rufo no banco do copiloto

eu peço um taxi para j.-p. caron e sanannda. esta deve ir à curitiba. jean vai para o rio, horas mais tarde (aconselhei ele a passear pelo minas shopping, circuito-metrô). o taxi chega 19h08, o que é um bom horário. o ônibus sai 19h45.

levamos as malas, teclado, pratos, mochilas e ferragem para o porta malas. sanannda é isignificanto e no dia anterior havia viajado 15h a fim de se apresentar no bhnoise 2015. agora era voltar. mais 15 horas. ela tem compromissos e só há um ônibus por dia de cá para lá.

jean me pergunta se deve deixar a porta aberta. estou carregando coisas e não entendo direito. ele repete a pergunta, e quase que repete de novo: “deixo aberto?”. na insistência, falo rapidamente “deixa” e se o rufo sair, sei que rapidamente voltará para dentro, de modo que eles começam a carregar o porta malas e rufo, o boxer de 7 anos de idade que mora comigo, faz xixi nas árvores mais próximas.

peço para ele entrar; ele não o faz. creio que está excitado com os novos amigos que vão embora. mas é hora da despedida, o tempo urge e peço que jean e sanannda vão, já está na hora, adeus, tchau rufo, tchau henrique, o taxista esperando já com o taxímetro ligado.

mas quando jean abre a porta não é ele que entra e sim rufo, que matreiro, pula na frente dele e senta no banco de trás. todos perplexos, olhamos para o cão que parece obstinado a dar uma volta de carro. e não é que ele empacou mesmo? rosna e tenta me morder. chamados, broncas, coleira para passear, comida e depois um bife, e nada. meu telefone está pifado. corro até um ponto de taxi próximo, enquanto sanannda e jean descarregam e rufo, que fora empurrado, agora senta-se confortavelmente na poltrona do co-piloto.

um taxista me ignora, o que parece ser normal em belo horizonte. o único que está no ponto, está mexendo na lanterna, impassível. corro de volta. peço pro taxista chamar um outro. tensos com o horário, jean e sanannda estão bolados. no fim, o outro taxi chega e graças a impontualidade rodoviária, sanannda consegue entrar no ônibus do dia.

enquanto isso o taxista liga para anderson e louisa. eles estão longe. penso em deixar rufo me morder, se for o caso. anderson e louisa sugerem coisas e parece que rufo já está mais amigável. anderson me lembra de alguns dos medos do cachorro e fala sobre andar de carro com ele. com cuidado, sento do lado dele, exprimido no copiloto, e com o portão de casa aberto, entramos. rufo fica incomodado e eu abro a porta. leva um tombo, mas tão logo se levanta corre e come o bife. depois, fica pra lá e pra cá na casa, todo contente. pago R$18 ao taxista. peço desculpas mas ele diz que está tranquilo de limpar, com um paninho.

***

interpretação cosmológica: uma questão, repetida, reforçada, altera o estado do mundo a fim de receber uma resposta unívoca por parte deste. a resposta envolve uma determinação negativa; ela chega apenas depois e quando responde, dissolve o próprio problema, originando assim um acontecimento.

interpretação panpsíquica: o cachorro, percebendo a brecha que se lhe abria, recolhe-se no verdadeiro momentum de de nomadismo, e viaja sem deslocar-se. enquanto isso, o taxista recolhe a mais valia.


postado em 23 de outubro de 2015, categoria crônicas : , , , , , ,

início de setembro, 2015

1. eu gostaria de estar realmente errado, sabe? mas vejo que anda difícil estar errado.

2. projetar a partitura é romper a terceira barreira, como dizia brecht.

3. “esse bolinho de chuva parece um golfinho com tumor”.

4. o taxista: “quando meu genro sai com minha filha falo ‘pega essa potranca mas nada de rapidinha heim, não é pra trazer ela de volta antes de 5 horas passadas’. aí eu pego o violino dela escondido, e fico tirando música de ouvido. quando ela chega e fala ‘alguém pegou no meu violino’ eu só pá, finjo que não, nada.”

5. eu não preciso ser fã de goddard.

6. em dias como esse, trabalhar 14 horas seguidas parece ser uma opção viável.

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1. as pessoas andam mais discutindo gostos e afinidades do que argumentos, em filosofia.
2. seria, na verdade, a quarta parede.
3. paulo dantas e natacha maurer, ao mesmo tempo. marcelo muniz escreveu sobre essa improvável conclusão.
4. segundo matthias, o taxista mais louco a levá-lo a algum lugar: são paulo, um gaúcho que se definia como “o sogro mais filho da puta que existe”.
5. vide o meu último vídeo convite. eu deveria ter brincado com o lado do som também. falha minha, ou preguiça.
6. mas acabo bebendo cerveja entre a nona e décima hora.


postado em 13 de setembro de 2015, categoria comentários : , , , , , , ,