sobre os dois grandes feitiches da viagem no tempo

um dos grandes prazeres imaginados quando da execução dos feitiches da viagem do tempo é da ordem do paradoxo lógico. espera-se que o sentimento de estar acomentendo algo paradoxal, acoplado ao fato de estar-se autoinflingindo esse paroxismo, potencialize tanto o coito com a (não-mais)-progenitora (ou o equivalente masculino, se você for mulher), quanto as bocanhadas de carne assada, bife etc, de (não-mais)-você-quando-bebê. no caso do sexo, não apenas o pensamento “estou causando um puta paradoxo lógico”, mas o esperado sentimento de se perceber justamente como o ponto focal daquele paradoxo (o que supostamente aumentaria em muito a virilidade).  

contra essas especulações, no que concerne o primeiro feitiche, douglas adams escreve, em o restaurante no fim do universo (sextante, 2004, cap. 15):

“não há nenhum problema em tornar-se seu próprio pai ou mãe com que uma família de mente aberta e bem ajustada não possa lidar.também não há nenhum problema em relação a mudar o curso da história – o curso da história não muda porque todas as peças se juntam como num quebra-cabeças. todas as mudanças importantes já ocorreram antes das coisas que deveriam mudar e tudo se resolve no final.

o problema maior é simplesmente gramatical, e a principal obra a ser consultada sobre esta questão é o tratado do dr. dan streetmentioner, o manual das 1001 formações de tempos gramaticais para viajantes espaço-temporais. nesse livro você aprente, por exemplo, como descrever algo que estava prestes a acontecer com você no passado antes que o acontecimento fosse evitado quando você pulou para a frente dois dias. (…)

a maioria dos leitores chega até o futuro semicondicionalmente modificado subinvertido plagal do pretérito subjuntivo intencional antes de desistir. (…)

o guia dos mochileiros das galáxias passa levemente por cima dessas complexidades acadêmicas, parando apenas para notar que o termo ‘pretério perfeito’ foi abandonado depois que se descobriu que não era assim”.

uma teoria alternativa versa que toda vez que voltamos ao passado, criamos um universo paralelo, de tal modo que a comermo-nos-enquanto-bebês situamo-nos imediatamente em um universo em que não-nos-somos-enquanto-bebês, de tal modo que também não sentimos o paradoxo do tempo senão como a mera expectativa de senti-lo (o que, no entanto, parece ser suficiente para o feitiche). 

ilya prigogine, em as leis do caos (editora unesp, 2000) defende que o tempo possui uma seta sempre para frente, ou seja, que é irreversível.

 

 


postado em 8 de novembro de 2012, categoria Uncategorized : , , , , , , , , ,