Fui ler o livro The Ring (O Anel), da série de ficção científica “dura” Xeelee, do escritor inglês Stephen Baxter, porque o filósofo Iain Hamilton Grant o citara em uma palestra. Lá ele trata sobre a impossibilidade de conhecermos a origem do universo, por esta coincidir com sua inexistência; ou mesmo de entender sua captura hipótetica como algo não particular dentro do mesmo universo, por esta captura ser uma captura particular dentro desse universo; e uma conclusão lógica, mas formidável, sobre a necessidade de algo imaterial dar origem à matéria (se pensarmos em origens), e da ontologia não poder postular o todo, por assim perder qualquer especificidade ou porque esse todo sempre escapa, criando o problema do ponto de vista.
Só que, dito tudo isso, o livro em que o plano delirante dos amigos de Wigner ocorre não é o citado, mas sim Timelike Infinity (“infinidade temporal, ou de fronteira temporal”) e a palestra em que Grant a cita é outra… (mas no mesmo museu e de tema parecido, abordando o fato de que o fim do universo é particular a certos pontos do universo, e que no final um universal deve ser um particular, mas criador, processo criativo do universo no universo). Não sei porque fiquei tão cismado de que ele citava o livro errado (não era o caso), nem de que isto era feito na palestra errada, embora similar. O fato é que li ambos os livros. E que no livro, para escapar da dominação alienígena Qax, tão valorosos quanto lunáticos guerreiros humanos do futuro pretendem criar um evento cósmico capaz de mandar uma mensagem ao fim do universo, entendido como o final do tempo.
O que nos leva ao gato meio morto meio vivo de Schrödinger. Pois existe um momento em que haveria uma superposição quântica que tornaria indeterminada o estado do “elemento onda” que dispararia o gás venenoso, que mataria ou não o gatuno. Mas se decidíssemos averiguar a situação, como essa sobreposição não seria observável, algo observável ocorreria, o gato vivo respirando ar, ou o gato morto, respirado o veneno. Agora, um amigo observa o zelador do felino, e atribui a ele os estados de ou (0) o zelador observa o gato morto, ou (1) o zelador o encontra vivo. Suponha-se que essa observação então force o estado quântico de sobreposição de possíveis resultados (observado morto, observado vivo), a colapsar em uma única realidade, não mais potencial mas agora atual. Suponhamos agora que esse amigo possua um amigo, que o observa observar. E então construímos uma série de amigos.
Seria essa série infinita? Não, os amigos de Wigner acreditam que há um ponto ômega de unificação final, no último limite da espiral rumo à não existência, onde todos os universos são possíveis, até o local, no fim do tempo, onde apenas o universo que colapsa a partir de lá será o atual. Qual a questão então? Se fosse possível mandar uma mensagem a esse última observador e transforma-lo num amigo, ele poderia dar início a cadeia de colapsos que por fim nos ajudaria. Amigos ajudam uns aos outros, não?
Mas como mandar essa mensagem? Uma mensagem que deve sobreviver ao tempo e chegar a seu fim, a informar no fim um dado particular, a ser mantido no começo que o fim gera… O começo total na fronteira do tempo… Mas o começo não estaria acontecendo o tempo todo? A natureza terminando e começando localmente o universo, ubiquamente? E o que o Stonehenge tem a ver com isso?