anti-sublime

um tipo estranho de epifania:

Não é apenas a apreensão do conhecimento humano e o horizonte relativo do pensável, mas uma revelação enigmática do impensável, ou realmente, o que podemos chamar de iluminação negra.

A iluminação negra não leva à afirmação do humano dentro do inumano, mas ao contrário, abre-nos para a indiferença do inumano (Lovecraft, em suas cartas, faz referência à sua posição como “indiferentismo”.) O inumano não existe para nós (o humanismo do inumano), mas tampouco contra nós (a misantropia do inumano). A iluminação negra leva ao pensamento enigmático da imanência da indiferença.

{Black infinity; or, oil discovers humans [infinidade negra; ou, petróleo descobre humanos]. Eugene Thacker, Leper Creativity, Punctum Books, 2012, p. 179}


postado em 29 de outubro de 2016, categoria citações : , , , ,

sublime

às vezes bate aquela angústia mortífera de ter tanta coisa boa no mundo, mas já passa. é o tal do moderno sentimento do sublime.

às vezes dá aquela angústia mortal de ter tanta coisa ruim, tosca, torta no mundo. logo passa.

ossos do ofício.


postado em 8 de agosto de 2013, categoria aforismos : , , ,

sublime ano novo: apocalipse

se é preciso dizer algo sobre a aura trágica que recobre esse novo ano de 2012, então acredito que isso baste, de friedrich schiller [em sobre o sublime, in: do sublime ao trágico, autêntica editora, 2011, pgs. 60-1, 63], seguido de canção da damares:

“Será que gostaríamos de ser lembrados da onipotência das forças da natureza caso não tivéssemos uma reserva de algo além daquilo que elas nos podem roubar? Nós nos regozijamos com o sensível-infinito, pois podemos pensar o que os sentidos não apreendem e o que o entendimento não concebe. Ficamos entusiasmados com o que é temível, porque podemos querer o que os impulsos repudiam e rejeitar o que a eles apetece. De bom grado deixamos a imaginação ser conduzida no reino dos fenômenos, afinal, trata-se apenas de uma força sensível que triunfa sobre outra força sensível, mas o que há de absolutamente grande em nós, a natureza, em toda a sua falta de limites, não pode alcançar. De bom grado submetemos o nosso bem-estar e a nossa existência à necessidade física, pois isso nos recorda justamente que ela não pode dispor de nossos princípios. O ser humano está nas mãos dela, mas a vontade humana está em suas próprias mãos.

Assim, a natureza aplicou até mesmo um meio sensível para nos ensinar que somos mais do que seres meramente sensíveis; ela própria soube utilizar sensações para nos conduzir ao rumo da descoberta de que não estamos submetidos como escravos à violência das sensações. (…) No caso do belo, a razão e a sensibilidade se harmonizam, de modo que apenas em função dessa harmonia ele tem seu atrativo para nós. Portanto, apenas por meio da beleza nunca experimentaríamos que estamos destinados a nos mostrar como puras inteligências, e que somos capazes disso. No caso do sublime, em contrapartida, a razão e a sensibilidade não se harmonizam, e justamente nessa contradição entre as duas reside a magia com que ele toma nosso ânimo. 

(…) Essa descoberta da faculdade moral absoluta, que não está ligada a nenhuma condição natural, dá ao sentimento melancólico pelo qual somos tomados ao nos depararmos com um homem assim [trágico] o atrativo único e indizível que nenhum prazer dos sentidos, por mais enobrecidos que seja, pode disputar com o sublime.”

 


postado em 28 de dezembro de 2011, categoria Uncategorized : , , , ,

microstória, 2011-12-23

fez 38 graus. comprei panetone na promoção, 30%. trombei com mendigos e dei para eles. fui duas vezes do ibirapuera ao shopping butantã, por dois pratos. quase era natal, tempo de desencontros – como seria isso possível? – alternei entre o feliz e o melancólico. disse schiller, da supremacia moral, do sublime – ainda assim: o asfalto era cinza, e eu parei, exausto, para um sorvete. e pensava muito em renomear todas aquelas fotos. 


postado em 24 de dezembro de 2011, categoria Uncategorized : , , , ,