A D.R. existe como um tema em filmes de terror, com duas variantes maiores:
a) um casal separado ou enfrentando um afastamento, que não pode ser completo devido a um laço comum (filho, oportunidade de trabalho), reavalia seus sentimentos mútuos durante a intervenção do sobrenatural.
b) um casal bem estabelecido resolve sair da rotina, viajando, e a intervenção do terror dispara uma série de insatisfações e tensões no relacionamento, fissuras mas também forças.
No que concerne o segundo caso – vi a pouco A maldição da Sétima Lua (2008, Eduardo Sánchez): antes da cena banal de perseguição, a bonita cena do choro desesperado, ouvido ao longe na caverna – superação da perda; entretanto o filme falha em fazer de Yul um estranho. O apelo a nai nai (avó) é totalmente descabido e bloqueia o que poderia ser o mais humano no filme (mas é claro, o filme como um todo não ajuda). A utilização de câmera constantemente chacoalhando e iluminação muito escura é condizente – existe um exercício na filmagem dos seres da lua que é – não deixar focar demais, não deixar iluminar demais, não deixar fixar demais.
Mar Aberto (2003, Chris Kentis), por sua vez, consegue, também abusando da escuridão (a cena dos trovões é um ponto alto) e câmeras tremidas, algo muito mais satisfatório – e também ocultando, por motivos similares, os seres malignos (no caso, os tubarões). É como uma versão bem realizada da mesma estrutura, com uma conciliação tocante ao final. Além disso, é um filme assombrado por fatos reais.
O terror isola os casais, deixando-os a sós com o problema da sobrevivência e então da existência (pois o humano não se contenta). Se a relação do casal torna-se inevitavelmente um ponto focal, este se estabelece na relação com o entorno, com as forças do mundo, nas figuras da noite e das trevas, mediadas pela luz (lanterna, velas, relâmpago) ou pelo corpo (respiração, tatear, tropeçar), e nesses lugares especiais, de passagem para o outro lado, a caverna e o mar.