeira.

Os preços das coisas em pounds são menores (em termos de valores numéricos) do que os de são paulo, café a 1.5, scones 1, bagels 1, sanduíches 3 e bons sanduíches a 5£ (o restaurante indiano sai por 10, mas come-se muito bem). Uma vez convertido o dinheiro, impossível pensar o quanto as coisas são 4 vezes mais caras: olha-se para a nota de 20 pounds e, embora procurando gastar apenas 15 por dia, é apenas uma nota na sua carteira, impossível dizer “isso vale 90 de onde venho, é melhor ir ao supermercado e economizar”, mesmo porque, para participar de todos os concertos e conhecer as pessoas é necessário comer e tomar cafés em locais agradáveis.

Mark Applebaum.

9. Belfast, Cafés, Comidas, Pints.

A capital da Irlanda do Norte é uma cidade de 300.000 habitantes, que cresceu muito nos últimos 4 anos, com um investimento maciço de mais de 200 milhões de pounds para modernizar a universidade. As ruas tem mão inglesa, o que torna a probabilidade de ser atropelado 13 vezes maior para um não reino-unidense. As ruas são limpas e não há o terrível humm constante encontrado na cidade de São Paulo, nem a barulheira das construções.

Irish Coffe, original.

Cafés são bons, tirados de maneiras distintas do que aqui. O single expresso é uma espécie de ristreto turbinado, muito forte mesmo, e o double parece um muito forte brasileiro (quantidade normal), mas menos ácido. O hammerhead é um double expresso misturado com regular coffe (de coador), e vem em um copo. O latte é gigantesco (taça), marrom, com a espuma do leite em cima; se você quiser café com leite, deve pedir o machiato, porque eles tomam café com leite gelado, que fica disponível em jarrinhas nas mesas na maioria dos lugares – há a opção do white coffe também, que é café de coador com leite. O café irlandês é sensacional, com whiskey irlandês (no Brasil, tirando o Jamenson’s, todos os outros são scotchs), café expresso quente, alguma coisa (não é doce) e creme irlandês absolutamente gelado em cima, que não se mistura com o resto. comidas incluem scones, muffins e sweet squares, muitos dos quais de framboesa, bons para acompanhar o café (alguns dos locais praticam a “barganha justa”, fair-trade, tentativa de pagar mais aos trabalhadores do terceiro mundo – África e América). Bagels são rosquinhas de pão, boas com queijo cremoso. Comidas típicas incluem o Ulster Fry – torradas com manteiga, ovo, salsichas e tomate (no café da manhã) e o Fish and Chips (peixe e fritas com muito óleo e regadas de vinagre – coisa de inglês).

Ulster Fry.

Um pint de Guiness = 2.6 pounds, que deve ser algo como 500 ml. O atendente coloca a cerveja preenchendo 75% do copo, pede para você pagar, espera um pouco e depois preenche o resto (se você ficar impaciente pode acabar irritando um irlandês – um deles fez um x na espuma da minha bebida dizendo “essa aqui é a sua”). Eles jamais chamam isso de cerveja. Outra boa opção é a stella airtois, 3 pounds um pint.

Como a maioria dos lugares fecha as 1h da manhã, eles costumam começar a beber cedo, 18h da tarde, e é comum convidarem enfaticamente pessoas para ir aos pubs, locais fechados (o cheiro de cigarro imediatamente gruda na sua roupa – dentro de alguns meses vai ser proibido fumar nesses locais, como já é em toda a universidade). As pessoas não vem problema nenhum em beber antes ou entre os concertos, tendo que sair ao banheiro entre uma música e outra (caí nessa “armadilha” nos três primeiros concertos).

Bishops.

As diferenças sociais não existem comparadas com São Paulo. O máximo que vi foi uma indiana vendendo revistas ilegalmente; o salário mínimo permitido é algo como 500 pounds, mesmo em meio período, e aparentemente quase não há hierarquia entre empregado/patrão. Os irlandeses são hospitaleiros (dizem que “os mineiros da Europa”), e se você souber inglês bem vai acabar enfrentando situações em que eles vão querer te pagar bebidas.

10. Schmoozing.

De acordo com os ingleses que encontrei, chit-chat (bate papo) específico entre pessoas da mesma área profissional, em busca de contatos e oportunidades. Como resolvi assistir a todos os concertos, e as pessoas se mostraram realmente legais, passei tardes inteiras schmoozing.

Uma coisa muito positiva sobre esse festival foi que não existiram pessoas adotando posturas defensivas, atacando tipos estéticos ou axiomatizando fatos notadamente plurais e cheios de exceção; ou seja, a seleção do festival foi feita baseada na diferença entre os participantes e não na semelhança, tanto que tivemos grupos de noise com levadas semi-pop, o glitch jazz do quarteto de laptops do Akihiro Kubota (que se intitula design da informação e improvisador algorítmico), Mark Applebaum e sua estética das colisões, peças eletroacústicas tradicionais (Diana Dillon), uma inglesa com grande agressividade gestual e energia (Jo Thomas), etc, o piano algoritmico do George Lewis (ele tocou trombone) e Barry Guy no baixo em uma seção de free jazz, o belíssimo allegro sostenuto do Lachenmann tocado pelo Ensemble Recherche, etc.

Isso não quer dizer que não se falava mal das peças (pois é um mal incorrigível dos músicos), mas que não observei nenhuma inimizade e era possível ouvir e colocar críticas.


Galera do SARC em dia ensolarado.

11. Open Jack Nights.

Em duas noites ocorreram noites em que as pessoas podiam levar laptops e instrumentos e tocar em uma galeria, comprar cerveja e falar muito auto, ficarem surdas, improvisarem vídeos, tomar chuva no terraço, sorrir umas para as outras. O som esteve incorrigivelmente ensurdecedor e muitas pessoas não sabiam mesmo quando parar, além de se evidenciar as diferenças de postura de pessoas acostumadas a improvisar e pessoas não acostumadas. Uma boa sugestão dada foi colocar limiters na saída da mesa de som para as caixas… outra, uma mediação (mas como é difícil não exercer poder, não coagir ninguém, mesmo que “amigavelmente”!).

Instrumentário da noite da conexão de áudio aberta.

12. Difusão Sonora.

O laboratório sônico tem 48 caixas, das quais 40 são organizadas através do pro-tools em 20 subgrupos stereo (direita-esquerda). Assim, tem se 8 caixas no nível normal (4 faders), 8 no nível médio (acima), 8 no teto, acima das cabeças das pessoas, 8 em baixo, viradas para cima, 8 nas arestas do cubo; existem também vários subwoofers, separados em dois faders, um para a direita outro para a esquerda. A sequencia das coisas é essa descrita. as caixas embaixo das pessoas não soam realmente como vindas de baixo, criam um ambiente semi abafado mais distante; as arestas do cubo dão efeitos sutis relacionados à percepção de distância da fonte sonora; existe um artigo recente (perdão, não tenho a referência aqui) em que o autor prova que, sob certas condições, é possível perceber diferenças de direita-esquerda para sons muito graves usando subwoofers apropriados, mas eu pessoalmente, no ensaio, não consegui.

Muitos botõezinhos.

Tive aulas com J. A. Mannis e adquirido algo da sua fisicalidade me vi na difícil tarefa de mexer muito nos 22 faders o tempo todo, tendo apenas 8 dedos úteis (e descoberto que não é tão simples misturar a automação do pro-tools com alterações ao vivo nos faders – ocorrem problemas que não puderam ser resolvidos em apenas 1 hora de ensaio). (Em um vídeo que disponibilizarei em breve dá para ver eu abaixando o master sem querer, em uma pausa, mas cortando alguns centésimos do primeiro som da próxima seção… – de qualquer forma é bom tentar, Chris Corrigan, o técnico de som, disse que foi bom, tentando mudar o espaço sonoro a cada subseção – 16 ao todo na primeira seção da música). Fica claro, no entanto, para mim, que o principal problema da execução de música eletroacústica é a falta de familiaridade com os espaços e número de caixas (mesmo com 8 – quando podemos ensaiar com 8 caixas a não ser 1 hora antes do concerto?).

13. Dois Adendos:

a. Evitar, sempre que possível, comer o café da manhã inglês servido no avião, uma mistura de ovo derretido, bacon, presunto, salsisha e tomate, aparentemente esquentado no microondas. Pessoas previdentes pré-ordenam cafés da manhã vegetarianos, a fim de evitar prováveis funcionamentos intestinais anormais.

b. Um fato incrível: os ingleses, conhecidos entre nós por sua pontualidade, tiram sarro dos alemães, por serem estes supostamente muito pontuais. Um inglês, de Manchester, comentou estar em um trem alemão, atrasado 5 minutos, e a cada estação os funcionários se desculpavam: “desculpem, estamos 5 minutos atrasados”; quando fez a baldeação, mesma coisa. 100 kilômetros depois, chega a seu destino final com exatos 5 minutos de atraso.

14. Muito Além de Alguns Erros de Português Gostaria de Corrigir a Seguinte Informação:

> a taxa de 1.5 dólar e 15% a cada gasto feito indo para o banco.

(O que me parece um tanto abusivo e que atesta a maior probabilidade da taxa ser de 1.5%)
grandes abraços a todos e votos por viagens mundiais!

Nick toma sol.

Fotos completas, aqui.

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Comentários Apresentações 2007-8


Bar do Zé – barão geraldo, campinas – 11 de abril
de 2007

o show de lançamento do cd “dia de páscoa” d’O “Mundo” Entre Aspas, utilizaria um projetor e um dvd, do Cineclube Taturana. da mesma forma que, em tempos remotos (2003), cds falhavam, o mesmo ocorreria com dvds em 2007 – sufoco para conseguir fazer funcionar. o som todo indo para o p.a. em stéreo, da minha placa de som, passando por direct-boxes locais e a projeção dos vídeos pascalinos foi feita em cima de nós, no palco. . as pessoas do cineclube lá estavam e o clima foi amigável e intimista, sem badalação.


Sonic Lab – belfast, northern ireland – 23 de abril de 2007

o laboratório sônico comporta até 60 caixas de som, das quais 40 são organizadas através do software pro-tools em 20 subgrupos stereo (direita-esquerda). sua arquitetura cartesiana (3D surround no cubo), e nível de reverb ajustável através do movimento de placas laterais tornam a sala flexível. sua acústica é baseada no fato de que “existem fontes sonoras por todos os lados”. assim, tem se 8 caixas no nível normal (4 faders), 8 no nível médio (acima), 8 no teto, acima das cabeças das pessoas, 8 em baixo, viradas para cima, 8 nas arestas do cubo; existem também 6 subwoofers, separados em dois faders, um para a direita outro para a esquerda. as caixas embaixo das pessoas não soam realmente como vindas de baixo, criam um ambiente semi abafado mais distante; as arestas do cubo dão efeitos sutis relacionados à percepção de distância da fonte sonora.

o efeito sub-graves stereos não foi perceptível em nenhum momento (também achar que essa ordenação cúbica geométrica se reflete geometricamente na escuta seria muita ingenuidade). chris corrigan e sua simpatica assistente comandam a sala, que tem um agendamento e horários bem planejados. o problema para a difusão é originado pela dificuldade atual do sistema de misturar coisas pré-programadas com mudanças nos mesmos parâmetros ao vivo. além disso, é um local onde invariavelmente perdem-se canetas e moedas, devido ao chão vazado e mulheres não podem entrar de salto alto.


Teatro Itália – centro, são paulo – 18 de maio de 2007

o Teatro Itália é um dos dois teatros dedicados exclusivamente à dança na cidade de são paulo. tem um bom equipamento de luz, podendo-se conseguir contras vermelhos fortes e vivos, além de passagens azuladas líricas. sua aparelhagem de som costuma ser profissional, com dois tocas cdj’s e uma boa mesa (exceto quando um deles queima e demoram mais de um mês para comprar outro, substituindo o aparelho por um tocador de dvd detestável). as caixas são boas e respondem a graves (creio que há um sub), e a cabine, tirando a barulheira do sistema de resfriação (realmente impressionante durante à tarde, quando está funcionando a 100%), e a distância do palco, é agradável, com técnico de luz irritado mas espirituoso (gente boa) e um técnico de som calmo e tranquilo. as desvantagens estão na divulgação ainda errática dos eventos, porque é um espaço grande, mas pouco frequentado; se participar de uma coletânea de companias no mesmo dia, também existem questões de organização conjunta, como sempre, e tempo escasso.

Café Cultural – botafogo, rio de janeiro – 10 e 17 de agosto de 2007

para fazer o som para o grupo Icatupe (espetáculo “Lusco-fusco”) tive que ficar 40 minutos encurvado em uma plataforma 3 metros acima do linoleo (nem de pé e nem sentado, pois o teto estava 1,60 acima) – à esquerda e um pouco a frente do mesmo – o que fatalmente gera dores na coluna. ademais, impossível ver boa parte do que elas estavam fazendo lá em baixo, o que dificultava as deixas e impossibilitava ao menos uma delas de ser feita corretamente. ademais, os cabos eram velhos, e um dos dois toca cds era um aparelho de som caseiro ligado pela saída de microfone, bem precário. o ambiente contava ainda com muita poeira e algum entulho. a produção do local era grosseira, atrasou a montagem dizendo: “é aqui isso acontece, é que o problema é que aqui tem muita coisa rolando, sabe, então agora está tendo esse ensaio que a gente também marcou” (nota minha – nesse mesmo horário).


Plano B – lapa, rio de janeiro – 18 de agosto de 2007

o Plano B é uma pequena loja de discos (vinis e cds) localizada próxima aos famosos arcos da lapa, ponto de encontro carioca. há um computador com mesa e placa de som, e caixas em stereo, muitas vezes duplicadas para existir retorno (uma em cada vértice da sala retangular). o equipamento é colocado em cima de carretéis gigantes de 75cm de raio, de cavaletes, e de estantes com vinis! a porta fica aberta e vende-se cerveja a R$ 1.99; não é cobrada a entrada (e não é costume bancar gastos dos artistas). o público das sextas às 20h é cativo, de umas 15 pessoas; tem um clima underground praieiro, e os donos são muito simpáticos.


Ap 302 – higienópolis, são paulo – 19 de agosto de 2007

o meu antigo apartamento foi rearrumado de forma que a sala de estar pudesse abrigar o teclado, a guitarra, as pedaleiras e computador/placa de som de meu duo com Mário Del Nunzio, o Duo Marco04 A. uma das caixas de som (um par de monitores com suposta potência de 80w rms) ficou em cima de uma estante e a outra em cima de uma mesinha. o público – amigos, amigos de amigos e familiares, pode desfrutar um bom café (robusto e encorpado, na medida que assim pode ser feito em uma cafeteira italiana), bolo de amêndoas com frutas cristalizadas (cortesia de Lucas Araújo), salgadinhos, cachaça e cerveja. os sofás ficaram encostados no piano, na sala anexa. toquei meu solo (o pedaço inicial da peça “Primeiro Acorde”), seguido da pré-estréia de nossa peça “Verossimilhança do Espelho”. o som sofreu com frequências estacionárias indesejáveis e baixo volume, mas a resposta dos ouvintes foi positiva.


Theatro Municipal – centro, são paulo – 2 e 3 de junho de 2007

os técnicos são bons, o tempo curto, mas exato e bem aproveitado, o cheiro é de carpete antigo, um pouco de mofo, poeira e “glamour”. para chegar à cúpula, onde ocorrem muitos dos ensaios, tem de se percorrer corredores semi-labirínticos, entrando por trás do teatro (lado oposto ao da bilheteria), e usando um elevador específico, pressionando a letra “c” (há como subir pelas escadas, mas são 5 + 1 lances, se não me engano – pouca gente sabe, mas o segundo andar, por exemplo, abriga uma coleção gigante de figurinos). na cúpula com marcações no solo, simula-se o espaço de palco, e no teto existem placas triangulares suspensas muito interessantes (para correção da acústica?). as cadeiras da platéia baixa não são tão afastadas uma das outras como se quereria, e há o problema da pouca inclinação entre as fileiras (provocando o efeito do “cabeçudo”).

ainda assim, creio que os camarotes do segundo andar ficam muito distantes, e do quinto não se enxerga nada a não ser pontos, com os refletores na frente, atrapalhando. um sistema de comunicação por walk-talkies faz todos a equipe funcionar muito bem. no horário de apresentação, não obstante, sempre acabam se precipitando a apagar a luz e dar início ao espetáculo quando as pessoas ainda estão a adentrar o recinto (evitando maiores atrasos mas causando desconforto e certa desconcentração). no primeiro subterrâneo, onde ocorrem os coquetéis, Marquinhos e Mário notaram como a arquitetura tubular e com subcâmaras vazias aparentava com a de uma câmera de gás mortífero, ou um incinerador gigante, para a risada minha e de Sueli (pois o ambiente estava alegre e descontraído, regado a vinho espumante e repelto de canapés). uma das dificuldades de subir ao palco para agradecer ao público, como uma estréia pede, é que este (público) desiste muito rapidamente das palmas, e tem-se receio de subir quando os aplausos esvaziam em silêncio…


Sala Villa-Lobos – urca, rio de janeiro – 13 de junho de 2007

a sala recém restaurada configura um bom auditório, com um palco de tamanho médio-pequeno e o esquema das fileiras de cadeiras juntinhas de sempre, com uma acústica aparentemente boa, mas paredes finas que tornam possível ouvir certos arredores da Unirio, o coral cantando, por exemplo. as caixas de som eram 4 e não muito boas, mas as pessoas adoráveis e com uma programação de passagem de som adequada. o concerto atrasou absurdo (as pessoas “estavam chegando”). na cantina da universidade, fugindo do assunto, bem como nos arredores, não se pode encontrar vestígios de bebidas quentes agradáveis ao palato (se bem que isso é frescura de paulista, porque a paisagem é belíssima).

Teatro Arthur Azevedo – moóca, são paulo – 16 e 17 de junho de 2007

fui avisado pela secretaria da Escola Municiapal de Bailado da Cidade de São Paulo que a reapresentação de “Contradança”, de Luiz Fernando Bongiovanni, com trilha minha e da família valsante Strauss seria uma hora depois do verdadeiro horário. corri e cheguei ao término da dança. algumas pessoas reclamaram do elevado volume e estridência (provavelmente proveniente de caixas médio-ruins, mas causada pela falta de prudência de minha parte não conferindo o trabalho do técnico de som local). crianças corriam no intervalo, e os assentos eram antigos e simples. aparentemente o teatro não comporta cenários e iluminação de maior sofisticação.

Teatro Fábrica – consolação, são paulo – 20 e 21 de junho de 2007

a sala menor de teatro é mal equipada com mesa e toca cds antigo, e não possue pernas para criação de cochias e iluminação. também não tem gelatinas para os spots, e espera-se que as companias façam todo o trabalho mais árduo. ainda assim, não é um local de todo mal, embora um pouco caro. seu público varia bastante, de espetáculo a outro. possue um espaço de apresentação no solo mesmo (sem palco), e a parede entrecortada engendra dificuldades de iluminação.


Theatro Municipal – centro, são paulo – 22 e 23 de setembro de 2007

voltar ao “Municipal” para rever uma montagem (“Contradança”) é fácil. basta sentar-se e relaxar. tudo funciona bem. os ingressos que pedi na primeira fileira foram concedidos no segundo dia (4 para cada). o único toque que dei foi a utilização de filtros para retirar faixa de frequencias agudas se elas estivessem demasiado penetrantes. a sala em si é ativa, e a presença de público pouco altera o resultado sonoro (fenômeno de absorção não se faz tão presente).

Bar do Zé – barão geraldo, campinas – 24 de setembro de 2007

o dia começou com a incerteza da presença de outra banda, e quando o técnico local retirou a bateria do palco, sem saber da possibilidade da utilização desta por outro grupo, ficou um tanto irritado. não obstante, só o “mundo” tocou,e o restante da passagem foi tranquila. o único problema foi que, sendo segunda-feira, os organizadores (do curso de arquitetura da Unicamp), não conseguiram angariar público, e tocou-se para 12 pessoas, em um clima tranquilo, com grandes solos – as pessoas assistindo.


Centro Universitário Maria Antonia, Salão Nobre – consolação, são paulo – 7 de outubro de 2007

apresentação concertante d’O “Mundo” Entre Aspas, utilizando equipamento de som nosso e caixas monitores sobre um pequeno palco em uma sala retangular funda, cadeiras confortáveis, em fileiras, para os poucos internos do V ENCUN, como abertura do evento.

Mini Auditório do Sesc Consolação – consolação, são paulo, 10 de outubro de 2007

o referido auditório é na verdade uma sala quadrada do segundo andar do Sesc, com 4 pilares internos (delimitando outro quadrado de menor lado no meio da sala). foi projetada talvez para ser um estúdio de gravação ruim. para concertos, então, conta com uma acústica terrível, um piano em más condições, calor e cadeiras de plástico enfileiradas com a possibilidade da visão tapada por um pilar. como se não bastasse, pertence ao centro de música experimental da unidade consolação, e tem salas de ensaios próximas, cujo som vaza para dentro do auditório (nos silêncios ouvem-se cantores aquecendo e violoncelos). ademais, o Sesc fez questão de tratar mal as pessoas, apressando o concerto que este acabasse antes das 22h. o camarim continha quitutes, com o nome do evento escrito errado “v encu”, e o camarim ao lado, para outro evento, continha o dobro de coisas, com o dobro de opções.

Centro Universitário Maria Antonia, Salão Nobre – consolação, são paulo – 12 de outubro de 2007

as diferentes formações de instrumentos do grupo de percussão PIAP se amontoaram ordenadamente no pequeno palco, com o pequeno aparato de gravação no meio do primeiro bloco da platéia numerosa (o local estava cheio). o ar condicionava bufava intermitentemente e de maneira regulada, perfeitamente audível, e alguns agudos brilhavam perpendicularmente.

Sala Cecília Meireles – lapa, rio de janeiro – 23 de outubro
de 2007

a passagem de som foi muito organizada, e tanto Mannis quanto Caesar, que estavam encarregados do concerto, foram atenciosos, competentes e abertos a comentários (inclusive aqueles não feitos). a sala era extensa, mas o som, projetado em 10 caixas (sendo 4 – dois pares – viradas para as paredes), fora planejado para tornar cheio e aconchegante o ambiente, o que com a presença do público, de fato se deu. a Funarte, que organizou o evento, pagou passagens, estadia e cachê (só liberado em dezembro). o trânsito carioca estava muito ruim, com chuva, desabamento em túnel e 2 horas de ônibus do leblon à lapa.

Bar do Zé – barão geraldo, campinas – 26 de outubro de 2007

nesse show d’O “Mundo” Entre Aspas o som ficou embolado, a luz foi mal passada, de última hora (prejudicando muito a execução de uma canção), e o tocador de dvd resolveu causar falhas. o resultado disso tudo, mais uma escolha de canções não própria para uma ocasião festiva (era uma badalada festa de encerramento da II Mostra Audivisual de Campinas) foi um crescente debandar do público da pista para o bar, do outro lado da cortina. isso foi acentuado, de maneira um tanto quanto incomoda e levemente desrespeitosa, pela súbita colocação de canções, em um volume considerável, no ambiente externo, pelo dj local. a solução para utilização de videos projetados atualizou-se para a reprodução em laptops (mais confiáveis); também fez-se um plano de aquisição de amplificadores, de modo a diversificar fontes sonoras e tentar mais clareza auditiva.


Espaço Cultural Casa do Lago, Sala de Projeções – cidade universitária, campinas – 8 de novembro de 2007

queria tocar nessa sala específica devido aos efeitos estranhos de sua acústica improvável, notado em apresentações para violão solo feitas no local. não obstante, a presença de frequências estacionárias não harmônicas umas a outras e reverberação irregular, embora existente, mostrou-se menos enfática do que o pensado. a platéia compôs-se de pouquíssimas pessoas, como é costume na Unicamp; no caso, três amigos, Montoya e Manzi, com ocasional incursão de Mannis. alunos deo depto. de música não compareceriam a um evento de música improvisada.


Palácio Carrasco – viña del mar, chile – 23 de novembro de 2007

o concerto foi feito no saguão de entrada, com cadeiras em volta da mesa de som e pouco menos que metade do público na antiga escadaria que desemboca no andar superior. fazia frio. dispunha-se de 4 caixas de som, com controles separados na mesa, dois referentes ao canal direito do cd, e dois ao esquerdo (normal). não havia como obter respostas de sub-graves, e a sala, inusitadamente ampla acima, respondia de maneira incontrolável a certos sons da música de Mário Del Nunzio, que espacializei. isso não foi contornável dado a falta de uma passagem de som bem feita, por problemas locais de organização e montagem, e fez com que soasse mais agressivo do que o necessário. antes e/ou depois de cada peça tinha que se falar um pouco sobre a mesma ao microfone. embora no programe minha obra “Contrabandistas de Jeans Furiosos até as Narinas” constasse como a penúltima, foi em realidade a última da noite, seguindo sua tradição invicta nas mais ou menos 8 vezes em que foi executada.


Lugar – consolação, são paulo – 29 e 30 de novembro de 2007

a utilização da sala norte do lugar, com vistas a realização do primeiro P-LUGAR, fez com que Andreazzi cedesse nos o espaço, pela noite, e as apresentações foram feitas às 23h, com metade da bilheteria para os artistas. o público foi bastante escasso, e pouco “espontâneo”, mas é um bom espaço e espera-se que melhore aos poucos caso o evento se repita e se consolide ano que vem. a sala é um extenso sotão retangular fundo, com uma pequena arquibancada montada, tempo de sustentação de reverberação considerável, mas não oprimente, e um clima alternativo e aconchegante. tivemos que alugar o equipamento de som e trazer nosso técnico de luz , e também fazer a arte gráfica e contactar meios de divulgação. as pessoas do espaço são prestativas e amigáveis. o projetor usado pertence ao próprio, bem como uma câmera digital para documentar os shows. disvantagem de utilização vem de uma situação de administração confusa com entrecruzamentos de horário e necessidades imperiosas para mais de um evento ao mesmo tempo. isso fez com que as passagens técnicas de som e luz tivessem que sofrer interrupções para ensaios de outras apresentações.



Ibrasotope, Sala de Ensaios & Concertos – 15 de dezembro de 2007

querida sala de ensaios de minha nova morada, contou com 4 monitores de estúdio, um toca vinil, mesa de som, um amplificador de baixo feito subwoofer. dois vinis com figuras das criaturas mais inteligentes do planeta, seres pandimensionais que se materializam como ratos brancos, nos dois semi-pilares laterais. as pessoas sentaram no chão, sala de 8 por 8 (?), no carpete um pouco incoveniente ainda. problemas de equalização, é claro, e como a sala é vazia e relativamente quadrada (apesar das janelas projetadas para fora)…

Ibrasotope – vila nova conceição, são paulo – 08 de janeiro de 2008

as pessoas assistem ao concerto sentadas, exceto Del Nunzio, que deita. Donoso posicionou suas coisas à esquerda e seu improviso foi tocado apenas na caixa frontal deste lado. as caixas foram dispostas de maneira cruzada, com dois pares de monitores em diagonal (um X e outro Yamaha). assim, pode-se conseguir maior equilíbrio timbrístico, depois de leve equalizada. como a sala tem um formato trapezóide (com janelas e vidros na parte frontal), Mário vislumbrou um posicionamento trapezoidal descendente, com placas de madeira à esquerda frente, as caixas frontais em cima da sacada, e uma mesa e uma cadeira com madeira em cima para as caixas traseiras. Rodolfo, preocupado com equilíbrio sonoro, pediu que tentássemos outro posicionamento das caixas, de maneira que acabamos usando 4 cadeiras de madeira em uma disposição quadrada normativa conservadora (com melhoria dos resultados, mas sem o charme da anterior). haviam cerca de 15 pessoas, em um estado receptivo, e tudo indica grande sucesso para a série ibrasotope. www.myspace.com/ibrasotope.


Livraria da Esquina – barra funda, são paulo – 9 de janeiro de 2008

a Livraria da Esquina até pode ser considerada uma livraria, e suas estantes posicionadas à esquerda do comprido espaço repleto de mesas de madeira, contém itens interessantes, empoeirados, mas novos. tem um espaço de cds brasileiros e locais, onde pode-se comprar m. takara, mestre ambrósio, etc. heitor, o dono, é muito simpático e aberto. aqueles que tocam, cobram preços entre 5 e 10 de couvert, e ficam com 70%. o bar contém sanduíches cult gostosos mas pequeninos, cerveja e pinga, entre outras pedidas. o palco é bom e espaçoso sem ser grande, e existem dois amplificadores e um p.a. à disposição; a sala tem com boa acústica. as desvantagens são a localização, perto do metrô barra funda, que não seria mal, mas como os shows são tarde, pessoas temem a falta de transportes públicos, e o local não possui público espontâneo, além de estar próximo de regiões meio abandonadas, o que é temeroso em são paulo. por esses motivos, e por outros desconhecidos, o público foi composto de 7 pessoas, dentre familiares, namoradas e amigos (ao menos dois os quais compositores colegas), o que foi abaixo da expectativa de 15 pessoas. por ser um ambiente muito cativante, merece outras tentativas. tocar com Donoso & Del Nunzio, por sua vez, foi um grande prazer, e o sentimento de desgaste pós improvisação (um fluxo de 48 minutos de som ininterrupto), é devido aos desafios e investimento de energia vital em algo tão contagiante. www.livrariadaesquina.com.br.


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Relatório de Atividades: Pdcon09 – Terceira Conferência Internacional de Puredata, São Paulo, 2009


Eu, ao lado do poster no MIS-SP, com a camiseta oficial, cuja arte é de Pan&Tone.

Eu, Henrique Iwao, fui responsável encarregado da produção de todas as performances noturnas do Pdcon09, que se estenderam por 8 dias, do dia 19 ao 26 de julho. Abaixo vão relatos e reflexões, divididos por assunto (em ordem alfabética), depois por dia (em ordem cronológica inversa).

A. Por assunto.

Armadilha: Alexandre Porres, duas semanas antes da conferência, me manda um e-mail perguntando se eu conhecia alguém que conhecia Pd, conhecia música experimental, conhecia algo de técnica de som, sabia inglês, possivelmente espanhol e já tinha trabalhado na produção de coisas. Essa pessoa seria contratada por algo em torno de R$ 1000,00 para trabalhar durante a Pdcon09. Depois de dizer que “podia ver se conhecia alguém” e de trocas de mensagens do tipo “é, ainda não achei ninguém”, uma semana antes do evento, na mesma linha de raciocínio do primeiro e-mail, escrevi: “mas você realmente acha que eu estou apto para esse trabalho?”.

Vontade de colaborar e de receber pelo trabalho eu tinha, mas às vezes passamos por momentos na vida em que as prioridades não são claras e então hesitamos perante o próprio destino.


Paloma, a produtora, por Hersschebella.


Comida, pianista e mesa: ir almoçar no MIS, boa comida vegetariana radical seguida de feijoada, em papel alumínio. Porres, por necessidade, retirou a mesa que deixou no Ibrasotope. Aproveitei a ocasião, comi no chão e ainda impedi que ele a trouxesse de volta (comprei bancadas, bem mais leves, portáteis e retangulares – a mesa dele é maciça, em formato de cabeça de peixe). 3 semanas depois, no lançamento do CD do grupo N-1, a mesa ainda estava no MIS, com um coquetel em cima.

Num restaurante italiano semi-chique, um pianista toca jazz bossa nova. Sua expressão é completamente nula. Isso provoca em mim desconforto, mas quando olho a cara de Craig, percebo que ele está com olhar de “aaaaaaaaaaah” e provavelmente quer aproveitar a estadia em São Paulo para comer bifão de padaria / boteco de esquina. O que segue é um pouco incongruente: ele diz que quer comer algo leve, como frango e salada, mas a salada do local não é salada, é queijos e picles, e o frango tem uma textura suave e uniforme demais, além de ser caro (não é como um bom bife, eu penso).


Restaurante feliz, outro dia.


Conclusão: para um trabalho mais tranquilo, equilibrado e eficaz deveria ter começado ao menos 1 mês antes, conferindo mapas de palco e lista de necessidades técnicas. Isso permitiria visitar as unidades do SESC e o MIS, de modo a me preparar adequadamente, conversar com os responsáveis locais, debater soluções e negociar locações (com ajuda do resto da produção do Pdcon09). Isso também permitiria mandar e-mails a todos os artistas, pedindo informações, esclarecendo dúvidas e propondo ações. O meu pagamento teria de ser mais alto e eu teria de dividir meu tempo entre a conferência e as outras coisas durante esse período preparatório.

Quando Alexandre disse “essa conferência vai acontecer!”, não sei se esperava ficar 3 meses sem dormir. Foi um sucesso, realmente, mas a tranquilidade esteve longe, prejudicando a eficiência de algumas ações.

Alexandre Fenerich conta o mesmo, de maneira mais escatológica: “tem gente que sai na rua e pisa na bosta do cachorro; o Porres para na calçada, olha para o céu e diz: ‘venha oh grande bola de merda, caia aqui em mim’ – e a merda cai…”.

A experiência que ganhei trabalhando foi bastante valiosa e contribuiu para um melhor entendimento de várias questões e ações necessárias para a organização de shows e performances de música / arte multimídia.

Precisando de descanso (também “prova” que emprestei dois adaptadores para Ricardo Brazileiro). Foto de Kruno Jost.


Cronograma e plano de ações: não foi possível organizar um cronograma completo para a semana, sabendo que esta continha 35 apresentações, tendo para tal 3 dias de antecedência em relação ao evento. Se isso era muito pouco, ainda assim não podia dispor de mais tempo, e a solução foi fazer um cronograma / plano de ações parcial, contendo todas as tarefas e planos de passagem de som para os dois primeiros dias, mais rascunhos para os outros. Era minha intenção que, na manhã de cada dia, eu tivesse ao menos os planos para os próximos 3, com algum tempo para adiantar os outros subsequentes.

Além disso, como essas ações envolviam listar equipamentos necessários, conversar com os técnicos dos locais, telefonar e mandar e-mails, era preciso que algumas tarefas tivessem pesos maiores (ordem preferencial) – quando envolviam viabilizar ou não certos aspectos das performances. Isso funcionou razoavelmente bem, exceção feita ao descumprimento de prazo em relação à lista de necessidades técnicas e equipamentos para a performance de encerramento do evento, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, dia 26.


Tim precisava de um adaptador PS2-USB, por exemplo.

Dinheiro, hibridismo: de onde vem o dinheiro para o desenvolvimento do software livre e aprofundamento das relações dos membros da sua comunidade? Algumas vezes, quando convidado para festivais, ouvi algo como: “nós não pagamos cachê, é um evento colaborativo” ou “as relações de valor se estabelecem fora da esfera monetária”.

Dentro da música experimental, é comum tocar de graça. Pessoalmente, o faço se entendo que está ajudando a criar e fortalecer uma comunidade que valoriza a música experimental / contemporânea – e que futuramente isso gerará desdobramentos diversos. Esse entendimento implica em uma noção de investimento.

Mas, se há como ser valorizado financeiramente, é melhor. É o caminho mais certo para um aumento de qualidade do que se está fazendo, por permitir gastar mais tempo com a música e adiquirir material e condições de espaço melhores. Por isso, mesmo que exista algum dinheiro envolvido em um evento, dentro das possibilidades, não se pode perder de vista que o melhor é receber um bom cachê – mesmo que tenham pago seu hotel, viagem e comida.

Eu toquei de graça no SESC durante a Pdcon09, mas era meu solo “Primeiro Acorde”, que já havia tocado em eventos do SESC-SP 5 vezes, de 14 minutos (ou 17, dependendo), e se encaixava no contexto da mostra de performances do evento, com várias apresentações por dia, uma espécie de panorama dos usuários de Pd. Agora, não seria estranho tocar um show inteiro no SESC de graça?

As instituições que realizaram a conferência arcaram com muitas dispesas, passagens para muitos estrangeiros, estadia, comida. O acordo feito não previu pagar cachê para os artistas, que tocariam, mesmo porque existem muitas complicações para pagar estrangeiros a trabalho no Brasil.


Primeiro Acorde, ao fundo, SESC Consolação (foto de Mark Grimm).


Documentário: munido de uma câmera fotográfica que faz videozinhos, decidi, ao invés de tirar as habituais fotos, filmar trechos e situações que se relacionassem à passagem de som e preparação das performances. A única condição para isso era que essa atividade não poderia me atrapalhar na função de produtor e que eu não filmaria, de modo algum, as performances. Isto é, uma vez que o público chegava, eu parava.

De certo modo, acho mais interessante essa abordagem do que filmar e fotografar as apresentações. Tenho sempre a impressão de que a documentação da apresentação rouba um pouco do tempo presente da mesma, tão precioso. Nas passagens de som, por serem bastante funcionais, pode-se criar mais – tratar a documentação como algo valioso, porque também autocentrada.


Qaurta-feira no SESC Pinheiros, por Kruno Jost.


Energia elétrica: em um e-mail expliquei a todos artistas que o padrão da energia aqui era 110V 60Hz e que as tomadas eram de dois tipos. Para evitar problemas de última hora, carreguei um transformador de 750W o tempo todo, e dois adaptadores de tomadas européias (um dos quais sumiu depois da festa no Ibrasotope… – R$ 15,00).

O problema do transformador, além do peso, é o consumo. Não entendi direito essa questão, mas tive a oportunidade de presenciar na terça-feira, no SESC Avenida Paulista, a fase caindo, ao ligar o transformador na mesma tomada que outros equipamentos. Antes de ligá-lo, ainda perguntei aos técnicos presentes: “vocês tem certeza que não tem problema eu ligar isso aqui, quer dizer, na mesma tomada?” Eles não eram técnicos da unidade do SESC e apenas achavam que dava – perdemos 30 minutos; quando a energia voltou usamos outra tomada.

A oscilação da energia elétrica no Brasil (em geral) é problemática. Quedas rápidas e praticamente imperceptíveis de energia elétrica podem sim causar instabilidade no funcionamento de placas de som mais sensíveis. A oscilação na corrente pode eventualmente prejudicar equipamentos eletrônicos. Uma solução para evitar isso é ter grandes estabilizadores nos locais de apresentação ou, mais localmente, no-breaks (sem-quebras) e ficar os carregando para cima e para baixo (programa de musculação do compositor).

Após conversar com os artistas (perguntando se os problemas que tiveram eram conhecidos) e com José Augusto Mannis (antigo professor meu, atua na Unicamp), acredito que três apresentações podem ter sido prejudicadas nesse sentido: Ed Kelly (dia 19, parte de imagem não funcionou, som trancava de quando em quando – dado que Ed estava muito nervoso, haviam pelo menos motivos de ordem mental para acreditar que a energia não foi o principal fator, mas…), Tim Vets (dia 25, um problema que nunca aconteceu antes, pd travar em um som retroalimentado) e Sven König (dia 26, o software dele está sempre sujeito a travar, mas aparentemente também ocorreu um problema nunca antes presenciado).


A fase estava prestes a cair…

Erros: uma lista sumária.

1. Não entregar com suficiente antecedência a lista de necessidades técnicas à produção do MIS para a performance do dia 26. Como isso só foi feito na sexta, a produção não tinha como locar nada, muito menos um comutador(?) VGA->2VGA para que Sven König pudesse tocar de frente para a platéia, com um monitor de vídeo virado para ele, e ao mesmo tempo projetando as mesmas imagens – algo já bem difícil de conseguir normalmente. A solução foi pedir a ele que usasse sua própria tela de computador para monitoramento – a projeção ficando intacta, mas as imagens de monitoramento bem pequeninas.

2. Quando visitei o teatro do SESC Avenida Paulista, olhei para cima e vi que tinham toda a parafernalha de iluminação. Ao passar o mapa de palco para eles, não mencionei que Eleonora Oreggia precisaria de um ou dois focos. Como se não bastasse, não levei os abajures emergenciais do Ibrasotope (que foram usados para iluminar o duo Araújo-Monteiro, no dia 22). Chegando lá, a iluminação pedida estava pronta, mas os técnicos não podiam alterar nada, porque o equipamento não era do SESC e não tinha sido expressamente locado para a ocasião. Como Eleonora chegou tarde, não teve jeito de buscar nada e tivemos que achar uma posição possível na escuridão. Por sorte, o vídeo dela tinha resolução baixa, e não precisava de contornos muito definidos.


Set de Eleonora no escuro (na foto, Pan&Tone e VJ Palm).


3. Fanfarra no SESC Avenida Paulista na mesma hora das performances no teatro (dia 24); como ninguém me avisou? Bem que deveria ter desconfiado do funcionário que disse que “existiam duas apresentações na mesma hora, e por isso o som aqui não pode ficar tão alto”. Nunca imaginaria que a apresentação concorrente estaria a 10 metros de distância, em clima de olodum e muito muito alta, vazando e atrapalhando a primeira performance.


Mais estrondosa do que Ryan Jordan e Julien Ottavi juntos, a fanfarra.

4. Olho para a mesa de som e o técnico é outro, na segunda passagem de som (teve de ser particionada, porque Palmieri e Sukorski não podiam pela manhã e a Internet Livre do SESC Avenida Paulista tinha que funcionar normalmente durante à tarde), às 19h. O som está mais baixo, mas acredito ser apenas porque é passagem e tem gente arrumando outras coisas. O que se segue, no entanto, é que o novo técnico altera para baixo todos os volumes, mas só percebo quando estamos na última performance, de Kruno Jost, que deveria soar bem agressiva, e o som faz apenas cósquinhas nos ouvidos. Olho meio desesperado para Kruno e ele não dá o menor sinal de descontentamento. Fico confuso e deixo de agir; deveria ter levantado, andado até a mesa de som e aumentado o volume, olhando bem feio para o técnico novo (que nem sabia o nome).


Kruno Jost (Gentle Giant), por Fernando Codevilla.


5. Combinei com Tim Vets de nos encontrar no albergue às 10h, mas cheguei lá apenas às 10h35, e Tim confundiu o horário, achou que era 9h, esperou até às 10h e depois foi embora. Se eu não tivesse me atrasado não tinha perdido a viagem, e tinhamos resolvido algumas pendências no próprio dia, ao invés de no dia seguinte.

6. Muita tempestade em copo d’água por causa de um estrobo. A comunicação com Porres nesse sentido foi falha e deixou margem a preocupações absolutamente inúteis, pois o estrobo era pequenino e portátil. Ademais, esqueci de combinar precisamente horário com Ryan, o dono do equipamento, e o que aconteceu foi que chegou em cima da hora no teatro pequeno do SESC Vila Mariana.

7. Quando Kátia, do SESC Pinheiros, comentou que Maryana queria falar espanhol, tive a infelicidade de insinuar para Luka que era melhor ele deixar de lado que era italiano e ir tomar café com ela, junto com os amigos espanhóis do Segmentation Fault. Gracinhas nem sempre são bem recebidas, e a chance de “errar a mão”, em se tratando de um estrangeiro desconhecido, é ainda maior.

8. Marco Donnamura precisava de uma correia de baixo. Discussão vem e vai e meus dois amigos nunca tocam de pé e por isso não possuem correia. Finalmente acho uma, emprestada por Tim Vets. O problema é toda a problematização desnecessária e discussão com o resto da produção para eventualmente adiquirir uma. Pura afobação.


Tim Vets prestes a ter problemas, SESC Vila Mariana, por Hersschebella.


9. Lá pelas tantas, não sabia se tinha ou não pedido o desnecessário mixer de imagens para Palmieri (eu não tinha). É ruim ouvir reclamações sem saber exatamente se é culpado ou não. É ruim também dizer ao artista: “olha, seu mixer chegou”, e ele olhar com cara de “não faço idéia do que você está falando”.

10. Atrasar início da passagem de som a culpa não é minha. Agora, encurralar Greg Dixon e seu percussionista em um canto do palco, não tendo tempo hábil para mudar sua posição e assim tentar melhorar a relação som da caixa clara / sons eletrônicos processados em tempo real… Por mais que a equipe de som atrase e/ou tenha dificuldades, é necessário ter cartas na manga. Usar um filtro na frequência que se retroalimentava ajudou, mas não foi suficiente. Era preciso um espaço um pouco mais flexível.

11. Não ter conferido se as apresentações no SESC Consolação precisavam de uma caixa de subgraves. Iohannes garantiu que tinha pedido um.

Notas: é sempre bom tomar notas, e gosto de fazê-lo ora como anotações ordeiras, ora como diagramas semi-confusos. Para melhorar meu relacionamento com os artistas, e ao mesmo tempo garantir que eu saberia quem faria qual apresentação, escrevi em uma caderneta:

[Dia Número – Nome do grupo (nomes dos integrantes) – Proveniência (quando possível com cidade onde mora)
Nome da apresentação, duração
E-mail]

Os diagramas eram uma mistura de listagem de necessidades técnicas com mapas de palco e setas.


Tarú, descansando em cima do Silent Construction, de Jaime Oliver.


Festa: oferecer uma festa artistinha com o N-1 como organizadores na sede do Ibrasotope esbarra no fato de que a sede também é minha casa, e as pessoas bebem e fumam muito, então é necessário ficar acordado, avisar 58 vezes que não se pode fumar na casa, umas 13 que não se pode consumir substâncias ilícitas, 27 vezes que existe uma contribuição de R$ 2,00, 92 vezes que as caixas de som na verdade são meus monitores de estúdio que uso para trabalhar e é preciso maneirar.

Nunca vi tanta latinha na minha vida. Em um momento estratégico, desligo o som, olho para as pessoas e digo: ”vocês não tem maturidade para manter o som em um nível aceitável. Por isso vou colocar esse limiter aqui”.

(a festa tinha mesa de som aberta a quem quisesse plugar laptop. Foi um erro não começar a festa já com um limiter impedindo o volume excessivo. Outro erro, deixar o banco do piano na frente do piano – é impressionante como as pessoas querem pateticamente ficar batendo coisas feias de qualquer jeito no piano, só para fazer som).

(só para não entenderem errado, eu gostei da festa, foi relativamente tranquila e agradável).


Hans-Christoph, Oscar Martin e Vanessa no Ibrasotope, mesa de som aberta.


Flashfobia: não bastasse eu ter certa implicância com fotografar e filmar apresentações (sentimento que se contrapõe com minha vontade de documentar as mesmas, em uma negociação constante), quando tem flash fico verdadeiramente irritado.

O flash emite luz, e a luz caminha em uma velocidade tão rápida que quase a percebemos como um evento absolutamente pontual, instantâneo, mas que preenche todo ambiente, se este está escuro. Assim, o flash pontua a apresentação, não necessariamente onde ela teria um acento, e é uma intervenção direta na ritmica da mesma.

Esse fato reforça uma certa noção espetacular de que a documentação vai ser algo a mais, em si, e que disloca o foco da apresentação do presente para o futuro e o passado (no sentido de que as fotos tiradas serão mostradas num futuro a alguém que então admirará o passado).

Além disso existem pessoas mais sensíveis à luz. Na terça-feira, Sukorski pediu a Guilherme para tirar fotos durante sua apresentação, e como estava desenvolvendo aos poucos um caso clínico de flashfobia, fiquei bem irritado, leventei e tive que sair da sala por um momento.

(reclamação em voz baixa) É chato pensar que nosso comportamente vai tendo que se moldar sempre de modo a minimizar o impacto que as tecnologias tem. (tom dramático) Mesmo que alguns aborigenes australianos tenham morrido ao ver carros funcionando, os aborigenes foram aos poucos se acostumando, os donos dos carros não deixariam de passar por ali nem que dizimassem todos (pausa longa).


Wilson Sukorski, com flash.

Gravações: não era minha incubência gravar os shows, mas porque eu podia e ninguém ia fazê-lo, exceto o panetone alguns dias, então gravei. Agora que gravei, tenho que minimamente editar, fazer backup em DVDs e entregar para o Porres e a Paloma, transformar em MP3, fazer upload no sítio Sussurro, disponibilizar em uma página (fazer a página), divulgar aos artistas.

Piada: não sei quem entendeu, mas mandei para todos antes do início da conferência, para fechar o e-mail sobre condições das passagens de som:

“See you until bang or
as Sabine would say ‘DO NOT CLICK. DO NOT CLICK. DO NOT CLICK.’
Or as Kim Deal would sing ‘i´d bang it all day’”.

As referências são: documentação do objeto until do Pd (faz repetições lógicas) e canção da banda The Breeders (Divine Hammer).


Trajetos: convivendo com pessoas de fora de São Paulo, pode-se ter a noção de que é difícil locomover-se de carro nessa cidade, não apenas porque está constantemente congestionada, mas também porque, a despeito das placas indicativas, os caminhos são tortuosos. Convivendo com estrangeiros, pode-se ter a impressão de que São Paulo na verdade é um labirinto automotivo que tem na figura do caracol sua mais simplificada representação.

“Parece que as pessoas aqui tem noção da direção geral em que devem ir, mas não fazem idéia de qual caminho tomar” – Mark Grimm.

“Cara, nós acabamos de virar 4 vezes direita em seguida!” – Brennon Bortz.


Círculos, SESC Vila Mariana, por Hersschebella.

Velocidade: o moço encarregado de transportar as mesas está trabalhando fora da ordem de serviço dele, adiantado, de favor. Eu digo que eu mesmo posso transportar as mesas depois, se necessário, mas ele insiste em tentar fazer tudo agora. O fato é que o SESC é uma instituição grande e cada pessoa tem uma função definida e precisa atender a várias demandas. Isso implica em uma velocidade lenta, e as coisas podem demorar.

Exemplos: existe uma moça da água. A água chega transportada pela moça, que pode estar ocupada. Alguns artistas não acreditam que pedi água, 20 minutos atrás, e pedem de novo: “você poderia trazer água”, ao que eu respondo: “já pedi, tenha paciência.

(agora é só substituir a palavra água pelas palavras: fita preta, microfone, fusível, direct box, extensão, bancada).

O que é importante aprender disso: ter paciência. O que mais? Ter organização: lembrar de pedir as coisas em blocos, um técnico pode sair para pegar um microfone e levar 20 minutos para cumprir essa tarefa. Se você esquecer de mencionar que precisava de um cachimbo tamanho médio ele terá que voltar lá e o tempo corre e a passagem de som periga atrasar tudo.

Paciência, logo vai.

B. Por dia.

Dia 26: Sven König está ensaiando e só chamo quando acho que está em boa hora. Yroyto recebe suas 6 folhas de papel branco, garrafa de água e copo de leite (ele usa o leite na apresentação, mesmo, para fazer imagem e sons; ele não usa o copo). Exige, porque também é francês, pelo menos 30 minutos de passagem de som concentrada. Concedo, e digo que vamos atrasar 15 minutos (melhor que irritar os artistas).


Fala de encerramento, no MIS-SP.


Dia 25: Sesc Vila Mariana presenciamos o fabuloso show dos técnicos de iluminação, fantástico e rápido, os caras são uns gigantes cafeinados, carregando escada de 10 metros como se fosse uma bandeja. Conseguimos negociar 100 dbs ao invés de 90, e o som é nítido e dá para agradar um pouco o Jullien Ottavi, sem desagradar muito o SESC.


Tim tem muitos problemas, precisamos de técnico eletricista e rola uma tensão absurda e dois fusíveis queimados (também rola uma comoção pela causa dele). Por isso, quando Giuseppe Birardi, atrasado, e originalmente não previsto para tocar (Pan&Tone chamou ele e Faeth, de última hora) entra e fala “Ah, vou plugar isso aqui”, eu grito “Não vai. Não me interessa se não tiver 220V para você, aí você não mexe”. O bom de ter gritado assim é a cara de desespero de Tim se desfez.

Dia 24: de volta ao SESC Avenida Paulista e eu realmente estou preocupado com a Eleonora. Pergunto 6 vezes ao Ryan se ele desplugou sensores antes de começar a solda-los. Ele diz que tinha sensores de luz também, mas nunca soube como usá-los, não com o estrobo ligado infernalmente. Jaime (que usa a barra de espaço com o pé) não sabe selecionar para Pd a opção processamento em tempo real no Linux (mais tarde isso é resolvido). A sua “Construção Silenciosa” é bonita e elegante.


Ryan Jordam, por Fernando Codevilla.

Bom salientar como passagens de som preocupadas e detalhistas trazem à tona o ambiente da “briga de casais”, mas concedo 1h30 ao HP Process e eles ficam quase satisfeitos. Antes do show Ryan me pergunta se era bom avisar que a apresentação dele não era boa para epilépticos, eu digo não Ryan, fica tranquilo – isso antes da fanfarra começar e termos que parar tudo.


HP Process (Hortence Gautier na foto), por Fernando Codevilla.


Dia 23: Chikashi está preocupado com sua mala da Pdcon: disseram que iam fornecer e não o fizeram. Cybele desconversa, mas amavelmente – ela está cansada. Tim tem dor de dentes e não vai tocar na seção amiga. Convidamos Araújo e Monteiro, de sopetão: agora temos carro. Chikashi está sorridente, é a primeira vez que toca seu “7 eye” com outros (7 sensores infravermelhos de distância). Mário e ele se dão bem e nos divertimos a beça no Ibrasotope.


Jaime Oliver no SESC Avenida Paulista, por Fernando Codevilla.

Mas é hora de trabalhar, e chove. Vamos ao SESC Pinheiros e dessa vez eu conheço o local e é mais tranquilo, além de não ter brasileiros sem noção de organização para conturbar minha mente (não levem minhas generalizações muito a sério – elas tem licensa poética).

Dia 22: A opção de fazer todos os cabos passarem por baixo da mesa e sem acabamento é bonita, mas a quantidade de tomadas necessárias sobe exponencialmente, e o último grupo simplismente tem 6 pessoas (na minha lista só tem 4!) – essas duas chegam 10 minutos antes de começar as coisas, conturbam, me fazem trocar tomadas e todos esses fios extras e desordenação atrasam efetivamente 40 minutos o começo. Como se não bastasse, o campo eletromagnético dos fios mata duas DIs e o som do primeiro grupo não sai mais. A última coisa queria era desestressar e imagina minha cara quando um certo artista me oferece um certo chá calmante. É claro que também não é tão legal ter 3 horas para montagem de 4 grupos, totalizando 9 computadores e várias traquitanas (1h30 delas sem possibilidade de ligar o som).


Glerm participa, apresentação do Coletivo Make Install.

Dia 21: Eu peço café mas é impossível e ainda temos que esperar alguém, responsável pelo som. Tem um gordinho do arduíno que é um cara genuinamente folgado; ele pega a maleta vermelha, bota em cima da mesa de passagem de som, empurra umas coisas do Kruno para o lado e fica lá, eu tentando ir embora e o cara colando adesivos na sua maleta, perigando o equipamento da performance noturna.

John está tendo problemas com energia elétrica, sua instalação zumbe, é a Avenida Paulista, milhares de antenas. Ele é um americano muito companheiro.


Oscar Martin, por Hersschebella.

Dia 20: Franklin é um técnico de som bacana, e o cronograma é cumprido exatamente conforme o previsto. Entretanto o início da apresentação atrasa. Acontece que os participantes da conferência chegam atrasados e vão direto para a área de comes e bebes. Chikashi, preocupado com horário e o fato de que as pessoas não estão sentadas na frente dele (estão sentadas nas mesas ao lado, comendo), me pergunta “mas e as pessoas?”. Sou obrigado a atrasar 15 minutos, é muito ruim começar quando as pessoas presentes estão focadas em outra coisa.


Chikashi Miyama no SESC Consolação.

Dia 19: Ed Kelly chega atrasado com cara de pirata, um olho de cada cor, uma garrafa de coca-cola, uma dúzia de bananas, um laptop e uma sacola plástica. Olha para mim e diz: “bloody hell (sotaque de inglês de ressaca), [traduzo o resto] esqueci a fonte. Vou voltar ao hotel, droga, eu vou e já volto”.

Ed Kelly no SESC Avenida Paulista, passagem de som

Craig, com um inseguro e um riso nervoso, é um grande companheiro. Sua mulher, que ficou nos Estados Unidos, é do tipo que usa saltos. Craig se interessa por plotagens, daquelas que existem no SESC Avenida Paulista, nas paredes. Trabalhando como dono de seu próprio negócio, no ramo de roupas de baixo(?); está desenvolvendo um software livre que facilite toda a burocracia de quem não quer pagar contador. Acho isso admirável.

Craig (MPC2059) no SESC Avenida Paulista, passagem de som

postado em 22 de agosto de 2009, categoria música

Instantânea Festival de Música

Instantânea – Festival de Música Improvisada, de 5 a 7 de março de 2009, 20h, no Centro Cultural Arquipélago, Florianópolis.

O evento abre a programação do projeto Agenda Arquipélago, financiado pelo Fundo Estadual de Incentivo à Cultura – FUNCULTURAL da Secretaria de Estado de Turismo Cultura e Esporte de Santa Catarina.

No primeiro dia, Pastoral, com todos os participantes tocando improvisos, em locais diferentes do espaço, trocando sons, esperando e ouvindo em silêncio, propondo simultaneidades. Os ouvintes podiam livremente circular andando ou sentar, tomar cerveja, etc…

instantânea - quinta 01

Mário Del Nunzio tocando guitarra e pedaleira, na sala de entrada.

instantânea - quinta 03

Henrique Iwao tocando laptop (Pd), caixas de som circuitadas (fabricação própria) e voz de robô, no saguão depois da escada, vindo da galeria.

instantânea - quinta 04

Gustavo fontes tocando contrabaixo na galeria, frente.

instantânea - quinta 05

Fábio Mentz tocando latofone na galeria, fundo.

instantânea - quinta 07

Diogo de Haro tocando piano na sala de concertos, com projeções de Tiago Romagnani.

instantânea - quinta 08

Adolfo Almeida passeando com seu fagote.

Ouça um trecho: Pastoral (excerto).

Segundo dia, trio de improvisação Almeida-Del Nunzio-Iwao. Eu e Mário tocamos sempre juntos, mas foi a primeira vez, e sem ensaios, que tocamos com Adolfo.

instantânea - sexta 01

instantânea - sexta 02

instantânea - sexta 04

instantânea - sexta 06

Ouça um trecho: Almeida-Del Nunzio-Iwao (excerto).

Terceiro Dia, trio De Haro-Fontes-Mentz. Curiosamente, essa improvisação teve muitos momentos motívicos e remeteu a sonoridades modernistas. Os três improvisadores estavam sempre tocando juntos, usando jogos de perguntas e respostas.

instantânea - sábado 01

isntatânea - sábado 02

Brinde final (infelizmente, não fomos patrocinados pela cerveja Eisenbahn).

Ouça um trecho: De Haro-Fontes-Mentz (excerto).


postado em 30 de março de 2009, categoria música

Re:New 2008 – Relatório de Vaigem

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Árvore do rei da Dinamarca.

Danish Krone = Coroas Dinamarquesas. Café ruim = 15 Dkr, bom = 25 Dkr. Refeições (até às 17h) de 59 a 89 Dkr. Caneca de Tuborg Classic (a cerveja que se toma por lá, razoável) ou garrafinha de vinho chileno – 40 Dkr. 1 Real = 3 Coroas Dinamarquesas.

Restaurantes indianos, tailandeses, italianos, carne bovina cara, e não muito para fazer turismo nacionalista (comer um smoghbro, pão pesadíssimo, cheio de nutrientes, cortado fino e com peixe, ou enroladinhos chatos espiralados – folhados com poça de doce de limão cristalizada em cima). Há também os fast foods árabes meio botecos – chamados Schwarma.

Quando Mário disse 20km, achei que estava brincando. De 400 a 600 coroas provaram o contrário, com o taxista resmungando e finalmente, Ballerup. Pede-se para os precavidos que agendem com antecedência de um ou dois dias os taxis grandes.

Quando viajar com laptops, mas principalmente: trambolhos (instrumentos de grande porte tais quais teclados e guitarras embrulhados de formas esquisitas) – declarar seus bens. A fila pode ser extensa (no caso, 40 minutos) e é necessário o número de série dos equipamentos (ou sorte, ao embrulhar com 7 voltas de plástico bolha sua guitarra, 8 voltas de fita adesiva, pedaços de sofá antigo, medo dos encarregados da bagagem jogando batendo as malas uma contra as outras por diversão -; espera-se a troca de oficial, de um mal humorado senhor para uma senhorita gordinha sorridente). Na volta, Bernardo & Mário na alfandega.

Sair de Ballerup, andar 10 a 15 minutos, pegar trem C, direção Kobenhavn H (a cada 20 minutos), demorando 24 minutos para chegar. Uma passagem normal custa 40 Dkr, mas comprando na central 10 passagens de 4 zonas (estamos distantes, lembrem-se, “Ballerup”), sae 21.5 cada. Voltar a Ballerup, até 0h21 trem, processo inverso; depois, ônibus noturno, 81N Ballerup (81N Huslum Turv deixa você no ponto errado, o motorista te xinga em dinamarquês após você tossir alto para ver se ele estava ciente que você ainda estava no ônibus; o mesmo motorista te expulsa gritando “Huslum Turv”, você desce e passa 50 min a 4 graus de temperatura esperando o 81N Ballerup, chateado). Durante a semana de hora em hora, depois, um pouquinho melhor, e até as 3h30. Demora bons 45 minutos para chegar (o mesmo ônibus diurno, Ballerup, faz completamente outro caminho e demora 1h30 para chegar).


Cartela de bilhetes de trem, zona 4.

A escrita dinamarquesa lembra de leve o alemão. A pronuncia não. Tem pelo menos 3 E’s e três O’s, mas na verdade, 9 vogais (a, e, i, o, u, y, æ, ø, å). A fala envolve toda uma arte da omissão, com utilização da famosa oclusão glótica (smo.(g) – bro). Vesterbrogade, por exemplo, soa “>>(f)es.t(o ou e?)b(u)rôguê-l((e)’)”. Dinamarquês e Norueguês podem, sobre um ponto de vista meramente linguista, serem considerados dialetos da mesma língua.

A cidade tem prédios de 5 andares, antigos, e muitos simbolos da vitória cristã sobre a religião nórdica (dragões em espiral apontando três coroas denotam guerras e conquistas). A aparência é limpa e de luxo, e ótimo lugar para aposentados verem garotas loiras andando de bicicleta (o próximo passo seria virar professor e ficar alisando a mão das aluninhas de olhos azuis, mas na Dinamarca as pessoas são mais frias e distanciadas e talvez não permitiriam perversões masculinas senis dessa sorte, sei).

Desconfio que Copenhaguen de chocolates e bom café seja uma loja brasileira…

De acordo com a ética dinamarquesa, roubar uma bicicleta pública é o que se faz quando um incauto a estaciona em um local também público. A moeda de 1 real ou 20 coroas que está dentro dela será sua, assim que achar um ponto de acoplamento (devolvendo a bicicleta e recolhendo o seu dinheiro ou o de outrem) – mas todo descuido gera nova perda (da bicicleta ou da moeda que estava dentro de uma bicicleta). !Essas são sem dúvida as piores bicicletas da cidade, grátis (desde que se deposite uma confiança, como já mencionado); com pneus de plástico duro, sem marcha, desajeitadas – os freios, comumente na europa, são acionados quando se pedala para trás. As ciclovias são tantas quanto as vias de carro, e é um bom passeio sair pela cidade pedalando.


Vista de um café.

A divulgação do evento foi ineficiente – cartazes colados em lixeiras na cidade inteira, mas os moradores e até mesmo entusiastas de música experimental (pessoas do LAB), não estavam a par. O Monolito Re:New na praça central, no último dia do festival, por qual motivo? Se estivesse no primeiro dia, poderia fazer propagandas do festival e todos ficariam sabendo do evento. É claro, atrapalharia música pop peruana e demosntrações com pequena loira em corcel negro, 4 donzelas de vestido colorido, guerreiros nórdicos armados.


Lilian Campesato e o Monolito.

Cheguei adoecido, e fomos ao workshop de circuit bending & live coding, onde conhecemos amigos Joker & Hannes – de Colônia -, Steffen – local – & Martin – de Oslo. Eu e Bernardo nos enturmamos e a coisa correu bem (participamos do show da terça-feira tocando com eles, Supercollider com controlador Wii, teclado Casio, Golden Eye, Speak and Read e um brinquedo em forma de maçã (VTech), que se recusou a coperar no show (no ensaio fez coisas fantásticas)).
Com o Casio (Concertmade-380) deveria ser travada verdadeira batalha, apertando o botão de curto circuito, deixando o potenciômetro perto do zero (contrariamente ao que estava escrito no livro do Ghazala), e mexendo nas duas bolinhas de metal – de contato corporal. Na maioria das vezes, saiam ruídos defeituosos, secos e curtos, muito intensos, e depois o teclado parava de funcionar (precisando ser re-iniciado). Depois de muita insistência, no entanto, podia soltar ruídos filtrados, notas, ou loops completos de 6 segundos de duração, orquestrados, com ruídos, instrumentos e batidas – verdadeiras composiçõezinhas algorítmicas. Não obstante, bastava usar os botões de contato para reativar a imprevisibilidade do objeto – pequeno ser sonoro não orgânico.

Como curiosidade, para os desbravadores de novos instrumentos: Fry`all (se procurarem nas fotos, acharão o Olho Dourado).


Cassio, Speak and Read (acima, cortado), Vtech & Fry’all (abaixo).

A idéia era “Live Coding meets Raw Electronics” (Programação em Tempo Real encontra Eletrônica Crua), com 3 duplas – meu set de instrumentos passava para a mesa e para Bernardo Barros, que podia processar os sons. Começando com pequenos solos de Hannes Hoelzl & Joker Nies, depois uma dupla deles, a dupla Steffen Juul & Martin Aaserud, nós dois, depois todos juntos. Como alguns instrumentos meus eram imprevisíveis demais, tinha que operá-los com fone, e saída de minha mesa de som zerada, até que algo surgisse; no final do show, no entanto, Barros estava a passar meu som direto pelo seu computador e sem que eu notasse, de modo que terminamos tocando o demo “funny pattern”, com suas belas passagens de brass ensemble.

Artistas interessantes e amigáveis, mas pouca visitação – Laura Maes de cabelo vermelho e sininhos na entrada de Huset, “A Casa”, espaço com bar, café, outro bar, teatro, cinema alternativo, palcos, salas, e elevador (“você não quer entrar no elevador – não garantimos que ele chegue lá – coloque seus instrumentos aí, isso, agora; fechamos a porta…”); escadas para subir e descer três andares o tempo todo, cartazes góticos com guitarrista The Cure, MusikCafeen, escuro, palco a 40 cm do chão, cadeiras em volta de mesas com velinhas, 3 sofás no canto e duas pilastras tampando parte da visão. O público – o de sempre: participantes mais um ou outro curioso (e ainda aqueles que preferiam ficar no camarim fumando, conversando e pegando cervejas grátis ruins).

Só pude ver durante 6 minutos os garfos de Bosch-Simons arranhando os vidros d’A Casa, a polícia tinha proibido a instalação de funcionar (outra falha da organização do evento): O Último Esforço Rural. Bosch confidenciou viver de Azeite & Arte, na Espanha, refúgiando-se dos pântanos holandeses.


Garfos movidos a molas movidas a motores.

Martin Aaserud Breed and Weed – pude ficar manuseando, casando e procriando os sons as bolinhas (mesclando, aproximando comportamentos, variando, renovando); com leitores de código de barras na parte inferior, os objetos se comunicavam com a placa misteriosa que escondia um computador submerso. Filling Vessels, potinhos brilhantes de ressonâncias e feedbacks, variando de acordo com a sala variando de acordo com as pessoas. Quatro microfones no centro pendurados e captando potes, alguma projeção no interior do círculo e comportamentos similares, mais sempre novos, com crescendos exponenciais – Paula Matthusen, boné de nova yorkina; 4 horas para desmontar tudo e perdendo a festinha não oficial de encerramento.

Para tocar, Mário e eu soamos um tanto. Isso em si tem seu interesse – trocas de configurações de pedais, acionamento de teclas, e também: trastes, canivete, cotovelo, clipes – em um ambiente onde a arte digital costuma estar ligada a diminuição do esforço físico (eu procuraria justamente o contrário, mesmo sendo franzino – computadores fortalecendo os músculos!).

June, único técnico de som da Huset, correndo para cima e para baixo, fazendo cara de atarantado, dando risadinhas nervosas e fazendo seu melhor (após os shows, 2h da matina, levando os remanescentes escutar blues de fim de noite no Mojo’s). O sistema de monitoramente era realmente estranho, na apresentação de Verossimilhança do Espelho, com Del Nunzio, não se ouvia o que soava para o público, levando a um crescente senso de desorientação impaciente que resultou na versão mais rápida já tocada da música (20 min. – normalmente dura 26), mas sucesso de público, embora insatisfatória artisticamente (meta oficial atingida, meta pessoal deixando a desejar).


Mário Del Nunzio & Henrique Iwao tocando Verossimilhança do Espelho.

Ônibus de Copenhaga, música pop indiana. No restaurante, clipes de Bollywood, todos filmados nos Alpes Suiços (como diria T.T. Sumaré apud Carlos Takashi (meu irmão), “não são os Alpes que ficam na Suiça, é a Suiça que fica nos Alpes, minha gente!”) – o caminho da paixão… Dizem que boa parte das casas foram compradas por indianos sonhadores.

Passeando pela rua de pedestres, olhando bugigangas e pequeninos presentes, bichos de pelúcia, homens apostando dinheiro para ver onde estava a bolinha (eu fui duramente repreendido quando gravei o áudio de uma destas jogatinas – por um dos colaboradores), vendo posters; minha mochila aberta e minha necessaire desaparecida. Como limpar os dentes, proteger os lábios, cortar as unhas? – vou a única farmácia no centro inteiro e a escova de dente custa o equivalente a uns 12 reais. Acabo achando uma em conta em uma loja de perfumes (porcaria de furto – bem que dizem, sempre proteja seu gravadorzinho, seu i-phone, coisas pequenas e afanáveis).

Sobre os concertos no café musical: foram organizados como se cada grupo fosse apresentar uma peça, e embora alguns o fizeram, muitos deles estavam apresentando shows (compactos, mas durando bons 30-60 minutos). O resultado disso, mais o fato de só June estar trabalhando como técnico e a necessidade de trocas de equipamento e palco entre todas as apresentações (arte digital: trabalhos que envolvam “inovações”, tralhas tecnológicas empilhadas e arrastadas a cada 40 minutos), é que os shows foram enormes e cansativos, e sempre se esvaziavam depois da 1h da matina (começavam, quando no horário, às 22h, mas muitas vezes às 23h).

Pontos altos (afora as duas apresentações minhas já comentadas, obviamente): companheiros do MURO na segunda-feira, com o único trabalho deles, A Teia, mics de contato, fitas adesivas em um cubo de metal, luz baixa e duas figuras aracnóides de preto, tecendo linhas, processamento do som nas caixas, pausa, projeções especulares, rangidos da estrutura, torcendo-se no interior de sua estaticidade. PantoMorf, da Suécia, na quarta-feira, duo de improvisação livre eletrônica, usando dois cubos de baixo, kaosspad ligado em drumpads e teclado & outro em laptop, sons com pegada (ataque) e precisão, procurando respostas gestuais e energéticas um do outro, e melodias agudíssimas. Quinta-feira, Mário Del Nunzio & Bernardo Barros, quando tive de atuar como operador de mesa, organizando os volumes das partes pré-gravadas, guitarra, e teclado com laptop. O siri atuou ao final, e depois foi divertir-se com a senhorita Maes. No mesmo dia, Sven Hahne & Matthias Muche tocaram Homens com Motores, música eletrônica dançante glitchy mínima, com linhas cuidadosas e econômicas de trombone, pausas peroladas e ritminho de boate galeria de arte. Por fim, sexta-feira, Martin Aaserud & André Castro, sons da floresta enferrujada – eventualmente aprisionados em matrizes digitais – pausas e silêncio. Violão tocado com parafusos, bolas de gude, arco, corrente; para terminar, Damian Marhulets e seus significados deslocados, mais de meia hora de músicas pops com elementos desconstruídos, fragmentados, caçoados, parodiados. Depois: piano bar com Alessandro Pirini, do Grupo Lábun, Volare, Bessa-me Mucho, Let it Be, italianos e a boa vida – quando estávamos passeando no domingo, encontramos os dois, Alessandro & Steffano, em frente a bela biblioteca refletora das águas azuis do canal rumo à Cristiania, e Alessandro para e diz “tchau”, e pergunta se o livro de 800 páginas que Mário tem debaixo do braço é realmente a biografia de Webern, e é, realmente!


Martin Aaserud & Úrsula surfando no Omnichord.

Quando chove os dinamarqueses voltam a ficar mal-humorados. Anoitece às 21h30 e começa a amanhecer às 3h45.

Outros concertos, Graulgaard deveria ter assumido o dia Laus e dedicado um concerto a sua própria pessoa, ao invés de incluir peças em 70% das ocasiões, incluindo uma ópera em español para falsetista solo e eletrônica, com ambientação pop, e sobre terrorismo. O concerto do Ensemble Kaput atrasou 1 hora para dar-nos a conhecer o famoso humor islandês (um dos expoentes: Hugleikur Dagsson) – o claronista cancela na hora uma música e diz que vai tocar no outro dia, e quando o faz, em outro local, de um final delicado e cuidadoso, de-repente corta a nota e diz “tá bom, chega”.
No Circo Sonoro, música experimental e peripécias como contorcionismo, palhaçadas e manejo de fogo. Para o ato dos Dançarinos Bobocas com Chapéu Colorido fui um dos 6 escolhidos (como aliás disse que seria), e fiquei fazendo papelão quando resolvi bancar o cara que não entende e não faz nenhuma instrução dancinha com o chapéu – mas garanti a presença brasileira nos concertos de todos os dias do festival (!!).

Na conferências gêmeas, Síntese do Significado em Som & Síntese do Significado em Arte Digital, a idéia de que são tão parecidas que na verdade, apesar de serem a mesma conferência, são também duas indistinguíveis. Não fui nem um único dia (Mário foi, e ganhou uma maletinha supimpa).

Busratch – japoneses que não falam inglês no LAB, e me sinto um idiota, incomunicável, e ainda penso que é um show de Otomo Yoshihide mas não é, mas Aanede é legal e simpática e me oferece balas negras de alguma estranha planta de sabor amargo e salgado, um pouco enjoativo e estimulante. Katsura Mouri, magra e de macacão com botões centrais (parecia que ia consertar algo), de óculos fino e bem ereta, com duas pick-ups e mixer, vinis de puro ruído, precisão absurda, e segurando a agulha imantada com a mão e fincando cuidadosamente nos discos (o verdadeiro harsh noise japonês!!! – som alto, precisão, consistência e imagética bizarra – no outro show: desenhos animados e documentários da década de 70 sobre ovnis, com pick-ups gigantes de imagem, som e dvds).

Terra livre de Crhistiania, reduto livre, hippie, onde tomamos nosso sol de todo dia, sentados na grama, Crhistiania, lalalá, artesanato (e haxixe) – e um excelentíssimo restaurante vegetariano. Do tamanho de um pequeno bairro, sem carros, como uma colônia de férias (Barros comenta: “isso parece a Holanda no verão”) – um estabelecemento se gabando de já ter sido alvo de mais de 600 paradas policiais desde a inauguração, uma casa pró tibet, um rapaz abençoando os passantes, broches de três bolinhas amarelas sobre fundo vermelho, salve Crhistiania, terra livre, Bevar!


Mário Del Nunzio & Bernardo Barros na entrada de Crhistiania.

Fotos adicionais aqui. O Meu espaço está também atualizado, no que concerne canções. Fotos de Úrsula podem ser vistas no meu espaço do Ibrasotope, na seção de fotos de andanças. De novo, o Ministério da Cultura do Brasil apoiou a intenta, pagando as passagens de avião minha e de Mário (mas não pagando nada da de Bernardo). Isso foi feito através do edital de intercâmbio cultural.


postado em 16 de junho de 2008, categoria música