o cavalo hans

diz-se do cavalo hans: não é que sabia matemática, apenas lia as mentes das pessoas; de modo que, se tivesse de responder a ignorantes quanto era 91 dividido por 7, dificilmente bateria a pata 13 vezes. mas se o desafiador fosse sábio, sim. pois a mente era lida no corpo, antes mesmo de poder ser acessada na consciência. e isso era “verdadeiramente racional” – as patadas o demonstraram. assim, sobre a intuição:

se o corpo fala, que diga o cavalo.


postado em 11 de março de 2017, categoria aforismos, comentários : , , , , , ,

para verdadeiramente entender hegel

deve-se aprender a ler em alemão, mas de modo algum, a falar ou ouvir.

A palavra, enquanto sonora, desaparece no tempo; este assim se mostra na palavra como negatividade abstrata, isto é, apenas aniquilante. Mas a negatividade verdadeiraconcreta do signo linguístico é a inteligência, porque, por ela, o signo linguístico é mudado de algo exterior em algo interior, e conservado nessa forma modificada.  

{não ouso citar de fonte primária, então, vem de lebrun, g. a paciência do conceito, unesp, 2000, p. 64}

melhor seria, mas há controvérsias (o próprio hegel, em sua enciclopédia, reclama da multiplicidade de significados dos ideogramas), adquirir a versão das obras completas em chinês, e em seguida aprender japonês para a leitura.


postado em 23 de dezembro de 2015, categoria comentários : , , , , , ,

duas ideias não tão geniais

1. porta caneca para redes.

2015-07-22 ideia - porta café para redes

{ficar na rede dificulta a ingestão de café enquanto da leitura de livros deitado ou semi-deitado}

2. papel higiênico comestível.

{parece-me inapropriado que esse item atraia insetos. então, talvez possa ser algo como o copo descartável feito de fécula de mandioca e não como jelloware. se bem que agar-agar tem propriedades laxativas}

 


postado em 5 de setembro de 2015, categoria miscelânia : , , , , , , , ,

louro

eu nunca entendi muito a função do louro no molho. esses dias, entretanto, comendo um macarrão à bolonhesa, olhei para uma folha e me veio o pensamento, como se o louro dissesse: você pode ir mais devagar.

similarmente, há modos de escrever que ralentam a leitura. wittgenstein fala disso em cultura e valor. de fato, lembro claramente de que se lesse o livro azul com certa pressa, achava que não estava dizendo nada, ao passo que se lesse devagar, ficava encantado com as ideias.

agora, não sei que formas ralentariam a escrita. e se algo que se deve ler devagar deve se escrever devagar. a questão da escrita, quando aparece, é quase sempre acelerar, processo lento que ela é.


postado em 21 de maio de 2015, categoria comentários : , , , , , , , , ,

proposição 2013-09

proponho que a partir de agora todas as campanhas publicitárias do mundo sejam encaradas e consideradas como monumentos à estupidez. proponho que os elementos que compõe essas campanhas sejam considerados símbolos da mesquinharia humana.

corolário: há muito eles sabem que o que pode ser considerado de um jeito pode também ser considerado de outro. que ver uma imagem afixada de um produto pode ser um indicativo de que aquele não presta, não vale. de que o esforço para gerar identificação em uma mensagem pode gerar justamente o contrário (o modo hipócrita da imagem). então, chega de ambiguidades! chega de desconstrução! tudo isso fere o olhar, esse vai e vem: há muita matéria para o pensamento que não esse regime do toma lá da cá!


postado em 17 de setembro de 2013, categoria proposições : , , , , ,

michel de certeau sobre a leitura

De fato, a atividade leitora apresenta, ao contrário, todos os traços de uma produção silenciosa: flutuação através da página, metamorfose do texto pelo olho que viaja, improvisação e expectação de significados induzidos de certas palavras, intersecções de espaços escritos, dança efêmera. Mas incapaz de fazer um estoque (salvo se escreve ou “registra”), o leitor não se garante contra o gasto do tempo (ele se esquece lendo e esquece o que já leu) a não ser pela compra do objeto (livro, imagem) que é apenas o ersatz (o resíduo ou a promessa) de instantes “perdidos” na leitura. Ele insinua as astúcias do prazer e de uma reapropriação no texto do outro: aí vai caçar, ali é transportado, ali se faz plural como os ruídos do corpo. Astúcia, metáfora, combinatória, esta produção é igualmente uma “invenção” de memória. Faz das palavras as soluções de histórias mudas. O legível se transforma em memorável: Barthes lê Proust no texto de Stendhal; o espectador lê a paisagem de sua infância na reportagem de atualidades. A fina película do escrito se torna um remover de camadas, um jogo de espaços. Um mundo diferente (o do leitor) se introduz no lugar do autor.

Esta mutação torna o texto habitável, à maneira de um apartamento alugado. Ela transforma a propriedade do outro em lugar tomado de empréstimo, por alguns instantes, por um passante. Os locatários efetuam uma mudança semelhante no apartamento que mobiliam com seus gestos e recordações; os locutores, na língua em que fazem deslizar as mensagens de sua língua materna e, pelo sotaque, por “rodeios” (ou giros) próprios, etc., a sua própria história; os pedestres, nas ruas por onde fazem caminhar as florestas de seus desejos e interesses. Da mesma forma, os usuários dos códigos sociais os transformam em metáforas e elipses de suas caçadas. A ordem reinante [50] serve de suporte para produções inúmeras, ao passo que torna os seus proprietários cegos para essa criatividade (assim como esses “patrões” que não conseguem ver aquilo que se inventa de diferente em sua própria empresa). No limite, esta ordem seria o equivalente daquilo que as regras de metro e rima eram antigamente para os poetas: um conjunto de imposições estimuladoras da invenção, uma regulamentação para facilitar as improvisações.

[De Certeau (1980, p.49-50). A Invenção do Cotidiano: 1. Artes de Fazer. Trad. Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes]

 


postado em 24 de maio de 2012, categoria excertos : ,