o fim da música, por safatle

porque eu de fato ia dar uma comunicação sobre o fim da música no ii seminário de estética e crítica de arte da usp – “arte e política, territórios em disputas”, em setembro passado, gostaria aqui de comentar o artigo recente de vladimir safatle. isto porque, apesar de continuar sendo fácil critica-lo, sinto que as pessoas estão perdendo o melhor que se pode extrair dele.

1. fim = finalidade. para que serve a música, qual sua utilidade etc.

2. talvez safatle quizesse dizer que o brasil deveria voltar a se formar com ferro, fogo e música.

3. isto é: se houvesse um programa oficial de contínua construção da nação, aquilo que sempre foge ao programa oficial poderia então gerar uma nova fase de complexificação da autoimagem. nesse sentido, o funk é bastante problemático, porque já nasce combatido pelo estado. o sertanejo universitário, envolto em esquemas não declarados de apropriação do maquinário estatal. nenhum deles cumpriria essa função.


postado em 11 de outubro de 2015, categoria comentários : , , , , , , ,

noise no pará

1. ando 45 minutos no sol escaldante, com tânia, fenerich e valério. chegando à praia, na ilha do marajó, duas caixas de som tocando reggae, viradas para o mar. uma cabana vendendo cerveja, sem clientes. 

2. aparelhagens são equipamentos: dois ou mais paredões de caixas de som, uma nave da xuxa no meio, um show de luzes e telões projetando imagens tipo karaokê. a música é o tecno-brega, eventualmente recedendo ao brega, ou vacilando ao funk-carioca. tum tá tá, só que na intensidade de uma turbina de avião encostada na sua orelha.

3. aparentemente (e sei que isso é parcialmente injusto) a festa do sairé é uma espécie de desculpa para uma orda de playboys, agroboys e playssons invadirem alter do chão e tocarem interminavelmente e repetidamente uma única dúzia de músicas em altíssimo volume. o fazem dos seus carros, enquanto xingam uns aos outros nas piscinas das casas de veraneio, das 13h às 4h da matina, de quinta à segunda. “vou te trair, pode chorar”, “vou te pegar”, “180 180 360” e “periguete” configuram um terço do repertório, que vai do sertanejo universitário ao forró universitário, mas sem que se perceba diferenciação alguma entre ambos.


postado em 18 de setembro de 2012, categoria Uncategorized : , , , , , , , , , , , ,