adeus paixão

poucos temas cotidianos ecoam tanto o tema da morte de deus do que o da morte da família. seu fantasma ronda especialmente o julgamento vespertino da paixão, onde, afim de passar pelo ciclo de desafeto que atinge muitos como uma doença incurável, se bem que passageira, o expurgo adquire tons suspeitamente morais. ao invés do recolhimento da convalescência, a injunção do ressentimento: são os outros que precisavam ter cuidado. na análise triunfante no cansaço, o presente é licensioso; é o passado que, sob a penumbra, é assim mal iluminado; mas os olhos vêem o que a imaginação preenche, e o futuro que não virá evoca um relacionamento promissor, quiçá crianças pelo campo e churrascos de domingo.


postado em 19 de dezembro de 2018, categoria aforismos : , , , ,

paixões fantasmas

primeiro me apaixonei por uma garota que tinha um olho de cada cor.

depois por uma garota com óculos de armação preta grossa e um nariz muito belo, e olhei tão fixamente pra ela que tive de cumprimentá-la como seu eu a conhecesse.

depois por um rapaz que eu percebia fingir gay, e sua amiga disse que ele era “bem hétero”, apesar da onda traveco “ei lindinho”.

depois por uma garota que usava uma jaqueta preta, e quando saímos era muito difícil encontrar o bar, o bar havia sumido.

essa já era a quarta paixão.

todos eles fumavam.

eu sempre detestei a fumaça.

para francisco de castilho.


postado em 21 de julho de 2015, categoria prosa / poesia : , , , ,